quinta-feira, 28 de março de 2013

Que pátria?

Não amo pátria alguma, nem esse grande Brasil.
Já dizia uma canção: "nenhuma pátria me pariu".
Amo a mim mesmo e a quem eu quiser amar.
Sigo livre de líderes e não nasci para liderar.
Não sou representado e nem gostaria de ser,
prefiro pensar por mim mesmo e, por fim, viver.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Um poema só

Vivo sólido,
e assim, só, lido
com a solidão,
ouvindo soul, vindo
ao cais ver pôr do sol, indo
embora;
depois lá fora
é a hora
em que a lua cheia está vindo
toda brilhante e nua, rindo
por ser a única no céu
e fazer inveja com fel
ao humano cruel.
Mas eu me rio, enfim sou lido
falando de que é vivido,
dos males, das coisas boas,
até da libido.
Pois fazer isso ter sentido
mesmo sem ter alguém ferido
dá um trabalho, etéreo, e sólido.
É um tanto quanto mórbido
escrever algo do que tem sido,
até então para ser só lido,
pois quando não sou lido,
me vejo um poema muito só.
E só.

--

É soda.


sexta-feira, 22 de março de 2013

Hoje só se fala com a mão...

A população cresce enquanto passam os anos
e você já não sabe mais quem anda ao lado...
Seria mais um estranho caminhando desavisado
de que solidão parece maior conforme andamos
sozinhos nesse mundo grande e tão atrasado?

Quem seria culpado desta sensação senão nós?
Afinal, com tanta gente diferente no mundo,
pronta para se comunicar, ainda estamos a sós
e mal acompanhados no vazio profundo
de nosso cotidiano imundo e um tanto atroz,

onde um telefone,
outro celular,
um eletrônico
traz mais acalanto
do que um olhar,
o segundo pronome,
ditado sônico,
por uma verdadeira voz.

É... que solidão... que podridão...
Meu irmão, pare de falar com sua mão.




segunda-feira, 18 de março de 2013

Um pouco mais humano

Eu não sei seu nome, homem
mas sei, por outros motivos
a dor da sua fome
e, enquanto muitos ainda
dormem,
esperando a segunda vinda
de um deus vivo,
estamos nesse cruzamento
antigo...
Tentei ficar vazio
para você me temer
enquanto, humilde,
me mostrava seu RG.
Partiu para outro carro,
depois voltou para me ver
e, num instante, não me senti
sozinho
e já tinha sacado, da carteira,
"dezinho".
Fiz sinal para que viesse ao meu lado
e lhe dei a nota
que recebeu com sorriso
e no meu coração ouvi um riso
enquanto você me disse
na madrugada, metrô Marechal,
perto da parada,
"Deus abençoe você e eu"
e isso mostrou-me mais
irmandade
e solidariedade
que qualquer deus.
Lhe sou grato por me ensinar
tal lição que caridade nenhuma
ensina.
E caso nos encontremos outro
dia, irmão, num semáforo da
região ou outro lugar dessa
cidade cuja sina é sem amor,
sem paixão,
será minha vez de agradecê-lo
por me provar que defendo
algo que existe:
"A irmandade
pela solidariedade."
A fraternidade
em meio a adversidade
ainda persiste.
Aprendi muito mais sobre a
vida em um minuto
do que em quase 30 anos
em que só escuto.
E você, amigo, me ensinou
a ser mais humano
no mundo feio onde estamos.
Que os deuses abençoem
você e eu,
querido amigo meu.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Saudosismo amaldiçado


Saudosismo é sim um sentimento muito complicado:
faz me sentir velho embora esteja longe de ser idoso.
Acho, por puro "achismo", no entanto, que, passado
o tempo, até o espelho me deixa, da vida, desgostoso.

Comparando ontem, hoje e as andanças do mundo,
me vejo em êxtase, mas perto de um coma profundo
da alma em apóstase, ao ver que os diversos lados
tanto nos dividem quanto nos matam, sacrificados.

Vejo que, sem mar, sol e terra, sou frio e concreto;
passa outra fase da vida e, então, do torpor desperto:
Tal maldição fala à outra parte que me mate - "é certo" -
a razão ao revisitar o inconsciente que me é secreto.

Saudosismo maldito que me atravessa o coração,
me cega, me emudece e me tira a grande emoção
de viver no infinito onde não há ninguém como eu:
"Pelo que lembro, esse sentimento já me esqueceu."

Saudosismo que solta meus demônios, me deixe.
Sonho em lhe esquecer e não quero mais o feixe
de sua luz, pois relembrar quase uma vida inteira
é tortura e atrapalha qualquer futuro que eu queira.

--

Parece confuso, mas não é.

terça-feira, 12 de março de 2013

sexta-feira, 1 de março de 2013

A humanidade de um pequeno cão

Nem parece que passou duas semanas desde que meus pais resolveram que sou um filho problema, pelo contrário, ainda quando chego em casa, me sinto um extraterrestre invadindo um espaço que não é meu, o que é verdade, afinal, é a casa de meus pais.
Duas semanas atrás tive uma discussão onde fui estigmatizado e classificado como se fosse mais um delinquente de um jornal qualquer. Pura incompreensão. E o que um filho incompreendido faz? Discute, grita, fica nervoso diante de tanta injustiça. É muito fácil classificar um filho de acordo com as palavras que os psicólogos e médicos televisivos adoram usar para categorizar o que é diferente e não aceito por qualquer ser conservador e resistente à mudanças. Como sei disso? Eu sou resistente às mudanças da vida, embora saiba que elas são inevitáveis e ainda tento mudar esse comportamento em mim (confesso, sem falsa modéstia, que mudei muito nos últimos anos e cada vez mais entendo que, fora da política, Trotsky estava correto, a revolução é permanente; digo mais, a revolução acontece de dentro para fora). Meus pais não entendem tanto as mudanças, muito menos gostam de baques quebrando a imagem de que seu filho é perfeito, trabalha, estuda e não faz besteiras. Mas a individualidade de cada um sobrepõe qualquer imagem e foi isso que aconteceu, individualmente sou muito diferente de meu pai e de minha mãe, tenho gostos muito diferentes deles, muito diferentes de meu irmão também e por isso, nessa crise, a primeira reação que tiveram foi me expulsar de casa. Fiquei chateado, pois sei que ia sentir muitas saudades deles se por ventura não voltasse, mas um ser ficou impassível diante de toda essa situação: meu cão. O Polo foi o único que, ao longo dos anos, após diversas brigas, vinha me consolar ao contrário de me julgar; mostrava compaixão ao invés de perder a razão e não via maldade em nada. Alguns diriam que ele é só um animal, mas meu cão sempre se mostrou mais humano e solidário do que todos os seres humanos que conheci ao longo da vida, inclusive mais humano e solidário que meus pais que, num surto animalesco selvagem em meio a gritaria (não estou salvo, fui animal também), resolveram que tudo que eu havia feito na vida não prestava, que jogaram todas minhas qualidades pela janela perante um pequeno detalhe tão demonizado pela hipocrisia mundial. Que meus pais me desculpem, mas o único ser que foi humano de verdade naquela noite quando eu precisava conversar honestamente, o único ser que teve compaixão e me aceitou exatamente como sou sem querer que eu fosse diferente do que sou foi o Polo. Não estou falando isso para magoar ninguém pois amo meus pais, mas aprendi mais sobre humanidade e solidariedade com um simples e alegre cãozinho do que com minha família. Se me falarem que não sei cuidar de criança, que não sei limpar sujeira, que não sei alimentar um bebê, que não sei dar carinho e amor, sóbrio ou ébrio, direi-lhes que estão errados, faço isso com o Polo e tudo que ele me dá em troca é uma companhia sincera. Ele não fica ao lado de ninguém forçado, ele fica porque quer. Não há livro libertário, humanista ou anarquista, que diga isso. Não há música, pintura ou filme que passe essa experiência concreta. Não há escola, religião ou doutrina que ensine essa pequena lição. Não existem valores ou virtudes maiores que o amor. Valores mudam de geração para geração, virtudes viram vícios e vice-e-versa, enquanto o amor é uma coisa sua, sui generis, claro. Meu pequeno cachorro me ensinou muito sobre amor. Em grande parte das mudanças da minha vida ele estava me esperando chegar em casa.
Não escrevo isso para magoar meus pais, eles não sabiam o que fazer comigo, não posso culpá-los, não existe um manual de instruções para cada filho que nasce no mundo. Mas o cão dá o exemplo. Amo muito meu cão, pois ele sabe que sou em essência, mesmo com tantas mudanças, ainda o mesmo de sempre.
Sei que ele nunca poderá ler isto, mas enquanto ele viver vou retribuir cada momento que tive unicamente junto com esse cão que, mesmo fazendo sujeira fora do jornal, roendo coisas, sumindo com algum pé de meia, comendo o manjericão direto do pé, desobedecendo ordens expressas ensinadas pelo meu irmão, mostrou mais compaixão e amor que qualquer ser que conheci no mundo.
Me dói o coração só de pensar que não há quem vá me compreender como essa bola de pelo que quando chego em casa não exita em lamber meu rosto e fica pedindo para eu coçar-lhe as costas e depois jogar algo para ele pegar diversas vezes até se cansar e dormir enquanto eu fico fazendo música no violão (não toco flauta e gaita perto dele por causa de seus ouvidos sensíveis). Ontem ele ficou comigo sentado no quintal enquanto eu via estrelas no céu, coisa meio difícil de acontecer na metrópole com o céu poluído. Só ele veio; minha mãe, que amo tanto, nem se deu ao trabalho de dar uma olhada no céu quando a chamei.
Eu voltei para casa e ainda me sinto um extraterrestre por ser do jeito que sou e não ser aceito tão bem pelos meus pais e pelo meu irmão, mas o Polo, sempre está lá sacudindo o rabo de um lado para o outro.
Para falar a verdade, não sei o que será da minha vida quando ele se for, não sei se vou conseguir tão cedo arrumar uma companhia como ele, nem sei se vou querer substituí-lo, não quero nem imaginar, mas sei que isso acontecerá um dia.

O meu cão é o ser mais humano que conheci nesse mundo cheio de animais selvagens que se dizem humanos.