quinta-feira, 23 de maio de 2013

Pessoas (simulacros) em coma profundo

I

Como se esquecem, essas pessoas,
da dor alheia e o gemido que soa
como o grito da turba que povoa
a praça pública em manifestação?

Perdidos nas suas simples vidas
que passam tão desapercebidas
e são totalmente desperdiçadas
sem sequer formular uma questão,

essas "pessoas na sala de jantar"
não querem saber o que melhorar
e como podemos mudar o mundo...

E enquanto você finge que não vê,
existe alguém que morre por você
e seu direito ao coma profundo.

--

II

Pessoas não são mais,
apenas simulacros;
humanos fracos.

Nem parecem reais
de tão loucos.
Humanos são poucos.

Seres e mentes artificiais
que se alienam
e disso gostam.

Seus destinos fatais
são os mesmos;
e andam a esmo.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Louco

Sábio era quem ouvia
a música no rádio
e cantava a melodia
sem errar as notas
e as letras.

E ainda variava:
assobiava
e batucava
no volante
por um instante.

Era assim agora,
mas sempre fora,
e quem via de fora
o tachava de louco,
mas quem não é um pouco?



terça-feira, 7 de maio de 2013

Trauermarsch (5ª de Mahler)

Som fúnebre desse movimento,
rodando solto, neste momento,
pelos meus tímpanos abençoados

que identificam o sentimento
de estar ao gélido relento
num funeral com quem foi deixado

para uma vida cheia de nostalgia.
Deveria ser forte a cacofonia,
mas esta música me emociona

de forma cortante e dramática
que deixa minha alma estática.
Nada mais no corpo me funciona,

exceto o castigado coração
que a cada detalhe dessa audição
funesta e linda que me faz sofrer.

Me sinto incapaz até de segurar
esse choro e quero só me soltar
em lágrimas ao invés de me conter.

Um grito que entala na garganta
me machuca e, também, espanta
pela força com que faz apertar

dum pobre ser, tomado pela dor
de Mahler, que sangrou para compor,
o coração com sangue a jorrar.

--

Poema com métrica em 10 pés na tentativa de passar a sensação de ouvir o 1º movimento (Trauermarsch) da 5ª sinfonia de Gustav Mahler repetidas vezes.
Me sinto emocionalmente destruído por ouvir uma música tão linda e angustiante. Aliás, a sinfonia inteira é de uma beleza ímpar.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Saudade de dois gumes

A saudade que me ataca
é a mesma que me alegra.
Alegria que mistura
com tristeza pura,
sendo dois gumes de faca
que fogem à regra.

Poema em crise


Agora parece-me um momento perdido em vão,
pois me falta a tão falada inspiração.
Eu só coloco a caneta no papel
e movimento para sair letras ao léu.

Vai entender esse bloqueio mental
o que penso não surte efeito para tal
atividade de escrever um poema
e se torna uma frustração, um problema.

Recorri aos livros para ter ajuda,
mas tudo virou um "Deus nos acuda!";
minha cabeça entrou em parafuso
e agora estou com medo do desuso.

Afinal, nem lendo aqueles meus caros
amigos poetas, senhores Vinícius e Carlos.
consegui transformar uma ideia em verso;
me sinto defasado, um completo retrocesso
no que gosto de fazer de verdade...
mas que peça safada, que maldade.

Um poeta sem inspiração é um nada;
a poesia fica presa, bem amarrada,
parece um nó apertado na garganta
de uma boca suja e nada santa
que grita, canta, xinga e fala
toda essa porcaria do mundo, essa tralha.

Já tentei de tudo para imaginar
rimas, versos e estrofes para cantar,
mas realmente estou perdido
e um tanto arrependido
de tentar escrever de cabeça quente
algo assim, súbito, de repente.

Mas a caneta continua a se mover
e dessa escuridão continuo a temer
a maldita falta de inspiração,
esse bloqueio mental que me assola, frustração.

Vou parar de tentar essa porcaria,
quem sabe sai algo em outro dia...

--

Escrito em Março de 2011. Achei no meio de uma bagunça de uma gaveta. Já tinha até dado como perdido.
Esse poema relata um período em que eu não conseguia ter ideias (que me agradassem) para escrever, então parti do princípio de que teria que relatar esse momento frustrante pelo qual estava passando para esvaziar a mente.