sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Luz no inverno

Um lugar ao sol, no frio,
é ainda um lugar ao sol;
onde cada raio é um fio
que ilumina o dia em prol
de encher, à luz, um vazio.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Ciclo infinito da vida

Ao mergulhar minha cabeça
na nascente do rio da vida,
sinto a água, um tanto fria,
fazer com que ideias esqueça.

Tudo parece um tanto animal
quando sorvo desse líquido
misturado à terra, mas límpido,
então sinto o instinto irracional

ao qual todo humano retorna:
este seu estado mais natural
em meio à tanta beleza.

Este é o ciclo da vida eterna:
é nascer e morrer; é trivial.
Assim funciona a natureza.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

À la Ivan Ilitch

No mundo moderno
todo ser é feio
e se sente meio
morto, meio eterno,

mas o choque real
de que é um animal
em auto detenção,
sem tomar uma ação

para deixar o vazio
de um viver tão frio
e banal, é uma doença

fatal que o atinge,
e não mais se finge,
apenas se reforça.

Aprendizado

Nunca o silêncio
foi, em essência,
o que me agradou,

mas quando penso
nas experiências
do que me passou

me sobra o bom senso
que me repensa
o que me silenciou,

pois este silêncio
vem da vivência
do que me ensinou:

"a quem mais ouve,
menos dor houve"
então me calou.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

(A)Travesso

Eu não sinto o movimento do universo
mas ele se move dentro de mim.

Sinto ligar algo que se move, enfim,
e num afã de progresso, vivo o reverso.

Seria uma reposta ou um processo inverso?

Um, não outro

Eu gostaria de dizer que a emoção
é uma putaria que de ti toma ação,
mas esta seria só uma perturbação,
senão haveria muito mais paixão.

Gente que se mente

Saber ser é diferente
pois ser é inerente,
do rico ao indigente,
só ver é ser...

...Indiferente.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Flauta Faceira (haiku trio)

Rouca madeira
mostra-se tanto destra,
louca e faceira

na quente feira
antiga; entre suas amigas,
faz brincadeira:

Frullato, sopra
fundo e vibra profundo
quem ouve a obra.

Numa nuvem de sonho

Daqui do alto
sinto o vento no rosto
enquanto vejo o horizonte;
por um momento, com gosto,
o barulho de baixo
o sopro de ar esconde.

Sinto o sabor da paz
no silêncio que o ar traz;
sento numa nuvem
de sonho,
e, me aconchegando,
a ouço dizer

que "o mundo é estranho
a tudo que é sereno,
de fronte ao azul
celeste, de norte a sul,
o infinito parece pequeno..."

...e o devaneio
se vai com o vento,
mas estou calmo.
O sonho que veio
se foi com o tempo.

Mas marcou a alma,
daqui do alto
à sete palmos

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Poetizar...

Para poetizar
não é necessário
rimar,
nem o contrário,
mas é na rima
que, azul, céu
vira mar acima
e, num tropel,
inunda a mente
de quem sente
a alegria
de escrever
e se entreter
na poesia.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Soneto de condenação

Se tem inferno abaixo
é para lá que todos irão
porque se a humanidade
tentar salvar sua dignidade

cometerá um ato baixo,
pois sua compensação
de equilíbrio é uma farsa,
e no egoísmo se dispersa.

E assim assistiremos
um espetáculo tão vil
quanto a agressão fabril

enquanto esquecemos
que tal horrível ardil,
cego, nada de alma viu.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Nuvens pesadas

As nuvens correm
como se tragadas
por correntezas...

...mas tão carregadas,
com estranha leveza,
no céu se movem.

Cotidiano humano atual

Acordar cedo,
sempre com medo
de perder o conforto,
não é viver, é fingir
ser vivo quando morto.

Você corre trabalhar
para produzir inutilidades
que vendem facilidades
enquanto criam dificuldades,
até quando vai agüentar?

E o dia vira mês,
mês se torna ano,
e sua esperada vez
ficou debaixo do pano

para alimentar a ilusão
de que a vida é isso:
só mais uma escravidão...
...e se finge um sorriso.

--

Distorci a forma do soneto. Foi proposital.