quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Pequeno Susto

 Achei que havia desaparecido
como uma ilusão que se desfaz
ou a fumaça quando se dissipa,
como uma alucinação finita.

A confusão, que me tirou a paz
ao ver o leito vazio; o acontecido,

o sobressalto do coração
à garganta,
o assalto da assombração
que espanta,

tudo cessou...

...ao ouvir sua voz e água.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Autoria

Sei que romances são pretensiosos,
poemas são mais permissivos -
embora ambos possam ser ciosos -,

mas quem os escreve, para ser lido,
se entregar deve, sem fazer querela;
talvez ainda não esteja pronto à tarefa...

...mas já já...
Quem sabe?

Enquanto isso, escrevamos a vida...

...sejamos nós e outros,
autores dos universos dentro de si.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

333 - Meio Besta

Para o desgoverno desse temeroso
mordomo de horror, vice temerário,
sobra dizer: "Vade retro Temer!"

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Guitarrista choroso

Todo guitarrista sente uma pontada no coração
naquela hora que o slide de vidro se espatifa no chão.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Talvez análise

Difícil não me impressionar
com o que ocorre dentro de mim,
difícil saber o que dentro há
quando mal se entende sozinho;

é mais fácil compreender
o sentimento do que toda a razão,
pois apenas se sente, vê
de dentro algo latente na reflexão,

ao que sentir e pensar
são atos diferentes na imaginação,
um pode o outro influenciar,
mas cada um se faz em distinção.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

(Con)verso(s)

Hoje estou curiosamente positivo,
nada de negativo brota nos versos;
não houve "porém" no processo
de escrever este poema que vivo

por meio de umas pequenas letras,
que são tão grandes de significados,
estampando branca folha com traços
de quem lê, de dia, noturnas estrelas.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Numa mesa de bar

Meu companheiro
que verdade verá
essa terra que arde
como uma fogueira,
brasas de salgueiro
e de todo esse verde?

Não entendes que finito
também é como finado?
Muito se lamenta,
mas segue-se alado,
altivo, não lhe minto,
é passageiro, diminuto.

Que esperança perdura
com um câncer que cresce
e na quase impossível cura
duma infecção, numa prece
que varre a verdade
dessa nossa falsa humanidade?

É difícil olhar o mundo
caindo torto e resoluto -
como se fosse a duras penas,
lutando para não cair morto
ou num coma profundo -
a sobreviver, apenas.

As pessoas não querem,
não desejam qualquer paz
senão do conforto alienado
e logo se veem odiando
o que manda a mídia, mas
se dizem gente de bem.

Essa nossa hipocrisia
vai, enfim, nos exterminar,
por pura vaidade humana.
Queria apenas um dia,
admito, não me preocupar
com essa vida insana...

...Mas não consigo.
Se mexe com o mundo,
também mexe comigo...

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Soro Caseiro

Confesso, como me é difícil
escrever tomado pela cólera.
Este ácrata, dolorido, vos fala
de dificuldades, mas é pueril
o vociferar dessa egrégora
ao qual se deixou influenciar.

A violência dita na palavra
não é somente das baixezas,
mas também de entonação,
de incitação vil e negativa
para se esquecer uma beleza
de paz numa conversação.

Quero dar certa distância
a esse sentimento de revolta
e poder tecer a vida amorosa
da curta humana existência
em sua plenitude, que exulta
uma realidade nada suntuosa...

...Pois a felicidade é simples.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Meneio

Quero, muito, voltar a sonhar...

Faz tanto tempo que mal lembro
o que é ter uma história de vida
em apenas uma noite de sono;

não acontece mais o despertar...

Involuntário, um membro
se moveria como quem lida
com a realidade do abandono

de algo que se confunde
real e fantasia.

Posso dizer que hoje urge,
igual, a travessia

desses universos da imaginação;
já não sei mais se devaneio ou sonho
acordado ou dormindo, nem se sou são,
apenas confirmo o meu cotidiano estranho

em que sonho...devaneio...
sonho...
devaneio...

sonho...devaneio...

um morto-vivo, sonâmbulo acordado
vivendo num meneio.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Balança

Há, em tudo que se pese,
um sentido oculto
que rege um equilíbrio
entre relações humanas,

uma ligação dita profana,
dita quase um insulto,
mas com um brio
que faz com que pense:

O desequilíbrio das partes
é onde assemelham mentes
e se sustentam os corações.

O equilíbrio é onde se dá
o beijo da boca em grená
e dois corpos em (con)fusões.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Reminiscente

Quando arrisco o oblívio -
por meses tentando -
e quase consigo a façanha,
aparece um verso e o alívio
se mistura, entretanto,
ao vil das minhas entranhas.

Somes como uma aparição,
mas eterniza na lembrança
e, no anseio de uma estrofe,
em tudo que é contramão.
Acaba com a constância
do suicídio diário e me move.

Queira um dia assumir-se,
aparecer-se para ti tão real
quanto ao que diz o ser.
Mas não viva sem viver-se,
não poetize sem motivo para tal
e não desperdice o que houver...

...de real dentro do peito,
pois a mentira o corrói,
ao passo que, sem jeito,
a verdade alivia,
mas, um dia, também dói.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Caleidoscópio

Passaram mil anos
e ainda reconheço
o que é se perder,
se jogar no espaço
estrelado ao ver
dum olhar humano.

Armistício

Pois sei que assinei
um armistício unilateral.
Assim, me assassinei,
ao deitar as armas.

Mas prefiro essa morte
do que ser o algoz,
prefiro receber toda sorte
de tiros da sua voz.

Negaram ao moribundo
um copo de água,
deixaram verter ao mundo
rios rubros dos furos.

Se negro é o presente
e o futuro pálido,
foi por decisão conjunta
de um par ávido

por liberdade e vida,
mas preso na realidade
dessas quatro paredes,
e uma janela ao sol...

Enquanto o mundo
acontece entre sol e lua,
amiga, fico esperando,
com furos na pele nua.

Mesmo quase morto
vivo ao máximo,
com marcas de tiros,
e passos meio tortos,

ao passo que, sem culpa,
vives o mínimo,
reduzindo o mundo
ao pouco que exulta...

...mesmo estando viva.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Voe, Passarinho

A maior declaração de amor
que posso lhe fazer
é que quero, aonde você for,
que não finja, seja você.

Não aceito que deixe de sentir
o que lhe brotar no peito
- isto seria como te assassinar,
por algo que não tem jeito.

Sim, você é livre para se viver.
Não pode ser diferente.
Não é "simples" ser eu, ser você;
e, mesmo que se tente,

um não sente o que há dentro,
o que inquieta o coração,
o que mexe com tudo do outro,
o que é mais que emoção.

E, nessa vida, já vi muito por aí,
já falei, cantei e escrevi,
mas ainda há muito por vir;
até o que duvidava, senti.

Nisso não te dou presente algum,
senão a certeza incondicional
do meu amor tão incomum
e, pasmem, tão natural.

O que você faz da sua vida
é apenas o seu destino,
e se quer minha companhia,
saiba que lhe confirmo.

Só perdura se ambos quiserem,
só funciona com amor,
puro e genuíno, e sem temerem
qualquer motivo de dor.

E não há dor com amor puro,
há apenas o lindo zelo
de quem cuida e ama, te juro.
Por amor, não faço apelo.

Bata asas e voe, não há gaiola
para te segurar, prender
ou aquietar seu cântico lá fora,
há apenas a porta aberta

da casa desse meu coração,
onde você, passarinho,
tem seu lugar - não abro mão -
arrumado com carinho.

Você tem a chave e lá é tudo seu,
não precisa pedir para entrar.
Tudo que um dia ali já foi meu,
é seu, não importa quando voltar.

Quero teu aconchego garantido
aqui em casa - não é uma toca.
Me doo sem lhe fazer pedido,
não quero fazer uma troca.

Voe, não por mim. Voe por si mesmo.
Bata as asas da sua vida
e, se me quiser, carregará, não a esmo,
mas como uma querida

parte de sua vida, um belo lugar
para que eu, também,
sempre tenha onde possa voltar
e lhe fazer só o bem.

Eu te amo além do meu fim,
nada pode me tirar o que sinto.
Nada é maior que esse infinito.
E é o que me basta, te amar livre assim.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Causa (e)feito

Quando o capo di tutti i capi
e os sottocapi
dessa máfia
instituírem ao povo
a sua omertà,
nos restará
apenas brigar
com seus soldatos,
numa vendetta
autêntica e popular.

Poema Gastropolítico

Patos da FIESP!!!
Vocês caíram no conto do Skaf!
O imposto vai subir
e vai tremer com jambu
no molho teu-cu-pi!!!