terça-feira, 21 de março de 2017

Apo(ca)lí(p)ticos

Vide
a hipocrisia
da burguesia:

perfume francês
não disfarça
chorume reaça
do burguês...

...ele ainda fede.

Embrute-sen-cimento

Silenciaram o cotidiano
ao ponto da apatia
duma avenida barulhenta
fazer ouvir o emudecimento
de nossas bocas.

Mas, quem diria?

Os olhares ainda falam,
gritam, choram e,
embrutecidos pelo mundo,
se mostram entre o insano
e o são: o limiar
derradeiro do equilíbrio

falso de um surto,
de corpo e mente,
onde se faz o cotidiano.

terça-feira, 14 de março de 2017

Ego-coleção

Há muito a coleção não se aumenta,
seja pelo materialismo,
que perdeu seu sentido;
seja pelo colecionismo
egoísta que, varrido,
perdeu sua essência.

Passa-se a contar com a memória
e com toda transmissão,
acima de qualquer apego
que impeça, aos que vão
e aos que vêm, o ensejo
à cultura que se reinventa.

segunda-feira, 13 de março de 2017

Sobre um sonho

Sonhei contigo
e estou a pensar
se o meu sonhar
era vida ou ilusão,
onde os dois estão
num mesmo lugar.

Dissera escrever,
um fim de semana
inteiro, uma chama
queimando meu ser
para falso alívio.

Disse-me (e é mútuo)
que queria escrever comigo...

...Acordei e voltei ao meu castigo.

...mas ainda acho que me econtrei,
em sonho ou vida, contigo...

sexta-feira, 10 de março de 2017

Dolorida

A saúde parece ter se esquecido
que dela há a necessidade
para que se continue nesta vida,
pois há dor sem algo ocorrido
numa, até que jovem, idade
dessa existência aqui vivida.

Doem os ombros,
a cabeça,
os membros,
o coração,
a carapaça
e a emoção...

...mas a maior dor advém de simplesmente viver.

terça-feira, 7 de março de 2017

Poesia-Sangria

Me disseram que falto com técnica,
que não me comunico no que escrevo,
que não sei escrever.

Não me preocupei com dita estética,
muito menos com o leitor como servo
que venha a me ler.

Apenas pus para fora o que queria sair
andando com seus pés de poemas tortos.
Apenas escrevi o que senti, como vizir
de meu âmago ácrata que aqui exorto.

Quem me avaliou, o fez por ego,
enquanto sangro sentimentos cegos.

Avaliar um poema e não senti-lo
talvez seja a pior maneira de lê-lo.

Derrota

Tento passar borracha
sobre a vida recente,
por diversas vezes
apagando todo o grafite...

...mas ainda leio marcas
de pressão da escrita
com as letras dum nome
que me é indelével...

...e sinto seu oposto
de dentro para fora,
saindo à flor da pele.