terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Sobre-existir

Sobre a existência:

Sei que a vida
é, em sua essência,
uma coleção de curtas

alongada até a morte.

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23 de Julho de 2018.

Sua Vida

Vim te pedir perdão
por colocá-la num pedestal
tão alto que deixei de vê-la
e você virou um mito
vivo em minha vida.
Esqueci de sua humanidade,
de suas vontades,
de cada traço
das suas personalidades,
e me faço
de ferido, mas por medo
de algo desconhecido
deste lado,
que conheci apenas do outro.

Me perguntei como seria sem você,
me respondi que já sei.
Como seria com outra pessoa?
Também já sei.
Como seria se fosse algo à toa?
Também já sei.

E como seria se você
quisesse saber
tudo isso que ainda não sabe?

Pois é, acabei de saber
e estou aprendendo a esquecer
o que aprendi, pois está errado.

Você é livre para fazer o que quiser.
Sempre foi.
Não posso idealizar algo
que é impossível cumprir,
não posso limitar sua vida.

Uma ponta de ciúme foi o suficiente
para eu quase surtar,
mas essa ponta foi necessária
para eu poder reavaliar
tudo e pensar
como será o meu futuro.

Eu deixei de cuidar de mim
para me dedicar a você,
mas enquanto eu te admiro
deixei de me admirar - 
e talvez você também
tenha deixado.

Deixei de me arriscar
e entrei na zona de conforto,
mas não posso mais fazer assim.
Eu cresci, fiquei forte
e chorei, mas amadureci,
cuspi para fora esse mal
e te entendi.

Entendi que você tem seus anseios,
seus desejos, suas vontades
e seus meios.
E que se eu quiser ficar com você
tenho que aceitá-la como é.
E nada disso é tão novidade,
é apenas mais um fim:
o fim de algo velho
e o começo de algo novo.

A sua vida é sua,
mesmo que nela
eu me envolva.

--

26 de Dezembro de 2013.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Cara má

Me encontrei entre os ovos

infecundos e galados

de Teodoro.

Um tanto Demétrio,

outro tanto Ivan

e mais um tanto Alexandre,

me vi no pai e seus filhos.

Me vi até no bastardo

por um instante,

me vi um restolho

familiar e contraditório.


Tive meus egoísmos,

tive minha lascívia,

tive meu ateísmo

e tive minha inocência.


A minha face,

minha cara má

me leva ao princípio

de uma vivência:


Eu, que nada sou

e tudo tentei ser

fico em meio aos ovos.

Sou infecundo ou galado?

Choco o mundo

ou por ele sou chocado?


Eu, sem orgulho

me leio na vida ao lado.

Não sou tudo,

mas não tenho faltado.


À quem eu fiz sofrer

peço o perdão que há muito

tenho protelado.

É fato que errei

e não assumi a responsabilidade

do egoísmo, da cobiça,

da minha falta, da minha maldade.


A cara má que ficou na memória

quer ser apagada,

nem substituída por uma cara boa,

porque não importa se esta ressoa,

é melhor se deixar passar

e eu que viva

entre a tentativa

de ser fecundo

e não ser galado,

pois cantar de galo

não é de viver

o modo mais profundo.

sexta-feira, 11 de junho de 2021

Newtoniana

Cair é inevitável.
Ninguém tem que ser forte
o tempo todo.

A força inabalável
está mais em se levantar
do que em resistir.


Sem Valor

Tenho me valido do sumiço
e de todas as vontades
de desaparecimento
do que seria o meu ser.
Parece até um vício -
sempre constante,
some e reaparece,
nunca foi embora -
num mundo já saturado
de tantos viciados
e, ao longo do tempo,
sumidos.

Na vaidade, mudo,
nada novo invento:

Custo me reconhecer.
Esqueço-me, de graça.