segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Mal das pernas...

...é quando a sensação
de desequlíbrio total -
mental e físico -
nos atinge fatal
e caímos num tropeção...

...daqueles de se esborrachar no chão.

Tudo porque o mal das pernas
faz com que se caia das cadeiras.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Bravatas Sindicais

Gostaria de não ser esse desespero
que me toma o estômago e o sossego,
como uma buzina no meio da noite,
aquela dor aguda do papel e seu corte,
como vejo uma grande opulenta côrte
de vil hienas de mil revezes e sortes...

Gostaria de não ter tanto desprezo
por quem nos trouxe tal desassossego
e me fez voltar ao poema político,
do qual me afastei de seus trópicos
onde analiso o mental e nosso físico
momento de discussões caóticas
e opiniões inflamadas e oníricas.

Gostaria de ser cego,
não ter ego,
não ter apego...

...mas não aguento mais
tanto pelego...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Déjà-Vu à lá Temer

Dia 29 de Março de 2015,
22 horas e 24 minutos,
um tweet:

"O impeachment é impensável,
geraria uma crise institucional.
Não tem base jurídica e nem política"

...disse o illuminati,
o vice-decorativo,
o vampiro,
o temerário,
o mordomo de filme de horror,
o satanista,
aquele que não quer
mas deve ser
nomeado de
golpista.
#ForaTemer

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Distúrbio de Linguagem

Me sinto sozinho
como se estivesse
num pesadelo.

Ouço um passarinho
cantando benesses
para quem quer vê-lo

no meio da madrugada
de vontades aladas,

entremeadas no fim
dum holocausto
de mim.

Eu bebo, fumo,
me entorpeço
os pedaços da mente,
mas me é latente
não pereço.

Por isso, embrigado,
escrevo -
meio que abestalhado
me atrevo:

teço essa má poesia
num tecido de afasia.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Vilipendiado

Como se fosse atacado,
o leviatã com asia
faz sua demolição
deixando a casa vazia
para a população
de sangue trabalhador desavisado,
desabrigado e esquecido.
E o comodismo tem sido
nossa maior praga
na atual realidade
que não se apaga
com a luz da verdade,
no escuro também ataca
o trabalhador já desvalido.
Se praguejar e manisfestar
resolvessem de imediato
o gás que se exala no ar,
não teríamos lacrimejantes
surrados e violentados em atos
desse ideial de paz
que queremos garantir.
A democracia é um ás
de baralho neste jogo vil,
este carteado de azar
que insistimos em jogar,
ao invés de virar a mesa.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Abstinência

Todo período em que paro
com meus vícios
percebo resquícios
de problemas tão raros
que, há muito, são esquecidos.

Sei que me cobram caro
e ouço aos suplícios
de um automartírio
querido, mas indesejado,
nos tempos sabidos finitos.

Me dizem para me deixar,
inconsequentemente,
aliviar o que assola a mente.
Será que sei ainda me levar?

...ou devo continuar abstinente?

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Subversivo?

Quando vier a censura,
não diga que não avisei
pois agora chegou a vez
do silêncio que perdura

até uma segunda ordem
da alta patente censora,
o que virá fora de hora,
atrasada aos que sofrem,

como nós, que tentamos
escr...r, f...r, vi..r e s...ev...r.
num cons...o de que os ramos
são espinhos a nos cortar,

fazendo s...r.r a pa....a
em s.nt...o inc.mpl...

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Duas lições

Um professor me ensinou -
indiretamente por um amigo -
duas lições de um autoamor
que cada um pode consigo
desempenhar no dia-a-dia,
sabedorias quase orientais
trabalhando planos mentais
como há muito não se via:

1- Tem coisas que jogamos fora;
2- Não podemos abraçar o mundo.

Eu fiquei perplexo, por ora,
pelo simplismo tão profundo

que sempre ouvi mundo afora,
mas só compreendi neste segundo.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Expansível

Aos que me dizem louco,
posso, já rouco, afirmar,
do alto que sobrou da voz,
que o amor é uma foz
que jorra de lá para cá
e nunca se faz pouco.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Momentaneamente...

...Perdi o gosto pelo poema político,
pois jogaram a política na sarjeta,
passaram por cima,
urinaram e defecaram.

Quem ainda cisma
em escrever, está
ora enfurecido,
ora entristecido.

Fora!
Já me basta agora a leitura cotidiana
do diário nacional do brasileiro...

...notícia quente ou fresca,
mas velha e desumana.
Dia e noite, noite e dia, o ano inteiro.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

(Des)carte[siano]

Um amigo me professou
o que um professor
lhe fez de profecia:
ao pupilo já dizia
que, seja lá o que for,
tudo acaba, já que se iniciou.

Mas foram ditas palavras
mais simples que a estrofe
anterior a esta.
Palavras certas,
onde o pensar se dobre:
"tem coisa que jogamos fora".

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Haikai do Dízimo

Dinheiro é papel,
não garante ou comprará
uma vaga no céu.

Protótipo

Já tive vergonha de admitir
que meu primeiro projeto é erótico...
Eu sei. Com tanta coisa para escrever,
podia escolher um caminho utópico,
mas, não, caí no assunto mais trivial
e pior, tentando não me ler tão banal.

Bom, poderão me ler e perceber
um esforço em não ser
um poeta erótico normal,
pois ali tem um pouco de mim... e tal...
algo carnal, sensual, tórrido,
metafórico, mas nada pudico.

Talvez a função seja exercer
ao alheio leitor - este ser
que nada espera senão sexo,
ao invés de versos desconexos,
(in)diretos - um furor, o tesão
e que se alivie com N mãos.

Enfim, não saberei o que se passa
pelo pensamento de cada cabeça
que se dispor ler tais poemas,
mas já me convenci, não tem problema,
cada um faz do poema uma parte de si,
um tesão próprio, diverso ao que escrevi.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Perdidos Achados

Pois quando me perdi por ti,
acabei por encontrar em mim -
do pouco que restou aqui,
de minha essência - um fim,
que não busca final ou início
de algo que peça "por favor":
vivo só o natural e sem suplício
sentimento que é o amor.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Lobo de Haller

Olá, meu velho! Olá!

Há muito não lhe vejo!
Esta visita é propícia,
preciso lhe falar
que voltei.
Voltei para te lembrar
que trouxe, no traquejo,
aquilo que não queria.
Sim, eu sei.

Não sou bom contigo -
nunca serei, meu amigo.
Como podemos conviver
dentro desse mesmo ser?
Você tenta ser ver livre
do que lhe represento
e ainda esquece que vive
comigo dentro.

Não te abandono
quando lhe sobra melancolia,
é aí que lhe abocanho,
um grande pedaço
e na mordida, a peçonha
de cobra e seu abraço.
Ilusão achar que me afastaria
de tua mente...

...se te impregno de veneno
e engulo sua serenidade
te levando a sanidade
e te deixando só, no sereno...

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Uma vida ideal?

Súbito, perdeu o sentido
o convívio na corporação;
único, trivial e contido
é o destino nessa danação
cotidiana.

Interessante, sim, seria
se o ser médio, de supetão,
abandonasse tal sangria
para seguir aonde se vão
caravanas

de nômades nesse mundo
cheio de vícios, de círculos
de comas profundos
de momentos ridículos
desperdiçados.

Tais nômades, que vivem
a realidade como esta é,
dessa vida muito sabem
e não precisam mais que fé
ao seu lado

para sobreviver intempéries
econômicas do capital;
e sua vontade, pois queres
viver um mundo ideal...

...e eu também quero...

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Nominal

Sobre como me denominaram,
ainda não me acostumei.
Passaram décadas
e não me julgo ao que dizem
que sou e vivenciei...
...E para isso digo "Oras!

O que um nome pode
me definir se sou muitos,
num ser que explode
de tantas facetas
contidas num corpo só?"

"Pare!" Digo ao pronome.
"É só meu nome, tenha dó!"

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Flora Muda

Ausências preenchidas
com plantas floridas
que não pensam,
nem proferem
falas e versos,
não substituem
presenças de corpos
e formas que se assumem.

Não é à toa o cultivo
de algo que escuta
mas não dá respostas,
talvez seja apenas isso:
ter com quem falar
e não necessitar ouvir.

Fatalmente,
a conversa cessa.
Tudo se encaminha ao silêncio
e cada um faz seu
tempo para alcançá-lo...
...uns com pressa, outros, lentos.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

(C)oração

Não me importo
que o mundo saiba
mais do que há de saber
do que é reto ou torto
na natureza,
pois por destreza
me vejo vivo - nada morto -
e com alívio de ser
quem sou, não outro,
porque não consigo
me mentir
quando o coração
me diz ser o certo
o que dizem ser errado.
Faço-o com convicção,
pois ali sou eu,
coloco tudo meu
à tal disposição
duma situação
em que o coração,
ao invés de dividido,
sente-se pleno -
sem mais quebras,
com os pedaços colados -
um órgão reunido.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Obturador

O sol me ofuscou a vista
com um brilho intenso,
digno de flash de câmera;

ali se deu a cena exposta
e cedeu à vista um momento,
registrou a (imagem)(vida) efêmera.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Pequeno Susto

 Achei que havia desaparecido
como uma ilusão que se desfaz
ou a fumaça quando se dissipa,
como uma alucinação finita.

A confusão, que me tirou a paz
ao ver o leito vazio; o acontecido,

o sobressalto do coração
à garganta,
o assalto da assombração
que espanta,

tudo cessou...

...ao ouvir sua voz e água.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Autoria

Sei que romances são pretensiosos,
poemas são mais permissivos -
embora ambos possam ser ciosos -,

mas quem os escreve, para ser lido,
se entregar deve, sem fazer querela;
talvez ainda não esteja pronto à tarefa...

...mas já já...
Quem sabe?

Enquanto isso, escrevamos a vida...

...sejamos nós e outros,
autores dos universos dentro de si.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

333 - Meio Besta

Para o desgoverno desse temeroso
mordomo de horror, vice temerário,
sobra dizer: "Vade retro Temer!"

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Guitarrista choroso

Todo guitarrista sente uma pontada no coração
naquela hora que o slide de vidro se espatifa no chão.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Talvez análise

Difícil não me impressionar
com o que ocorre dentro de mim,
difícil saber o que dentro há
quando mal se entende sozinho;

é mais fácil compreender
o sentimento do que toda a razão,
pois apenas se sente, vê
de dentro algo latente na reflexão,

ao que sentir e pensar
são atos diferentes na imaginação,
um pode o outro influenciar,
mas cada um se faz em distinção.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

(Con)verso(s)

Hoje estou curiosamente positivo,
nada de negativo brota nos versos;
não houve "porém" no processo
de escrever este poema que vivo

por meio de umas pequenas letras,
que são tão grandes de significados,
estampando branca folha com traços
de quem lê, de dia, noturnas estrelas.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Numa mesa de bar

Meu companheiro
que verdade verá
essa terra que arde
como uma fogueira,
brasas de salgueiro
e de todo esse verde?

Não entendes que finito
também é como finado?
Muito se lamenta,
mas segue-se alado,
altivo, não lhe minto,
é passageiro, diminuto.

Que esperança perdura
com um câncer que cresce
e na quase impossível cura
duma infecção, numa prece
que varre a verdade
dessa nossa falsa humanidade?

É difícil olhar o mundo
caindo torto e resoluto -
como se fosse a duras penas,
lutando para não cair morto
ou num coma profundo -
a sobreviver, apenas.

As pessoas não querem,
não desejam qualquer paz
senão do conforto alienado
e logo se veem odiando
o que manda a mídia, mas
se dizem gente de bem.

Essa nossa hipocrisia
vai, enfim, nos exterminar,
por pura vaidade humana.
Queria apenas um dia,
admito, não me preocupar
com essa vida insana...

...Mas não consigo.
Se mexe com o mundo,
também mexe comigo...

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Soro Caseiro

Confesso, como me é difícil
escrever tomado pela cólera.
Este ácrata, dolorido, vos fala
de dificuldades, mas é pueril
o vociferar dessa egrégora
ao qual se deixou influenciar.

A violência dita na palavra
não é somente das baixezas,
mas também de entonação,
de incitação vil e negativa
para se esquecer uma beleza
de paz numa conversação.

Quero dar certa distância
a esse sentimento de revolta
e poder tecer a vida amorosa
da curta humana existência
em sua plenitude, que exulta
uma realidade nada suntuosa...

...Pois a felicidade é simples.

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Meneio

Quero, muito, voltar a sonhar...

Faz tanto tempo que mal lembro
o que é ter uma história de vida
em apenas uma noite de sono;

não acontece mais o despertar...

Involuntário, um membro
se moveria como quem lida
com a realidade do abandono

de algo que se confunde
real e fantasia.

Posso dizer que hoje urge,
igual, a travessia

desses universos da imaginação;
já não sei mais se devaneio ou sonho
acordado ou dormindo, nem se sou são,
apenas confirmo o meu cotidiano estranho

em que sonho...devaneio...
sonho...
devaneio...

sonho...devaneio...

um morto-vivo, sonâmbulo acordado
vivendo num meneio.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Balança

Há, em tudo que se pese,
um sentido oculto
que rege um equilíbrio
entre relações humanas,

uma ligação dita profana,
dita quase um insulto,
mas com um brio
que faz com que pense:

O desequilíbrio das partes
é onde assemelham mentes
e se sustentam os corações.

O equilíbrio é onde se dá
o beijo da boca em grená
e dois corpos em (con)fusões.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Reminiscente

Quando arrisco o oblívio -
por meses tentando -
e quase consigo a façanha,
aparece um verso e o alívio
se mistura, entretanto,
ao vil das minhas entranhas.

Somes como uma aparição,
mas eterniza na lembrança
e, no anseio de uma estrofe,
em tudo que é contramão.
Acaba com a constância
do suicídio diário e me move.

Queira um dia assumir-se,
aparecer-se para ti tão real
quanto ao que diz o ser.
Mas não viva sem viver-se,
não poetize sem motivo para tal
e não desperdice o que houver...

...de real dentro do peito,
pois a mentira o corrói,
ao passo que, sem jeito,
a verdade alivia,
mas, um dia, também dói.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Caleidoscópio

Passaram mil anos
e ainda reconheço
o que é se perder,
se jogar no espaço
estrelado ao ver
dum olhar humano.

Armistício

Pois sei que assinei
um armistício unilateral.
Assim, me assassinei,
ao deitar as armas.

Mas prefiro essa morte
do que ser o algoz,
prefiro receber toda sorte
de tiros da sua voz.

Negaram ao moribundo
um copo de água,
deixaram verter ao mundo
rios rubros dos furos.

Se negro é o presente
e o futuro pálido,
foi por decisão conjunta
de um par ávido

por liberdade e vida,
mas preso na realidade
dessas quatro paredes,
e uma janela ao sol...

Enquanto o mundo
acontece entre sol e lua,
amiga, fico esperando,
com furos na pele nua.

Mesmo quase morto
vivo ao máximo,
com marcas de tiros,
e passos meio tortos,

ao passo que, sem culpa,
vives o mínimo,
reduzindo o mundo
ao pouco que exulta...

...mesmo estando viva.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Voe, Passarinho

A maior declaração de amor
que posso lhe fazer
é que quero, aonde você for,
que não finja, seja você.

Não aceito que deixe de sentir
o que lhe brotar no peito
- isto seria como te assassinar,
por algo que não tem jeito.

Sim, você é livre para se viver.
Não pode ser diferente.
Não é "simples" ser eu, ser você;
e, mesmo que se tente,

um não sente o que há dentro,
o que inquieta o coração,
o que mexe com tudo do outro,
o que é mais que emoção.

E, nessa vida, já vi muito por aí,
já falei, cantei e escrevi,
mas ainda há muito por vir;
até o que duvidava, senti.

Nisso não te dou presente algum,
senão a certeza incondicional
do meu amor tão incomum
e, pasmem, tão natural.

O que você faz da sua vida
é apenas o seu destino,
e se quer minha companhia,
saiba que lhe confirmo.

Só perdura se ambos quiserem,
só funciona com amor,
puro e genuíno, e sem temerem
qualquer motivo de dor.

E não há dor com amor puro,
há apenas o lindo zelo
de quem cuida e ama, te juro.
Por amor, não faço apelo.

Bata asas e voe, não há gaiola
para te segurar, prender
ou aquietar seu cântico lá fora,
há apenas a porta aberta

da casa desse meu coração,
onde você, passarinho,
tem seu lugar - não abro mão -
arrumado com carinho.

Você tem a chave e lá é tudo seu,
não precisa pedir para entrar.
Tudo que um dia ali já foi meu,
é seu, não importa quando voltar.

Quero teu aconchego garantido
aqui em casa - não é uma toca.
Me doo sem lhe fazer pedido,
não quero fazer uma troca.

Voe, não por mim. Voe por si mesmo.
Bata as asas da sua vida
e, se me quiser, carregará, não a esmo,
mas como uma querida

parte de sua vida, um belo lugar
para que eu, também,
sempre tenha onde possa voltar
e lhe fazer só o bem.

Eu te amo além do meu fim,
nada pode me tirar o que sinto.
Nada é maior que esse infinito.
E é o que me basta, te amar livre assim.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Causa (e)feito

Quando o capo di tutti i capi
e os sottocapi
dessa máfia
instituírem ao povo
a sua omertà,
nos restará
apenas brigar
com seus soldatos,
numa vendetta
autêntica e popular.

Poema Gastropolítico

Patos da FIESP!!!
Vocês caíram no conto do Skaf!
O imposto vai subir
e vai tremer com jambu
no molho teu-cu-pi!!!

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Numa praça, lendo Lorca...

...Os vermes vêm para me devorar
e nos bolsos vêem bichos da seda,
mas nada de plantas e folhas floridas
para que destruam no seu mastigar.

Nada importa mais ao cigano
exceto que os vermes da lua cheia
passeiam sobre o sangue latino
açoitado pelo chicote que meneia

ao movimento da asa de uma lagarta
desperta de seu sono profundo.
O que era uma larva é borboleta,
quer chamar atenção via insultos.

Mas ao cigano, nada tem a dizer.
Gitano, que só espera a lua descer
para a morte se ir e raiar a vida,
mantém-se firme, feição "cojonuda".

Se for com a lua, fica sangue na terra,
se ficar ao sol, fica o suor no solo;
não importa à boca de verme se cerra,
o cigano pertence à terra, é seu colo.

É o solo fértil de uma nação célebre
e, por sua cultura injustiçada, lembrada.

Não é possível ser quem não se é.

Depressão pós-livro

Estive passando os últimos dias
como páginas de um livro fácil
- um livro sem desafio ao leitor,
daqueles que lemos sem raciocinar.

Confesso, fui, sim, alvo fácil;
uma presa um tanto quanto dócil
daqueles livros fáceis de amar,
difíceis de esquecer e que, no fim,
deixam dor e uma saudade do enredo,
uma nostalgia da narrativa
e uma paixão pelas personagens.

Só que acabou-se o livro,
chegastes ao fim dessas vidas
para adentrar em outras
e novos seres se revelam, lidos...

...de dentro para fora do livro
e de fora para dentro da vida...

Mas crio coragem para abrir um novo
e, de repente, um novo romance (re)começa.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Jardim do Fastio

Em meio às guerras de nações,
brigas de adultos,
discussões de casais
e conflitos de adolescentes,

sempre sofre a criança,
aguentando insultos
e se escondendo dos animais
como uma presa inocente.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Atual

Para escrever este verso
e agora este outro
e o próximo
também,

escrevi 1, 2, 3, quatro rascunhos
e poesia...mas sem poema.

E agora brinco de problema

e faço poema, sem primazia...



...TALVEZ,
com poesia.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Poescrita

Poetizar sobre a escrita
não é algo que me vem
quando quero ir além
da imaginação descrita -

um ato singular, de fato -
me mato sem inalar ar
para pode me inspirar,
pois não há ar no vácuo,

e me sobra apenas falar
sobre a pequena poesia
que se diz em demasia.
O que mais mencionar?

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Montanha

I:
Subi a montanha
procurando algo
que não sei o que era;
procurando algo
que não sei o que seria;
procurando algo...

II:
Sobre encontrar?
Sim, encontrei algumas coisas
e encontrei um alguém.
Um eu que encontrei só
ali, em pé com ninguém.
Somente rosas
ali em cima vislumbrei.

III:
A montanha estática
assistiu meu movimento.
A montanha inanimada
me sentiu em cada pisada.
A montanha, torre
que rasga o firmamento,
me viu costurá-lo aos pés
do solo em que se equilibra.

IV:
As flores que plantei,
a flora que ali surgiu
não mais precisam de mim,
não precisam mais de ninguém
nem se necessita a montanha,
que já fora condenada à morte
e agora se encontra viva e florida.

V:
A montanha, como ser humano,
pode viver independente;
um auxílio no início da subida
é o mesmo do plantar da semente,
uma ajuda, um esforço inicial
para que possamos andar
com nossas próprias fés
e a montanha florescer
com seu cume, a mil pés.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Efige

Sei que parece idiota
acabar escrevendo
por conta e sobre
esse bloqueio
que me veio
em estátua de cobre,
dura em eterno momento
cuja palavra não se solta...

Sua boca não se abre.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Esquiva

Dei uma resposta capciosa
para uma pergunta similar,

-Quem é o Ernesto?
-Não posso resumir se não me acabar.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Pierrô

Nessa arte de amar,
em meio aos artistas,
sou o palhaço de circo:

não garanto glamour,
nem beleza eterna,
mas de ti
retiro um riso.


quarta-feira, 27 de julho de 2016

Pontuação

VIVO,
NÃO REVIVO!

NÃO PERGUNTO,
EXCLAMO!

SIM!!!
EXCLAMO!

Por que a vida não é grande o suficiente para se viver de hipóteses em interrogações?
Porque ela é imediata e acontece, implacável como uma exclamação!



terça-feira, 26 de julho de 2016

Pesadelo

Me lembrei porque me entorpeço...

O faço para não sonhar
e para ter noites escuras
em que possa descansar
o corpo e a mente das agruras
do cotidiano humano,
insensato e inexplicável.

Pois o pesadelo da vida
não pode se tornar sonho,
e o que viria na noite
não pode me afetar no dia,
exceto quando esqueço
e, antes de dormir,
não me entorpeço...

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Fim de recesso

Findo o período sabático
com o raiar do dia,
ao acordar para cuspir
o sono que era estático
e agora se torna um tormento
perante ao corrido tempo.
No sétimo dia, descansou
aquele que alguém diria
ter nos criado, talvez para rir
em sua vida tediosa;
no décimo-quarto, acordei
para justificar o trabalho
do escritor desse roteiro
de divina comédia humana,
onde muitos sabem de tudo
sobre esse grande nada.
Acabou meu recesso,
mas, enquanto estou aqui,
uma fictícia divindade,
lá em cima, se mija a rir,
dessa graça sem-graça
dos nossos excessos,

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Recesso

Estou sabático:
descansando, de alguma forma,
dos compromissos,
da sociedade,
da amabilidade.
Estou descansando minha voz
calando a garganta
úmida de significados
e seca de palavras,
enquanto falo
pelo pensamento
e canto pelos dedos.
Estou de férias,
de tudo que eu puder evitar;
o que for inevitável,
feriado nunca terá.
Descansado?
Não me lembro da última vez
que pude descansar
do exercício humano de ser.

Névoas de café

Uma leitura poética
me viaja no tempo
direto ao café quente,
onde via formar,
na fumaça espessa,
o contorno de sua boca
- no nosso entorno
de atitude louca -
a brancura de seu sorriso
e os faróis azulados
dos olhos que tentavam
me ofuscar a visão
em meio a neblina.

Era para não falarmos,
evitar contato,
mas nada dito
foi levado a sério,
nem o café expresso
que se tornou
demasiado longo,
assim como todo o impasse
- léxico, realista ou complexo -
que passamos por cima.

Ainda fitamos
com nossos desejos,
vontade de você,
vontade de mim.
Ainda sinto vontade de ser
o homem do con(s)(c)erto
do poeminha
que guardo na carteira.

E, tal qual uma boa sina,
ainda o lerei por eras inteiras
e a vontade, talvez nunca passe...

...assim espero...

...assim me acontece,
toda vez que leio
poemas numa xícara de café.

Meia-noite...

...e eu, contemplando
o céu estrelado
- dum escuro azulado -,
me pego pensando
sobre seus poemas...

...e sinto a cena
como se ouvisse
a voz de sua garganta
declamando, ao meio-dia,
uma dose santa
de sua poesia.

Será só delírio à meia-noite?

sábado, 9 de julho de 2016

Uma Ironia

Saiba que por dias
o vento acariciou meu rosto
para lembrar de que é pai,
e que a terra onde piso
é mãe da vida que ali se via,
junto da morte no fruto -
do posto pé de abacate - que cai
e se quebra no solo não liso...
...e, assim, o ciclo me ria.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Falsa Posse

Deveríamos tornar nossos
cada trecho lido aleatório
de poema de veia e ossos
e de textos sanguíneos.

Logo, não pode ser meu
o poema que aqui se deu.

Leia-o seu.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

JeoVá

Hoje me senti um deus cristão,
onipotente,
onisciente,
talvez até onipresente.
Julguei, sem pensar, com meu dedão
a vida de duas formigas
que passeavam no prato
em direção ao meu pão.

O fiz sem pensar, sem cogitar
que as formigas são como nós;

que deuses humanos
fazem humanos enganos;

que as condenei a um destino atroz;

que, como num velho/novo testamento,
fui, como toda divindade, um tirano
aos mais frágeis que eu.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Torpe

Entorpecido por essa vida,
há muito não sei sonhar.

Parece que esqueci como

o                       h
             s                              o
                              s
                 n

fazem viajar a imaginação,
pois a minha viaja a todo momento...

...para
beeemmmmm










l  o   n         g               e                     .

Conversas...

Urge essa sua reminiscência
de mim, te trazendo um carinho
que não posso lhe dar,
pois pedes que eu não o dê;
te traz uma esperança
- que não sei se posso viver,
nem sequer um pouquinho -
de que o futuro o tempo conte,
sendo que deste não faço contas.
Me pergunto se de carinho
ou carência é esse espinho
que colocas entre nós
de cordas trançadas,
entre tecidos de peles
não mais tocadas,
na sua recusa atroz
de ser a ti
e de que eu possa sumir,
enquanto tu me desassumes
ao passo que me assumi.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Exercício

Antigamente, inspiração
me era tão necessária
como abrigo a um pária
ou, ao faminto, um pão.

Hoje, o ato é necessário;
letras soltas são escritas,
sequer importa horário,
apenas a ideia expressa,

crua ou até em metáfora;
uma ideia que traz visco.
Se fico sem escrever,
não vivo. É diário risco.


Sobre-viver

Os anos estão nos escorrendo
pelos dedos das mãos e dos pés...
...ou seriamos nós que descemos
no escorregador da vida?

Eu vejo a minha pele envelhecer
e entradas novas sugerirem
na testa, diretamente, portas
para os meus pensamentos.

Observo você também mudar
junto comigo e separada de mim,
e percebo que sua existência
é efêmera como a minha.

Tenho esse apego por ti,
algo que me acomete,
como nunca senti, nunca vi.

Não preciso de intérprete
nem de algo que me diz
sobre a vida que se repete.

Sinto que preciso apenas
cuidar de ti, para que vivas,
ao máximo, todo o potencial
desse tempo curto que temos aqui,
para que sejas, toda, eternidade.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Prosa Imagética

Os olhares proseiam,
antes mesmo das vozes,
uma prosa daquelas
de uma tarde na varanda,
bebendo chá;
numa cadeira que balança,
nessa prosa que se mistura
de risos a sorrisos
com bocas de poemas
que sorvem liso
líquido das xícaras
e fazem do paladar
algo um tanto singular,
tal o sabor da palavra
perdida na língua
e calada na garganta,
mas sonora no toque
de um pensamento
que os olhares proseiam.

Agrura

Cansei de meus dedos
que digitam fúrias,
amores, sons e medos,
essas minhas agruras
que enfeitam de letras
um espaço por arremedo,
zombaria de mim mesmo.
Cansei da minha poesia
que se dá nessa hora
de sentimento e nostalgia
mistos num "quê" de agora
tal qual uma urgência
mental, caso de ambulância.

Embora cansado,
uma ânsia me impele
a escrever, derramar sangue;
me rasgar a vista e a pele
para deixar registrado
um pedaço que arranque
da hemorragia, a emoção
coagulada numa canção.

Um canto

Sei, me sentindo vazio,
que na alma estou repleto
desse silêncio vadio
dum canto secreto.

domingo, 3 de julho de 2016

Tinta-íris-ela

A chuva da bondade
é uma tempestade
de água num ar seco
d'um deserto aéreo,
num clima sério
que se desmancha
em lágrimas celestes,
formando arco-íris
com a luz que mancha
o céu de aquarela.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Terapia?

Mais de meio milhar de poemas aqui, nenhum livro publicado
e ainda estou me afogando nas pilhas de rascunhos e emoções,
na interminável tentativa de ser o infinito neste meu finito ser.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Objetivo Poético

Buscam-se métricas, estilos, pés...

...eu não busco nada disso.

Busco música nas palavras,
melodia nos sentimentos,
harmonia no conteúdo.

Meu fazer poético se concretiza
não pelas letras conjuntas,

frases separadas,
estrofes

e versos,

mas pelo quanto consigo tocar -
seja lá o que for tocado -
e por conseguir
no toque, a marca, o amor
e, na poesia, até a dor.

(Des)Universo

Nesse vácuo cósmico
que não se preenche
dentro de mim,
sabe-se que Nin
diria-me para abrir
o que tenho
para um dia atingir
uma certa plenitude,
experimentando
os desejos de euforia
imortalidade e panacéia.

Descobri-me não pleno.
Vi que estão errados,
ao olhar para o céu
e perceber
buracos negros
sedentos, famintos,
como o humano
vivendo em mim.
Se o universo não
está satisfeito em si,
por que eu estaria?

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Sobre lobos

Prefiro eu derramar rios
caudalosos vermelhos
na terra marrom
do que ouvir notícias
de um fim dum início.
Não me cabe o desvario
dum lunático enfermo
cantando fora do tom
todas suas súplicas
até o profundo precipício.

De uma orelha a outra
não me faz desejar o mal,
preferindo sofrer
ao causar qualquer dor,
mas quando esse torpor
vem me sorver,
sinto que, sendo animal,
tu achas sempre minha rota.

A rota perto dos rubros
rios que escorrem chorosos
que, mesmo mudando
ao passar das correntes,
continuam me ecoando
o brilho dos dentes,
desembocando no azul
do seu globo e regando
nas margens os girassóis
- como nós, solitários,
fora de nossas alcatéias,
mas sempre esperando a luz,
sendo para eles, a do sol,
e nossa, a da a lua.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Intromissão

Seria o mundo
uma intromissão
à toda vida?
Me parece, segundo
o que vejo com atenção,
que há quem palpita,
há quem pergunte
há quem assunte
e assiste a guerra
de uma simples intriga
que ocorre,
por intromissão
deste mesmo.

Que porre
deve ser a vida
de quem não se lida,
mas resolve lidar
com a vida
dos outros,
sem ser chamado...

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Duplo

Meu outro corpo
- esse que ninguém vê -
é tão vivo e morto
na existência em dois eus,
duas mentes, duas palavras,
que num mesmo corpo
seria mais fácil viver,
mas não nos(me) comportaria
nem seria útil
para me ser.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Duas semanas atrás, no fim do outono

Que inesperado esse sol!
Num meio-dia de outono
com clima quase inverno,
por um breve tempo
aparece chuva de verão;
da primavera, o vento,
e de janeiro, o calorão.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Monera

Eu viver em mim
é um ato que não se explica;
não é a vida rica
de eventos abastada -
como se fosse ouro
cada hora
por fora de outro
mundo de prata -
nem vida de emoções,
como correr aos filões
desse atemporal couro
humano de cicatrizes.

É só e apenas, nada mais
que parte daquelas normais
vidas que assim, simplesmente,

acontecem sem mais

nem menos

por-/+quê.(?)

sábado, 18 de junho de 2016

Percepção apurada

A visão deste vulto
faz etérea qualquer palavra
que tente explicar ideias
de percepções individuais
que formam cultos
que louvam o que abafa...

...a realidade de um fato
de que palavras não servem
suficientes quando descrevem
a sensação do tato,
nem apagam a falta,
mas iludem este momento exato.

Palavras são tortura e prazer.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Da pré-meia-idade

Afirmo que continuo,
ainda me insinuo
um tanto jovem,
como se no início adulto
da fase que passa
da, sem fim, juventude.
Mas meu rio negro
diminui o volume,
e agora ostento portas
de entradas ao salão
ainda sem sabedorias,
também, poderia
eu, avaliado novo
tal carne de açougue,
já um velho peso morto?
Eu, que conheço muito,
ainda há o que me negue
valor no pensamento.
Meu que não é o tempo;
só me resta correr atrás
do futuro à minha frente.
É aí que me faço
soar um canto
de sala secreta
no filme que passo
contracanto.

domingo, 5 de junho de 2016

Sem graça

Deixei cair o PH,
só tenho escritos ácidos
e versos proferidos
fora de espaço-tempo agá.

Pandora

Toda vez que abrem a tampa,
mesmo que só para bisbilhotar
por um breve momento,
algo vaza para fora,
meio que fora de hora,
e dessa caixinha de males
que não possui bom intento,
qualquer coisa que sai é tormento,
algo que, no mundo, se lança
e se mostra todo odioso.
Essa minha caixinha interna
dá um puta trabalho para tampar,
quem bisbilhota não sabe
como é difícil fechá-la.
Imagine como é difícil viver
com algo assim aqui dentro.
Já bem difícil só saber
da existência desse invólucro,
sem lacre, que vive dentro de mim.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Tentação

Devo ter sido suicida
numa hipotética
- ou mais -
outra patética
- tentativa de - vida.

De repente me invadem
pensamentos, visões
da pele e veias
se abrindo aos cortes;
do meu corpo
se espatifando no chão
após uma queda
de altura imensurável.
Até à forca
tenho visões
de ser levado a força
e vejo com meus olhos
e dos outros
o momento crucial.

Me vejo tentado
a atravessar a avenida,
me jogar da ponte,
a abrir uma ferida
na jugular, na testa...

São tantas alternativas,
todas tão criativas,
que tenho quase
certeza que minha alma
é especialista,
morre de fase em fase
e agora, pensa nisso com calma.

Suposição

Deve ser um dilema
- maior de todos os problemas -,
para alguém imortal,
perceber que a vida
não tem qualquer sentido real.

Validade

Essas novas,
já vem velhas
e se anunciam
tão modernas
à contemporânea
que mudam eras
momentâneas
de um curto
longínquo
passado.

Confuso...

...Em meio ao todo,
vejo um grande nada
e sou preenchido
de um imenso vazio
que deixa sentido
de tanta insignificância
alguém de importância
já um tanto duvidosa.
Já não me importo
comigo, amigo ou inimigo,
sendo um fato
que nada disso mais importa.
Inicio e apenas sigo,
esperando que isso acabe.

Deprimido

Às vezes canso de me mentir,
dizendo que tudo está bem, e de ir
de encontro com a mentira
tão dolorosa que se torna, um dia, ira
e desespero por não expressar
o que de fato me ocorre.
É um pesar que me cobre
por inteiro: nada estou sentindo
e cada vez mais estou sem sentido.

E a pior parte é fingir o sorriso
de lua - como a vida - minguante,
aos que esperam uma verdade,
que confesso, há muito, sem alarde,
a esqueci e nessa vida mentirosa
me perdi. Não há felicidade duvidosa,
pois nem dúvida há da realeza
de uma "vida-rinha" que me é tristeza.

Dizer que estou bem,
apenas me faz mal.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Comunicação

Quando a palavra
 f  á ~   l1
     h-a    ,

se ouve ritmo
soando mú-si-ca,

até em


silêncio


.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Tronco

Pois quase morri,
um quase infortúnio
quase que gratuito
ao me perceber
um manco ser
sentindo, ao lado,
o vento, o ar rasgado
por um tronco a cair.
O espanto nos rostos
pela avenida;
a surpresa estampada
em minha face;
e meu quase algoz,
ao meu lado, jogado,
deitado, quebrado.
Sua dona, balançando
ao vento lento,
como alguém que se ri
com certo descaso
desse momento
em que quase morri.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Penso

Poderia cair-me
de tristeza, de alegria
ou qualquer vã fisiologia,
sem medida, sem altitude.
Poderia Caim me
dizer algo, mas nada ouço
de jogos antigos, do esboço
de toda essa multitude
e suas tais verdades.
Digo que a dor
me vem às pernas
mas para fortalecer,
ao invés de causar perdas.
Me ponho como corpo ereto,
tal membro, um homem
a andar sabendo que fome
e dor andam juntas, decerto,
amarradas por um sentimento,
felicidade e uma alegria,
alegoria que somos momento
no tempo. E penso...

Djinni

Não peço nada a ninguém,
apenas digo o que quero
e se alguém, com esmero,
porventura quer, também,
tanto o mesmo que eu,
o desejo não é só meu.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Pós visão

Levanto na madrugada
para ver o sol que ascende,
enquanto o que era noite se apaga.
Daí me pego pensando
quão transitórios são o clima,
o dia e a noite...
...o cotidiano - que se conte
de encontros - de sol e lua
não encontráveis,
de escassos acasos
que, em descasos,
são memoráveis
como seu olhar, visto a distância
medida entre solo e céu;
como a poesia se lida
transitando entre versos seus e meus.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Passos

Deverá finalizar
esta pouca jornada
nessa estada paroquial
com pernas estiradas,

vagando com todo o olhar
que percorre tal corpo,
ali descansando, afinal
de um cotidiano torto,

cheio de opiáceos inatos
ao grande chão do mundo.
Com ratos dos esgotos,

convivera por eras,
até o fim do ser profundo
que perpetua na terra.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Hay (kai) inverno

I:
E aqui tu chegou
manso e, tal seu descaso,
tudo aqui se esfriou.

II:
Andou sumido.
Há tempos, sim, não vêem
tu tão assumido.

III:
Um atual inverno,
das almas ao mal astral,
parece inferno.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Graça

Que engraçado é o acaso,
como acontece sem aviso;
é ocaso no tempo, impreciso
como o riso e jazigo raso.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Sem voz

Ao abrir a boca
pensei - como se a mente
mentisse suas asas -;
ao tentar falar,
falhei a garganta oca.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Celeste...

...A tinta azul do céu
que falta à minha caneta,
sobra às massas de papel
formadas por nuvens alvas
moventes nas alturas
do firmamento.

Em meio às brancuras,
a ausência de som,
ali, se faz mais presente;
e a tinta abundante
escreve, até às escuras,
numa placidez inerente
ao teto carregado
de sentimentos nebulosos,
ora 'trovejosos',
ora leves e insinuantes.

À mim o céu se descreve
dessa maneira instigante,
com amores, dores,
sabores de outras vidas,
outros instantes...

...E é assim que (m)se descobre.

Num atol

A jangada flutua no índigo
e o azul a reverbera no ar;
a manhã dispara e, sem abrigo,
a luz amarela esverdeia o mar...

...e a brisa movimenta a areia
com ondas ao som de sereia.

Essa constância é a demência
que afeta meu pensamento.
Em alto mar a resistência
dura só por um momento.

A sereia canta a revolta
que o mar vem aprontar
e toda vida, à sua volta,
começa a se assustar...

...então uma chuvinha cai,
o canto devagar se esvai....

Os dois azuis não são mais,
escurece uma noite limpa;
o céu brilha estrelas demais
e, aqui, ainda espero sua vinda...

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Reação

Causam, no momento,
um elétro-choque
de corpóreos olhares
em ligação atômica;

pronomes do caso reto,
eu, sentindo um toque,
e tu, que me ocorre
em colisão mecânica.

domingo, 1 de maio de 2016

Vísceras

Me lê, como se visse
por baixo do pano
- num ato, quase profano,
de espionagem -
o rebuliço
de vícios e viagens
que é minha paisagem:
toda a poeira
debaixo do tapete,
todos os esqueletos
dentro do armário.

Me lê, me vê
e passa a entender,
através do véu,
que tanta sujeira
faz parte de um ser
e, por aqui, ser
isto é algo inaceitável;
mas é desta maneira
que espalho vísceras,
e só você as revira.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Problema térmico

Há tempos não acontecia este "inverno"
que gela os ossos e congela a alma;
esse inferno que queima e tortura
a face ao toque do ar, tal gelo seco,
fumegando a pele, enquanto esfria a palma
da mão, as articulações de cada dedo,
fazendo árduo o ato de escrever este poema,
com calor e frio confusos num único problema:

esqueci
o
casaco.

Silêncio opioide

Em meio ao silêncio,
a respiração ainda soa
profunda e barulhenta,
como se o espesso ar,
fosse da respiração tua,
que eu fosse inalar
tal como um opioide
de moderno urbanoide
a se dopar de realidade
e se preencher de sonhos
em uma vida desperta.
Uma overdose certa
só em sono forçado,
expirando ar viciado...

...às vezes, nem assim;
pois é, o silêncio,
apenas um conceito
teu, meu, nosso,
que se dá no momento
"quero, mas não posso";
um conceito latente
que lhe quer silente
da alheia existência,
enquanto esta se dopa
sonora e se silencia
até a próxima recaída.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Caravela

Me atire aos mares do céu,
do chão aos ares, ao léu
desse oceano de cor azul,
ondulante como cabelos
e ventos enchendo velas
de viagens de norte a sul.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Afinal...

És xícara
e escolhe
seu chá:
cicuta
ou panacéia.

O fim(,) pode ser...



...o mesmo.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Dualismo

Saiba se ver
luz e sombra,
lebre e cobra;

sem esquecer
que és união
de bem e mal,

santo e belial
em (con)fusão.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Observação

In loco,
nunca vi guerra,
mas vi muitas
das tristezas
dessas terras
e das mazelas
de tantas outras,

observando acerca
dos passos
e acertando,
como se erra
um errante,
por rios e serras,
cidades e campos...

...dentro dum instante
num tempo infinito.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Registrando

...Devia estar estudando,
mas cada vez que deito
a caneta no papel branco
sinto que não me endireito
e me pego pensando
aos sons de danças
e nos movimentos
dos quais a mão balança
e escreve, toda vacilante,
algo que se dá no instante...

Banquete

Serviram meu coração
temperado num banquete
e cada pedaço de paixão
era cortado e devorado
para o vosso deleite.

Pena que cada pedaço
devorado não me volta
no peito vazio; desfaço
em dor e, embora fatiado,
não sinto tal revolta.

Meu íntimo dilacerado
é só tristeza e saudades
misturadas e, mastigado,
é engolido como choro,
como se perdoa a maldade.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Incerta

"Talvez" é palavra
que de incertezas
a alma lavra,

e germina
sementes
aleatórias

de uma história
que será bem
e também mal.

Um destino, "talvez"...
...na sorte ou revés,
sempre fatal.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Deus?

Deus,
deixarei minha preocupação -
se você existe ou não -
de lado e ficarei com os meus.

Não me leve a mal,
mas já vi coisas feitas em seu nome
que foram refeitas
de maneira incólume
e só trouxeram ódio mortal.

Sei que lhe atribuem
coisas boas,
mas será que não se confundem
e guerreiam à toa?

Pois até em peleja entrei
e hoje me arrependo,
só me trouxe sofrimento
e, no fim, percebi que errei;
mas se o senhor é justo,
como pôde deixar, o susto
que não passou
acontecer? Olhe o que restou
de guerras e disputas
a seu favor:
pobres, esfomeados, putas
e povos com pavor.

Seus representantes
não fizeram o bem
sequer um instante,
não querem viver sem
o mal, o dinheiro, o poder...
...nem que milhões tenham que sofrer.

Aí me perguntam
porquê custo a acreditar,
e me escutam
falar que não devem se importar
com o que penso.

Humano em curso

Não havia necessidade lírica
para que uma poesia
que, a tinta, se escrevia
se tornasse algo de heroica.

Nada ali pedia poesia épica,
ou qualquer esperteza
de monólogo ou reza
divina, eloquência ou retórica.

Ali se via a realidade empírica
de uma vida em percurso,
a experiência em curso
dessa vida humana e poética.

Sobrecarga

Sim, lucro é objetivo justo
para estes que aqui escuto
ao lado, enquanto me vejo
enfiado em tal vil ensejo
de outrem; percebo e sofro
com o que me é proposto:

pelo mesmo ordenado
farás chover, farás sol,
farás o mundo em sete dias,

sem te tornar revoltado,
pois não cabe no rol
comportamento de ira.

E assim pensam o destino
como se selado; me atino
e me percebo explorado
por gente que, aqui ao lado,
exerce a face do opressor
sob a máscara de redentor.

Só que a faísca interna
me impede essa "eterna"
de ser um simples capacho

e sei que farei o que acho
correto e vou me revoltar
contra quem me sobrecarregar.

...Ledo engano achar que os debaixo só obedecem...

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Gerar poesia

A folha vazia
pode intrigar,
enquanto faria
deitar e rolar,
gerando poesia
no lençol-mar,
a caneta diria,
ao lhe soletrar,
que plantaria
nesse pomar
a semente da vida.

Da natureza

Talvez perdi o gosto
por adrenalina
estática
que me alucina
e me fascina;
tendo isto posto,
não uso cocaína
ou sintética;
nada de heroína
ou anfetamina:
nem sinto alvoroço...

...mas o que a natureza dá
é impossível recusar;
cresce e podemos pegar
comida, roupa e chá.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Poema pensando

Nem mesmo tudo o que presumo
é possível fazer um breve resumo,
pois suposições apenas sustentam
teorias e teses, de início sem razão,
mas de uma complexidade ímpar
em relatar e, com perfeição, falar
de si: um pensamento, uma ideia,
um movimento que agora permeia
o ato de fazer algo do pensamento,
analisar o seu fluxo. Assim invento
meio que mambembe, tropeçando,
um poema que está se pensando.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Astrolábio

Vejo os astros solitários,
subo no mastro
mas não consigo alcançar
o céu para lhes fazer
companhia,
então me dou conta
de que estrelas me sorriem festeiras
e, com elas, me oriento pelo astrolábio
por onde devo seguir
para no destino chegar
e saciar meu desejo.
E o céu se mostra tão sábio
quanto um vizir
na segurança de me navegar
até seus beijos.

Beijo, pelo astrolábio
ao longo das galáxias,
as nebulosas rosáceas,
marcas de lábios sábios.

Mundo Mortal

Matam-me sem saber que já estou morto.
Exorto que levem-me até cais do porto.
Um túmulo torto não me serve conforto,
como o mar, morto
quando a maré baixar.

Pensas que acharás, sequer verá o corpo.
Quando não há mais lar, não há mais ar,
e sem água ou vida, morre mais um boto
e o humano estará
onde evita chegar.

Quando estiver morto,
morto o mundo me estará.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Poema embriagado

Sou todo fumaça e álcool,
como se estivesse num atol -
aquele ponto crucial em que terra e lago se confundem
no mar -
e as aves passam ao largo...
...às vezes no meio de uma nuvem
acima, a espreitar
a boemia,
essa vida de naufrágio 
no copo de cerveja,
na fumaça de um fumo,
quando a noite me beija
e me diz "bons sonhos",
enquanto deito, risonho,
na cama-sarjeta.

Chiaroscuro...

...que se mistura
em luz e sombra
que vejo na pele,

um naco, pedaço
de carne que traço
à letras, se revele!

Que cada letra
seja como seta
direta ao corpo,

que fira a folha,
furada sem escolha,
um corpo torto...

...na luz de toda vida
e sombra das feridas,
que aqui lamberei

para, em noites de lua,
cicatrizar memória sua,
cuja marca nunca esquecerei...

...em noites assim, chiaroscuras.

Distância

Tão perto, tão longe...
...cada ponta de dedo
no toque dessa pele;
tal sopro que o vento,
nessa face, desfere...
...tão longe, tão perto.

Tão longe, tão perto...
um oásis num deserto
de esperança abundante;
dunas e bancos repletos
de areia ao sol escaldante...
...tão perto, tão longe.

É na distância que esconde
algo interno que soa incerto,
como se, tão perto e tão longe,
não se sabe sequer, decerto,
o que é terno. Mal, nem onde,
nem mortal, nem eterno.

Só na inconstância se é monge:
a certa distância é que se observa
uma vida numa daninha erva...
...tão perto, tão longe.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Nogueira

Neste dia fatídico,
um dia específico,
não há vislumbre
de algo que dobre

a minha língua,
que cale
minha voz,
que sobressalte
a pulsação...

Lá a lua míngua
seus males,
mas a casca da noz,
ainda resiste
qualquer pressão.

Haikai que sorrio

E com outono
veio o frio, do qual eu sou rio
tal rio do sonho.

Verso vazio

As ideias me faltam,
os versos do meu afã
sumiram como este,
como se o perdeste

em alta velocidade,
como bipolaridade
muda os humores
de seus reais atores.

E de repente o verso
(se) vira(-me) do avesso
e esqueço o que iria
escrever...

sábado, 26 de março de 2016

Luna Sina

Um uivo solitário
é o que emito
à brilhante lua
enquanto vago pela rua.
Sem resposta, repito
procurando ao lado
uma alcateia
nessa pradaria conhecida,
em meio a noite vazia.

Sem retorno de
uivos em companhia,
a solidão sentida
da natureza minha,
vestida de homem
(enquanto sempre lobo),
disfarça toda beleza
em versos decadentes
entre dentes caninos

que, por muito pouco,
laceraria corpos,
mas se encerram em copos
que refletem luz noturna,
enquanto uivo,
solitário,
procurando resposta,
solidária,
esperando presença

lupina.
Talvez fingir ser humano é,
aos lobos, uma sina.
Esquecer a tentação
é negar-se à sua essência,
mas, por experiência -
e da vida, intermitências - 
lupinos já sabem,
há muito o fazem.

Mas o uivo é o último refúgio,
se por um infortúnio,
deixarmos de uivar,
melhor deixarmos de viver...

Nunca negue a natureza do uivo.

quarta-feira, 23 de março de 2016

Saudades de um ser sem maldade

Num dia, uma hora de almoço,
após tanto tempo, chorei...
Chorei e chorei, copiosamente,
como se num alvoroço
de lembranças, memórias à mente,
me atacassem. Me desmanchei...

...em pranto, pois reconheci
sua ausência, bem ali.
ao te ver,
mas não era você.

Mais tarde, visitei sua antiga casa,
onde lhe visitava
e passava horas aos seus pés,
debruçado no chão.

Esse impacto abalou minha fé
de um mundo justo.
Não mais escuto
os que dizem por aí
sobre as coisas triviais
como nascimento e morte,
pois desde que se foi,
tudo que, até então, ouvi
sobre amor são frases banais,
e sua presença
se fez sua ausência.

Quanto protelei?
Para poder sentir,
e não lhe dizer "adeus",
mas sim "olá, meu
velho amigo",
protelei muito.

Não mais tentarei apagar tua memória
para me poupar da dor do amor de sua história.

Foi sincero,
gratuito;
fortuito,
ali, quando lhe vi;
sabia que não era você,
mas o coração não quer saber,
ainda sente muitas saudades de ti.

Florbela e Chico

Escrevo, numa página branca,
o lado do qual não me eximo,
como se Florbela e Chico
fossem a poesia que espanca
as paredes dessa branca sala,
com palavras em tintas
de cores invisíveis aos olhos
mas audíveis aos sentimentos,
como uma sonora escala

(daquelas que umedecem
a visão num arroubo,
como se soubessem
do sentimento que roubo
do tempo que passa longe
do cotidiano que nunca passa;
daquelas melodias
que só o interior escuta
ao passo que se perscruta
no ouvido uma pausa
de noites e dias)

cantada por uma voz
inaudível ao mundo,
mas gritante no fundo -
em seu pontual âmago -,
de que assim somos nós:

silentes, mentirosos,
sedentos, receosos,
mas, por dentro, sinceros;
pelo momento, dispersos...

...Até sabe-se lá quando...
talvez até a folha em branco
se acabar e apenas sobrar
o colorido do mundo
no azul do planeta,
nos globos de seu olhar.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Presença de Espírito

Te ver fantasma, aparição,
qualquer figura de etérea
e deletéria assombração,
me confunde até a matéria
da vida registrada ao olhar.
A distância que se tornou
essa sensação de nostalgia
não é mais do que afasia,
uma conversa que cessou,
trauma afligindo o falar
de uma alma que voou
e talvez não mais voltará.
Se por ti for atormentado,
por tempos indefinidos,
terei sido até agraciado
de memória ao meu lado,
continuando o assombrar
desta vida cheia de alma,
cuja presença de espírito
é uma reincidência calma
que aceito, sem manifesto.

Poemasia

Neste dia, uma leitura
de poesia é uma cura,
ao passo que é veneno
sua escrita...e é mesmo.

Pode ser que mal digo
um poema de maldito,
mas sei que tu rimas
sentimentos com ramas,

pois tu és poesia pura,
enquanto eu só escrevo
o que aqui me tortura
e o que, dentro, observo.

Me sei apenas servo
bendito à nobre poesia
e maldito ao que sirvo:
um poeta em demasia.

sexta-feira, 18 de março de 2016

Regime semi-aberto

Quem me dera
poder daqui mudar
para qualquer lugar
onde eu possa
pelo menos
abrir a janela.

Não aguento mais
ficar aqui, atrás
dessa janela
que não fecha
e nunca se abrirá;
aqui virou um lar...

...Um lar que detesto
e sempre devo voltar,
pisando em espetos
fodendo meu calcanhar.

Trabalho escravo
moderno que explora,
te deixa até bravo,
mas ainda te devora.

Como eu,
você também quer
estar lá fora.
Queremos ir embora
e nunca mais voltar.

Se Viu Guerra

E assim, depois de tudo,
o povo no espelho civil,
na cena em que se viu
percebeu todo o absurdo
que ali se acometeu
e nada se justificou.

Não se derrama sangue,
não importa o motivo,
diálogo é o que conserva
uma conversa que estanque
qualquer rasgo dolorido
feito pelo povo desgarrado.

A ética pode ir ao espaço,
quando a massa berra
palavras de quem erra
ao validar discursos rasos
de gente de moral falha,
cujo ódio nos espalha

e, à beira de um colapso,
talvez numa civil guerra
onde (a)briga suja (a) terra,
nos vemos tão ineptos
que pensamos desistir
do sonho do povo se avir.

...Mas desista de desistir!

Pois há de se batalhar,
e que o façamos nas idéias;
que de nossas fileiras
loucas poesias venham ao ar,
para construir revoluções
e ganhar novos corações.

Prantorrente

A emoção é uma torrente
que, somente com forças
de seres sobre-humanos
e mitológicos, tem chance
de se parar pois é maré
forte a inundar a costa;
se não para, molha o rosto.

Masoquista

De que me adianta ler
o que fustiga a essência
dessa minha experiência
humana, desse meu ser?

Seria eu masoquista?
Apenas alguém cuja dor
se mistura com o calor
de um poema em vista?

Um poema cujo verso
inicial me soa agressão,
como um soco - uma mão
direta - em cheio na face.

Onde cada golpe atingido,
em rima, verso e estrofe,
me sangra e me comove
o coração, dentro, afligido.

Poemas de dor e
poemas de ardor...
...A poesia sua,
a poiesis que suas.

Sol(idão)

Como seria a vida do astro sol?
Será que ele já se sentiu tão só?
Mesmo rodeado de um universo,
será que ele se sente um verso...

...Solto?

quinta-feira, 17 de março de 2016

(Frear) A profecia Kafkiana

Será que Kafka se sentiu assim?
Uma sensação inquietante
num breve instante, na avenida?
Uma sensação sem fim
de que algo ruim vem à surdina?

Pois me é inquietante o que vejo,
o que ouço e o que leio.
Parece que leio entre as linhas
da rinha que corre a história
que nos passa sem deixar memória.

Mas que faremos se isso é mais
que ensejo, desejo da névoa?
Não faz sentido deixar acontecer
novamente o que Kafka previa
no passado que esteve a escrever.

Deveríamos travar um encontro
e tentar parar a névoa espessa
com nossos ventos de confronto
por meio da palavra travessa,
da poesia da terra e das veias!

terça-feira, 15 de março de 2016

Finta

Queria matar o silêncio
da folha em branco,
mas ele já morreu
quando dentro gritou
qualquer sentimento
agora escrito no papel
e, que no entanto,
tentei apagar à borracha,
mas só espalhei a mancha
de poroso grafite.

Sujei todo o papel sulfite
de sangue cinza,
que não mais estanco,
e letras, que num espanto,
ainda aparecem
me fazendo finta.

segunda-feira, 14 de março de 2016

De cabeça para baixo

Eu olho o céu,
mas vejo terra
e, ao ver o chão,
enxergo nuvens
que se movem
sem uma razão,
até rugir a fera,
e chover o véu.

Praça Mística

Aqui, parado nesta mística praça,
sinto sua presença me invadir
e quase lhe vejo, só falta que faça
todo a graça do jardim florescer,
mas percebo que isso é fruto
desse cansaço, que me proíbe
as chances de sonhos noturnos.
Aqui tenho diurnos devaneios
sobre a vida e, me escrevo
de maneira que não vivencio
essa frustrante realidade
tal qual me foi imposta:
de que te lembro e lhe sinto,
no que parecia um sonho finito -
mas é um devaneio que persiste.

sexta-feira, 11 de março de 2016

Casa dos Poetas

Em meio a essa chuva,
quero beber-te vinho
ao andar pelo jardim
de rosas e uvas
da casa dos poetas.

Vinho de sobriedade,
ao passo que um café
pode abalar qualquer fé
e mudar a realidade
da casa e dos poetas,

num doce desvario
por onde vazam palavras
e poetizam as chuvas,
enquanto o céu sorriu,
como se fosse poeta,

ao lavar o mal da terra,
ao fazer nos encontrar,
poetas num pomar
a versar sobre quem erra
por essa terra de poeta.

quinta-feira, 10 de março de 2016

quarta-feira, 9 de março de 2016

Percepção do Som na Infância

Me volto a memória
para períodos
mais que recônditos
nos labirintos
da história
e seus fatos.

Nos tempos de juventude
pude ver que, ao desenvolver
algo de consciência,
a doce experiência
humana vinha a crescer
e, sem ter quem ajude,

a cabeça passou a pensar,
como que por si mesma,
e um ser ali brotou,
um pensamento fincou
mastro, trouxe a resma
de folhas e passou a registrar...

Cada momento na mente consumia
tintas, quadros fotográficos,
bytes e muitos papéis
que aceitavam seu revez
de todo lado prático,
devia registrar toda hora, todo dia.

Até que percebi, orvalho
era um mistério e o som...
aaaaahhhhhh, o som é o prazer
que me costuma fazer
despertar sentidos de um dom
que todos têm retalhos...

Cada um se refugia num sentido
e o meu foi a audição, sempre,
pois é o que me faz ser eu.
Não é algo que é só meu,
outros também são, do ventre
ao presente, nisso até parecidos.

Desde aquele vislumbre
da consciência pueril e inocente
que me crescia, sabia
dessa sublime alegria
que me quebrava a corrente
da realidade insalubre,

ouvir os sons da natureza
era o descobrir da música
do mundo, grande maestro,
nem canhoto, nem destro,
apenas uma esfera acústica
que ressoa toda uma beleza

emocionante na sua construção.
Isso mexia com cada pedaço
que se organizava no piscar
de olhos que é o ato de pensar,
e se apoderava de todo espaço
de meu pensamento em evolução.

...E fico, até hoje, hipnotizado
pelo poder do som no ouvido,
parece que volto ao início
de tudo, num doce precipício
que ecoa a música do mundo
para este ser amaciado,
acalantado e sentir a doçura
da gota do mel num oceano
de mares salgados.

Sobre nossos poemas

Sei que, talvez,
muitos dos poemas que leio
não são para mim,
mas os torno meus por meio
da contemplação
e por deixar cada palavra
invadir, enfim,
minha imaginação,
esta minha pequena lavra.

Lavra que também poetiza
linhas de pura ojeriza
e versos de doce beleza.
Não será possível me "ler",
pois não me abro livro,
só podes pouco me conhecer,
por meio dos versos presos
e de outros livres
que venho a escrever.

E mesmo assim, faço sigilo
de cada sentimento meu,
e para me entender,
assim como minha poesia,
deves decifrar metáforas,
e fazer como fiz eu:
tornar meus poemas teus,
apreciando, mundo afora.

terça-feira, 8 de março de 2016

Gatuna

Espécie noturna,
de hábitos felinos,
seu arroubos
furtivos
me roubam
a razão
dos sentidos
já mínimos.
Com garras e dentes,
me corta
a garganta,
morde
pescoço,
me marca
o peito,
me rasga
até todo sangue escorrer.

Morro por violência
e hemorragia.
E você assim
se delicia.

Roubando minha vida
na calada da noite
...ninguém escuta
minha morte.

Abraxas

Me perco na imensidão azul
de seu olhar de oceano,
profundo e misterioso,
nas ondas de norte ao sul
que me carregam
como barco ocioso,
sem direção ou costa
de horizonte praiano.
Perdido nesse oceano,
sinto que algo recosta
e pousa dentro de mim,
seria uma ave, enfim,
que bate asas fortes
ao invés de pulsação;
ali no peito abre e achas
o tesouro de naval missão,
do fundo do espelho do céu
que é o mar de sua visão.
Sem deus ou diabo
para ajudar na volta,
só sobrou eu, ainda perdido,
esperando uma tormenta
ou uma divindade
com asas que, sem alarde,
me guie ou me leve à terra
ou deixe que eu morra
de paixão
nessa imensidão
azul...

Sobre a Espontaneidade do Clima

É incrível como o clima muda
e o faz de uma hora para outra,
como um bipolar, mas neutra
é sua vontade na tarde absurda,
em que o dia escurece na manhã
e que noite vira dia, sem afã.

segunda-feira, 7 de março de 2016

Cruel Tempo

Das armadilhas da vida
o tempo é a mais cruel,
te mastiga, te trucida,
e te torna o amargo fel.
Fel dá nó na garganta,
caso você não saiba,
não há com que caiba
qualquer outra janta.

E nesse amargor vamos
destilando álcool, fumos
vida, sangue, suor e pus,
senão o tempo é perdido,
passa-nos desapercebido
como ouro de tolo reluz.

Se Movimentar

Sinto que vou surtar
pois a realidade é o susto
do qual despertei
e agora estou disposto
porque não quero ficar.

Sobre projeto de país

Não sou partidário ou patriota, apenas prezo por coerência e consciência e ultimamente tem sido engraçado ver como o debate político anda por aqui, parece briga de torcida de futebol, só que de forma mais infantilizada... Como as pessoas se dispõe a gastar tanta energia, fazer tanta entropia para no fim, elegerem seu novo baluarte dos interesses coletivos? E, pasmem, sabendo que os interesses coletivos não serão respeitados, pois sofrerão em detrimento dos interesses individuais do beato posto em trono pelo povo crédulo.

É...o povo se desgasta, e muito, a toa. Porque neste pedaço de território, definido como Brasil, temos uma curiosa situação que se perdura por mais de duas décadas pós-redemocratização, nas eleições vemos um fato curiosíssimo ser escancarado, um fato que deveria nos aturdir, fazer questionar nossa participação e a participação dos próprios partidos:

Ninguém apresenta um projeto de país.

Pare para pensar, os discursos são os mesmos, mudam-se caras, bocas, vozes, escrita, mas o conteúdo é o mesmo, e não é raso.
A triste realidade é que os partidos (salvo raríssimas exceções), em sua grande maioria, são apenas reformistas, não fazem guinada alguma (que nunca tenhamos uma à direita, por favor), o projeto de pais que eles dizem apresentar há anos tem sido o mesmo: Cumprir a constituição.

E nem isso o fazem.


Vou resumir de forma simples, mas bem coerente:

Eles estão prometendo fazer o que já é obrigação institucional de seus cargos.
Eles prometem escovar os dentes, quando isso nem deveria ser prometido, apenas aplicado...e há muito tempo.

Ou seja, não há mudança real.
Sem um projeto a seguir, nunca haverá, e os conformados ficarão no lado mais quentinho do poço de merda porque ninguém quer ficar no lado frio, mesmo estando num poço de merda.

Sem Manto

Sinto um demônio
dentro de mim,
uma marca de Caim
tão quente que queima,
me incinera por dentro
como a chama de um dragão
que no interior enfrento.

O fogo clama
por cada pedaço
do que julgava
ser minha essência,
e seu calor quebra
a máscara, um estilhaço
me reflete a obra
que aqui se vivencia:

de todas minhas brasas
serei sempre
a última a apagar
e é nela que reside
todo meu eu,
essa obra de ateu,
de demônio, de santo,
de quem retirou seu manto.

quarta-feira, 2 de março de 2016

Literar

Lendo livros e observando a vida
sei que vale a pena qualquer ferida:
é um aprendizado
a ser alcançado.

Aprendi lendo de Tolstói
que a balança da humanidade
fica entre o bem e a crueldade
e percebi que a realidade dói
dentro de mim...

Como é difícil de aceitar
que o ser humano não se furta
nos seus atos, nem se assusta
em ser vil, podendo até matar
acelerando o fim

de qualquer um,
como uma talagada de rum
esquentando uma noite fria,
como quem quer luz
e que o escuro da noite azul
seja tarde alaranjada dum dia.

Aprendi com Veríssimo
que amor soa música ao longe,
você não agarra, nem sabe d'onde
vem tal som lindíssimo,
só pode sentir

e quando se der a chance
de lhe ouvir, sentirá no coração
algo que só deuses lhe dirão,
então digo: não se espante,
pois não irá partir...

...De qualquer lugar,
como uma pessoa a andar
de lá para cá em euforia.
Simples, por aí está
passa até por uma fresta
da janela que lhe clareia
o dia.

Rascunho

Pode ser que um dia
eu acabe poesia
perdida nas estrofes
que se desmancham
em versos-catástrofes
que de tinta mancham
a folha em branco
já amassada
jogada
num banco.

Virão outros poemas
que terão seus problemas:
estrofes com versos em rima
enganando os sentidos
sem poesia ou estima
e o que está sentindo
é só uma ilusão
bonita por fora
pois, por ora,
se foi embora
a inspiração...

...junto da folha amassada
que rolou no vento,
e se perdeu no tempo,
eu, poesia, sou largada,
esquecida
como rascunho
do coração.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Ser flora

Que sejamos árvores,
balancemos ao vento
e joguemos as folhas,
sementes e rebentos.


Aos Ventos

O tempo até passou rápido,
mas os silêncios, lentos,
são, nos ventos serenos
como nós, nada ávidos.

A tal paz sempre atinge
a nós, rapariga e rapaz,
numa conversa que apraz,
até quando o tempo cinge

a realidade que gostamos
e devemos voltar ao mundo,
quando dele há muito saímos,

mesmo enquanto sabemos
que a vontade, lá no fundo,
é que ali ao vento fiquemos.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Miragem?

Poderia jurar que vi
uma certa imagem
passar ao meu lado,
a presença que senti
poderia ser miragem
ou algo do passado
recente desse tempo
em que esse vulto
passa e me sacoleja
os cabelos como vento
e canta sons ocultos
de uma voz benfazeja.

Te vi, depois, não mais.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Rascunhos

Quantos rascunhos...
...muitos...Muitos, MUITOS!!!!
Mas saem muitos mesmo
enquanto movo meu punho
escrevendo minhas ideias a esmo.
Quem sabe sai um poema fortuito...

Que demora...

Eu quero mudar de carreira
quero cheirar novas flores
voar no vento como poeira,
desorientada onde fores,
se espalhando em partículas
e deixando parte da essência
em ideias e estórias lúdicas
que retratam as experiências
de uma vida presa ao tédio
do cotidiano mundano banal
para o qual não tem remédio
senão pela raiz cortar o mal:

Parar de fazer tudo igual.

Lupina

Nas vésperas do carnaval
foi quando avistei, animal,
teu olhar lupino me fitando,
como fera mirando a presa
a ser abatida,
em plena avenida
no meio do samba da escola
para matar a fome
que lhe assola.

Loba que do nada me come,
me rói e me cospe, daí some
para andar com sua matilha,
longe de onde me feria.
Minha fantasia de pássaro
cantor se foi com a música
que silenciou nos pedaços
meus entre seus dentes.

O carnaval nem tinha começado
e do jeito que estava fantasiado
só poderia ser despedaçado
pelo seu instinto impulsivo
que tem me destroçado.

Você mastigou cada pena, pluma,
e engoliu meu canto,
sem dó nenhuma,
Não foi boba,
mas esqueceu um detalhe:
agora o canto ressoa dentro de ti,
loba.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Parreiras do seu quintal

Te ver é estar entre as parreiras
que crescem as uvas verdes
dos seus olhos,
entre as videiras mais delicadas
das moscatéis mais doces
dos seus cabelos.
Teu lábio de uva rubi
me enfeitiça, e me vi
perdido, querendo o sabor
das frutas do seu pomar,
em especial o doce amargor
das uvas negras com semente
que ali vem a dar.
Com sua pele, cor de uva branca
e maçãs do rosto em niágara rosa,
tu és vinho caseiro e me inebria;
em altas doses, me espanca,
me atropela como carga pesada, mas vagarosa
e me faz gostar de sua ressaca
no outro dia.

Cegueira existencial

A vida acontece
enquanto não enxergo
o tempo passar;
e o fato se repete:
percebo aqui, eu cego
e o mundo a girar.

E a vida, nada de parar.

Fantasia em veias

Me assusto quando me vejo
lidando com sua inexistência,
vagando, como se num brejo
estivesse perdido, paciência...

Paciência para toda ausência
que venha me deixar triste;
sei que a vontade, em essência,
é tudo no que aqui persiste,

cada pedaço de emoção e poesia
deste ser, que desata uma sangria
por não conseguir se justificar,

sangra paciente numa folha vazia
o sangue rubro de uma fantasia
de querer existir e desfrutar.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Fim de Domingo

É na tarde de domingo
que percebo o fim:
fim do carnaval;
fim da viagem;
fim dessas férias sem fim;
um final assim
triste, de passagem;
mas sempre há no final
alguém sorrindo...

...pena não sermos nós...

Que destino atroz
para um fim de domingo.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Maldito

Assim tinge de ódio
o pódio
dos poetas malditos,
com seus escritos
dignos de fúria,
ondas de luxúria
rúbia,
a doce selvageria
de um poeta
falando putaria
em língua oculta,
sem pagar multa
ou sair da forma
culta.

Punhal Amigo

Entre as escápulas
há uma nascente
de um rio corrente
e vermelho,
cheirando a ferro,
por onde jorra,
pelas costas,
o líquido que o olho
furado mareja, também.

Sangue que me escorre
por uma apunhalada
de alguém que era amigo;
assim o coração morre
de ferida não cicatrizada,
sem abrigo
ou mãos especializadas
para curar a tempo,
antes de se esvaziar
da vida.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Sobre a estética

O julgamento estético sobre a arte
me mostra um certo disparate,
pois a crítica estética é inútil.

Estéticas mudam e, queiram ou não,
não são unânimes, nunca serão,
então discuti-las me parece fútil.

Filosóficas

Gosto de pessoas
um tanto filosóficas,
mas as filosofas
já tem ideias formadas...
Gosto mais do frescor
de quem se forma
por comportamento
questionador
sem deixar de fora
o bom senso
de propagar o amor.
Uma filosófica pessoa
me ressoa
mais inteligente
que a mais decente
acadêmica,
que se amarra em tradição,
mal sabendo que isso já é traição,
a pior traição que existe,
é a traição de si que persiste.

Máscaras Sociais

Das importâncias
que damos aos papéis
sociais, ainda menestréis
somos de nossas vidas
e cada sabe com o que lidas
nessas inconstâncias
de nossa breve existência,
e mesmo sabendo
que de manhã, vendo
sua gaveta de máscaras,
é difícil escolher qual escara
será sua penitência.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Janelas Abertas

O desejo
se comunica no olhar,
quando as janelas
estão abertas
naquele andar
onde ela
dança em retas
e linhas tortas...

De repente
o vislumbre mútuo
e indecente,
no tempo dum susto,
os olhos enxergam
e entregam
a sensação do desejo.

Num ensejo,
os corpos voam
de suas distâncias
para fazer a dança
que tanto desejam.

Voam pelas
janelas abertas
dos olhos,
onde corpos passam
inteiros
e se recostam
nos parapeitos,
sem arreios.

Tantas sensações ficam soltas...
Tudo por conta
de janelas abertas...

...que comunicam desejos.

Ser e Viver

Uma vida sobre
vidas em sobras
veio como obra
que se faz pobre,
pois se fizer mau
jamais será bom,
para ser rico é mal
não ser um bem.

Ser bem, não é ser,
se for assim viver,
rico ou pobre, o ser,
de si, há de esquecer.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Idioma da Alma

Queria dizer mais do que a música
diz quando é instrumental e pudica:

Pura e direto ao sentimento,
sem a necessidade
de qualquer alarde
com palavras ao vento

jogadas, com força, em lufadas
onde letras voariam
sem destino ou razão,
precisando serem ouvidas...

mas, estas, não tão puras quanto o idioma
universal das vibrações em sonoras ondas.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Soneto de um Vazio Bienal

Olhei a agenda,
online e escrita
e tal pendenga
revelou à vista:

Tal como 2014,
2015: "c'est fini".
Igual, sem "quase",
passou e nem vi.

As duas agendas,
cheias de afazeres
e vazias de vida

provam a passada
que em doze meses
seguiu a vida...não vivida.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Versos perdidos

Não me sinto
escrevendo algo digno
de ser lido,
não é um vívido
poema ou mapa de signo,
é  do recinto

mais interno e íntimo
que admito: é ínfimo
o que tenho para dizer...

...nem sei porquê fui escrever...

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Salada Mista

O tato não revela sabor
até que papilas se toquem
no ato que causa furor,
naquela gula dos que comem
uns aos outros,
com os olhos,
com as mãos,
um tanto absortos
com esse molho
de gente com tesão.