segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Ideias daninhas

Por onde ando é fácil sentir,
na sola do pé, o solo fértil
que brota uma ideia a repetir:
uma erva daninha a crescer,
beleza dessa natureza
que insistimos remover.

Mas ao removê-la,
tudo desequilibramos
removemo-nos
de algo naturalmente
fora de ordem.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Escrever é sentir...


Sentir é se doer,
morrer para daí viver
e não se perder.


Para me esquecer
laço preso desfaço
do dedo a mover.


Vou-me assim perder;
vivo e morto, revivo
confuso ao nascer.



Se estou aqui a morrer
penso na vida, tenso,
sem nada entender.

--

Este é um quarteto haikai simbólico.

Moda verbal

A palavra da moda,
hoje em dia,
é a dita hipocrisia,
mas julgar é foda...
Pois ao mu lado
dizem "hipócrita"
e, ao serem julgados,
respondem "déspota"
com indicador em riste.
A verdade persiste:
outros quatro dedos
apontam os medos.
Quem, um dia, diria
que o corpo revelaria,
súbito, as palavras
fora de contexto
que vão às favas?
Então atesto:
"Perdem suas significâncias
devido tamanha ignorância."

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Marcas do tempo

Acorda cedo para cumprir seu papel,
mas o medo lhe molha como chuva
quando algo olha e faz com que suba,
sem perigo, pelo elevador até o céu.

As nuvens carregadas de seu humor
não sentem seus próprios trovões,
soltam raios; o exército dispara canhões
e o cavalo baio carrega a sorte onde for.

Uma alegoria dessas descreve o tempo
que, na alegria ou tristeza, morre e revive
enquanto dele ainda não estamos livres,
pois até beleza ele leva com o vento.

Não adianta correr para se adiantar
enquanto anda contra sua curta vida,
suicídio é o sacrifício que gera ferida
aberta que lhe mente ao se cicatrizar.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

ApoColapso [SIC]

Sinto um apocalipse
se aproximar...
Não é mais um eclipse
lunar,
muito menos o anticristo
com o dedo médio em riste.
Sim, insisto!
O colapso existe,
só o relapso que não vê.

Não é o "bug" do milênio
ou outro problema digital;
não é roubo de um prêmio
ou time vendido na final;
também não é imposto da receita
no seu mais novo telefone;
muito menos um povo egoísta
que não entende a fome.

É o fruto da ignorância
ao gerar um filho com a ganância;
é alienação
e manipulação.
Me pergunto, nessa frustração,
até quando nos controlarão?
E não falo de estado e corrupção
ou de maquiavélica corporação,
pois algo maior é a preocupação
que aflige meu coração.

Então pergunto,
ao morto,
em seu conforto:
"até quando aguenta
se deixar parar?"
"Pois só é vivo
quem se movimenta",
ao seu silêncio, argumento.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Seara Saara

Acabou o choro
quandos as lágrimas
se secaram
e as vozes
se calaram.

Não há mais ouro,
ou qualquer milagre.
Acabaram,
seus próprios algozes,
e se mataram.

É muito engraçado
como as lástimas
se provaram
tão verdadeiras
e fatídicas:

Um Samsara desaguado,
sem sequer bagres
que nadam
longe das beiras...
...Longe das bocas.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Paz na faixa

Eu pedalei
para bem longe,
me arrisquei
até onde pude
e valeu a pena
tal emoção extrema
de um ônibus
ao meu lado passar
e o motorista
sorrir e acenar
como se o mundo
pode ainda ser bom
com o ar poluído
e tanto ruído
disfarçado de som...

...E lá se vai
mais um busão;
outros passam
e sorrindo
me acenam...

...Eles vêm vindo
e sempre estou vendo...

Assim vou indo,
acenando de volta
e sorrindo.

:)

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Juras...

Juramento de Hipócrates
feito em juízo por hipócritas;

Juramento do Engenheiro
feito em função de dinheiro;

Juramento do Advogado
feito pensando no povo como gado;

Juramento do Economista
virou juras de "segregalista";

Juramento da bandeira
é, do militar, mais uma asneira;

Juras de amor
ainda causam muita dor.

Jurar é fácil,
tornando o fazer,
e ser bom,
difícil.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A Malandragem

Samba em bando
dentro da caçamba?
Caramba!

Continua sendo
um samba
sem banda.

Aqui ou em Ruanda,
só malandro
o samba
é bamba.