terça-feira, 21 de junho de 2011

Música à alma

Num sopro a essência da alma se esvai.
Sai o som do seu amor e diz algo, quieto,
o vento que leva a alma para o deserto
perdido onde está escondido um oásis.

Nem tudo está perdido no campo seco
onde a areia é quente. A alma nem sente
as tempestades; ouvindo este presente,
o som arquétipo e também pitoresco.

A alma sente-se tocada e cheia de vida
onde o som vibra sua forma de "imatéria",
que é nossa essência primitiva e etérea.

Dos sentidos, seria a audição favorecida
pelas experiências de uma vida até antiga?
Tal nostalgia é tão forte que à alma periga.

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Soneto rápido para quem gosta de música. :)

Acessos de raiva

Estou prestes a ter acessos
por essa vida de excessos
que deixa outros possessos
quando lêem certos versos
que lhes são um tanto inversos
e lhes correm reversos.

Acessos que me enlouquecem
e me enraivecem.

Tantos abscessos sociais numa sala só,
com tantos sucessos banais rindo sem dó.

E isso me traz acessos
por todo dia que desejo regresso
do tempo que atravesso,
mas tudo que ganho são acessos.

Nem quando me despeço
tenho no sossego um sucesso.
Só sei que este processo
não me traz nenhum progresso.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ao 123° aniversário de Fernando Pessoa

Hoje é aniversário de uma pessoa
que por destino correndo à toa
há muito tempo não é uma pessoa.

Esse tal de Fernando que um dia fora
Alberto. Tornou-se Ricardo outrora.
E também Álvaro pelo mundo afora.

Mas como será que o mítico poeta
de "poliheteronímia" seguia a reta
de múltiplas vidas como uma seta?

Tão difícil saber isto quanto decifrar
cada verso de sua autoria a recitar
por personas diferentes na luz lunar.

Saindo debaixo da nuvem num dia rural

Sempre ando à sua sombra
até que a luz me ilumine,
até que o sol me aqueça,
até que a sombra desapareça,
então sento nesse banco de vime
e descanso os pés na alfombra.

Acendo um cigarro de palha
e ouço como a plantação farfalha.

E o sol alimenta o trigo
enquanto saboreio um figo.

Ah, os simples prazeres da vida.

Sofrimento prazeroso

"Onde estavam todos nessa cidade?"

Era a pergunta repetida profundamente
      em seus questionamentos
            mundanos.
Como foi dar-se solitário ao local
      sobre qual lhes falo
            agora.

Soube da dor e queria ir embora logo.
Soube do amor e queria a dor de volta.

Esse estado de torpor e vazio é seu fiel
      E SÁDICO companheiro, mas não pode ir contra,
            pois é masoquista.
O ser humano é masoquista emocional por natureza.
Há algo na solidão que nos faz apegar à tristeza.

A pergunta ecoa: "Onde estão todos nessa cidade?"
É uma tragédia pessoal, e está feliz por sentir
      ao fundo tal calamidade.

Está sozinho, não sabe sua procedência,
      nem seu destino.

Mas sabe que sozinho gosta de estar.

Dignidade? Moral? Razão?

Falas muito de dignidade ferida,
bradando suas palavras de ordem
para que os quatro ventos soprem
ao redor de todos pela sua vida,

mas de digno cai por ser infantil
ao forçar o ridículo de atitudes
banais, que provocam a quietude
de outrem, lhe dando glórias mil.

O que lhe é digno, falta em moral.
Mas é cego assumido como uma nau
navegando em mares com nevoeiros,
atirando sem ter um alvo certeiro,

perdido em voltas, perdendo o rumo
ao ser arrogante e até intolerante.
"Adeus moral", pois diga, é oportuno
e íntegro, pelo menos no instante,

mas o ego não lhe permite tal ato
e clamando por algo chamado razão,
diz que não esquecerá antigo fato,
e os ensinamentos passados, em vão,

ficarão guardados no âmago do ser
enquanto negar a voz dizendo "cresça".
É o seu declínio que não quero ver.
Pois de tudo, e até de mim, se esqueça.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A saudade

Essa grande dor
que atinge os amantes
é consequencia do amor,
em dias distantes
um do outro,
ficando apenas
aquela saudade
curada no reencontro
até as duras penas
em qualquer idade.

Para os seres amados
a falta não fere
nem que desespere
o coração namorado.

Para aqueles que amam
não há amor egoísta,
não importa a paixão,
muito menos ponto de vista
no amor há zelo e compreensão.

E a dor da saudade
é, de todas as dores
de diversos amores
na nossa realidade,
talvez a única
que não machuca,
mas na verdade
nos traz na lembrança
um sorriso e na esperança
um pouco de felicidade.

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Será a saudade um sentimento tão ruim assim?