terça-feira, 30 de agosto de 2016

Numa praça, lendo Lorca...

...Os vermes vêm para me devorar
e nos bolsos vêem bichos da seda,
mas nada de plantas e folhas floridas
para que destruam no seu mastigar.

Nada importa mais ao cigano
exceto que os vermes da lua cheia
passeiam sobre o sangue latino
açoitado pelo chicote que meneia

ao movimento da asa de uma lagarta
desperta de seu sono profundo.
O que era uma larva é borboleta,
quer chamar atenção via insultos.

Mas ao cigano, nada tem a dizer.
Gitano, que só espera a lua descer
para a morte se ir e raiar a vida,
mantém-se firme, feição "cojonuda".

Se for com a lua, fica sangue na terra,
se ficar ao sol, fica o suor no solo;
não importa à boca de verme se cerra,
o cigano pertence à terra, é seu colo.

É o solo fértil de uma nação célebre
e, por sua cultura injustiçada, lembrada.

Não é possível ser quem não se é.

Depressão pós-livro

Estive passando os últimos dias
como páginas de um livro fácil
- um livro sem desafio ao leitor,
daqueles que lemos sem raciocinar.

Confesso, fui, sim, alvo fácil;
uma presa um tanto quanto dócil
daqueles livros fáceis de amar,
difíceis de esquecer e que, no fim,
deixam dor e uma saudade do enredo,
uma nostalgia da narrativa
e uma paixão pelas personagens.

Só que acabou-se o livro,
chegastes ao fim dessas vidas
para adentrar em outras
e novos seres se revelam, lidos...

...de dentro para fora do livro
e de fora para dentro da vida...

Mas crio coragem para abrir um novo
e, de repente, um novo romance (re)começa.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Jardim do Fastio

Em meio às guerras de nações,
brigas de adultos,
discussões de casais
e conflitos de adolescentes,

sempre sofre a criança,
aguentando insultos
e se escondendo dos animais
como uma presa inocente.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Atual

Para escrever este verso
e agora este outro
e o próximo
também,

escrevi 1, 2, 3, quatro rascunhos
e poesia...mas sem poema.

E agora brinco de problema

e faço poema, sem primazia...



...TALVEZ,
com poesia.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Poescrita

Poetizar sobre a escrita
não é algo que me vem
quando quero ir além
da imaginação descrita -

um ato singular, de fato -
me mato sem inalar ar
para pode me inspirar,
pois não há ar no vácuo,

e me sobra apenas falar
sobre a pequena poesia
que se diz em demasia.
O que mais mencionar?

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Montanha

I:
Subi a montanha
procurando algo
que não sei o que era;
procurando algo
que não sei o que seria;
procurando algo...

II:
Sobre encontrar?
Sim, encontrei algumas coisas
e encontrei um alguém.
Um eu que encontrei só
ali, em pé com ninguém.
Somente rosas
ali em cima vislumbrei.

III:
A montanha estática
assistiu meu movimento.
A montanha inanimada
me sentiu em cada pisada.
A montanha, torre
que rasga o firmamento,
me viu costurá-lo aos pés
do solo em que se equilibra.

IV:
As flores que plantei,
a flora que ali surgiu
não mais precisam de mim,
não precisam mais de ninguém
nem se necessita a montanha,
que já fora condenada à morte
e agora se encontra viva e florida.

V:
A montanha, como ser humano,
pode viver independente;
um auxílio no início da subida
é o mesmo do plantar da semente,
uma ajuda, um esforço inicial
para que possamos andar
com nossas próprias fés
e a montanha florescer
com seu cume, a mil pés.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Efige

Sei que parece idiota
acabar escrevendo
por conta e sobre
esse bloqueio
que me veio
em estátua de cobre,
dura em eterno momento
cuja palavra não se solta...

Sua boca não se abre.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Esquiva

Dei uma resposta capciosa
para uma pergunta similar,

-Quem é o Ernesto?
-Não posso resumir se não me acabar.