quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Verwirrung

o ciclo da confusão chegou
assim me arrebatou
sem bater na porta
sem sequer pedir licença
uma balbúrdia um tanto torta
me traz sua presença
tanto que, se você ler estes versos
de forma reta ou alternada
verá sentidos dispersos
que dizem tudo ou nada



terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Independência Nadadora

Observo gritar

nesse mar
os náufragos
com água e sal
lhes fazendo mal
até o esôfago.

Uns disputando
a tapas um pau
outros afogando
sem ver uma nau
sequer...

Pelo menos nado
não sinto medo,
nem da morte
pois ela é
a minha sorte.

Quem aprende
a ser independente
não depende
que alguém
o lamente.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

"Livro e Circo", me livre!

Pretendo um dia
lançar minha poesia
em livro,
aí dessa frustração
já me livro,
porque num país onde
Lobão
é um dos
mais vendidos
da lista,
'ex-comunista'
e agora atira
de colunista,¹
no país de onde
Sarney
é romancista
e um 'eterno'
na academia
(está lá, confira)²,
já não sei
se meu céu-inferno,
minha poesia,
não seria uma melhoria
porque, como já dizia
o palhaço Tiririca,
"pior do que tá não fica".³

QUE CIRCO!
¬¬

--

¹ - Lobão, antigo esquerdista, agora "neocon", tem seu livro na lista dos mais vendidos e é colunista da VEJA, argumentando da maneira que sabe, com ofensas, falácias e pouco conteúdo relevante; além de proporcionar um desserviço à classe artística, também presta um desserviço à sociedade, mente em rede pública falando que é o primeiro artista independente do Brasil, quando de fato ele está mais de 10 anos atrasado em sua colocação, mente em rede pública quando emite sua opinião política, apenas causa polêmica para fazer sua auto-promoção enquanto, como artista, é medíocre: os fatos não mentem.

² - O termo correto na Academia Brasileira de Letras é "imortal", termo que condiz com sua carreira política no governo, pois é eterno senador, coronel do estado do Maranhão e presta um desserviço à classe literária do país, já foi criticado de maneira contundente por Paulo Francis (que se tornou conservador mais tarde) e Millôr Fernandes que destituiram de qualquer moral este distinto corrupto aproveitador.

³ - Lema da campanha política deste artista circense/deputado federal nas eleições de 2010, onde foi o deputado mais votado da história do país, que por "increça que parível" [SIC], foi um dos nove deputados com 100% de presença no congresso, sofreu preconceito por ser analfabeto, contribuiu para causa de sua classe artística, pisou no tomate ao votar errado algumas pautas por "confundir-se com o painel", dizem por aí que também votou contra o 13° salário (não posso confirmar), e ainda foi realista ao dizer sobre o congresso que "Você passa o dia inteiro fazendo nada, só esperando para votar alguma coisa enquanto as pessoas discutem e discutem...", é, "pior que tá não fica" mesmo.

--

Minha opinião:

Não apoio político algum, acredito que um mundo melhor é um mundo de consciência, ética, respeito, sem distinção de poder entre pares e sem qualquer espécie de governo. Um mundo melhor onde dinheiro, ostentação e ganância não são pautas de vida.

Se você vota, você escolhe ser escravo.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Um papel e um celular

Um simples papel
aceita do doce mel
ao amargo do fel;
rima do inferno
até prosa do céu;
não é eterno,
mas vive
enquanto durar
e também cuidar.
Nele se escreve,
porém, hoje estive,
sem problemas,
a dedilhar
meus poemas
no celular.

Há de convir

Há de convir,
que entre ir
e vir,
resistir
e desistir,
latir
e pedir,
decidir
e confundir,
há o que ouvir.

Há o que sentir.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Escapismos = Panaceia?

Assim passava o dia,
sem perceber enquanto lia
qualquer porcaria no jornal.
Via que a inércia não movimenta
e não ajuda quem experimenta
o que dizem fazer mal.
Mas, afinal, cada um encontra
seu próprio escapismo
e assim o enfrenta.
Desigual na maneira que usa,
mas de um eufemismo
particular em como abusa,
pois tudo pode ser droga:
Há aquele que joga,
aquele que bebe,
aquele que fuma,
aquele que lê,
aquele que escreve,
aquele que fala de você...
E de uma pluma
o vento muda
a direção;
e você, um dia,
sequer pensaria
que perderia
sua razão,
que também pode
ser a droga que fode
um amor, um irmão,
até um ideal de nação.
Não aceite moralismos
contra seus escapismos,
só use com moderação.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O que sou?

Já quis ser desenhista
e também um lutador,
tentei ser até jogador,
e cogitei ser jornalista,

mas entre tantos "istas"
e outros tantos "ors",
tudo que eu quis ser
passei a esquecer,

pois sou coisas mistas
e não apenas uma cor,
porque entre querer
e viver o seu real ser

há tanto a diferença
quanto se supõe ser
algo que venha a ver
ou se sinta por crença.

No fundo sou quem sou
ontem fui e hoje vou,
não bem onde quero
e menos ao que venero.

Sou minhas vontades,
o que gosto, música
e escrita, nessa busca
de minhas verdades.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Esse cão ancião e brincalhão

Pensei que você fosse morrer,
e no meio de tanta dor
no meu peito,
pensei muito no que fazer...

Só me restou lhe escrever
até a hora do aviso
de fora
de que nada vai lhe acometer.

Você, que me mostrou amor
verdadeiro e nada cobrou
do companheiro
que sente sempre seu calor.

E aqui me pego chorando
de felicidade, sem tristeza,
de verdade,
por você estar andando,

e mesmo com setenta e sete anos,
pulando como criança,
brincando,
e me faz lembrar que, entre humanos,

você é mais humano que nós,
animais selvagens
e também boçais.
E mesmo com os olhos de foz,

sei que minhas lágrimas são
instintivas, não controlo,
estão vivas
como você, meu querido cão. :)

--

Repito: Esse cãozinho, o Polo, é o ser mais humano que conheci nesse mundo cheio de animais selvagens que se dizem humanos.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Prantear

Não sinto
o recinto
tão lotado,
mas fatigado
e fustigado,
um tanto
mal tratado,
e sem espanto
não vejo santo
nem ser desalmado,
e mesmo quando
eu canto
no meu canto,
enquanto
me encanto
com um conto
já pronto,
me encontro,
no entanto,
rolando pranto.
Dá um desconto.

--

Estou feliz com esse poema, muito bom. Acho que o meu bloqueio se mostrou necessário, no fim das contas.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O amor e sua vida própria - Análise simples da história de Jesse e Celine (CONTÉM SPOILERS)



AVISO: CONTÉM SPOILERS

Esqueçam os contos de fadas e histórias de amor como você cansou de ver por aí. O melhor casal da história da 7ª arte, na minha humilde opinião, voltou e, como nos dois filmes anteriores, cheios de vida, questões, certezas, filosofias e, em meio a tudo isso, amor. Aquele amor que, como diria o Cazuza, "a gente inventa pra se distrair". Mas o que fazer quando esse amor é algo bem maior que o por ora inventado por puro desejo e paixão? Como saber quando uma pessoa se apaixona perdidamente por outra? Como saber se o amor é recíproco? No caso desses personagens criados pelo trio Richard Linklater (diretor - que teve a ideia a partir de uma experiência pessoal), Ethan Hawke e Julie Delpy (protagonistas), o amor sincero e irrestrito ainda é o elemento que se prova acima de qualquer banalidade. E a atuação com longos diálogos e poucos cortes de câmeras mostram como um texto e uma atuação bem feitas não precisam de muita edição, apenas simplicidade. Tenho que citar que a trilha sonora, usada esparsamente (em toda trilogia), apenas contribui, seja na poesia, seja nos sentimentos, transbordando mensagens sutis, sem cair para o exagero emocional, a pieguice do cinema americano tradicional. O amor se mostra com uma certa dose de devoção, adoração, mas não inconsequente e banal como um conto de fadas, mas sim palpável e inclusive minável, onde se mostra frágil e passível também de uma queda fatal. O roteiro pensado a três cérebros e escrito a seis mãos mostra um casal palpável, sem as reviravoltas fantásticas e imaginativas que a indústria do cinema adora nos enfiar goela abaixo. Não será o primeiro casal nesse estilo, mas ainda é um estilo raro de filme. Mas o que os torna mais um entre poucos, também os torna único entre todos: sua história. Uma trilogia com diálogos e personagens tão ricos que podemos passar horas conjecturando sobre não só seus filmes, mas seus diálogos, frases específicas e por aí vai. E ontem, finalmente, assisti o terceiro filme da história de Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy): Before Midnight (Antes da Meia-noite - ambientado em 2012) que se passa 9 anos após o segundo filme, Before Sunset (Antes do Pôr-do-Sol - 2003), que também se passa 9 anos após o primeiro filme, Before Sunrise (Antes do Amanhecer - 1994). Se pensarmos que essa ordem constitui um dia com manhã, tarde e noite. Mas no ponto de vista deste que vos escreve, essa trilogia constitui muito mais que isso e pretendo dissecar toda minha interpretação, de forma breve, assim espero. Lembrando que o sentido que dou a essa história é algo pessoal, que criei após interpretar de acordo com meu ponto de vista, somente e nada mais, se discordar, ótimo, se concordar, ótimo também. Ok?
Já comecei dissecando sobre os títulos dos filmes, certo? Considero importante o aspecto de espaço e tempo nesta trilogia, pois se pensarmos a história do casal já atingiu a maioridade (18 anos) e agora está adulta, no terceiro filme. Encaremos o primeiro filme como o nascimento de um amor, uma criança (como de certa forma, "inventamos" nossos próprios filhos, é só decidir quando, ou correr o risco inconsequentemente - não muito diferente do amor, que também é inconsequente).
Então falemos rapidamente do primeiro filme, onde começa nossa história, Jesse (23, estadunidense, texano) e Celine (também com 23 anos, francesa, parisiense), se encontrando pela primeira vez em 94 num trem em Viena e experimentando uma paixão arrebatadora. Como histórias de amor mil nascem a torto e à direita em Hollywood, essa poderia ser só mais uma, mas considero o renascimento de um gênero tão explorado. A história se passa no período de menos de 24 horas, até o amanhecer seguinte, quando de certa forma o envolvimento dos personagens é visivelmente grande e, presumo, uma forma de amor nasce em meio a uma despedida que os separa por 9 anos. Nascer do sol, nascimento do amor, num verão na capital de um país que nasceu até que recentemente (1955 - Tratado do Estado Austríaco) em comparação com outros países. O nascer é o verbo recorrente. Os diálogos são fenomenais e detalham muito, em tão pouco tempo, as vidas individuais de Jesse e Celine, o que mostra a riqueza dos personagens. E nesse filme já é dado um enfoque real, adotado aos outros, pois o filme é praticamente os dois juntos, conversando e passando tempo juntos, um casal, nada muito diferente da vida real dos casais. Os assuntos (nos três filmes) são os mais variados, mas mostram como a personalidade de cada um é diferente em muitos aspectos e similares em outros e mesmo assim há aquele sentimento de unidade passado ao vê-los conversando e brincando um com o outro, seja sobre amor, vida, profissão, filosofia, sexo, morte, astros, etc. Temas abordados com a naturalidade de qualquer casal que tenha o costume de dialogar entre si. De repente passa-se o tempo como um furacão, amanhece em Viena e os dois acabam com uma despedida e uma promessa de voltarem a se encontrar no fim do ano. E nunca mais se mencionou algo por nove anos seguidos, não foi cogitada uma continuação, o filme ficou assim, no ar, com um gancho e nada mais.
Nove anos depois, numa livraria em Paris, Jesse está fazendo a última parada da divulgação de seu primeiro livro na Europa. Um livro sobre justamente aquele dia fatídico de 9 anos atrás. Só que o inesperado (deus ex machina) é o mote do segundo filme que, sozinho, já é um deus ex machina ambulante, afinal ninguém esperava uma continuação após nove anos. Celine aparece na sessão de autógrafos e Jesse fica surpreso, então começa outro longo passeio, só que dessa vez por Paris, uma cidade mais conhecida por luzes e consagração do amor, uma cidade adolescente, com um casal transbordando suas crises de certa forma juvenis enquanto tem 31 anos, já cheios de crises em suas vidas, e com visões mais pessimistas e aborrecentes [sic] em comparação com o primeiro filme, mais idealista, imaginativo, como uma criança. Comunicam-se com o público da mesma forma, dialogando sobre suas vidas que se passaram separadas por nove anos por dramas pessoais e reviravoltas que no fim são só citadas para criar o pano de fundo e enriquecer mais ainda a história dos dois. Tudo isso no mesmo formato, diálogos longos com pouquíssima edição. E agora com o tempo limite sendo o pôr-do-Sol (mais precisamente, o horário do vôo de volta aos Estados Unidos), mais contemplativo que o amanhecer que traz toda a energia que precisamos para aguentar um dia, aquele descanso pós trabalho, onde realmente refletimos sobre nossas vidas e tomamos as principais decisões, o fim de tarde onde Jesse resolveu que ficar com a mulher do livro de sua vida, decisão reforçado ao ouvi-la cantar uma valsa sobre o homem que lhe inspirou tal música, ele. Amor adolescente se confirma (e já se sustenta) por si próprio, por devoção singela ao criarem, ambos, algo um para o outro. No final, um gancho. Um gancho simples que torna qualquer excesso simplesmente banal, tão simples que prova que em meio a tanta complexidade no mundo, inclusive na vida dos dois, nem a vida, muito menos o amor precisam de ser complexos. O sol se pôs e o avião partiu, sem ele.
Mais nove anos se passaram e o amor atingiu a maioridade, e agora se vê na vida adulta, sem manual de instruções. O amor tem que sobreviver por suas próprias pernas. Jesse e Celine agora com 41 e com duas gêmeas de 7 anos estão na Grécia, mais precisamente no Peloponeso. A Grécia é o país mais antigo dos três filmes, e assim como meia-noite é o fim de um dia, ambos, espaço e tempo estão condizendo com a vida adulta do amor, que é a fase onde o amor passa por mais batalhas e tragédias do que nunca para se manter vivo e forte, como o próprio Peloponeso foi palco de diversas batalhas na antiguidade. O filme retrata Jesse e Celine já adultos tentando manter o relacionamento vivo em meio a crises palpáveis, como Jesse querendo estar mais presente na vida de seu filho e Celine querendo ser muito mais que a esposa de um escritor e desenvolver sua vida profissional de acordo com o que ela deseja, mas ambos não podem decidir nada sem pensar nas gêmeas. Em meio a diálogos longos, novamente com poucos takes, percebe-se que a vida adulta do amor é complicada e, mesmo na maioridade, o amor sofre crises de desvalorização, supervalorização, responsabilidade (afinal, é um impacto grande na vida adulta de qualquer um), etc. Nessas crises o próprio amor entre essas duas pessoas, consideradas e apresentadas como ideal até agora, é colocado em xeque. Será o amor capaz de acabar, assim como um dia qualquer acaba à meia-noite? Será que a velhice mata o amor? O deus ex machina aqui é Jesse, em face da possibilidade de perder Celine, dar o troco na discussão toda, dizendo que o conto de fadas não existe, e tudo que ele tem para oferecer é seu amor sincero e mais nada, não há fator externo, apenas ainda uma devoção a pessoa que ele ama, ao invés da pessoa que ele amou ou amará. Ele se faz presente, e ela também se faz, afinal, não é questão de guerra dos sexos, mas sim a questão de estar com quem você ama de verdade (seja uma, duas ou trinta pessoas), ser sincero consigo mesmo e com o seu par. A parte engraçada é saber que não é a primeira discussão séria dos dois ao ouvi-la dizer que toda vez que ele se despede do filho acaba por ter o humor alterado. Ou seja, tanto aconteceu na vida dos dois em três filmes e você, espectador, não precisou acompanhar uma novela de um trilhão de capítulos para absorver tanta informação. A riqueza dos diálogos desse filme é ímpar, justamente por dar tantos detalhes e ainda por cima quebrar a imagem de casal perfeito, pois até eles em suas imperfeições mostram que a vida não é perfeita, muito menos um relacionamento, nem mesmo o amor. Mas a perfeição é mostrar que, como Esparta fez, vale a pena lutar pelo que se ama. A parte mais interessante é ver como o que foi passado como certeza ao público, o casal do "feliz para sempre" do segundo filme, mostra que ainda tem muita lenha para queimar e muita história para contar, de maneira palpável, afinal poderia acontecer coisas similares na vida de qualquer um. Assim chega meia-noite, que mesmo sendo o fim de um dia, de acordo com o nosso sistema de contagem temporal, não é o fim de nada, Peloponeso e Grécia ainda existem mesmo após inúmeras guerras, conflitos, crises e tragédias clássicas da mitologia local, Jesse e Celine ainda se amam e a "vida do amor" continua até, quem sabe, sua velhice e morte. Vamos esperar mais nove anos e ver que acontece.
;)

O meu filme preferido? Os três, cada um a sua maneira. E arrisco a dizer que são, juntos, uma obra só que ainda não teve o seu final filmado. Talvez nem precise, talvez seja melhor encerrar assim. Afinal, quem sabe?

Talvez o amor tenha vida própria.

--

Obs.: Não escrevi nem 1/10 do que passou pela minha cabeça, senão esse texto viraria um ensaio completo e teria muito mais spoilers (sério, o que coloquei aqui não é nada demais, só assistindo para entender).
Obs. 2: A minha amada Clara ficou conversando horas comigo sobre esses filmes, que têm um lugar especial no meu coração, desde que assisti o primeiro na adolescência, e ela mesmo teve sua interpretação, um tanto diferente da minha, o que torna toda a experiência muito mais rica. :)
Obs. 3: Tem gente que diz não gostar de deus ex machina, para essas pessoas eu digo: não vivam. A vida inteira é cheia de deuses surgidos de máquinas, e a arte imita a vida que, por fim, volta a imitar a arte. É um ciclo inevitável.
Obs. 4: Assista aos três filmes!!! Reveja todos e comece a relacionar os diálogos, você vai se impressionar.
Obs. 5: Assista "Waking Life" como bonus!!!
Obs. 6: Assista "Cópia Fiel". Parei aqui. :)



quinta-feira, 29 de agosto de 2013

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Era para ser outra coisa...

"Eu me anuvio,
então me alivio",
escorre um rio
no fio da navalha.

Sequer mais viu,
sentiu só frio
não mais sentiu,
virou uma mortalha.

Se fosse fácil
morrer tão dócil
nesse mundo vil
que te estraçalha

não pensaria mil
antes do ardil,
com que cobriu
a morte e a batalha.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Patriota = Idiota

Afirmo que todo patriota
é, no fundo, um idiota
que serve ao pior agiota:
esse estado, que te enxota
de casa e te conta lorota
de que é bom ser patriota
e que cada um tem sua cota
se cumprir na vida sua rota,
definida por quem vota,
e explorando quem labuta,
vendendo até a xoxota
para não ir a bancarrota,
e privando da última gota
de água, causando revolta
no povo que não suporta
ficar com a veia exposta
sangrando por quem corta
cada vida como colheita
de uma natureza morta.

O estado é um déspota
que agride, com sua frota
de agentes feitos de bosta,
o povo que o sustenta
e o torna digno de nota
numa sociedade remota,
e com ego inflado, se dota
dum poderio e afronta
quem o confronta
numa guerra torta.

Não seja mais um patriota,
senão será mais um idiota.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Levante

A história do conhecimento humano
foi passada via telefone sem fio,
navegando como um grande navio
no tortuoso rio da nossa existência.

Vimos passar do desumano ao vi,
do que é burro ao babaca e imbecil,
mas também gente honesta e gentil
com todo e qualquer tipo de crença.

E não entendemos nossa presença,

nesse mundo de terceiras intenções;
nesse universo de grandes dimensões;
nessa vida sem grandes emoções;
nesses nossos trabalhos-prisões.

Quem nunca quis fazer um levante?
Por favor, não se acanhe e cante
sobre o que lhe é mais importante.

Você, enquanto vivo, tem que fazer
o seu momento de vida aqui valer
e mais que sobreviver, você deve viver.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Gritar!

Um dever cívico
deve ser vívido
e vivido!

Gritar, protestar,
enfim, manifestar
a insatisfação!

Se não se move,
então morre
sem ter vivido.

Se não grita,
se cala
em sua escravidão.

Faça diferente,
seja independente
de líder!

Seja dono de si,
ninguém manda em ti,
nem se quiser.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Um poema e um tema

Eu queria,
mais que gostaria
e até escrevia,
um livro sem fim
sobre você,
mas o dia
não duraria
e nem veria
um capítulo
até anoitecer.
E o livro sem fim
ficaria inacabado.
Que ironia.
E quanto a mim?
Só e chateado,
nesse dia.
Mas logo passa
ao te encontrar.
Com você
o tempo passa
devagar
e o amor
nos dá calor
e assim ficamos
a namorar,
até depois de casar.
Então me desculpe
por não te dar
tal livro
que não saiu livre.
Mas esse poema,
eu posso te dar
enquanto longe.
E estou sempre
a te amar,
não importa
quando ou onde,
E com um poema
e um tema
me entrego
a você
para fazer
o que quiser
comigo.

--

Porque apenas um dia não resume o sentimento de um amor.
Feliz dia dos namorados, minha amada! ;*

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Pessoas (simulacros) em coma profundo

I

Como se esquecem, essas pessoas,
da dor alheia e o gemido que soa
como o grito da turba que povoa
a praça pública em manifestação?

Perdidos nas suas simples vidas
que passam tão desapercebidas
e são totalmente desperdiçadas
sem sequer formular uma questão,

essas "pessoas na sala de jantar"
não querem saber o que melhorar
e como podemos mudar o mundo...

E enquanto você finge que não vê,
existe alguém que morre por você
e seu direito ao coma profundo.

--

II

Pessoas não são mais,
apenas simulacros;
humanos fracos.

Nem parecem reais
de tão loucos.
Humanos são poucos.

Seres e mentes artificiais
que se alienam
e disso gostam.

Seus destinos fatais
são os mesmos;
e andam a esmo.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Louco

Sábio era quem ouvia
a música no rádio
e cantava a melodia
sem errar as notas
e as letras.

E ainda variava:
assobiava
e batucava
no volante
por um instante.

Era assim agora,
mas sempre fora,
e quem via de fora
o tachava de louco,
mas quem não é um pouco?



terça-feira, 7 de maio de 2013

Trauermarsch (5ª de Mahler)

Som fúnebre desse movimento,
rodando solto, neste momento,
pelos meus tímpanos abençoados

que identificam o sentimento
de estar ao gélido relento
num funeral com quem foi deixado

para uma vida cheia de nostalgia.
Deveria ser forte a cacofonia,
mas esta música me emociona

de forma cortante e dramática
que deixa minha alma estática.
Nada mais no corpo me funciona,

exceto o castigado coração
que a cada detalhe dessa audição
funesta e linda que me faz sofrer.

Me sinto incapaz até de segurar
esse choro e quero só me soltar
em lágrimas ao invés de me conter.

Um grito que entala na garganta
me machuca e, também, espanta
pela força com que faz apertar

dum pobre ser, tomado pela dor
de Mahler, que sangrou para compor,
o coração com sangue a jorrar.

--

Poema com métrica em 10 pés na tentativa de passar a sensação de ouvir o 1º movimento (Trauermarsch) da 5ª sinfonia de Gustav Mahler repetidas vezes.
Me sinto emocionalmente destruído por ouvir uma música tão linda e angustiante. Aliás, a sinfonia inteira é de uma beleza ímpar.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Saudade de dois gumes

A saudade que me ataca
é a mesma que me alegra.
Alegria que mistura
com tristeza pura,
sendo dois gumes de faca
que fogem à regra.

Poema em crise


Agora parece-me um momento perdido em vão,
pois me falta a tão falada inspiração.
Eu só coloco a caneta no papel
e movimento para sair letras ao léu.

Vai entender esse bloqueio mental
o que penso não surte efeito para tal
atividade de escrever um poema
e se torna uma frustração, um problema.

Recorri aos livros para ter ajuda,
mas tudo virou um "Deus nos acuda!";
minha cabeça entrou em parafuso
e agora estou com medo do desuso.

Afinal, nem lendo aqueles meus caros
amigos poetas, senhores Vinícius e Carlos.
consegui transformar uma ideia em verso;
me sinto defasado, um completo retrocesso
no que gosto de fazer de verdade...
mas que peça safada, que maldade.

Um poeta sem inspiração é um nada;
a poesia fica presa, bem amarrada,
parece um nó apertado na garganta
de uma boca suja e nada santa
que grita, canta, xinga e fala
toda essa porcaria do mundo, essa tralha.

Já tentei de tudo para imaginar
rimas, versos e estrofes para cantar,
mas realmente estou perdido
e um tanto arrependido
de tentar escrever de cabeça quente
algo assim, súbito, de repente.

Mas a caneta continua a se mover
e dessa escuridão continuo a temer
a maldita falta de inspiração,
esse bloqueio mental que me assola, frustração.

Vou parar de tentar essa porcaria,
quem sabe sai algo em outro dia...

--

Escrito em Março de 2011. Achei no meio de uma bagunça de uma gaveta. Já tinha até dado como perdido.
Esse poema relata um período em que eu não conseguia ter ideias (que me agradassem) para escrever, então parti do princípio de que teria que relatar esse momento frustrante pelo qual estava passando para esvaziar a mente.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Sentido: Mistério

Falta ar limpo no que respiro,
sobra poluição, outros detritos
de origem industrial. Eu suspiro:
"Até quando seremos malditos?"

Mas ainda não tenho repostas,
sobram-me perguntas diversas
e de tudo que nos é proposto
fica a fuligem que suja o rosto.

Será a poluição
a nossa eterna maldição?

Será a vida na cidade
banal e sem piedade?

Até quando aguentar
isso será "prosperar"?

Ar condicionado ou ventilador?
Injeção ou o velho carburador?
Notebook ou micro computador?
Urbano torpor ou bucólico furor?

8 horas trabalhadas ou a sua vida?
2 dias de folga ou uma era vivida?
Salas cinzas ou, do céu, outra cor?
Alegria ou uma vida de pura dor?

Tristes realidades em que me inspiro
para escrever coisas que eu piro.
E, diante do que o mundo se tornou,
será que alguém já se perguntou
se está realmente satisfeito?
Ou será que lhe é melhor um leito?

Pode ser da UTI,
do SUS,
do necrotério.

"Pode ser aqui",
supus,
mas fica o mistério...

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Ocaso do acaso

Os acasos da vida
vivida em descaso
ocasionam coisas
que me impressionam,
como da existência
o ocaso indecifrável
sem uma experiência,
um caso irremediável.


segunda-feira, 8 de abril de 2013

Noiva atrasada

Mas que atraso...
Até parece descaso.

Por acaso,
que caso
normal,
velho e atual,
se repete
(mas promete...)
no dia de se casar.

"Dá sorte! Xô, azar!"

Sem respostas

Será que a vida
deve ser sofrida
enquanto vivida?

Será que o prazer
de poder viver
também é sofrer?

Seria noite e dia,
uma monotonia
duma tarde fria?

Perguntas simples e tristes
que estão sem respostas...

A sorte de morrer

Morreu? Que sorte!
Não vive mais no açoite;
que bela é a morte!

Sentir

Sentiu a vida se esvair
enquanto, sentado,
procurava sentido
em sentir.

Pôs-se em sentido,
sem ter tido
ordem sentida
sem sentido.

Sentou-se quieto
pois estava certo
de sentar
e o fim sentir.

Sentimento sólido,
até sórdido
lhe sentiria
seu ouvido,

mas ouviu-se nada.
silêncio faria
a alma sentada,
e o corpo, sentindo,
parava de sentir
e parava de viver.

Sente nada, só vê,
um fim sem sentido,
sentindo-se
deixando de sentir.
E por fim não falou,
mas a alma gritou:

"Morri ao sentir
que estou indo sem ti."

Soneto de abolição e libertação

Meu sobrenome não traduz o que sou.
Sua longa história não me diz onde vou.
Meu nome não mostra o que viverei,
não simboliza nem diz por onde passei.

Minha história é minha, eu que criei.
Cada mágoa e cada sina que vivi
e cada alegria viva que experimentei
não são da família em que nasci.

Então vou abolir essa escravidão
e me libertar desse amargo grilhão
que insiste em me prender.

Ninguém, senão eu, me conhece.
Nada dessa servidão me apetece.
Eu não nasci para obedecer.

Vida decepcionante

Você, que passa fome
embaixo da ponte
nunca pensou
que lhe sobrou
mais liberdade
que alguém que come,
preso num emprego
(vivendo sem sossego)
que, na verdade,
é decepcionante?
Talvez, da ponte,
este escravo
salte para morrer.
Um ato bravo:
deixar de viver.
E você verá,
que a fome o matará
mas o escravo moderno
já se sente morto,
com sintoma eterno
de ter o corpo torto,
analisando o suicídio
após o ofício.
Não se importam
com prós e contras.
Vão e não voltam,
sequer olham para trás.

Eu preferiria passar fome
do que ser mais um corpo que some.

--

Uma imagem legal que vi nesse blog: http://anarkrevolution.blogspot.com.br/:

Authority, violence, control and slavery

When someone wants to control another,
mercy doesn't exists anymore,
because the power of the will is an order
to make one suffer a lot more,
this is just pure cruelty.
For the aggressor is just another novelty
and the victim shall never be free.

While someone wears fur,
an animal is in his bare skin
if alive. That's a mad dream
to protect some of winter.
That's how we should feel,
exploited and then neglected,
a scenario so surreal
becomes our reality.

Any kind of authority
shows us the face of cruelty,
and the only way it can control
is by putting up a wicked show
where few have lots of power
and many have to fight this "order".

Any kind of violence
is generated by anger,
motivated by hunger,
hate and injustice.

If you don't fight authority
your destiny is to live
poorly and hungry under
a masked slavery.

Uma casa para morar

Procuro uma casa para morar.
Procuro, por aí, só um lugar,
que seja, para comprar,
ou um lugar para alugar
e poder chamar
meus amigos para jantar,
beber, fumar,
rir, ouvir um disco e viajar.
De verdade, procuro um lar.
Onde vivo, não consigo amar,
então me sobra odiar
e reclamar, gritar e brigar,
quando mais quero parar
e conversar algo salutar
num ambiente até familiar.
Já sei que esse lar
eu mesmo vou formar
em qualquer lugar
seja céu, terra ou mar.
Basta eu chegar
e minha mente estar
no lugar,
e terei uma casa para morar.
Afinal, eu sou meu lar.

Reiniciar

Quero apertar o "RESET",
recomeçar essa minha vida,
recuperar o tempo perdido,
pois já acabei com este
em que estou preso ainda
e apenas me deixou fodido.

Mas eu sei que não seria
diferente, pois sou o que sou
e não mudaria isso, nunca.
Dói viver com a hipocrisia
de ser alguém onde estou
e não fazer uma pergunta

quando quero perguntar,
não falar quando sinto
que devo falar algo
e não poder sequer gritar
quando a dor que sinto
pedir que grite logo.

Não posso voltar no tempo
mas como eu gostaria...
Eu seria leve como o vento
e outras vidas eu viveria.

Crianças

Como crianças são sublimes
e ao mesmo tempo assustam
o adulto, sempre certo e firme.
E com sua astúcia, nos mudam.

E crianças que somos, enfim,
rimos da risada desses bebês
que são o começo, meio e fim
de algo novo que não se prevê.

Minhas crianças nascerão nuas
e viverão livres como vierem
ao mundo, soltas como a lua,

e se tentarem um dia, molda-las,
tenham cuidado, se preparem,
pois estarei lá para defende-las.

--

Minhas crianças serão educadas com responsabilidade e liberdade, que são lados de uma mesma moeda. Vou fazer diferente do que fizeram comigo.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Sentimento irracional

Por números tentaram provar
que tal sentimento era integral,
coisa acadêmica, calcular,
derivar algo que soa normal.
Mas podemos calcular o amor?

Gênios deixam o ego se expor
e o sentimento mais humilde
desses cálculos, se esconde.
Engolem na análise final
e concluem: "o amor é irracional."

--

Para todos que tentam explicar que o amor segue uma ordem lógica e racional, diferente desse pequeno e velho poema com métrica quadrada em 9 pés.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Que pátria?

Não amo pátria alguma, nem esse grande Brasil.
Já dizia uma canção: "nenhuma pátria me pariu".
Amo a mim mesmo e a quem eu quiser amar.
Sigo livre de líderes e não nasci para liderar.
Não sou representado e nem gostaria de ser,
prefiro pensar por mim mesmo e, por fim, viver.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Um poema só

Vivo sólido,
e assim, só, lido
com a solidão,
ouvindo soul, vindo
ao cais ver pôr do sol, indo
embora;
depois lá fora
é a hora
em que a lua cheia está vindo
toda brilhante e nua, rindo
por ser a única no céu
e fazer inveja com fel
ao humano cruel.
Mas eu me rio, enfim sou lido
falando de que é vivido,
dos males, das coisas boas,
até da libido.
Pois fazer isso ter sentido
mesmo sem ter alguém ferido
dá um trabalho, etéreo, e sólido.
É um tanto quanto mórbido
escrever algo do que tem sido,
até então para ser só lido,
pois quando não sou lido,
me vejo um poema muito só.
E só.

--

É soda.


sexta-feira, 22 de março de 2013

Hoje só se fala com a mão...

A população cresce enquanto passam os anos
e você já não sabe mais quem anda ao lado...
Seria mais um estranho caminhando desavisado
de que solidão parece maior conforme andamos
sozinhos nesse mundo grande e tão atrasado?

Quem seria culpado desta sensação senão nós?
Afinal, com tanta gente diferente no mundo,
pronta para se comunicar, ainda estamos a sós
e mal acompanhados no vazio profundo
de nosso cotidiano imundo e um tanto atroz,

onde um telefone,
outro celular,
um eletrônico
traz mais acalanto
do que um olhar,
o segundo pronome,
ditado sônico,
por uma verdadeira voz.

É... que solidão... que podridão...
Meu irmão, pare de falar com sua mão.




segunda-feira, 18 de março de 2013

Um pouco mais humano

Eu não sei seu nome, homem
mas sei, por outros motivos
a dor da sua fome
e, enquanto muitos ainda
dormem,
esperando a segunda vinda
de um deus vivo,
estamos nesse cruzamento
antigo...
Tentei ficar vazio
para você me temer
enquanto, humilde,
me mostrava seu RG.
Partiu para outro carro,
depois voltou para me ver
e, num instante, não me senti
sozinho
e já tinha sacado, da carteira,
"dezinho".
Fiz sinal para que viesse ao meu lado
e lhe dei a nota
que recebeu com sorriso
e no meu coração ouvi um riso
enquanto você me disse
na madrugada, metrô Marechal,
perto da parada,
"Deus abençoe você e eu"
e isso mostrou-me mais
irmandade
e solidariedade
que qualquer deus.
Lhe sou grato por me ensinar
tal lição que caridade nenhuma
ensina.
E caso nos encontremos outro
dia, irmão, num semáforo da
região ou outro lugar dessa
cidade cuja sina é sem amor,
sem paixão,
será minha vez de agradecê-lo
por me provar que defendo
algo que existe:
"A irmandade
pela solidariedade."
A fraternidade
em meio a adversidade
ainda persiste.
Aprendi muito mais sobre a
vida em um minuto
do que em quase 30 anos
em que só escuto.
E você, amigo, me ensinou
a ser mais humano
no mundo feio onde estamos.
Que os deuses abençoem
você e eu,
querido amigo meu.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Saudosismo amaldiçado


Saudosismo é sim um sentimento muito complicado:
faz me sentir velho embora esteja longe de ser idoso.
Acho, por puro "achismo", no entanto, que, passado
o tempo, até o espelho me deixa, da vida, desgostoso.

Comparando ontem, hoje e as andanças do mundo,
me vejo em êxtase, mas perto de um coma profundo
da alma em apóstase, ao ver que os diversos lados
tanto nos dividem quanto nos matam, sacrificados.

Vejo que, sem mar, sol e terra, sou frio e concreto;
passa outra fase da vida e, então, do torpor desperto:
Tal maldição fala à outra parte que me mate - "é certo" -
a razão ao revisitar o inconsciente que me é secreto.

Saudosismo maldito que me atravessa o coração,
me cega, me emudece e me tira a grande emoção
de viver no infinito onde não há ninguém como eu:
"Pelo que lembro, esse sentimento já me esqueceu."

Saudosismo que solta meus demônios, me deixe.
Sonho em lhe esquecer e não quero mais o feixe
de sua luz, pois relembrar quase uma vida inteira
é tortura e atrapalha qualquer futuro que eu queira.

--

Parece confuso, mas não é.

terça-feira, 12 de março de 2013

sexta-feira, 1 de março de 2013

A humanidade de um pequeno cão

Nem parece que passou duas semanas desde que meus pais resolveram que sou um filho problema, pelo contrário, ainda quando chego em casa, me sinto um extraterrestre invadindo um espaço que não é meu, o que é verdade, afinal, é a casa de meus pais.
Duas semanas atrás tive uma discussão onde fui estigmatizado e classificado como se fosse mais um delinquente de um jornal qualquer. Pura incompreensão. E o que um filho incompreendido faz? Discute, grita, fica nervoso diante de tanta injustiça. É muito fácil classificar um filho de acordo com as palavras que os psicólogos e médicos televisivos adoram usar para categorizar o que é diferente e não aceito por qualquer ser conservador e resistente à mudanças. Como sei disso? Eu sou resistente às mudanças da vida, embora saiba que elas são inevitáveis e ainda tento mudar esse comportamento em mim (confesso, sem falsa modéstia, que mudei muito nos últimos anos e cada vez mais entendo que, fora da política, Trotsky estava correto, a revolução é permanente; digo mais, a revolução acontece de dentro para fora). Meus pais não entendem tanto as mudanças, muito menos gostam de baques quebrando a imagem de que seu filho é perfeito, trabalha, estuda e não faz besteiras. Mas a individualidade de cada um sobrepõe qualquer imagem e foi isso que aconteceu, individualmente sou muito diferente de meu pai e de minha mãe, tenho gostos muito diferentes deles, muito diferentes de meu irmão também e por isso, nessa crise, a primeira reação que tiveram foi me expulsar de casa. Fiquei chateado, pois sei que ia sentir muitas saudades deles se por ventura não voltasse, mas um ser ficou impassível diante de toda essa situação: meu cão. O Polo foi o único que, ao longo dos anos, após diversas brigas, vinha me consolar ao contrário de me julgar; mostrava compaixão ao invés de perder a razão e não via maldade em nada. Alguns diriam que ele é só um animal, mas meu cão sempre se mostrou mais humano e solidário do que todos os seres humanos que conheci ao longo da vida, inclusive mais humano e solidário que meus pais que, num surto animalesco selvagem em meio a gritaria (não estou salvo, fui animal também), resolveram que tudo que eu havia feito na vida não prestava, que jogaram todas minhas qualidades pela janela perante um pequeno detalhe tão demonizado pela hipocrisia mundial. Que meus pais me desculpem, mas o único ser que foi humano de verdade naquela noite quando eu precisava conversar honestamente, o único ser que teve compaixão e me aceitou exatamente como sou sem querer que eu fosse diferente do que sou foi o Polo. Não estou falando isso para magoar ninguém pois amo meus pais, mas aprendi mais sobre humanidade e solidariedade com um simples e alegre cãozinho do que com minha família. Se me falarem que não sei cuidar de criança, que não sei limpar sujeira, que não sei alimentar um bebê, que não sei dar carinho e amor, sóbrio ou ébrio, direi-lhes que estão errados, faço isso com o Polo e tudo que ele me dá em troca é uma companhia sincera. Ele não fica ao lado de ninguém forçado, ele fica porque quer. Não há livro libertário, humanista ou anarquista, que diga isso. Não há música, pintura ou filme que passe essa experiência concreta. Não há escola, religião ou doutrina que ensine essa pequena lição. Não existem valores ou virtudes maiores que o amor. Valores mudam de geração para geração, virtudes viram vícios e vice-e-versa, enquanto o amor é uma coisa sua, sui generis, claro. Meu pequeno cachorro me ensinou muito sobre amor. Em grande parte das mudanças da minha vida ele estava me esperando chegar em casa.
Não escrevo isso para magoar meus pais, eles não sabiam o que fazer comigo, não posso culpá-los, não existe um manual de instruções para cada filho que nasce no mundo. Mas o cão dá o exemplo. Amo muito meu cão, pois ele sabe que sou em essência, mesmo com tantas mudanças, ainda o mesmo de sempre.
Sei que ele nunca poderá ler isto, mas enquanto ele viver vou retribuir cada momento que tive unicamente junto com esse cão que, mesmo fazendo sujeira fora do jornal, roendo coisas, sumindo com algum pé de meia, comendo o manjericão direto do pé, desobedecendo ordens expressas ensinadas pelo meu irmão, mostrou mais compaixão e amor que qualquer ser que conheci no mundo.
Me dói o coração só de pensar que não há quem vá me compreender como essa bola de pelo que quando chego em casa não exita em lamber meu rosto e fica pedindo para eu coçar-lhe as costas e depois jogar algo para ele pegar diversas vezes até se cansar e dormir enquanto eu fico fazendo música no violão (não toco flauta e gaita perto dele por causa de seus ouvidos sensíveis). Ontem ele ficou comigo sentado no quintal enquanto eu via estrelas no céu, coisa meio difícil de acontecer na metrópole com o céu poluído. Só ele veio; minha mãe, que amo tanto, nem se deu ao trabalho de dar uma olhada no céu quando a chamei.
Eu voltei para casa e ainda me sinto um extraterrestre por ser do jeito que sou e não ser aceito tão bem pelos meus pais e pelo meu irmão, mas o Polo, sempre está lá sacudindo o rabo de um lado para o outro.
Para falar a verdade, não sei o que será da minha vida quando ele se for, não sei se vou conseguir tão cedo arrumar uma companhia como ele, nem sei se vou querer substituí-lo, não quero nem imaginar, mas sei que isso acontecerá um dia.

O meu cão é o ser mais humano que conheci nesse mundo cheio de animais selvagens que se dizem humanos.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Exílio em solidão

Assim começa meu exílio,
expulso de sua casa por preconceito.

Se o mundo é minha casa, meu lugar,
onde ninguém pode me mandar
porque devo viver sob um conceito?

Viver assim é um martírio.

Não nasci para agradar, mas para viver
minha vida e somente isso posso fazer.

Viver da maneira que eu queira
e não como você espera.

Mas de repente estou só
nesse mundo imensamente povoado.

Sou uma antítese ambulante
e o mundo ideal parece distante
enquanto ando desorientado.

É isso mesmo, ando sozinho.

De repente a paz de espírito me invade,
não acabando com a dor, mas acalmando
um pouco meu coração machucado
e impedindo que ele se mate,
se espalhando como pó.

É como me sinto. E o vento não ajuda
pois fico cada vez mais espalhado
e um tanto quanto perdido.

E andando acho, quieta e muda,
a solidão no meu caminho,
e a sofridão de cada um que perdeu
qualquer chance de compreensão
e um mínimo de compaixão,
e agora pensam na vida, como eu.

Não tenho nada que é meu,
e não quero nada de outras pessoas,
exceto que aceitem quem sou.

Se não funcionar, me vou
para onde minha mente ressoa.

O que me sobrou senão eu?

A solidão, que nunca me abandonou.

Poderia dizer que, juntos, somos dois,
mas estaria mentindo pois
entendo que a solidão sou eu.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Sangro na ribalta

Eu vejo que a vida vale muito pouco,
mas esse pouco me vale bastante
e é tudo que tenho nesse vil sufoco
que lacera qualquer esperança

trazendo a certeza de que muito falta
para completar este curto instante
em que sangro em plena ribalta
enquanto, à frente, o medo me lança.

Não importa se escorrego pelo talco
debaixo das solas de meus sapatos
que pisoteiam os tacos deste palco
tão grande quanto todo o universo

que me oprime com tamanha solidão
ao me ver só perante a tais fatos:
sou apenas um nessa escuridão
e tenho que me despir do avesso

para me tornar quem nunca serei
e mentir para todos nessa tragédia
enquanto sofro pelo que esperei
tanto tempo nessa louca comédia.

Aqui todo meu sangue escorreu
enquanto cuidava de ser outro
quando deveria ser apenas eu.
A arte demanda sérios sacrifícios,

inclusive destituir de sua identidade,
para emocionar e brilhar como ouro,
morrendo brevemente com vivacidade,
para nos outros deixar seus suplícios.

O suicídio rende aplausos e homenagens
que consagram eu e o personagem
suicida. Mas ao matá-lo por alguém,
me matei mais um pouco também.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Inspiração

Percebo em 5 minutos tudo que se passa,
a chuva na noite lava toda a desgraça
dessa cidade nesses dias confusos.

Enquanto você dorme e, linda, ultrapassa
o sétimo sono quente que te abraça
numa cama cheia com seus sonhos

e eu aqui, sentado, olhando essa cena
enquanto uma música me emociona
e faz com que eu veja que pessoa
mais linda eu conheci e como ressoa
nos poemas que fiz,

percebo essa inspiração vir de você
e nada eu posso fazer
se é ela quem me diz,
só me resta escrever
e fazer alguém feliz.