quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Há limite?

Um céu nublado no verão
denota muitos sentidos,
é antítese, tal depressão
num dia feliz e ensolarado.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Cadeia alimentar

Quando me vejo sem você,
estou sozinho no Serengeti
e parece que me falta uma parte -
como se uma leoa
tivesse arrancado um naco
da minha carne,
um membro do corpo
um osso, quem sabe...
...a levar na mandíbula
o músculo que me bombeia
o sangue.

Onírico-realista

Há um pouco de ironia
na velhatual situação,
senão um quê de sarcasmo -
triste e risível, tragicômico,
pois diferente não seria -
quando estou ébrio
não devaneio,
não sonho;
quando sóbrio,
tenho pesadelos,
mais de um por noite,
e divago acordado.
Há muito tempo
que não sei mais
se estou desperto
ou dormindo,
se meu pesadelo é a vida
ou se a vida é um devaneio.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

(I)Medidas

Não quero ser de alguém,
apenas quero ser só meu;
tudo o que me aconteceu
me fez dono de ninguém.

Não quero ter um alguém,
apenas quero ter meu eu
e entender que o que me deu
não se pode cobrar além.

Pois na medida das coisas
das coisas imedidas,
não se dá além do que se é capaz,
não se recebe além do que é oferecido.

Porque atingir o equilíbrio
é aceitar que a equidade,
está em dar o que se é capaz de doar
sem esperar se será ou não - bem ou mal -
retribuído.


Sustentação

Eu era uma base
erguida por dois pilares
de sustentação
sobre uma fundação...

...devido às fases
da vida, cedeu um dos dois pilares;
fiquei bamba
e desabei em lágrimas...
Me quebrei quando cai no chão.

Tento me reerguer,
mas temo não ter poder
para me suportar;
temo sobrecarregar
o que me sobrou de pilar.

Era uma base bípede
e agora sou escombros,
pois não consigo
viver sem ajuda
para me levantar.

Sem o outro pilar,
perigo, novamente, desabar
diariamente,
me equilibrando
somente no último pilar
que me resta.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

A idade sapiente

Estou prestes a sair
da fatídica idade
em que morre o cristo...

...e de tudo que fiz, digo,
não foi nem um quinto
do ele fez de alarde
antes de virar mártir.

Não sou religioso;
não nego o simbolismo,
tento tomar exemplo.

Talvez exista paraíso
e talvez seja honroso
adentrar em seus meios...

...mas não devo,
nem quero me preocupar
com o que haverá
depois da derradeira hora,

quero sim, e devo
me ocupar
com o que ocorre agora.

Vou passar a derradeira idade
desse cristo...

...assim como passei
a da morte dos ídolos
do clube dos 27,
quase 7 anos atrás.

Que isso me sirva
de algo para pensar
sobre a morte,
sobre ídolos,
sobre tempos
idos e vindos
e sobre a (falta de) sorte.

sábado, 2 de dezembro de 2017

Apegar a si

Sim, lidar com o passado
é um trabalho inconcluso,
árduo, quase um abuso
pois implica ser desapegado.

Mas tenho apego por memórias
- penso que nossos únicos bens
são corpos, mentes e histórias,
o resto é, do necessário, além.

Se devo à memória o desapego,
prefiro a dívida do que o saldo,
pois não quero deixar de lembrar
o que fui e o que sou.

Só o passado se foi,
meu desapego comigo não,
esse meu eu não me passará.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Daqueles conselhos úteis...

...o que já foi jovem, adulto e velho,
me sentenciou em simplicidade:

"Tome cuidado, garoto,
com esse ego contido
pense em ajustá-lo
ao invés de contê-lo.

Cuidado também, garoto,
com o tal ego inflado
pense em educá-lo
ao invés de enchê-lo."

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Céu, Sol e Lua

Outra noite eu me fiz de céu
e vi me brilharem muitas estrelas,
mas dentre todas elas
só a lua me iluminava,
passando,
fugindo do sol.

Outro dia eu me fiz de sol
e ouvi cantarem cedo os galos
e alimentei plantas com meus raios;
as sementes que seu solo
fecundava
e cresciam à mim.

Por fim, me fiz de lua,
ouvindo os seres noturnos,
inspirando obscuros cantos
de sentidos ocultos
mas visíveis,
como faço com meu halo.

Fui universal
como o céu,
solitário
como o sol
e inspirado
como a lua.

domingo, 26 de novembro de 2017

Momento misantrópico

Desejo, no auge dessa misantropia,
que aflige tal dilúvio sem maresia,
me atirar num período sabático
dessa humanidade e todos seus cercos,
morais,
dogmáticos,
políticos,
distópicos
e ideais...

...mas se nasci com habilidade para expressar,
não exercê-la se prova desperdício desse ser
que sou, nesse louco mundo, de gente sem expressão.

Mal Caseiro

Minha função é cuidar
desta velha e grande morada,
deste velho coração
do meu corpo-patrão.

Não dei o meu melhor
e deixei ir embora namorada
e amor, de supetão,
machucando o coração.

O dono ficou a chorar
pela falta não remediada:
do órgão perdeu um pedação
e agora demora a cicatrização.

Eu, que não tinha um lar,
não cuidei da morada
provisória-fixa em antemão
e agora faço uma arrumação

para tentar secar esse mar
de uma visão alagada
por correntezas do ribeirão
da (falta) de emoção

que atinge todo esse lugar.
A única coisa incumbida
a mim era a preservação
desse lar-corpo-patrão.

Mal caseiro que sou,
mal cumpri minha função.

Gin Tônica

Cá estou
a tentar aproveitar a noite ,
aceitando o convite
que um amigo propõe,
para uma festa - me vou
e não existe nada que me lembre,
mesmo que se pense,
ou me fogem razões
para te acessar na memória...

...Até que me oferecem gin tônica
e todas as memórias vêm à tona.

Fico a um passo
de escorregar na beira do abismo,
e quando me vejo sozinho,
me entrego e deságuo
mais que a chuva da noite
mais que o afluente do rio,
longe de tudo e de todos,
num canto qualquer
em lacrimal desvario.

Não consigo mais beber
o seu drink favorito.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Notei-me...

...de repente, nu.

Como se não houvesse
roupa que me cobrisse
nesse frio.

Um cu de situação.

Um grande v(ácuo)(azio).

"Pseudo"

...De repente, um pseudônimo
me definiu um pseudo-poeta,
assim, sem dó, sem indireta,
mas o pseudônimo é, no mínimo,
o que "pseudo" é de verdade:

é e apenas diz pura falsidade.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

(falta de) Esperança

Eu, apegado à palavras,
recebo a falta.
Não é justo pedir
por suas palavras
e, enfim,
me minto:
espero um dia
me acostumar
com o fato de você
não mais se declarar
a mim.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Máscara

Quem vê o sorriso
não entende a desgraça.
Quem ouve a risada
não enxerga o vício
em melancolia
que assola a vida
de um ser que finge
ter alegria.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Vozes

Ouço vozes em cada poesia.
Elas cantam, me levando
do deleite à penúria,
do enfeite à amargura;
me ordenam palavras
rimadas ou não,
sentidas ou não,
como se eu fosse um instrumento
por onde as emoções
de um mundo passam
e se concretizam em papel;
ouço estas vozes que falam
dos mistérios do céu
inalcançável em sua vastidão,
tal cantam de emoção.
um pequeno pedaço
de sentimento.

SOCORRO!

Alguém me salve!!!

Me salve de minha própria poesia,
desse estado em que paro minha vida
para escrever sobre sentimentos
meus e seus, sobre tantos momentos
que muita gente um dia viveu.

Me salve dessa sina, antítese de mim,
ou me ajude a não enlouquecer por letras,
versos, estrofes e poiesis.

Me salve de mim, enfim,
pois se a poesia me sai pelos poros,
entendo que estou a flor da pele
e o perfume que estou exalando
não é dos melhores, mas sim barato,
humano, fraco, podre e fedido.

SOCORRO!!!

--

Mudei de ideia, não me salve!
Escreverei até não sobrar nada...

...e então, no nada,
criarei algo e será tudo.

Não me salve, mais.

Serviçal

Escravo sou
de minhas próprias vicissitudes,
de mudanças de atitude.

Por onde vou
não há o que pare este alude
de emoções, vícios sem virtudes.

Lavragem

Sobre minhas palavras,
realmente me falta poder,
elas me levam longe
dentro da alma
e dum sentimento
que queima tal chama
no pedaço de momento
que somos dentro
da existência.

Sobre minha lavra,
é essa sorte feita para ler
e entrar direto onde
o peito perde a calma
e se agita pelo vento
- este que infla(ma)
os (coraç)pulmões, lento -
que enfrento
até minha decadência.

Noturno Depressivo

Há anos apago
meus sonhos e pesadelos
na brasa de um baseado
sem afagos,
apenas torpor
e sono tranquilo...

...exceto nesta última noite,
em que dormi sem fumar:

De repente fiquei entorpecido,
atordoado por estar sonhando,
ou tendo pesadelo... é o que lido
nas minhas noites.

Enfim você apareceu.
E o trato social meu e seu
é sempre o mesmo,
a vontade, o amor
o tesão e a dor.

Te cumprimentar em sonho
é um delírio.
Te amar em vida
é um auspício.

Te ver resolvida
com outra pessoa
é meu suplício.

Lidei com o que não restou de nós,
ao vê-la com outro.
E, mesmo assim, o que não restou
deixou em mim um pedaço de ti.

Acordo apanhado em lágrimas
e choro pelo resto de meus dias,
enquanto eles durarem.

Fumo para não sonhar,
nem ter pesadelos
não por medo,
mas para viver,
tentar viver sem você...

...e está cada dia mais difícil.

Estou perdendo minhas forças.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Resistência Trabalhista

Entre burocratas
e projetistas,
me encontro, ácrata,
em rebeldia
e não mais iludido,
não só mais um fodido.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Tori

Quero-quero, nome de passarinho,
espero que venhas ao meu ninho...

...te quero com muito carinho.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Incoerência dessa Proclamação

Não entendo o motivo
de comemorar
por uma res
que não é pública,
ainda mais sendo
esse Atlas vivo,
esse povo Sísifo
que nunca tem vez,
somente súplicas
em sua voz.

Maturação

Quando se trata de álcool-sentimentalismo...

...sou daqueles
que vão sozinhos beber
só para lembrar;
porque quem sai
com amigos,
quase sempre,
bebe para esquecer.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Observando a água da chuva

Aguardava a chuva
cair e, depois, cessar
numa calçada-mar
do bueiro na curva
da avenida paulista
com a campineira
alameda duma vista
bela que se reitera
ao cair das lágrimas
de um céu triste
nas alegres páginas
do verão que se assiste
de uma curva
empoçada.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Poesia Crônica

Este crônico cansaço
já se tornou cronista
de si mesmo;
me lista
motivos do que faço
para o fim da saúde
mental e física de mim,
a esmo.

Dois pesos, duas medidas

A soberana e imbatível hipocrisia
da sociedade brasileira,
a impassividade da mesma
classe que denominamos burguesia
permite aberrações
ao bom senso do humanismo.

Vejam que engraçado:
Eduardo foi detido pela polícia...
Não o Cunha, mas sim, Suplicy.

Pois é, disparate igual, nunca vi...
Na verdade vi piores.
O Cunha tá de tornozeleira. Chique.
Parece que lesar a população
é algo que merece uma jóia em comemoração.

Um jovem detido por portar Pinho Sol,
gente detida por defender seus direitos,
pessoas detidas por apenas manifestar.

Viver nesses dois Brasis
em que um só fode e o outro é sempre fodido,
é ver uma das realidades mais vis
que nos atinge cada qual como indivíduo.
Não me espanto se houver uma escalada
ao monte Everest da anomia,
porque estão nos vedando a anarquia,
e agora estão nos amordaçando
a chance da arte, logo mais a da fala.

E quando acabar a poesia,
junto com a economia,
só restará o sangrar...

...a quem?

Não arrisco responder tal questão.

Se não ficou claro ao cidadão
de que lado estes senhores estão,
pelo menos continua claro que há dois pesos,
duas medidas.
Uma dualidade daquelas
em que a sociedade se mostra partida.

Em menos de um minuto...

Tenho menos de dez minutos
para escrever um poema
e imaginar uma pequena cena
que acontece em segundos
mas pode durar uma eternidade
dum tempo sem quantidade.

domingo, 12 de novembro de 2017

Caminhando na Prancha

Tu, com minha
vida em suas mãos,
tal areia fina
ou água
escorrendo
entre seus dedos,
me lançarias
ao vácuo
inócuo
da praia
ou me farias
sofrer os males
de um sacrifício
nas ondas dos mares?

Mancha

O esboço de uma vida
tende a ser borrado
num toque duma pele suada
ou numa passada de borracha...

...invariavelmente
deixando uma mancha
que talvez seja bem difícil
de apagar.

Bilhete-rascunho

Desde que você me deixou
minha vida ficou repleta
de um grande vazio

e nesta plena incompletude
me sinto menos "eu";

cada vez menos (m)(s)eu,
na mesma distância fria,
impessoal, entre quem leu

e quem escreveu
este pequeno poema.

Semelhanças

O ato de escrever por uma hora,
em meio ao caos da cidade e do íntimo,
em meio a paz da madruga e a guerra da alma,
se parece com o ato de viver:
É um suicídio lento.

É o 4° poema seguido...

...nesta manhã de domingo.

Parei tudo para dar vazão
a tanto sentimento,
mesmo assim me movimento,
parado por fora, mas um turbilhão
de emoções por dentro.

Nada Sério

É como as pessoas
dizem sobre a impessoalidade
de suas mundanas vontades.

Um antítese isso me soa,
tal adulto infantilizado
e infante amadurecido.

É a falta de se assumir
e o ato de querer ser a si
num meio-termo entre aqui e ali.

É não dar cabo e resistir
a vida que, diante de nós, acontece,
e a morte que, depois de nós, permanece.

Calejamento

Me disse que não queria
calejar seu coração
como faço em minha vida...

...acho que nunca vou calejar,
mesmo com intenção,
o órgão que não quer fechar

portas e feridas...

O órgão que bombeia
ao mesmo tempo que sangra.
O amor que me permeia
e, no entanto, aqui me faz falta.

...acho que nunca conseguirei calejar
esse órgão
chamado coração,
muito menos cicatrizar suas feridas...

A que mais sangra é do seu corte
sobre o que era nossa relação.
Sem sorte, a ferida não fecha
e, sem cicatriz, ainda sangra
esse meu maltrapilho coração.

Madrugada

São quase duas da madrugada
de sábado para domingo
e estou lidando aqui comigo,
com minha solidão.
Já que a vida me falta em razão,
penso, em meio a noite enfeitada

de lantejoulas brilhantes
deste firmamento-abismo,
que esse céu escuro
é o fim que procuro,
sem luz, sem som, um vácuo. Cismo,
que no fim há quem se deleite,

como eu, com o fato
de que na morte
de um astro, brilhe,
uma estrela, um filho
de uma explosão forte,
que é como todo ser humano,
vive por um "breve" momento insano,
mas veio ao mundo meio natimorto.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Yasamin

Eu ainda moro na mesma rua.
Tenho na frente o mesmo jardim
e ainda toco as flores nuas,
sinto a pele, pétala de Jasmim

Fui, tempos atrás, jardineiro,
e lhe fiz brotar amor no outono inteiro...
Em tempos atrás eu cuidei,
reguei e zelei, obedecendo sua lei.

Continuo a cultivar flores de Jasmim,
daquelas que exalam seu perfume
e trazem de volta memórias para mim...

...de que em 4 estações fui teu jardineiro,
servi com carinho este costume
e te vi florecer durante um ano inteiro.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Incerto

Todos
os caminhos certos
tem seus atalhos,
como atos falhos
que após feitos
são escondidos.

Deixo feito de secreto
um novo atalho enfim,
de início encoberto;
somente no fim
deixará de ser incerto.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Convocação

Conclamo
o céu da noite,
o céu de anil;
cio e coito;
o céu de abril
e seu outono de morte.

Conclamo
o firmamento
dum verão
árido e sem vento,
tal sertão
nos matando, lento.

Conclamo
a noite e o céu
estrelado,
que se faz véu
abrilhantado
nos dentes seus.

Conclamo
o céu de sua boca
com minha língua,
que quando te toca,
seu pudor míngua
e o tesão me enforca.

Pois conclamo
assim um prazer,
que é terreno
fértil para viver -
agitado e sereno -
e enfim, morrer.

Dedicado

Devido a abusos,
não tenho mais disponibilidade
para os outros.
Sei que parece maldade,
mas resolvi me dedicar
somente - e sem me matar -
a mim.

Dediquei corpo
alma, amor, suor e lágrimas
e me senti morto,
pois vivi morto, que lástima.

Enfim...

...vivi para todos,
sem entender
que deixara de viver
em mim.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Poema Canhoto

Quem diria,
eu, destro de mão,
mas anarquista de mente e coração,
estou fazendo poema
canhoto,
um problema
canhestro.

Não que eu tenha algo com o tinhoso,
mas não ligo para a (falta de) ideologia liberal.
Acho que estamos destinados a nos esquerdar...
...ao invés de "se endireitar
na vida".

Afinal, todo mundo é um pouco legal
com o próximo, mesmo este sendo um liberal
cuzão, egoísta no nível social.

Cansei minha mão, canhota, canhestra, esquerda, tá até vermelha.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Nudez

Poderia ficar nu
- como tantas vezes fiz
e apareci para outros corpos -

torso, dorso, cu,
pele, membros, pênis,
pelos, nu sem muito esforço.

Talvez diria que me despi
de cada pedaço do meu ego
ao estar nu em corpo e pelo,
mas só me senti despido
- e despudorado -
nas vezes que aqui,
nesse papel escrito,
tenho a alma lavado.

Apenas no poema é que fico nu.

domingo, 17 de setembro de 2017

Apegos e desejos

Quem quer todo o mundo
se depara com o universo
e percebe algo profundo:
sua vontade nunca terá sucesso.

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Autodepreciação

Sendo grão-mestre
em autodepreciação,
posso dizer
que excedi a cota:

me senti, mais que mal,
pior que merda,
uma bosta

~f~é~t~i~d~a~.~

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Flautista Cansado

Daí pensei - exausto - depois
da quinquagésima repetição
duma mesma canção,
que preciso de férias
dessa mesma pauta.

Dizem que é fácil,
mas cansa levar a vida na flauta...

sábado, 12 de agosto de 2017

Feudalismo Pós Moderno

Vivemos um colapso no espaço-tempo.
É verdade, nada que aqui digo invento:

Neonazistas marchando em plena luz do dia;
O (f)(r)acismo comendo solto na Ucrânia;

O neoliberalismo entrando de sola na América Latina;
Indígenas perdendo suas terras e suas vidas;

Os direitos trabalhistas sumindo;
A direita elitista abocanhando o mundo;

Você tomando no cu virando escravo, moderno;
do seu senhor de engenho, também moderno.

E tem pão e circo: Amanhã tem Game of Thrones...

Tá tudo normal...
Nada velho, nem novo. Só atual.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Tristes ufanistas

No "diz
que me disse"
da pornopolítica
brazuca,

é bazuca
a língua bélica
que diz amavisse
um "país".

Mas e esse silêncio
de conformismo?

...ou será de vergonha?

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Desejo e realidade

Gostaria de escrever
como se estivesse cheio
de sentimentos
e motivos;

não que tenha falta deles,
apenas me falta vontade...

...às vezes poesia depende de mais do que necessidade...

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Divisor

Devo à vida
ou ela me deve?
Essa cobrança indevida,
ao que me parece,
padece de fundamento,
não importando
de quem é tal dívida.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Processual

Me senti Josef K.,
mais uma vez
entre umas tantas -
na verdade,
a vida toda.

Não pude mais ficar
sofrendo crises
de ansiedade
num cai e levanta,
um gira-roda.

A vida é um processo
e se dá em processos.
Parece um processo.

Processo?

terça-feira, 25 de abril de 2017

Chiste

Queria estar debaixo das árvores dos meus pensamentos
colhendo os frutos, sem pesares, de seus conhecimentos.

Queria ser um ser independente de qualquer ser alheio
que em, zero, nenhum instante, me houvesse um arreio.

Mas ao observar essa natureza entendi que estava cego,
pois como homem que se preza, prioriza seu surdo ego.

Não posso continuar negando que o universo coexiste,
não quero religião me usando, já me basta esse chiste.

terça-feira, 18 de abril de 2017

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Virtude?

Uma quase crise de abstinência
fez com que voltasse à escrita
que um dia sonhei ser como lírica,
mas reconheço cáustica e aflita -
momento em que destilo a essência

de cada palavra sentida
de cada letra despida
em alma, em poesia.

Loucuras de uma crise de abstinência -
quase, como disse anteriormente -
nada que me mostrem sem lentes
de aumento para entender a gravidade

do meu vício de poesia,
dessa minha obsessão,
louca necessidade.

terça-feira, 21 de março de 2017

Apo(ca)lí(p)ticos

Vide
a hipocrisia
da burguesia:

perfume francês
não disfarça
chorume reaça
do burguês...

...ele ainda fede.

Embrute-sen-cimento

Silenciaram o cotidiano
ao ponto da apatia
duma avenida barulhenta
fazer ouvir o emudecimento
de nossas bocas.

Mas, quem diria?

Os olhares ainda falam,
gritam, choram e,
embrutecidos pelo mundo,
se mostram entre o insano
e o são: o limiar
derradeiro do equilíbrio

falso de um surto,
de corpo e mente,
onde se faz o cotidiano.

terça-feira, 14 de março de 2017

Ego-coleção

Há muito a coleção não se aumenta,
seja pelo materialismo,
que perdeu seu sentido;
seja pelo colecionismo
egoísta que, varrido,
perdeu sua essência.

Passa-se a contar com a memória
e com toda transmissão,
acima de qualquer apego
que impeça, aos que vão
e aos que vêm, o ensejo
à cultura que se reinventa.

segunda-feira, 13 de março de 2017

Sobre um sonho

Sonhei contigo
e estou a pensar
se o meu sonhar
era vida ou ilusão,
onde os dois estão
num mesmo lugar.

Dissera escrever,
um fim de semana
inteiro, uma chama
queimando meu ser
para falso alívio.

Disse-me (e é mútuo)
que queria escrever comigo...

...Acordei e voltei ao meu castigo.

...mas ainda acho que me econtrei,
em sonho ou vida, contigo...

sexta-feira, 10 de março de 2017

Dolorida

A saúde parece ter se esquecido
que dela há a necessidade
para que se continue nesta vida,
pois há dor sem algo ocorrido
numa, até que jovem, idade
dessa existência aqui vivida.

Doem os ombros,
a cabeça,
os membros,
o coração,
a carapaça
e a emoção...

...mas a maior dor advém de simplesmente viver.

terça-feira, 7 de março de 2017

Poesia-Sangria

Me disseram que falto com técnica,
que não me comunico no que escrevo,
que não sei escrever.

Não me preocupei com dita estética,
muito menos com o leitor como servo
que venha a me ler.

Apenas pus para fora o que queria sair
andando com seus pés de poemas tortos.
Apenas escrevi o que senti, como vizir
de meu âmago ácrata que aqui exorto.

Quem me avaliou, o fez por ego,
enquanto sangro sentimentos cegos.

Avaliar um poema e não senti-lo
talvez seja a pior maneira de lê-lo.

Derrota

Tento passar borracha
sobre a vida recente,
por diversas vezes
apagando todo o grafite...

...mas ainda leio marcas
de pressão da escrita
com as letras dum nome
que me é indelével...

...e sinto seu oposto
de dentro para fora,
saindo à flor da pele.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Jekyll & Hyde

Respeite o monstro de si
e dê voz ao encontro
do som com as palavras
que, juntos do coração,
são frutos de sua lavra.

É melhor saber sim
do monstro de si,
pois bela e fera
são faces de moeda,
e se não te conheces,
como a outro conhecer?

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Analgésico

Como agüentar tanta vida?

O que dizem ser leve
se prova ser um fardo
daqueles pesados: "Pegue!
Agarre-a para ser vivida!"

Quando meus braços
e meus ombros cansados
concordam com corpo
e tentam calar o pensamento.

Tudo dói, até a vida dói
tanto que o analgésico
tem que ser cada vez mais forte
até que o peso da vida
se alivie na morte.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Morbidez

Ontem - assim como hoje e também amanhã -
desejei me matar, contrariando qualquer lei,
moral, cívica, ética, norma, axioma ou dogma.
Fantasiando como seria a lâmina no pulso,
um espasmo no gatilho dessa roleta russa,
entornar o vinho com comprimidos mistos,
forçar a asfixia por monóxido de carbono,
atravessar a Paulista e beijar o para-brisa
de um ônibus num ato de amor ao meu fim.

Ato de amor próprio, ato de orgulho,
onde o ego tem mais vontades que eu.

E nessa conversa diária, o ego me falou
- e percebi que temos isso em comum -
"mais indolor, mais fácil, sem barulho,
podemos nos atirar do oitavo andar
e mergulhar no escuro, e já conhecido,
asfalto para pintar um pouco de vermelho
esse mundo sem cor."

Seria um ato de desamor,
orgulho ferido, numa vida sem sentido...

...algo que valha, no tempo não vivido,
é, simultâneo, um ato de amor.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Caído

Me assola este antônimo
de tua palavra,
como se minha lavra
nada fizesse em prol do anônimo
sentimento que me sobra.

Nada do que produzo
me traz um contento,
parece que estou em desuso
de mim mesmo,
um sol sem calor,
um flor sem cor,
eternidade sem tempo.

Este seu antônimo
me deixa caído,
enfermo, não de orgulho
mas de sangue escorrido
pelo verso que me deixou ferido.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Perturbação

Tenho uma memória vívida
de coisas fora dessa vida aqui,
quando passo numa ponte
e me pego olhando o horizonte
sinto a tentação de parar a vida
já senti que queria virar o volante,
não bastando, já senti que faria a pé
tal caminhada ao desconhecido,
tudo se daria num simples instante,
apenas um salto de fé
de que tudo, junto do ato, tenha se exaurido.

Salto demorado

Devo admitir que sou meu próprio fim,
meu suicídio é fingir viver este tempo
como se fizesse durar a queda por anos -
como se o parapeito de onde eu vim
não fizesse mais parte - só há vento
e já não fico mais onde estávamos;
sabendo de tudo isso e meus delírios
de início imemoriais, entendo o suicídio,
entendo a sensação, sinto a urgência,
ouço o gemido, respiro o último fôlego
a cada segundo último passado de início.

Quero um indício de que possa surtar,
quebrar tudo, antes que eu me quebre
em ossos no impacto com o solo,
mas me sobra uma paz externa
enquanto o caos interno não dá colo,
apenas me deixa cada vez mais morto.

Quem disse que todos berram ao cair?
Há aqueles que caem no silêncio
da voz, do ar, do suicídio a se admitir.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Da Margem...

Distorceste teu reflexo num lago revolto
por uma pedra que atiraste na vida,
nas ondas provocadas ao largo de seu perímetro...
quando a água se acalmou, inédita
foi a percepção de tua ausência,
a água não mais lhe refletia
e não sei com qual afluente nadarias
para longe, só sei que irias,
não importa aonde...

...pois a água se move,
e o rio não é o mesmo
e justo a correnteza temo
e vejo acontecer
aqui - sem prova dos nove,
me resta apenas não esquecer...

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Elementos de Vias Urbanas

A calçada ouve como passo -
cada passo - num descompasso
comparsa de uma irritação
que não se disfarça de emoção.
Irritação fria que não se sente,
apenas se coça e se mente
que o vazio é puro sentimento,
mas nesse meio-fio de um tecido
estético, nesse vácuo no ventre
toda essa emoção se esvai - se foi.

O asfalto se molha lacrimoso
mais emocionado que eu,
o céu são seus olhos chorosos
que vertem um choro meu,
enquanto terreno; estou apático
no universo móvel-tempo-físico,
tanto que ainda não me sinto,
e a certeza de que não me minto
nesse vazio que deixaste.

A faixa de pedestre é da cor
do contorno de um cadáver
numa crível cena de morte
que não me alegra ou entristece -
apático - nada me é sentido,
não há sentido ou direção
nessas vias, não importa a mão,
pois são mistos traços urbanos
da cidade que me diz insano...

...quando estou, na rua, insone...

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Poluído

Coberto de nuvens cinzentas
posso ver que a realidade
do ser humano aqui se inventa,
abaixo desse firmamento.

Sua cor é reflexo direto
de uma louca maldade
para vontades, caos completo
de vaidades dum momento...

...onde o ser humano
não é mais ser
e, sim, estar;
e o humano
se deixou virar
apenas consumo.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Barrabás

Não há jesuísmo que me toque
com uma data simbólica
como a idade de 33 -
a qual cheguei e desprezo
com uma verve melancólica
não condizente com o sentimento -

pois é de alívio generalizado
se apoiar em muletas
cheias de simbolismos
e estou cansado demais
para aguentar açúcares e sais
neste organismo que arrebento

brincando de viver,
mentindo à vida
por 12 horas diárias,
fingindo o poder
de decidi-la
como um imperador romano faria
perante seus suditos.

Sem pensar

Fazer poesia tem dessas...
...não é algo que se peça,
muito menos que se entenda,
é algo que se sente
e nisso o poeta não se mente,
pois fazer poesia não é fazer contenda.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Deságua

Sou fúria e calmaria
nas emoções de ondas
dessa sentimentaria
que revolta em maré
desse meu ânimo
de poeta desvalido.
Por certo a baixaria
é evitada no choro
tocado a beira
do mar dos olhos
com sua areia
de Morfeu na ressaca.

Algumas Questões Aleatórias

Queria saber se o sangue
serviria como pagamento
para todo o tempo que vingue
essas vidas de momentos;

se a flor, no chão, despedaçada
ao público numa brincadeira
de mal-me-quer, se convidara
para tal crueza que ali se vira...

...queria saber...
...AH! Como queria entender

o paradoxo

dessa "selvageria

humana"...

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Monera

Por diversos motivos
seguimos vivendo,
apáticos e sérios,
com sisudos mistérios
nos semblantes,
sem emoções,
quase sem corações...
levanto uma questão
já assim, de sopetão,
pertencemos a humanidade
mas ainda não saímos
do reino monera?

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Aniversários

Ainda conto os anos,
mas não mais os comemoro
da maneira dos humanos
que ainda almejam o decoro.

Prefiro me dar o dia
como um pequeno regalo
de alguém que me daria,
com amor, o presente de que falo:

Um tempo para ser a si mesmo
e uma companhia simples
sem minutos perdidos, a esmo,
sem saber onde estão com os pés.

Prefiro assim, sincero,
como participo de aniversários:
presença rarefeita, vulto raro,
não ausente, mas no meu horário.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Comum Peculiaridade

Quando vi você
saindo pela porta do quarto
percebi o tempo,
frágil e banal,
levado pelo vento,
ágil e cruel.

Foi então que me senti
sozinho, em desespero
perdido na solidão.

Cada um dentro de si
tem um coração
só e sem companheiro.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

(ir)Racional

Se eu citar filósofos
estarei sendo falso
comigo mesmo,
como andar descalço
em pontiagudas pedras
com um sorriso
descarado no rosto.

Gosto de lê-los,
mas confesso descaso
na prática diária
de qualquer filosofia
que se prove alheia
diante do que penso
por e dentro de mim.

Se auto-descobrir
é mais que filosofar:
até há no que pensar
mas sobra o que sentir.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Procrastinação

Minha falta de ânimo
faz que me sinta péssimo...

É como se meu âmago
fosse mentir para comigo

e - paradoxal enfermo
de seu próprio cruel termo -

viesse a dar consigo
num ódio até que sôfrego,

presente nesta feição
com marcas de expressão

de histórias e guerras
de uma vida que aqui erra...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Momento de Inércia

Quando alguém impõe o silêncio
sideral dos astros solitários
ao pequeno e vil universo
de realidade de um poeta,

faz jorrar, na ponta da seta,
vozes, sentimento e verso
mudos, do mundo refratário,
instituindo um poema suspenso.

Saindo dum abismo

De sol claro e escuras nuvens
o céu se pinta como arte -
uma expressão do tempo,
como os tecidos se movem -
sendo, na totalidade, parte
de um sopro do momento

em que o verão se indica
e o ano se inicia,
mas não lhe aprazia
tal repetição kármica,
pois tua mente cética,
silente e observadora,
quando conservadora,
não se aparece épica,

mas sim perdida,
como o ceticismo
que evita a lida
com as mutações
do universo de emoções
dum mundo sem cinismo.