terça-feira, 29 de setembro de 2015

Clareando

Ao longo dessa jornada,
vi nuvem negra sumir,
vi nuvem negra voltar
e, como se fosse punir,
chorava água pelo ar,
deixando a alma lavada
no solo.

Mas, inevitável, clareou
o dia depois da chuva,
depois da noite escura,
acabou-se a visão turva,
e com a sua luz perfura
e penetra, como fecundou,
um solo.

Clareou a pequena vida
que, olhando lá atrás,
me parece tão gigante
mas ainda não satisfaz
os anseios d'um instante
em que tu és tão querida
à mim.

Clara luz de dia e noite
que sempre ilumina
todos ao seu redor,
é incrível como fascina
e faz o mundo melhor
e acaba com o açoite
em mim.

Um problema ocorrerá,
se eu não der um basta,
pois adoro fazer metáfora
com você e a luz vasta,
mas se não acabar por ora
esse poema aqui não terá
um fim...

Mas sua luz...
...É infinita.
É puro amor que reluz
sempre que vista.

Meia

Mesmo em décadas
de pura decadência
ao redor do mundo,

essa meia intrépida
década nos evidencia
algo que é profundo:

Que em cinco anos
parece que lhe conheço
há uma eternidade

e para onde vamos
não há trem expresso
ou simples verdade.

Há apenas o fato
de que me sinto menino
ao lado de você, menina.

E nenhuma foto
traduz o nosso destino,
que não é uma sina,

é apenas uma vontade
de estar em liberdade
ao lado da pessoa livre
que aqui dentro convive.

Vive porque quer viver.

É assim que quero te ver.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

♫ Voa LÁ no céu ♪

Passarinhos precisam voar,
faz parte de sua natureza
e não adianta engaiolar,
pois gaiola nunca é lar
e some com toda a beleza
que é ver um pássaro no ar,
voando na música a cantar.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Tempo Vão

6 horas passaram
desde o despertar
e nada de acabar
essa vida tão vã...

Irrigação

Ao acordar, te olho
e me arde cada olho
com o sal desse mar
que é ânsia de chorar

e irrigar toda a terra
para trazer uma era
nova sem essa dor
causada pelo amor.

Sem Bússola

Nunca me deram um manual
para saber o que é viver,
o que é sentir;
se há sentido no saber,
se há vida no amar
ou se há morte no amor.

A única referência é de dentro
e é lá que enfrento
meus pequenos dramas,
esses dilemas
que talvez, problemas,
me queimam como chama.

Roupa no Varal

Não consigo lhe dar duas vidas
pois não quero, nem tenho o poder.
Nem comigo aguento suas idas,
mas não quero lhe ver prometer,
após vindas de outro alguém,
se vingas um passado ou além...

Sim, podes ser quem queiras ser,
mas não além do que pode seu ser.

Eu só posso lhe garantir a liberdade,
sempre sua, mas me fica a saudade...

Então me causa um dilúvio
cada letra do temporal dúbio
que me atinge direto na face,
em meio ao amor, seu disfarce
me molha onde eu secava
da chuva que antes passava.

Me sinto pendurado num varal,
esperando que, talvez, me vista,

só que eu não cometi nada mal
para ter castigo de corte marcial.

Percebo que estamos separados
por algo que até tenha passado
por nós, na velocidade da luz,
e marcou, como o ouro reluz,
o que tínhamos como nossa vida
mas, sem cuidado ficou destruída.

Não sei se sumo ou me desfaço
como roupa rasgada ou velha,
só sei que seguindo nesse passo
evoluo, com uma dor pentelha
desses pregadores que sustentam
meu peso novamente molhado...

Apertos de orelha vermelham
e por mim, me olho, sou falado.

Esperando, agora fico, envelheço,
pendurado, no varal, por um apreço.

Já fui liso, belo limpo e passado;
hoje, roto, pano de chão, rasgado...

Será que me arrumo?

Assim como
te amar
tem sido
me torturar,
escrever
tem sido
me esquecer...

Quem sabe assim me aprumo...


sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Noção (em) Temporal

Há agora,
com Whatsapp,
por aí afora
quem ache
que perde
1 e 1/2
minuto
quem escreve
um email...

...Refuto,
então, preocupado,
quando pergunto:

"O que seria
da poesia
sem esse punhado
de segundos?"

(és)gana

Me agradam as pessoas
um tanto ambiciosas,
mas quando isso é vício
se torna uma ganância,
acompanhada da arrogância
que até se destoa
da ambição, já ociosa,
e torna esse ocioso,
preso em círculo vicioso,
uma pessoa
belicosa...

...Desses quero certa distância.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Samba de aniversário

Eu lhe canto um samba
como quem tira a tampa
duma caixinha de música
para lhe contar a física
dos astros na roda anual
que completa alto astral.

Lhe canto um rebolado
sobre me ter a ti e falo,
e como falo, meto aqui
e não me calo, canto a ti:

Que samba é sacana
até em festa de aniversário,
quem não canta é otário
porque samba é pura chama
que aquece quem ama.

Assim dançamos bamba,
juntos um só que encampa
na pista grande do salão,
onde cada passo é arrastão,
da sua linda meia-calça
aos corpos nus nessa pauta.

Lhe danço um sapateado
de mestre-sala bailado,
movendo contigo quadris...
mexe, remexe, pelves viris.

Porque samba é sacana
até fora de horário,
quem dança no assoalho
sabe que sambar chama
para balançar quem se ama.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Desenraizado

Posso procurar
um lugar
lar

largar
tudo
e voar
no ar
nadar
no mar
e ainda
vinga
a sensação
de que farão
ofensas
tensas
sobre
de onde vim.

Fui desenraizado
não tive contato
com origem
só sobrou vertigem
e hoje
me vejo
à margem
marginal
mal
animal
racional
tal
qual
um ser universal.