quinta-feira, 28 de julho de 2016

Pierrô

Nessa arte de amar,
em meio aos artistas,
sou o palhaço de circo:

não garanto glamour,
nem beleza eterna,
mas de ti
retiro um riso.


quarta-feira, 27 de julho de 2016

Pontuação

VIVO,
NÃO REVIVO!

NÃO PERGUNTO,
EXCLAMO!

SIM!!!
EXCLAMO!

Por que a vida não é grande o suficiente para se viver de hipóteses em interrogações?
Porque ela é imediata e acontece, implacável como uma exclamação!



terça-feira, 26 de julho de 2016

Pesadelo

Me lembrei porque me entorpeço...

O faço para não sonhar
e para ter noites escuras
em que possa descansar
o corpo e a mente das agruras
do cotidiano humano,
insensato e inexplicável.

Pois o pesadelo da vida
não pode se tornar sonho,
e o que viria na noite
não pode me afetar no dia,
exceto quando esqueço
e, antes de dormir,
não me entorpeço...

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Fim de recesso

Findo o período sabático
com o raiar do dia,
ao acordar para cuspir
o sono que era estático
e agora se torna um tormento
perante ao corrido tempo.
No sétimo dia, descansou
aquele que alguém diria
ter nos criado, talvez para rir
em sua vida tediosa;
no décimo-quarto, acordei
para justificar o trabalho
do escritor desse roteiro
de divina comédia humana,
onde muitos sabem de tudo
sobre esse grande nada.
Acabou meu recesso,
mas, enquanto estou aqui,
uma fictícia divindade,
lá em cima, se mija a rir,
dessa graça sem-graça
dos nossos excessos,

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Recesso

Estou sabático:
descansando, de alguma forma,
dos compromissos,
da sociedade,
da amabilidade.
Estou descansando minha voz
calando a garganta
úmida de significados
e seca de palavras,
enquanto falo
pelo pensamento
e canto pelos dedos.
Estou de férias,
de tudo que eu puder evitar;
o que for inevitável,
feriado nunca terá.
Descansado?
Não me lembro da última vez
que pude descansar
do exercício humano de ser.

Névoas de café

Uma leitura poética
me viaja no tempo
direto ao café quente,
onde via formar,
na fumaça espessa,
o contorno de sua boca
- no nosso entorno
de atitude louca -
a brancura de seu sorriso
e os faróis azulados
dos olhos que tentavam
me ofuscar a visão
em meio a neblina.

Era para não falarmos,
evitar contato,
mas nada dito
foi levado a sério,
nem o café expresso
que se tornou
demasiado longo,
assim como todo o impasse
- léxico, realista ou complexo -
que passamos por cima.

Ainda fitamos
com nossos desejos,
vontade de você,
vontade de mim.
Ainda sinto vontade de ser
o homem do con(s)(c)erto
do poeminha
que guardo na carteira.

E, tal qual uma boa sina,
ainda o lerei por eras inteiras
e a vontade, talvez nunca passe...

...assim espero...

...assim me acontece,
toda vez que leio
poemas numa xícara de café.

Meia-noite...

...e eu, contemplando
o céu estrelado
- dum escuro azulado -,
me pego pensando
sobre seus poemas...

...e sinto a cena
como se ouvisse
a voz de sua garganta
declamando, ao meio-dia,
uma dose santa
de sua poesia.

Será só delírio à meia-noite?

sábado, 9 de julho de 2016

Uma Ironia

Saiba que por dias
o vento acariciou meu rosto
para lembrar de que é pai,
e que a terra onde piso
é mãe da vida que ali se via,
junto da morte no fruto -
do posto pé de abacate - que cai
e se quebra no solo não liso...
...e, assim, o ciclo me ria.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Falsa Posse

Deveríamos tornar nossos
cada trecho lido aleatório
de poema de veia e ossos
e de textos sanguíneos.

Logo, não pode ser meu
o poema que aqui se deu.

Leia-o seu.

quinta-feira, 7 de julho de 2016

JeoVá

Hoje me senti um deus cristão,
onipotente,
onisciente,
talvez até onipresente.
Julguei, sem pensar, com meu dedão
a vida de duas formigas
que passeavam no prato
em direção ao meu pão.

O fiz sem pensar, sem cogitar
que as formigas são como nós;

que deuses humanos
fazem humanos enganos;

que as condenei a um destino atroz;

que, como num velho/novo testamento,
fui, como toda divindade, um tirano
aos mais frágeis que eu.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Torpe

Entorpecido por essa vida,
há muito não sei sonhar.

Parece que esqueci como

o                       h
             s                              o
                              s
                 n

fazem viajar a imaginação,
pois a minha viaja a todo momento...

...para
beeemmmmm










l  o   n         g               e                     .

Conversas...

Urge essa sua reminiscência
de mim, te trazendo um carinho
que não posso lhe dar,
pois pedes que eu não o dê;
te traz uma esperança
- que não sei se posso viver,
nem sequer um pouquinho -
de que o futuro o tempo conte,
sendo que deste não faço contas.
Me pergunto se de carinho
ou carência é esse espinho
que colocas entre nós
de cordas trançadas,
entre tecidos de peles
não mais tocadas,
na sua recusa atroz
de ser a ti
e de que eu possa sumir,
enquanto tu me desassumes
ao passo que me assumi.

terça-feira, 5 de julho de 2016

Exercício

Antigamente, inspiração
me era tão necessária
como abrigo a um pária
ou, ao faminto, um pão.

Hoje, o ato é necessário;
letras soltas são escritas,
sequer importa horário,
apenas a ideia expressa,

crua ou até em metáfora;
uma ideia que traz visco.
Se fico sem escrever,
não vivo. É diário risco.


Sobre-viver

Os anos estão nos escorrendo
pelos dedos das mãos e dos pés...
...ou seriamos nós que descemos
no escorregador da vida?

Eu vejo a minha pele envelhecer
e entradas novas sugerirem
na testa, diretamente, portas
para os meus pensamentos.

Observo você também mudar
junto comigo e separada de mim,
e percebo que sua existência
é efêmera como a minha.

Tenho esse apego por ti,
algo que me acomete,
como nunca senti, nunca vi.

Não preciso de intérprete
nem de algo que me diz
sobre a vida que se repete.

Sinto que preciso apenas
cuidar de ti, para que vivas,
ao máximo, todo o potencial
desse tempo curto que temos aqui,
para que sejas, toda, eternidade.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Prosa Imagética

Os olhares proseiam,
antes mesmo das vozes,
uma prosa daquelas
de uma tarde na varanda,
bebendo chá;
numa cadeira que balança,
nessa prosa que se mistura
de risos a sorrisos
com bocas de poemas
que sorvem liso
líquido das xícaras
e fazem do paladar
algo um tanto singular,
tal o sabor da palavra
perdida na língua
e calada na garganta,
mas sonora no toque
de um pensamento
que os olhares proseiam.

Agrura

Cansei de meus dedos
que digitam fúrias,
amores, sons e medos,
essas minhas agruras
que enfeitam de letras
um espaço por arremedo,
zombaria de mim mesmo.
Cansei da minha poesia
que se dá nessa hora
de sentimento e nostalgia
mistos num "quê" de agora
tal qual uma urgência
mental, caso de ambulância.

Embora cansado,
uma ânsia me impele
a escrever, derramar sangue;
me rasgar a vista e a pele
para deixar registrado
um pedaço que arranque
da hemorragia, a emoção
coagulada numa canção.

Um canto

Sei, me sentindo vazio,
que na alma estou repleto
desse silêncio vadio
dum canto secreto.

domingo, 3 de julho de 2016

Tinta-íris-ela

A chuva da bondade
é uma tempestade
de água num ar seco
d'um deserto aéreo,
num clima sério
que se desmancha
em lágrimas celestes,
formando arco-íris
com a luz que mancha
o céu de aquarela.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Terapia?

Mais de meio milhar de poemas aqui, nenhum livro publicado
e ainda estou me afogando nas pilhas de rascunhos e emoções,
na interminável tentativa de ser o infinito neste meu finito ser.