terça-feira, 28 de novembro de 2017

Daqueles conselhos úteis...

...o que já foi jovem, adulto e velho,
me sentenciou em simplicidade:

"Tome cuidado, garoto,
com esse ego contido
pense em ajustá-lo
ao invés de contê-lo.

Cuidado também, garoto,
com o tal ego inflado
pense em educá-lo
ao invés de enchê-lo."

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Céu, Sol e Lua

Outra noite eu me fiz de céu
e vi me brilharem muitas estrelas,
mas dentre todas elas
só a lua me iluminava,
passando,
fugindo do sol.

Outro dia eu me fiz de sol
e ouvi cantarem cedo os galos
e alimentei plantas com meus raios;
as sementes que seu solo
fecundava
e cresciam à mim.

Por fim, me fiz de lua,
ouvindo os seres noturnos,
inspirando obscuros cantos
de sentidos ocultos
mas visíveis,
como faço com meu halo.

Fui universal
como o céu,
solitário
como o sol
e inspirado
como a lua.

domingo, 26 de novembro de 2017

Momento misantrópico

Desejo, no auge dessa misantropia,
que aflige tal dilúvio sem maresia,
me atirar num período sabático
dessa humanidade e todos seus cercos,
morais,
dogmáticos,
políticos,
distópicos
e ideais...

...mas se nasci com habilidade para expressar,
não exercê-la se prova desperdício desse ser
que sou, nesse louco mundo, de gente sem expressão.

Mal Caseiro

Minha função é cuidar
desta velha e grande morada,
deste velho coração
do meu corpo-patrão.

Não dei o meu melhor
e deixei ir embora namorada
e amor, de supetão,
machucando o coração.

O dono ficou a chorar
pela falta não remediada:
do órgão perdeu um pedação
e agora demora a cicatrização.

Eu, que não tinha um lar,
não cuidei da morada
provisória-fixa em antemão
e agora faço uma arrumação

para tentar secar esse mar
de uma visão alagada
por correntezas do ribeirão
da (falta) de emoção

que atinge todo esse lugar.
A única coisa incumbida
a mim era a preservação
desse lar-corpo-patrão.

Mal caseiro que sou,
mal cumpri minha função.

Gin Tônica

Cá estou
a tentar aproveitar a noite ,
aceitando o convite
que um amigo propõe,
para uma festa - me vou
e não existe nada que me lembre,
mesmo que se pense,
ou me fogem razões
para te acessar na memória...

...Até que me oferecem gin tônica
e todas as memórias vêm à tona.

Fico a um passo
de escorregar na beira do abismo,
e quando me vejo sozinho,
me entrego e deságuo
mais que a chuva da noite
mais que o afluente do rio,
longe de tudo e de todos,
num canto qualquer
em lacrimal desvario.

Não consigo mais beber
o seu drink favorito.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Notei-me...

...de repente, nu.

Como se não houvesse
roupa que me cobrisse
nesse frio.

Um cu de situação.

Um grande v(ácuo)(azio).

"Pseudo"

...De repente, um pseudônimo
me definiu um pseudo-poeta,
assim, sem dó, sem indireta,
mas o pseudônimo é, no mínimo,
o que "pseudo" é de verdade:

é e apenas diz pura falsidade.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

(falta de) Esperança

Eu, apegado à palavras,
recebo a falta.
Não é justo pedir
por suas palavras
e, enfim,
me minto:
espero um dia
me acostumar
com o fato de você
não mais se declarar
a mim.

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Máscara

Quem vê o sorriso
não entende a desgraça.
Quem ouve a risada
não enxerga o vício
em melancolia
que assola a vida
de um ser que finge
ter alegria.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Vozes

Ouço vozes em cada poesia.
Elas cantam, me levando
do deleite à penúria,
do enfeite à amargura;
me ordenam palavras
rimadas ou não,
sentidas ou não,
como se eu fosse um instrumento
por onde as emoções
de um mundo passam
e se concretizam em papel;
ouço estas vozes que falam
dos mistérios do céu
inalcançável em sua vastidão,
tal cantam de emoção.
um pequeno pedaço
de sentimento.

SOCORRO!

Alguém me salve!!!

Me salve de minha própria poesia,
desse estado em que paro minha vida
para escrever sobre sentimentos
meus e seus, sobre tantos momentos
que muita gente um dia viveu.

Me salve dessa sina, antítese de mim,
ou me ajude a não enlouquecer por letras,
versos, estrofes e poiesis.

Me salve de mim, enfim,
pois se a poesia me sai pelos poros,
entendo que estou a flor da pele
e o perfume que estou exalando
não é dos melhores, mas sim barato,
humano, fraco, podre e fedido.

SOCORRO!!!

--

Mudei de ideia, não me salve!
Escreverei até não sobrar nada...

...e então, no nada,
criarei algo e será tudo.

Não me salve, mais.

Serviçal

Escravo sou
de minhas próprias vicissitudes,
de mudanças de atitude.

Por onde vou
não há o que pare este alude
de emoções, vícios sem virtudes.

Lavragem

Sobre minhas palavras,
realmente me falta poder,
elas me levam longe
dentro da alma
e dum sentimento
que queima tal chama
no pedaço de momento
que somos dentro
da existência.

Sobre minha lavra,
é essa sorte feita para ler
e entrar direto onde
o peito perde a calma
e se agita pelo vento
- este que infla(ma)
os (coraç)pulmões, lento -
que enfrento
até minha decadência.

Noturno Depressivo

Há anos apago
meus sonhos e pesadelos
na brasa de um baseado
sem afagos,
apenas torpor
e sono tranquilo...

...exceto nesta última noite,
em que dormi sem fumar:

De repente fiquei entorpecido,
atordoado por estar sonhando,
ou tendo pesadelo... é o que lido
nas minhas noites.

Enfim você apareceu.
E o trato social meu e seu
é sempre o mesmo,
a vontade, o amor
o tesão e a dor.

Te cumprimentar em sonho
é um delírio.
Te amar em vida
é um auspício.

Te ver resolvida
com outra pessoa
é meu suplício.

Lidei com o que não restou de nós,
ao vê-la com outro.
E, mesmo assim, o que não restou
deixou em mim um pedaço de ti.

Acordo apanhado em lágrimas
e choro pelo resto de meus dias,
enquanto eles durarem.

Fumo para não sonhar,
nem ter pesadelos
não por medo,
mas para viver,
tentar viver sem você...

...e está cada dia mais difícil.

Estou perdendo minhas forças.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Resistência Trabalhista

Entre burocratas
e projetistas,
me encontro, ácrata,
em rebeldia
e não mais iludido,
não só mais um fodido.

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Tori

Quero-quero, nome de passarinho,
espero que venhas ao meu ninho...

...te quero com muito carinho.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Incoerência dessa Proclamação

Não entendo o motivo
de comemorar
por uma res
que não é pública,
ainda mais sendo
esse Atlas vivo,
esse povo Sísifo
que nunca tem vez,
somente súplicas
em sua voz.

Maturação

Quando se trata de álcool-sentimentalismo...

...sou daqueles
que vão sozinhos beber
só para lembrar;
porque quem sai
com amigos,
quase sempre,
bebe para esquecer.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Observando a água da chuva

Aguardava a chuva
cair e, depois, cessar
numa calçada-mar
do bueiro na curva
da avenida paulista
com a campineira
alameda duma vista
bela que se reitera
ao cair das lágrimas
de um céu triste
nas alegres páginas
do verão que se assiste
de uma curva
empoçada.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Poesia Crônica

Este crônico cansaço
já se tornou cronista
de si mesmo;
me lista
motivos do que faço
para o fim da saúde
mental e física de mim,
a esmo.

Dois pesos, duas medidas

A soberana e imbatível hipocrisia
da sociedade brasileira,
a impassividade da mesma
classe que denominamos burguesia
permite aberrações
ao bom senso do humanismo.

Vejam que engraçado:
Eduardo foi detido pela polícia...
Não o Cunha, mas sim, Suplicy.

Pois é, disparate igual, nunca vi...
Na verdade vi piores.
O Cunha tá de tornozeleira. Chique.
Parece que lesar a população
é algo que merece uma jóia em comemoração.

Um jovem detido por portar Pinho Sol,
gente detida por defender seus direitos,
pessoas detidas por apenas manifestar.

Viver nesses dois Brasis
em que um só fode e o outro é sempre fodido,
é ver uma das realidades mais vis
que nos atinge cada qual como indivíduo.
Não me espanto se houver uma escalada
ao monte Everest da anomia,
porque estão nos vedando a anarquia,
e agora estão nos amordaçando
a chance da arte, logo mais a da fala.

E quando acabar a poesia,
junto com a economia,
só restará o sangrar...

...a quem?

Não arrisco responder tal questão.

Se não ficou claro ao cidadão
de que lado estes senhores estão,
pelo menos continua claro que há dois pesos,
duas medidas.
Uma dualidade daquelas
em que a sociedade se mostra partida.

Em menos de um minuto...

Tenho menos de dez minutos
para escrever um poema
e imaginar uma pequena cena
que acontece em segundos
mas pode durar uma eternidade
dum tempo sem quantidade.

domingo, 12 de novembro de 2017

Caminhando na Prancha

Tu, com minha
vida em suas mãos,
tal areia fina
ou água
escorrendo
entre seus dedos,
me lançarias
ao vácuo
inócuo
da praia
ou me farias
sofrer os males
de um sacrifício
nas ondas dos mares?

Mancha

O esboço de uma vida
tende a ser borrado
num toque duma pele suada
ou numa passada de borracha...

...invariavelmente
deixando uma mancha
que talvez seja bem difícil
de apagar.

Bilhete-rascunho

Desde que você me deixou
minha vida ficou repleta
de um grande vazio

e nesta plena incompletude
me sinto menos "eu";

cada vez menos (m)(s)eu,
na mesma distância fria,
impessoal, entre quem leu

e quem escreveu
este pequeno poema.

Semelhanças

O ato de escrever por uma hora,
em meio ao caos da cidade e do íntimo,
em meio a paz da madruga e a guerra da alma,
se parece com o ato de viver:
É um suicídio lento.

É o 4° poema seguido...

...nesta manhã de domingo.

Parei tudo para dar vazão
a tanto sentimento,
mesmo assim me movimento,
parado por fora, mas um turbilhão
de emoções por dentro.

Nada Sério

É como as pessoas
dizem sobre a impessoalidade
de suas mundanas vontades.

Um antítese isso me soa,
tal adulto infantilizado
e infante amadurecido.

É a falta de se assumir
e o ato de querer ser a si
num meio-termo entre aqui e ali.

É não dar cabo e resistir
a vida que, diante de nós, acontece,
e a morte que, depois de nós, permanece.

Calejamento

Me disse que não queria
calejar seu coração
como faço em minha vida...

...acho que nunca vou calejar,
mesmo com intenção,
o órgão que não quer fechar

portas e feridas...

O órgão que bombeia
ao mesmo tempo que sangra.
O amor que me permeia
e, no entanto, aqui me faz falta.

...acho que nunca conseguirei calejar
esse órgão
chamado coração,
muito menos cicatrizar suas feridas...

A que mais sangra é do seu corte
sobre o que era nossa relação.
Sem sorte, a ferida não fecha
e, sem cicatriz, ainda sangra
esse meu maltrapilho coração.

Madrugada

São quase duas da madrugada
de sábado para domingo
e estou lidando aqui comigo,
com minha solidão.
Já que a vida me falta em razão,
penso, em meio a noite enfeitada

de lantejoulas brilhantes
deste firmamento-abismo,
que esse céu escuro
é o fim que procuro,
sem luz, sem som, um vácuo. Cismo,
que no fim há quem se deleite,

como eu, com o fato
de que na morte
de um astro, brilhe,
uma estrela, um filho
de uma explosão forte,
que é como todo ser humano,
vive por um "breve" momento insano,
mas veio ao mundo meio natimorto.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Yasamin

Eu ainda moro na mesma rua.
Tenho na frente o mesmo jardim
e ainda toco as flores nuas,
sinto a pele, pétala de Jasmim

Fui, tempos atrás, jardineiro,
e lhe fiz brotar amor no outono inteiro...
Em tempos atrás eu cuidei,
reguei e zelei, obedecendo sua lei.

Continuo a cultivar flores de Jasmim,
daquelas que exalam seu perfume
e trazem de volta memórias para mim...

...de que em 4 estações fui teu jardineiro,
servi com carinho este costume
e te vi florecer durante um ano inteiro.