quinta-feira, 30 de abril de 2020

Rever a Mãe

Eu vi minha mãe
depois de mais de dois meses...
Ela passou para me visitar.

Ela não pôde parar;
tem pessoas que, às vezes,
ficam sem opções.

Ela sem opção de parar,
e eu sem poder abraçar

a minha mãe...


Única, insubstituível,
palavra sem rima.

Pedi que se cuide
na medida do possível,

e eu tento, como quem se afirma,
forte, tenaz,
na medida do impossível,
não me preocupar.

Lá foi minha mãe
trabalhar...

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Redução de Danos

Me importa
o morto
e o doente,
o vivo
e o inocente...

...mas enquanto,
pelo voto,
esse demente
morto-vivo
for "presidente",

o que realmente
importa
é reduzir
a taxa crescente
sem termos
que enterrar
muita gente.

É na redução
de danos
à nossa nação
que teremos
uma solução.

terça-feira, 28 de abril de 2020

Isolamento dos Astros

Como é difícil
este isolamento,
esse momento
sem o sensível
contato social.

Não impossível,
causa espanto
e no entanto
é como o lancil,
tão essencial

para bordar
a calçada da rua,
que é como, ao eclipsar,
borda de sol na lua.

Estes últimos,
astros em isolamento,
são como nós todos
neste isolado momento.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Vendas e Sendas

Vendo as emoções
num tabuleiro,
no meio da feira
cheia de tentações...

...E é nessa senda
que, corpo inteiro,
de certa maneira,
me pus a (à) venda.

domingo, 26 de abril de 2020

Num Sonho Sensual...

...Entrelaçado,
entre meios
e os meados
desses veios,

fui tragado
pelos seios
já ensejados,
sem arreios

que segurem
essa fome
que vem de ti,

num abdômen
que me come.
É... assim me vi...

sábado, 25 de abril de 2020

Marreco

Por projeto de poder
eu sou omisso,
instrumento do fascismo
para poder ascender.
Faço a MINHA lei valer
mas sou permisso,
exceto ao comunismo
que quero vencer.

Eu me deMito!
Sou juizeco,
mais um treco
da injustiça.
Eu sou mais um lixo.

Eu ainda minto.
Sou o marreco.
sim, e peco.
Da injustiça
eu sou mais um bicho.

Minha demissão
é prova de fé
que fiz de mané
toda a minha nação 
Até negociação,
pensão em troca de prêmio,
agora aqui venho
e lhes dou a minha delação.

Eu me deMito!
Sou juizeco,
mais um treco
da injustiça.
Eu sou mais um lixo.

E ainda minto.
Sou o marreco,
sim, e ainda peco.
Na injustiça
salvei mais um milico.

Eu me deMito!
Sou juizeco,
mais um treco
da injustiça.
Sou mais um lixo.

Eu sou um mico
e não te nego,
sim, ainda peco.
Da injustiça
eu sou mais um bicho.

Mico, marreco
Juizeco, não nego...
Sou!
Mico, marreco
Juizeco, não nego...
Sou!

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Sonhos sem Respostas

O que são sonhos,
afinal?

Imaginações,
delírios
ou uma forma
de portal?

Sonhos do passado,
do presente,
do futuro...
Sonhos claros
em meio ao escuro...

O que são sonhos
senão sonhos, afinal?

Reavaliações,
ponderações,
lições
e recados ao ser mortal?

O que são sonhos,
afinal?

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Sentir e Sonhar

Fecho minhas pálpebras
mas ainda enxergo
a luz e a sombra por elas.

Meus olhos não desligam
o sentido da visão
pois ainda não dormiram.

E é nessa ligação
entre corpo e mente
que se dá a relação
que é tão latente
entre os sentidos.

Enquanto acordado,
o corpo sente;
enquanto dormindo,
sonha a mente.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

História

Contos
de fadas,
de reis,
de nada,
de réis...
...contos
que conto
e encontro
de pronto
sobre
o que vi,
o que não vi,
o que vivi
e não vivi.

Assim se dá
a história,
a memória
que foi
e depois
a que virá...

...de três Brasis
um de Cabral,
outro de Pinzón,
e o último de brazol...

Três máquinas
de moer brasileiros

ao largo da memória,
ao longo história.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Tiradentes

Esqueci que era feriado...
nem lembrei do dia semana,
quiçá o dia do mês...

...até que disseram "Tiradentes",
daí lembrei dos inconfidentes,
da conspiração,
da traição
que o mártir sofrera
por ser da camada mais baixa
de sua hierarquia.

Tiradentes pode ser você,
pode ser eu,
qualquer um pode ser,

basta ser plebeu,
basta ser você,
basta ser

o que ninguém
almeja ser:

um mártir.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Enxofre

Todas as pessoas
tem suas camadas,
como as cebolas,
visíveis quando cortadas.

Vemos seus órgãos,
carnes, peles e ossos,
mas tem a mente...

...essa não é visível -
impossível -
como o sentimento
de quem sente.

Junto com o coração -
não o órgão -
lugares escuros,
mesmo sendo
a pessoa iluminada.

Talvez daí venha o enxofre,
desses lugares
escondidos,
fechados,
escuros,
onde tudo,
invariavelmente,
fica guardado.

domingo, 19 de abril de 2020

Devir

Eu tento me ouvir
e só tenho silêncio,
me sinto tão vazio...
É o que me traz frio
nesse louco devir.

Parece que
não sei mais compor.
Parece que
não sinto mais calor.
Parece que
sou um vácuo de ideias

numa vida cheia
mas já um tanto velha.

sábado, 18 de abril de 2020

Casa Limpa

A casa limpa,
esterilizada,
um brilho só,
não sobrou pó...

... exceto na minha alma
toda suja,
raivosa,
sem calma.

Sei que tem muita gente
andando pela cidade,
gente que não sente,
que não tem sanidade.

Essa gente insana
que não tem vigilância
de comportamento
ou sanitária,
gente-excremento,
gente-parasitária.

E minha casa limpa,
mas minha alma suja
de ódio,
de revolta...

Não adianta
nem bicarbonato de sódio
para limpar
minha revolta
com essa gente
parasita,
fascista
por aí, à solta.


sexta-feira, 17 de abril de 2020

Frio e Calor

Certa frieza jornalística
ainda me impressiona:
mendigos em fotografias
passando por rigoroso frio.

Sim, esfriou...

A humanidade deveria ser quente,
mas está um tanto silente,
mal podemos dizer que se sente
algum calor...

A frieza econômica
quer prevalecer
sobre a vida alheia.

A frieza política
quer favorecer a econômica,
falando em meritocracia,
sendo que nada faria
para se igualar
a quem realmente
carrega nas costas
a realidade
que poucos usufruem
e se dizem merecedores.

Não se culpou
e condenou
nada além da população.

Mas nós não somos culpáveis?
Não seríamos nós o motivo de tanta frieza?

Essa nossa aceitação desse estado de coisas
é que trouxe essa situação de sociedade afoita.

A imprensa,
a política,
a economia,
a sociedade,
são reflexos
do que se forma
na maioria de nós:

a nossa própria frieza.

Então mudemos tudo isso!

Que tenhamos mais calor
entre nós!

E que esses senhores
frios e calculistas
derretam
perante o nosso

FOGO!

quinta-feira, 16 de abril de 2020

O Cisma Atual

O cisma atual
que afeta a política - 
quase tísica - global

é o seguinte fato:
temos que escolher
continuar ou não
nesse putrefato
modelo social
que vinga a exploração.

Exploração
humana,
animal,
natural
e insana.

Exploração
sem fim,
por meio
de formatação
do que é beleza,
do que é certeza,
de você e de mim.

Mercantilismo,
que vira capitalismo,
que vira imperialismo,
mas que nunca
vira justiça
pois se preocupa
somente com finanças.

Por enquanto
é o dinheiro quem manda,
o resto obedece
e o mundo padece...

Mas e depois?

Quem manda mais
quando o dinheiro perece?

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Sobre o Pôr do Sol de Ontem

Vi o céu de fogo
num pôr-do-sol
que engolfa,
tal queima um véu,
o azul celeste.

Esse azul do céu,
mesmo se pudesse,
como água, apagar
o vermelho sufoco
deste céu de fogo
que nos tira o fôlego,
mar não seria,

porque beleza tamanha,
há tempos a natureza
não nos presenteava
com tal façanha,
assim o céu-mar compreenderia.

terça-feira, 14 de abril de 2020

Ocupar-se

Quantos já se foram?

Não sei.
Não pude manifestar
meu pobre pensar
pois ninguém falou,
então não contei.

Mas ouço as histórias
daqueles que oram,
daqueles que não oram,
daqueles que riram
e daqueles que não riram.

Antagônicos
e cacofônicos,

percebo que não se importam.


Os que se importam
não tem mais tempo,
pois já se ocupam
do que se pode fazer.

Eu, por exemplo,
poemas invento
para dar-lhes o que ler.

É primordial espairecer
para que não enlouqueça.


Não que eu esqueça
das brigas,
mas amigos e amigas,
não nos resta muito
em tempo tão pouco,

assim como não restam as pessoas...

Quantos já se foram?
Não sei.

Até tenho receio em saber
e enlouquecer.

Mas não nego a necessidade.

Gostaria que não fosse
ninguém,
menos ainda
alguém
importante
para mim, para você.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Silêncio

Agora,
quando mal ouço pessoas,
percebo o que soa
lá fora,

sem os ruídos
e vozes
atrozes
das máquinas
e suas fumaças.

Ouço os animais
e o vento
nas plantas -
o farfalhar
que tanto
era emudecido
pela vida
ensurdecedora
que não
queria conviver

com seu próprio


silêncio.

domingo, 12 de abril de 2020

Páscoa Avessa

Páscoa nesse domingo.
Todo mundo "dormindo"
enquanto escrevo.

As aspas no verbo acima
mostram o atual clima
de São Paulo, onde vivo:

não sou jesuíta,
mas vejo que parte de quem diz ser
não tem feito muito por merecer
enquanto casuísta.

Não sou jesuíta
mas me importa e respeito
a crença que guardam no peito,
sendo esta pacífica,

senão não há
motivo para dar respeito
a quem não tem.

Não sou jesuíta
porque não dependo
dele para exercer
a humanidade que sinto.

Sim, tenho mágoa
e a poesia não deságua
nestes versos.

É páscoa nesse domingo,
todo mundo está "dormindo"
enquanto os anticristos
saem por aí, bem vestidos,
exercendo a desumanidade
e a falta da cristandade.

Jesus, me perdoe,
mas não me misturo
com quem prega

a palavra no furo
de sua cruz,
ferindo tua mão.

Não tenho tanto amor
nem dou tanto perdão
para quem fere o próprio irmão.

Não sou jesuíta,
mas ainda tenho moral,
tenho noção, enquanto escriba.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Asceta

Talvez seja pior tipo de poeta,
aquele que se mete a asceta
e não se publica
por personalidade pudica.

Mas não sei das coisas
de organização,
sei apenas da redação
das emoções afoitas

dessa vida perdida.
Seria mais dolorida
sem poesia, no entanto.
Como poeta é que me entendo.

Peco

Peco.

É pecado escrever-te
sobre escrever-me.

Um poeta não deveria
ser procedimental;
nada de bom nem de mal,
só banal se faria
e faltaria com a poesia...

..mas é ao pecar-me
ao pesar

que lhe peço,
e peco,

num pedaço de papel,
num esboço de fel
que derramo em tintas.

Eu peco.

Escrevo-me
para te escrever
que falta faz ler
a poesia de você.

Inseto

Há muito tempo achava
que era eu que habitava
essa casa.

Que era eu que limpava
e também quem sujava
essa casa.

Não me lembro, sequer pensava
que tanto tempo dentro se passara
nessa casa.

Nunca na vida estive tão caseiro,
até que notei um inseto no banheiro...
...e por dias e dias vejo o mesmo inseto.

Cada vez maior,
cada vez mais desenvolvido,
às vezes voando ao redor,
parece que virou meu amigo.

Antes era pequenino
e agora, já menino,
fica em diferentes paredes.

Já imagino
que, mesmo sem limo,
ele sacie fome e sede.

Então dei por mim,
hoje, nesse breve momento,
me veio dessa casa o intento:
aqui eu só visito,
não habito,
Essa casa, por hábito,
é deste pequeno-grande inseto.

Fila do Pão

Seria um outono típico,
daqueles com ar poluído
de palavras sujas
desse ventríloquo
que comanda seus bonecos
em plena manhã,
na fila do pão.

Mas não é.
Não é o mesmo outono
que foi no último ano.

As marionetes
não mais saem de casa
e agora o jogo parece,
apenas parece que,
mas não inverteu ainda,
só aumentou
o número de joguetes.

Quem disto sabe não é
devoto de santo vivo
pois estes somem ao perigo
de quando desaparece a fé,
assim como os jogadores
conscientes dos riscos
e dos blefes
saem da rua
e jogam em casa.

Seria um outono típico,
mas o céu está limpo,
as ruas meio vazias,
e as palavras sujas
da fila do pão...

...Pasmem!
Já não há mais fila do pão!

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Mundo Cão Velho

...e por que raios faço poema
numa hora dessas,
num momento
de cisão entre passado e futuro?

Porque, rotundo
e redundante
o mundo
se faz inconstante
e elástico;
incerto,
ainda assim estático.

O mundo repete situações
só muda sua roupa,
mas os costumes são os mesmos...

...e é muito difícil,
mas não impossível,
ensinar novos truques
ao mundo cão velho.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Beca Nova de um Mundo Velho

A história se repete?
Talvez não...

Há de se ter muito capricho
para replicar cada detalhe,
não pode deixar que falhe
nem o saco na lata de lixo.

A dita "escória" não é a mesma,
seu algoz também não...

Mas o que se repete são situações
nisso, a história se faz real farsa,
nessa antítese um tanto esparsa
que beneficia apenas os barões.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Soneto do Risco

Sair pela porta vale o risco
de vir a trazer uma doença?
Seria, tal passeio, uma sentença:
não é só a mim a quem arrisco.

Exercitemos a consciência,
vejamos nossa humanidade,
valeria mesmo tanta insistência
em voltar a velha realidade?

Tudo mudou de uma hora à outra,
nada volta a ser tal antes era.
É tolice crer nessa fantasia.

É melhor aguardar. Vai que encontra,
na sua saída, algo à sua espera...
...pode ser algo que lhe contagia.

domingo, 5 de abril de 2020

Sobre o Propósito

Comandado por genocidas
o mundo está num refluxo,
quase regurgitando a vida,
e não posso me dar ao luxo
de seguir sem comentar
que, sim, há falência
de negócio,
de caráter,
de sociedade
e de humanidade.
Devo achar poesia
quando esboço
nesse fazer
de realidade,
de felicidade,
e de mortandade.
Poesia é superar
a programada condição
e, num novo despertar,
ter consciência da missão
a desempenhar no mundo,
e não ter receio, contudo.

sábado, 4 de abril de 2020

Ignorância

Seria benção
ou maldição
a ignorância
que atinge
o rico
e o plebeu,
o cristão
e o judeu,
o ateu
e até o agnóstico,
aquele sem religião?

Há algo de tranquilo
e também macabro
em ver esse povão
se dividir
entre quem sabe
da gravidade
da atual situação
e quem vive
como se há verdade
em sua negação.

A ignorância
avança...

...mas ainda fica a questão:
para quem é benção
ou maldição?

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Chuva Matinal

A chuva matinal,
um tanto pontual,
só marcou presença
e refrescou o ambiente.

A chuva não lavou
tudo, pois ainda restou
ignorância e desavença
entre corpo e mente.

Para lavar não veio,
mas trouxe o meneio
da natureza e seus ciclos.
E vimos ativamente

o que não se via
pois, cegos pelo dia-a-dia,
sequer reparávamos
no que acontece cotidianamente.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Sal da Terra

A tentativa de um feixe de sol diário
e a lufada de vento no rosto,
as nuvens se movendo no céu solto,
azul, mutante, inigualável no páreo

entre
o que é celestial
e o que é banal.

O céu não liga para o nosso horário,
apenas é, somente o exposto,
e ao vê-lo me sinto envolto
num conforto quase etéreo

entre
o céu celestial
e o eu banal.

Pode ser num dia de clima vário -
o clima é e não é imposto -
térreo sei que afronto
se mandar no que é aéreo,

sendo
o céu celestial
e eu apenas sal

da terra.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Presente

Sim, manter a disciplina é uma arte
e muito lhe faz pensar enquanto parte
de uma situação difícil
como a presente:

O mundo parando,
o sistema colapsando,
prestes ao caos social.

Mas não é possível,
não se pode deixar de viver,
de fazer o que se tem que fazer,
a si e ao resto do pessoal.

Viver agora é uma dádiva
que exige disciplina.

E de repente,
o presente se torna presente.
Um verdadeiro presente.