segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Roupa no Varal

Não consigo lhe dar duas vidas
pois não quero, nem tenho o poder.
Nem comigo aguento suas idas,
mas não quero lhe ver prometer,
após vindas de outro alguém,
se vingas um passado ou além...

Sim, podes ser quem queiras ser,
mas não além do que pode seu ser.

Eu só posso lhe garantir a liberdade,
sempre sua, mas me fica a saudade...

Então me causa um dilúvio
cada letra do temporal dúbio
que me atinge direto na face,
em meio ao amor, seu disfarce
me molha onde eu secava
da chuva que antes passava.

Me sinto pendurado num varal,
esperando que, talvez, me vista,

só que eu não cometi nada mal
para ter castigo de corte marcial.

Percebo que estamos separados
por algo que até tenha passado
por nós, na velocidade da luz,
e marcou, como o ouro reluz,
o que tínhamos como nossa vida
mas, sem cuidado ficou destruída.

Não sei se sumo ou me desfaço
como roupa rasgada ou velha,
só sei que seguindo nesse passo
evoluo, com uma dor pentelha
desses pregadores que sustentam
meu peso novamente molhado...

Apertos de orelha vermelham
e por mim, me olho, sou falado.

Esperando, agora fico, envelheço,
pendurado, no varal, por um apreço.

Já fui liso, belo limpo e passado;
hoje, roto, pano de chão, rasgado...

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