terça-feira, 30 de agosto de 2016

Numa praça, lendo Lorca...

...Os vermes vêm para me devorar
e nos bolsos vêem bichos da seda,
mas nada de plantas e folhas floridas
para que destruam no seu mastigar.

Nada importa mais ao cigano
exceto que os vermes da lua cheia
passeiam sobre o sangue latino
açoitado pelo chicote que meneia

ao movimento da asa de uma lagarta
desperta de seu sono profundo.
O que era uma larva é borboleta,
quer chamar atenção via insultos.

Mas ao cigano, nada tem a dizer.
Gitano, que só espera a lua descer
para a morte se ir e raiar a vida,
mantém-se firme, feição "cojonuda".

Se for com a lua, fica sangue na terra,
se ficar ao sol, fica o suor no solo;
não importa à boca de verme se cerra,
o cigano pertence à terra, é seu colo.

É o solo fértil de uma nação célebre
e, por sua cultura injustiçada, lembrada.

Não é possível ser quem não se é.