Escrevo, numa página branca,
o lado do qual não me eximo,
como se Florbela e Chico
fossem a poesia que espanca
as paredes dessa branca sala,
com palavras em tintas
de cores invisíveis aos olhos
mas audíveis aos sentimentos,
como uma sonora escala
(daquelas que umedecem
a visão num arroubo,
como se soubessem
do sentimento que roubo
do tempo que passa longe
do cotidiano que nunca passa;
daquelas melodias
que só o interior escuta
ao passo que se perscruta
no ouvido uma pausa
de noites e dias)
cantada por uma voz
inaudível ao mundo,
mas gritante no fundo -
em seu pontual âmago -,
de que assim somos nós:
silentes, mentirosos,
sedentos, receosos,
mas, por dentro, sinceros;
pelo momento, dispersos...
...Até sabe-se lá quando...
talvez até a folha em branco
se acabar e apenas sobrar
o colorido do mundo
no azul do planeta,
nos globos de seu olhar.