Me volto a memória
para períodos
mais que recônditos
nos labirintos
da história
e seus fatos.
Nos tempos de juventude
pude ver que, ao desenvolver
algo de consciência,
a doce experiência
humana vinha a crescer
e, sem ter quem ajude,
a cabeça passou a pensar,
como que por si mesma,
e um ser ali brotou,
um pensamento fincou
mastro, trouxe a resma
de folhas e passou a registrar...
Cada momento na mente consumia
tintas, quadros fotográficos,
bytes e muitos papéis
que aceitavam seu revez
de todo lado prático,
devia registrar toda hora, todo dia.
Até que percebi, orvalho
era um mistério e o som...
aaaaahhhhhh, o som é o prazer
que me costuma fazer
despertar sentidos de um dom
que todos têm retalhos...
Cada um se refugia num sentido
e o meu foi a audição, sempre,
pois é o que me faz ser eu.
Não é algo que é só meu,
outros também são, do ventre
ao presente, nisso até parecidos.
Desde aquele vislumbre
da consciência pueril e inocente
que me crescia, sabia
dessa sublime alegria
que me quebrava a corrente
da realidade insalubre,
ouvir os sons da natureza
era o descobrir da música
do mundo, grande maestro,
nem canhoto, nem destro,
apenas uma esfera acústica
que ressoa toda uma beleza
emocionante na sua construção.
Isso mexia com cada pedaço
que se organizava no piscar
de olhos que é o ato de pensar,
e se apoderava de todo espaço
de meu pensamento em evolução.
...E fico, até hoje, hipnotizado
pelo poder do som no ouvido,
parece que volto ao início
de tudo, num doce precipício
que ecoa a música do mundo
para este ser amaciado,
acalantado e sentir a doçura
da gota do mel num oceano
de mares salgados.