quarta-feira, 29 de junho de 2016

Sobre lobos

Prefiro eu derramar rios
caudalosos vermelhos
na terra marrom
do que ouvir notícias
de um fim dum início.
Não me cabe o desvario
dum lunático enfermo
cantando fora do tom
todas suas súplicas
até o profundo precipício.

De uma orelha a outra
não me faz desejar o mal,
preferindo sofrer
ao causar qualquer dor,
mas quando esse torpor
vem me sorver,
sinto que, sendo animal,
tu achas sempre minha rota.

A rota perto dos rubros
rios que escorrem chorosos
que, mesmo mudando
ao passar das correntes,
continuam me ecoando
o brilho dos dentes,
desembocando no azul
do seu globo e regando
nas margens os girassóis
- como nós, solitários,
fora de nossas alcatéias,
mas sempre esperando a luz,
sendo para eles, a do sol,
e nossa, a da a lua.