quinta-feira, 22 de julho de 2021

Cara má

Me encontrei entre os ovos

infecundos e galados

de Teodoro.

Um tanto Demétrio,

outro tanto Ivan

e mais um tanto Alexandre,

me vi no pai e seus filhos.

Me vi até no bastardo

por um instante,

me vi um restolho

familiar e contraditório.


Tive meus egoísmos,

tive minha lascívia,

tive meu ateísmo

e tive minha inocência.


A minha face,

minha cara má

me leva ao princípio

de uma vivência:


Eu, que nada sou

e tudo tentei ser

fico em meio aos ovos.

Sou infecundo ou galado?

Choco o mundo

ou por ele sou chocado?


Eu, sem orgulho

me leio na vida ao lado.

Não sou tudo,

mas não tenho faltado.


À quem eu fiz sofrer

peço o perdão que há muito

tenho protelado.

É fato que errei

e não assumi a responsabilidade

do egoísmo, da cobiça,

da minha falta, da minha maldade.


A cara má que ficou na memória

quer ser apagada,

nem substituída por uma cara boa,

porque não importa se esta ressoa,

é melhor se deixar passar

e eu que viva

entre a tentativa

de ser fecundo

e não ser galado,

pois cantar de galo

não é de viver

o modo mais profundo.