sexta-feira, 28 de março de 2014

Crosby, Stills, Nash & Young - Déja Vù

Peço atenção E DESCULPAS, pois o texto de hoje é longo, mas é super-válido. ;)

A querida companheira estava dirigindo hoje cedo a caminho do trabalho e eu, no banco do passageiro, sintonizei a Rádio Eldorado (tinha propaganda nas outras emissoras e fiquei caçando algo para ouvir...) e, de repente, ouço “Woodstock” de Crosby, Stills, Nash & Young e sinto uma nostalgia, vai lá saber se isso é porque a década de 60 é a época que mais gosto da música popular mundial – vide a música brasileira dessa época, cada composição linda – ou uma questão sentimental por conta de alguns discos que ouvi sentado ao lado de meu pai, um apreciador de música, mas a questão é que este disco, especificamente, este pequeno e curto álbum chamado “Déja Vù” desse quarteto, acompanhado de Dallas Taylor (bateria) e Greg Reeves (baixo), devidamente creditados e fotografados NA CAPA, tem sido parte da trilha sonora de minha vida, mesmo não tendo vivido naquela época. Não sei dizer o que raio de sentimento aflora quando ouço esse disco, só sei que é um daqueles poucos que posso dizer algo do tipo “me sinto em casa”. Meu pai não tinha esse disco, mas falava dele como se fosse algo fenomenal, de outro mundo, mas nunca achou para comprar fácil e num preço bom – a classe média na década de 80 e 90 não era abastada, com tanta inflação, comprava-se o pão da semana, pois no dia seguinte a subida de preço era vertiginosa. Recentemente o ouvi conversando com um amigo, lembrando como era difícil para eles até fazer compras, pois tinham que sair correndo antes que o etiquetador de preços do supermercado aumentasse o valor de cada produto, eram os bons tempos de ditadura, economia fantástica, importação PROIBÍDA, tecnologia defasada e mal se podia ouvir Chico Buarque, Geraldo Vandré, Titãs, etc, sem a avaliação da censura sobre o que deve ou não ser absorvido culturalmente: TUDO MIL MARAVILHAS. Vou parar JÁ com o discurso político (foi só para estabelecer um cenário real) e vou retomar a história. Enfim, meu pai não tinha esse disco e eu, já com 12 anos e viciado em música (doses cavalares diárias) em 1996, comecei a fuçar nas locadoras de CDs por discos novos, bandas novas; o MP3 apareceu na minha frente só no ano seguinte, e demorava no mínimo uma hora para baixar um arquivo de música com péssima qualidade de áudio. Conheci muita coisa, pegava CDs emprestado, copiava em fitas, emprestava CDs, trocava fitas com amigos (tínhamos o costume de pegar um CD novinho e ouvi-lo seguidas vezes, copiando uma fita por vez para cada um), mas alguns discos ficavam na minha mente como pulga atrás da orelha... Na verdade, muitos discos ficaram como pulga, coçando minha curiosidade, eu via as capas (a internet tinha acabado de chegar à casa dos meus tios) quando buscava por nomes no “Yahoo!” ou no “Cadê?”, e ficava besta tentando adivinhar como seria cada disco, de acordo com as referências que tinha até então. Só quando fiz 15 anos fui ouvir tal disco, já ouvia heavy metal e tentava, como qualquer “aborrescente”, renegar qualquer autoridade familiar e suas culturas, mas não conseguia NÃO GOSTAR das músicas que meus pais ouviam, nunca consegui DESGOSTAR (diferente de “enjoar”) do que gostei até então, então o Sr. Headbanger Babaca que vos fala ouvia Marisa Monte, Toquinho e Vinicius, Pink Floyd, Genesis, Yes, Fleetwood Mac, Elton John, Tim Maia, Alcione, Jethro Tull, UB40, Simone, Cidade Negra, Fagner, Chico Buarque, Djavan e outras coisas, tudo misturado com o metal e a música atual da época, Planet Hemp, Nação Zumbi (com o Chico), Raimundos, Skank, a cena Grunge, mas tudo escondido no mundinho do meu quarto. Falar para os amigos que eu gostava de Commodores? Não... Que eu cantava com os discos do Zé Ramalho??? Nem pensar!!! Que besta eu era... Achava que isso importava muito. Fiz amizades na escola, algumas dessas duram até hoje, e o pai de um deles tinha (e ainda tem) uma coleção, invejável, a maior que tinha visto naquela época. E PASMÉM, ele tinha o disco que meu pai me falou e despertou minha curiosidade por tantos anos. Eu não tinha ideia do que ouviria, já conhecia Neil Young e gostava muito, conhecia o David Crosby, mas ainda como guitarrista do Byrds, também já ouvira Hollies do Graham Nash e o Buffalo Springfield do Stephen Stills (e Neil Young), mas nunca tinha ouvido na vida esse timaço junto. Quando apertei play, dei de cara com um folk rock psicodélico diferente, quatro vozes fazendo um coro que ressoa até hoje na memória, músicas passando por diversos climas, do blues ao jazz ao experimental, mas sempre com uma linguagem popular e de fácil assimilação, mas não pense que é um disco bunda, é diferente de tudo. Quando meu pai chegou do trabalho e viu o CD que peguei emprestado, ficou feliz, lembro disso até hoje, deu um jeito de ouvir bastante antes de eu devolver (ele não tinha mais toca-fitas no carro, mas também não tinha como copiar o CD). Para você entender a alegria do meu velho, a minha alegria e a alegria do festival de Woodstock, você tem que saber que esse supergrupo foi o único na história que conseguiu rivalizar em popularidade com os Beatles no hemisfério norte, em sua curta duração. Esse disco é tão influente que ouço nuances dele em vários artistas folk, mas a obra inteira é uma viagem completa. Difícil você não se sentir numa fazenda enquanto ouve “Our House”, muito mais difícil você não sentir nostalgia de um lugar onde você nunca botou os pés ao ouvir “Helpless”. Difícil não sentir a angústia de “Almost Cut My Hair”, difícil não se deixar levar com “Carry On” (trocadalho do carilho?)...

Difícil ouvir apenas uma vez.

Depois que ouvi, larguei a mão, mostrei para todo mundo, a maioria torceu o nariz por não ter um solo na velocidade da luz, por não ter guitarras com distorções no talo, um baixo reto e pulsante ou uma bateria que mais parece metralhadora, mas eu não consegui desgostar desse disco, nunca consegui, é um dos poucos discos que é um porto seguro, sempre volto para ele, e nem é o meu favorito, nem de meu pai, mas tem um lugar guardado no meu coração. Foi por causa desse disco, especificamente, que admiti que gosto de música, acima de qualquer definição de estilo ou gênero. Dali para frente, não sentia que precisava esconder que gosto de samba, bossa nova, funk, reggae, ska, soul, r&b, rock, heavy metal, brega, música erudita, jazz, etc...

Não sei se você vai gostar desse álbum, mas fica aqui o link para vossa apreciação, talvez você tenha um choque, mas não se preocupe, apenas feche os olhos e dê toda atenção que puder apenas à música. Esse pequeno grande álbum não pode ser esquecido, nunca!

Se puder, quiser e não for atrapalhar, comente falando o que achou do disco. J

www.youtube.com/watch?v=RnOXkedBmRs
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Texto: Ernesto Gennari Neto.

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