terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Ser flora

Que sejamos árvores,
balancemos ao vento
e joguemos as folhas,
sementes e rebentos.


Aos Ventos

O tempo até passou rápido,
mas os silêncios, lentos,
são, nos ventos serenos
como nós, nada ávidos.

A tal paz sempre atinge
a nós, rapariga e rapaz,
numa conversa que apraz,
até quando o tempo cinge

a realidade que gostamos
e devemos voltar ao mundo,
quando dele há muito saímos,

mesmo enquanto sabemos
que a vontade, lá no fundo,
é que ali ao vento fiquemos.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Miragem?

Poderia jurar que vi
uma certa imagem
passar ao meu lado,
a presença que senti
poderia ser miragem
ou algo do passado
recente desse tempo
em que esse vulto
passa e me sacoleja
os cabelos como vento
e canta sons ocultos
de uma voz benfazeja.

Te vi, depois, não mais.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Rascunhos

Quantos rascunhos...
...muitos...Muitos, MUITOS!!!!
Mas saem muitos mesmo
enquanto movo meu punho
escrevendo minhas ideias a esmo.
Quem sabe sai um poema fortuito...

Que demora...

Eu quero mudar de carreira
quero cheirar novas flores
voar no vento como poeira,
desorientada onde fores,
se espalhando em partículas
e deixando parte da essência
em ideias e estórias lúdicas
que retratam as experiências
de uma vida presa ao tédio
do cotidiano mundano banal
para o qual não tem remédio
senão pela raiz cortar o mal:

Parar de fazer tudo igual.

Lupina

Nas vésperas do carnaval
foi quando avistei, animal,
teu olhar lupino me fitando,
como fera mirando a presa
a ser abatida,
em plena avenida
no meio do samba da escola
para matar a fome
que lhe assola.

Loba que do nada me come,
me rói e me cospe, daí some
para andar com sua matilha,
longe de onde me feria.
Minha fantasia de pássaro
cantor se foi com a música
que silenciou nos pedaços
meus entre seus dentes.

O carnaval nem tinha começado
e do jeito que estava fantasiado
só poderia ser despedaçado
pelo seu instinto impulsivo
que tem me destroçado.

Você mastigou cada pena, pluma,
e engoliu meu canto,
sem dó nenhuma,
Não foi boba,
mas esqueceu um detalhe:
agora o canto ressoa dentro de ti,
loba.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Parreiras do seu quintal

Te ver é estar entre as parreiras
que crescem as uvas verdes
dos seus olhos,
entre as videiras mais delicadas
das moscatéis mais doces
dos seus cabelos.
Teu lábio de uva rubi
me enfeitiça, e me vi
perdido, querendo o sabor
das frutas do seu pomar,
em especial o doce amargor
das uvas negras com semente
que ali vem a dar.
Com sua pele, cor de uva branca
e maçãs do rosto em niágara rosa,
tu és vinho caseiro e me inebria;
em altas doses, me espanca,
me atropela como carga pesada, mas vagarosa
e me faz gostar de sua ressaca
no outro dia.

Cegueira existencial

A vida acontece
enquanto não enxergo
o tempo passar;
e o fato se repete:
percebo aqui, eu cego
e o mundo a girar.

E a vida, nada de parar.

Fantasia em veias

Me assusto quando me vejo
lidando com sua inexistência,
vagando, como se num brejo
estivesse perdido, paciência...

Paciência para toda ausência
que venha me deixar triste;
sei que a vontade, em essência,
é tudo no que aqui persiste,

cada pedaço de emoção e poesia
deste ser, que desata uma sangria
por não conseguir se justificar,

sangra paciente numa folha vazia
o sangue rubro de uma fantasia
de querer existir e desfrutar.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Fim de Domingo

É na tarde de domingo
que percebo o fim:
fim do carnaval;
fim da viagem;
fim dessas férias sem fim;
um final assim
triste, de passagem;
mas sempre há no final
alguém sorrindo...

...pena não sermos nós...

Que destino atroz
para um fim de domingo.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Maldito

Assim tinge de ódio
o pódio
dos poetas malditos,
com seus escritos
dignos de fúria,
ondas de luxúria
rúbia,
a doce selvageria
de um poeta
falando putaria
em língua oculta,
sem pagar multa
ou sair da forma
culta.

Punhal Amigo

Entre as escápulas
há uma nascente
de um rio corrente
e vermelho,
cheirando a ferro,
por onde jorra,
pelas costas,
o líquido que o olho
furado mareja, também.

Sangue que me escorre
por uma apunhalada
de alguém que era amigo;
assim o coração morre
de ferida não cicatrizada,
sem abrigo
ou mãos especializadas
para curar a tempo,
antes de se esvaziar
da vida.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Sobre a estética

O julgamento estético sobre a arte
me mostra um certo disparate,
pois a crítica estética é inútil.

Estéticas mudam e, queiram ou não,
não são unânimes, nunca serão,
então discuti-las me parece fútil.

Filosóficas

Gosto de pessoas
um tanto filosóficas,
mas as filosofas
já tem ideias formadas...
Gosto mais do frescor
de quem se forma
por comportamento
questionador
sem deixar de fora
o bom senso
de propagar o amor.
Uma filosófica pessoa
me ressoa
mais inteligente
que a mais decente
acadêmica,
que se amarra em tradição,
mal sabendo que isso já é traição,
a pior traição que existe,
é a traição de si que persiste.

Máscaras Sociais

Das importâncias
que damos aos papéis
sociais, ainda menestréis
somos de nossas vidas
e cada sabe com o que lidas
nessas inconstâncias
de nossa breve existência,
e mesmo sabendo
que de manhã, vendo
sua gaveta de máscaras,
é difícil escolher qual escara
será sua penitência.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Janelas Abertas

O desejo
se comunica no olhar,
quando as janelas
estão abertas
naquele andar
onde ela
dança em retas
e linhas tortas...

De repente
o vislumbre mútuo
e indecente,
no tempo dum susto,
os olhos enxergam
e entregam
a sensação do desejo.

Num ensejo,
os corpos voam
de suas distâncias
para fazer a dança
que tanto desejam.

Voam pelas
janelas abertas
dos olhos,
onde corpos passam
inteiros
e se recostam
nos parapeitos,
sem arreios.

Tantas sensações ficam soltas...
Tudo por conta
de janelas abertas...

...que comunicam desejos.

Ser e Viver

Uma vida sobre
vidas em sobras
veio como obra
que se faz pobre,
pois se fizer mau
jamais será bom,
para ser rico é mal
não ser um bem.

Ser bem, não é ser,
se for assim viver,
rico ou pobre, o ser,
de si, há de esquecer.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Idioma da Alma

Queria dizer mais do que a música
diz quando é instrumental e pudica:

Pura e direto ao sentimento,
sem a necessidade
de qualquer alarde
com palavras ao vento

jogadas, com força, em lufadas
onde letras voariam
sem destino ou razão,
precisando serem ouvidas...

mas, estas, não tão puras quanto o idioma
universal das vibrações em sonoras ondas.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Soneto de um Vazio Bienal

Olhei a agenda,
online e escrita
e tal pendenga
revelou à vista:

Tal como 2014,
2015: "c'est fini".
Igual, sem "quase",
passou e nem vi.

As duas agendas,
cheias de afazeres
e vazias de vida

provam a passada
que em doze meses
seguiu a vida...não vivida.