segunda-feira, 30 de maio de 2016

Tronco

Pois quase morri,
um quase infortúnio
quase que gratuito
ao me perceber
um manco ser
sentindo, ao lado,
o vento, o ar rasgado
por um tronco a cair.
O espanto nos rostos
pela avenida;
a surpresa estampada
em minha face;
e meu quase algoz,
ao meu lado, jogado,
deitado, quebrado.
Sua dona, balançando
ao vento lento,
como alguém que se ri
com certo descaso
desse momento
em que quase morri.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Penso

Poderia cair-me
de tristeza, de alegria
ou qualquer vã fisiologia,
sem medida, sem altitude.
Poderia Caim me
dizer algo, mas nada ouço
de jogos antigos, do esboço
de toda essa multitude
e suas tais verdades.
Digo que a dor
me vem às pernas
mas para fortalecer,
ao invés de causar perdas.
Me ponho como corpo ereto,
tal membro, um homem
a andar sabendo que fome
e dor andam juntas, decerto,
amarradas por um sentimento,
felicidade e uma alegria,
alegoria que somos momento
no tempo. E penso...

Djinni

Não peço nada a ninguém,
apenas digo o que quero
e se alguém, com esmero,
porventura quer, também,
tanto o mesmo que eu,
o desejo não é só meu.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Pós visão

Levanto na madrugada
para ver o sol que ascende,
enquanto o que era noite se apaga.
Daí me pego pensando
quão transitórios são o clima,
o dia e a noite...
...o cotidiano - que se conte
de encontros - de sol e lua
não encontráveis,
de escassos acasos
que, em descasos,
são memoráveis
como seu olhar, visto a distância
medida entre solo e céu;
como a poesia se lida
transitando entre versos seus e meus.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Passos

Deverá finalizar
esta pouca jornada
nessa estada paroquial
com pernas estiradas,

vagando com todo o olhar
que percorre tal corpo,
ali descansando, afinal
de um cotidiano torto,

cheio de opiáceos inatos
ao grande chão do mundo.
Com ratos dos esgotos,

convivera por eras,
até o fim do ser profundo
que perpetua na terra.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Hay (kai) inverno

I:
E aqui tu chegou
manso e, tal seu descaso,
tudo aqui se esfriou.

II:
Andou sumido.
Há tempos, sim, não vêem
tu tão assumido.

III:
Um atual inverno,
das almas ao mal astral,
parece inferno.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Graça

Que engraçado é o acaso,
como acontece sem aviso;
é ocaso no tempo, impreciso
como o riso e jazigo raso.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Sem voz

Ao abrir a boca
pensei - como se a mente
mentisse suas asas -;
ao tentar falar,
falhei a garganta oca.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Celeste...

...A tinta azul do céu
que falta à minha caneta,
sobra às massas de papel
formadas por nuvens alvas
moventes nas alturas
do firmamento.

Em meio às brancuras,
a ausência de som,
ali, se faz mais presente;
e a tinta abundante
escreve, até às escuras,
numa placidez inerente
ao teto carregado
de sentimentos nebulosos,
ora 'trovejosos',
ora leves e insinuantes.

À mim o céu se descreve
dessa maneira instigante,
com amores, dores,
sabores de outras vidas,
outros instantes...

...E é assim que (m)se descobre.

Num atol

A jangada flutua no índigo
e o azul a reverbera no ar;
a manhã dispara e, sem abrigo,
a luz amarela esverdeia o mar...

...e a brisa movimenta a areia
com ondas ao som de sereia.

Essa constância é a demência
que afeta meu pensamento.
Em alto mar a resistência
dura só por um momento.

A sereia canta a revolta
que o mar vem aprontar
e toda vida, à sua volta,
começa a se assustar...

...então uma chuvinha cai,
o canto devagar se esvai....

Os dois azuis não são mais,
escurece uma noite limpa;
o céu brilha estrelas demais
e, aqui, ainda espero sua vinda...

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Reação

Causam, no momento,
um elétro-choque
de corpóreos olhares
em ligação atômica;

pronomes do caso reto,
eu, sentindo um toque,
e tu, que me ocorre
em colisão mecânica.

domingo, 1 de maio de 2016

Vísceras

Me lê, como se visse
por baixo do pano
- num ato, quase profano,
de espionagem -
o rebuliço
de vícios e viagens
que é minha paisagem:
toda a poeira
debaixo do tapete,
todos os esqueletos
dentro do armário.

Me lê, me vê
e passa a entender,
através do véu,
que tanta sujeira
faz parte de um ser
e, por aqui, ser
isto é algo inaceitável;
mas é desta maneira
que espalho vísceras,
e só você as revira.