sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Duas lições

Um professor me ensinou -
indiretamente por um amigo -
duas lições de um autoamor
que cada um pode consigo
desempenhar no dia-a-dia,
sabedorias quase orientais
trabalhando planos mentais
como há muito não se via:

1- Tem coisas que jogamos fora;
2- Não podemos abraçar o mundo.

Eu fiquei perplexo, por ora,
pelo simplismo tão profundo

que sempre ouvi mundo afora,
mas só compreendi neste segundo.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Expansível

Aos que me dizem louco,
posso, já rouco, afirmar,
do alto que sobrou da voz,
que o amor é uma foz
que jorra de lá para cá
e nunca se faz pouco.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Momentaneamente...

...Perdi o gosto pelo poema político,
pois jogaram a política na sarjeta,
passaram por cima,
urinaram e defecaram.

Quem ainda cisma
em escrever, está
ora enfurecido,
ora entristecido.

Fora!
Já me basta agora a leitura cotidiana
do diário nacional do brasileiro...

...notícia quente ou fresca,
mas velha e desumana.
Dia e noite, noite e dia, o ano inteiro.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

(Des)carte[siano]

Um amigo me professou
o que um professor
lhe fez de profecia:
ao pupilo já dizia
que, seja lá o que for,
tudo acaba, já que se iniciou.

Mas foram ditas palavras
mais simples que a estrofe
anterior a esta.
Palavras certas,
onde o pensar se dobre:
"tem coisa que jogamos fora".

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Haikai do Dízimo

Dinheiro é papel,
não garante ou comprará
uma vaga no céu.

Protótipo

Já tive vergonha de admitir
que meu primeiro projeto é erótico...
Eu sei. Com tanta coisa para escrever,
podia escolher um caminho utópico,
mas, não, caí no assunto mais trivial
e pior, tentando não me ler tão banal.

Bom, poderão me ler e perceber
um esforço em não ser
um poeta erótico normal,
pois ali tem um pouco de mim... e tal...
algo carnal, sensual, tórrido,
metafórico, mas nada pudico.

Talvez a função seja exercer
ao alheio leitor - este ser
que nada espera senão sexo,
ao invés de versos desconexos,
(in)diretos - um furor, o tesão
e que se alivie com N mãos.

Enfim, não saberei o que se passa
pelo pensamento de cada cabeça
que se dispor ler tais poemas,
mas já me convenci, não tem problema,
cada um faz do poema uma parte de si,
um tesão próprio, diverso ao que escrevi.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Perdidos Achados

Pois quando me perdi por ti,
acabei por encontrar em mim -
do pouco que restou aqui,
de minha essência - um fim,
que não busca final ou início
de algo que peça "por favor":
vivo só o natural e sem suplício
sentimento que é o amor.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Lobo de Haller

Olá, meu velho! Olá!

Há muito não lhe vejo!
Esta visita é propícia,
preciso lhe falar
que voltei.
Voltei para te lembrar
que trouxe, no traquejo,
aquilo que não queria.
Sim, eu sei.

Não sou bom contigo -
nunca serei, meu amigo.
Como podemos conviver
dentro desse mesmo ser?
Você tenta ser ver livre
do que lhe represento
e ainda esquece que vive
comigo dentro.

Não te abandono
quando lhe sobra melancolia,
é aí que lhe abocanho,
um grande pedaço
e na mordida, a peçonha
de cobra e seu abraço.
Ilusão achar que me afastaria
de tua mente...

...se te impregno de veneno
e engulo sua serenidade
te levando a sanidade
e te deixando só, no sereno...

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Uma vida ideal?

Súbito, perdeu o sentido
o convívio na corporação;
único, trivial e contido
é o destino nessa danação
cotidiana.

Interessante, sim, seria
se o ser médio, de supetão,
abandonasse tal sangria
para seguir aonde se vão
caravanas

de nômades nesse mundo
cheio de vícios, de círculos
de comas profundos
de momentos ridículos
desperdiçados.

Tais nômades, que vivem
a realidade como esta é,
dessa vida muito sabem
e não precisam mais que fé
ao seu lado

para sobreviver intempéries
econômicas do capital;
e sua vontade, pois queres
viver um mundo ideal...

...e eu também quero...

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Nominal

Sobre como me denominaram,
ainda não me acostumei.
Passaram décadas
e não me julgo ao que dizem
que sou e vivenciei...
...E para isso digo "Oras!

O que um nome pode
me definir se sou muitos,
num ser que explode
de tantas facetas
contidas num corpo só?"

"Pare!" Digo ao pronome.
"É só meu nome, tenha dó!"

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Flora Muda

Ausências preenchidas
com plantas floridas
que não pensam,
nem proferem
falas e versos,
não substituem
presenças de corpos
e formas que se assumem.

Não é à toa o cultivo
de algo que escuta
mas não dá respostas,
talvez seja apenas isso:
ter com quem falar
e não necessitar ouvir.

Fatalmente,
a conversa cessa.
Tudo se encaminha ao silêncio
e cada um faz seu
tempo para alcançá-lo...
...uns com pressa, outros, lentos.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

(C)oração

Não me importo
que o mundo saiba
mais do que há de saber
do que é reto ou torto
na natureza,
pois por destreza
me vejo vivo - nada morto -
e com alívio de ser
quem sou, não outro,
porque não consigo
me mentir
quando o coração
me diz ser o certo
o que dizem ser errado.
Faço-o com convicção,
pois ali sou eu,
coloco tudo meu
à tal disposição
duma situação
em que o coração,
ao invés de dividido,
sente-se pleno -
sem mais quebras,
com os pedaços colados -
um órgão reunido.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Obturador

O sol me ofuscou a vista
com um brilho intenso,
digno de flash de câmera;

ali se deu a cena exposta
e cedeu à vista um momento,
registrou a (imagem)(vida) efêmera.