Sábios são aqueles que não guardam caixas:
Não lidam com um passado já há muito morto
e nada presente.
Não guardam fantasmas, lembranças,
nada que possa vir com faces,
vozes e expressões de entes,
de repente.
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Não fui sábio.
Guardei, etiquetei,
cataloguei e fechei.
Nunca mais toquei nas caixas
da minha vida e, quando deveria
jogá-las fora, queimá-las,
fazer qualquer coisa para que desaparecessem,
mais fingia que as esquecia.
São tantas caixas...
Caixas de amores mortos,
caixas de ódios vivos,
caixas de tempos passados
e de tempos não vividos.
Caixas de mágoas, paixões
e toda uma sorte de sentimentos
que não me cabem mais,
como roupas velhas de um corpo
diferente de outrora.
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Talvez o que me resta de sabedoria
seja o que faço agora.
limpar a vida,
esvaziar as caixas
arrumar a casa
para voltar
depois de ir embora.