segunda-feira, 30 de março de 2015

Filhos da Lua

Te vejo vestida de nuvem
mas quando bate o vento
sua saia levanta
e te vejo lua
cheia e nua.

Voa(!)
essa nuvem de fuligem;
você ilumina o céu
e eu invento
que caia, me espanta,
num sopro, o ar
no mar a me sufocar
deitado na praia.

Meu pensamento
que voa desconexo
e me deixa perplexo
se modifica enfim:

o seu rebento
é o dia ensolarado
num coração apertado
de sangue carmim.

sexta-feira, 27 de março de 2015

Chagas no Chão

Quem reclama de ciclovia
talvez não tenha, um dia,
passado por risco na via.
Então, forço-lhe afasia:

Já fui derrubado,
já me tiraram fina,
já fui até jogado...
Já chega dessa sina!

Então quando for reclamar
da tinta vermelha, não se zangue,
faça um esforço em pensar
na cor de seu próprio sangue.

Ali, estirada, poderia ser sua paixão...
Não é "só uma indumentária";
a ciclovia, sim, se faz necessária
para não haver mais chagas no chão.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Contradição Sádica - "hexaikai"

O mundo plástico
que devora sua rede
nos é sádico,

mas é o básico
sistema que nos mente
e nos é mágico.

Fazendo troça,
rindo e até nos ferindo,
nos dando coça,

enquanto rimos
nas ruínas, que nos são ruins,
feitas por sismos.

Felizes somos
por não termos a paixão
pela qual matamos.

Triste estamos
por sequer vermos porque
tal vida vivemos.

terça-feira, 24 de março de 2015

Sentir poesia

Pois é,
poesia
é uma coisa
engraçada,
poucos dão
atenção,
mas são
esses poucos
que sentem
algo,
enquanto
a maioria
nem faz
ideia
do bem
que faz
uma poesia.

Harmonia Funcional

De um maestro aprendi
que "a desigualdade nos une
ao mesmo passo
que a igualdade nos separa",
e daí, então, entendi
que a maldade é um perfume
no mesmo laço
que a bondade nos enforca.

Um não vive sem o outro,
pois a maldade de viver
nos é um fato tão neutro
quanto a bondade de morrer.

sexta-feira, 20 de março de 2015

A beleza da natureza...

...é, que quando chove,
goteja vida no solo
fértil, que ovula sobre
placas de pedra.

A areia logo absorve
a água em seu colo
e o dito adubo podre
dá vida à ajedra.

O vento sopra semente,
pólen e vida na terra,
e faz florescer o mundo.

Raízes, impunemente,
crescem, entre forras,
chão limpo ou imundo.

quarta-feira, 18 de março de 2015

Tão normal que assuta

Tudo ainda me parece um tanto igual,
mesmo sendo um bocado diferente:
os mesmos dramas;
os mesmos sonhos;
essa verde grama;
no céu o sol risonho...
...uma epifania dos olhos à mente
me mostra essa vida tão (a)normal.

terça-feira, 17 de março de 2015

Andorinharquia

Não levanto bandeira,
pois nenhuma bandeira é minha
e, de qualquer maneira,
bandeira não tremula sozinha.

Já ouvi na rua e feiras
que verão não é uma andorinha
sozinha no céu, pioneira,
mas esta é, de si mesma, rainha.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Queda e ascensão crônica

Hoje, logo cedo,
correndo
antes do ônibus
me deixar,

levei um tropeço,
caindo
direto no chão
a me esperar,

mas num momento
fui ágil,
me amorteci,
de pernas para o ar.

É que de tantas
quedas
na vida(,) aprendi
a cair sem me machucar

e, sem um arranhão,
me pus
em pé para logo
ao ônibus adentrar

E a vida continuou...
Reclamar
é fácil, difícil é,
sem dar um pio,

cair e se levantar.

sexta-feira, 6 de março de 2015

C(h)u(r)va

Estranha é a curva
que o vento força leve
à queda da chuva.

Questões sobre religiões

Se deus é onipresente,
onisciente e onipotente,
por que nos faz tão
dementes?

Se a falta de deus
satisfaz o ateu
por que ele se mete
no que não é seu?

Se um deus não basta
o pagão ri e atesta
que os outros erram,
mas ainda se arrasta.


Acho muito engraçado o ateu
que critica quem crê em deus
e vice-e-versa...

não sei quem é mais religioso.

Se eu acredito em algo ou não,
não é da conta de ateu, pagão ou cristão,
já não basta vivermos juntos?
Tenho que compartilhar tudo,
o amor, o pensar, tudo em conjunto?

Oras!

Se sua religião, ateu, cristão ou pagão,
não te completa o suficiente,
não é me criticando ou convertendo
que você vai resolver seu problema.

Siga o que acredita, mas desista,
eu não quero te seguir,
já basta conviver comigo todo dia,
não preciso ficar a me mentir,

sei que não ligo para religiões
e que o tempo não me espera,
todos vocês me dão sermões
mas a vida passa como uma fera:

Rápida, selvagem e impiedosa,
como o tempo.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Cotidiano das pernas

Pernas correndo, em passos largos,
seus destinos corridos e amargos
de chegar num certo lugar e pensar
se é lá que realmente precisa estar...

quarta-feira, 4 de março de 2015

Jornais banais

O que seria dos jornais
se não tivessem animais
que compram verdades
ditas com tanto alarde?

As verdadeiras opiniões
polarizam nossas ações
e esquecemos dos fatos
por um punhado de fotos

que manipulam o pensar
pela imagem, ao retratar
e deixar fora de contexto
até discurso de protesto.

Resta-me saber se ética
agora depende da ótica
e se o molde nos serve
enquanto o mundo ferve.

terça-feira, 3 de março de 2015

Chorar sem rir

Motivos para sorrir nos faltam
enquanto para chorar sobram:
-intolerância religiosa;
-ignorância copiosa;
-guerras e matanças;
-esporte com desavenças;
-fome mundial;
-morte animal;
-alienação diária;
-piadas nada hilárias;
-sexismo manipulado;
-racismo ignorado;
-natureza estuprada;
-nossa vida desregrada;
-consumo excessivo;
-pacifismo é subversivo;
-ninguém quer plantar;
-todos querem colher;
-ver o fútil prosperar;
-não tem água para beber;
-pobreza de espírito;
-riqueza escravista;
-parcela elitista;
-o pobre esquecido;
-saber-se só um grão;
-um mundo sem perdão;
-etc...

E ainda me dizem que devo agradecer,
por ter emprego, dinheiro, comida na mesa,
lugar para morar...

Sempre me lembro disso tudo,
e muito mais, e pergunto:

"COMO?"

segunda-feira, 2 de março de 2015

Frágeis Para Sempre

Me reconhecer fraco
é ver-me, num abraço,
ocupar um espaço
e saber que, de fato,
é ali que pertenço.

Poderão me criticar,
mas quando soltas,
tais palavras no ar
ficam sem escoltas
do vento a soprar.

É assim que somos frágeis,
como frases numa ventania
se desmontando à revelia
da força que nos faz amáveis.

Frágeis seremos ao que é real,
pois nada aqui se conserva,
tudo muda e, se não observa,
sentirá dor até no que é natural.