Fui abatido logo cedo pela notícia: Glauco e filho assassinados.
O país perde um grande cartunista, alguém cuja importância para o movimento foi imensurável, pois ao invés de fazer duras críticas ao militarismo, ele simplesmente usava do humor, e influenciou muitos outros artistas, com seu traço rápido e textos simples e irreverentes. E mais triste ainda, seu filho foi junto.
Cada um tem coisas que são importantes na sua vida, e a trinca Angeli, Glauco e Laerte foi de certa forma importante na minha. Eu comecei a ler e escrever com cinco anos de idade, porque eu apenas queria entender o que estava escrito naquele luminoso da padaria perto de casa, então meus pais começaram a me ensinar o básico, e foi muito bom, pois entendia o que estava escrito nas revistas da Turma da Mônica, e conseguia ler os encartes dos discos do Chico Buarque e Vinícius de Moraes(em parte culpo eles pelo meu interesse em poesia) que minha mãe até hoje guarda(meu pai me deixou o prazer de ser mais um admirador de Pink Floyd), lógico, sempre pedindo explicação sobre uma coisa ou outra.
Mas nunca vou esquecer, numa viagem, voltando de Curitiba, meus pais resolveram comprar umas revistas e tomar um café. Eu e meu irmão fomos escolhendo e sem querer pegamos um pacote com Los 3 Amigos(Angel Villa, Glauquito e Laertón) e uma edição perdida do Geraldão(eu com 7 e meu irmão com 6 anos de idade), e ali estava a trinca numa revista grande, cheia de piadas que eu iria entender somente anos mais tarde e na outra, páginas de desenhos e personagens do Sr. Glauco. E para entender todo aquele humor subversivo? Com 7 anos de idade, em 1991(acho, não lembro com exatidão), uma criança não tinha muita idéia do que eram drogas, Apocalipse, neuras de casal, boneca inflável, sexo, política e coisas que só um adulto poderia explicar, e aí que está a parte engraçada da coisa, tinham dois adultos(meus pais) no carro que ficaram perplexos com perguntas do tipo "Pai, o que é bronha?" e "Mãe, o que é cocaína?", e claro, a hora que perceberam o que tinham comprado para os filhos(eles gostavam das revistas Chiclete Com Banana, então eles não jogaram fora as revistas, pelo contrário, liam e davam risada), foi aquele forrobodó, "Você não viu que revista que eles estavam passando no caixa?", "Achei que era alguma coisa da Disney, oras!". Com a merda já feita, espalhada em quatro paredes pelo ventilador, como resolver o enbrólio todo? Explicar assuntos adultos para duas crianças que mais se importavam em jogar futebol no quintal e andar de bicicleta? Bem, nem preciso dizer que eu e meu irmão ficamos boiando, mas enfim, tudo se aprende com o tempo, e no caso as explicações dos meus pais vieram nos anos seguintes.
Enfim, nunca deixei de ler nada desses desenhistas. E agora um deles se foi, ou melhor dizendo tiraram dele o direito máximo de qualquer ser humano, o direito de viver, e fizeram o mesmo com seu filho, que tinha apenas 25 anos. Sem julgamento, sem motivo, apenas porque era mais fácil matar do que se tornar uma pessoa honesta e trabalhadora como as vítimas eram.
Meus pêsames aos entes e amigos de Glauco e Raoni.
Meus pêsames ao humor e à cultura de nosso país, estamos ficando escassos de gente boa e inteligente.
Estou triste pois lá se vai um dos três caras que continuou a me incentivar à leitura, e que me apresentou(cedo) ao mundo das HQs adultas e irreverentes.
Paz.
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Sem poemas por hoje.
Excelente homenagem!
ResponderExcluirE isso que deixa ainda mais triste, parte da infancia indo embora!!!
Minha historia é basicamente a mesma sua. Com a Chiclete foi que eu descobri o que era On The Road ou Kerouac, e os "tais" Beatnicks...Ajudou e muito a fundar meu carater.Muita, mas muita saudade!Mesmo não morando aí no Brasil a notícia me pegou em cheio.Dia Triste!
ResponderExcluirCARA PARECE QUE UM PEDAÇO DE MINHA HISTÓRIA SE FOI. POXA CESCI LENDO LOS TRES AMIGOS, FOI PARTE DE MINHA ADOLESCENCIA, ASIIM COMO CHICLETE COM BANANA. É BARRAA
ResponderExcluirSAUDADES DAQUELE TEMPO.
VAI COM DEUS GLAUCO.
Linda homenagem. Não conheço muita coisa a respeito do Glauco e nem de tirinhas, lia às vezes no jornal ou durante as aulas no colégio.
ResponderExcluirFiquei mais chocada com a brutalidade do crime...também fiquei sabendo disso nas primeiras horas do dia...e quando descobri os detalhes fiquei atônita....pai e filho.
Trocando de assunto...
“quis deixar as conseqüências de lado. O que acha? Já pensou por esse lado?” rsrs. Infelizmente.... com esta colocação você vai descobrir um dos meus grandes defeitos...nunca deixo de pensar nas conseqüências...o meu superego prevalece.
Qual prevalece em você?
Com sete anos lendo Glauco...precoce você !!! rsrsrsr
Em 1991... Não conseguia ler muita coisa, mas já estava cercada de histórias.
Eu comecei lendo os clássicos da literatura universal....pode parecer chato...mas foi maravilhoso, creio que foi por este motivo que hoje sou uma leitora assídua.
O que você entende por conhecer uma pessoa?
Ps: vou criar o perfil em breve... Estou com dificuldade de alinhar as minhas tarefas as 24 horas do dia....eu preciso de no mínimo 36 horas !!!
Ainda está de luto ?
ResponderExcluirAs conseqüências sempre estarão por aí, para as ações de tudo e todos, mas e o seu superego, até que ponto ele prevalece?
ResponderExcluirEu não sei bem dizer o que me prevalece, é um misto de emoções, loucuras, rotinas, então eu prefiro deixar a vida me surpreender, mas acho que de alguma forma o inconsciente me serve de influência.
Eu também gosto de clássicos da literatura, não devo ser tão versado quanto você, mas é sempre um prazer ler um bom livro. :)
Particularmente, gosto muito de poesia.
Eu entendo que "conhecer uma pessoa" é algo que possa ser interpretado de diversas maneiras, mas eu tomo pelo lado pessoal, conversar, ter uma identidade nominal e visual, saber sobre a história de vida, a personalidade, índole, e passar a ser conhecido da mesma com as mesmas características. Amizade e afinidade é sempre o bonus. :)
Vou esperar pelo seu perfil.
Quanto a demora, tive um bloqueio, e muitas coisas para resolver... faz parte. Mas escrevi algo novo, vou tentar deixar a chama acesa.