sábado, 26 de fevereiro de 2011

Um tema e um trem

I:

Estive andando nas ruas e não ouvi,
também olhei para os lados e não vi,
e agora chego e nada tem.
Fico então preocupado e procurando,
sem saber o quê, onde e quando.

Não sei nem quando isso começou,
só que agora faz parte do que sou.
Não escolheu lugar, foi de repente
e de todos os vazios, é diferente,
pois preenche sem dizer o que é.

Então fica palpável que seja algo
fora da realidade. Me sentindo alto,
percebo que é mais uma ilusão
e que as vezes ando na contra-mão.


II:

Quando dou por mim e me desperto,
me encontro sentado nesse banco,
numa estação conhecida, esperando.
Talvez passe um trem, estou incerto.

Chega o trem sem fazer sua fumaça,
sem queimar diesel no trilho fino.
Para onde vai, diz ser sem destino,
sem parar pelas estações que passa.

O trem segue viagem para algum lugar
e eu fico sentado, pensando...
Esperando...
Onde isso vai parar?
Em algum lugar, não sei onde e quando.
Não sei nem mais, nem menos o porquê.


III:

O que não ouvi e o que não vi
são chamados que não entendi
e nem vou procurar entender.

Pois esse trem é minha vida
e ele passa por tantas vidas
que não ouvi e nem vou ver.

Segue rápido por noite e dia
e eu devo sentir a alegria
de poder seguir e viver
sem me preocupar porquê.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Um pote

Pois é, assim mesmo digo que acabou,
no pote não tem nada,
sequer um resquício sobrou.
Está vazio, a borda quebrada
e a tampa sumiu.

Como pode dizer algo se nem entende
que o que tinha no pote
acabou e não volta?
Consumiu o que via enfrente
e agora tem revolta?

Por isso que não me apego ao fugaz,
é fútil e quando acaba,
nada de bom nos traz
além do que é momentâneo,
e depois deixa-nos o nada.

Tudo acaba, como acabou o que tinha
nesse pote que você aninha
em seus braços, enquanto
assiste ao meu desapego
por ti, que já é um bom tanto.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Valentina's Day

Hoje é dia dos namorados (Valentine's day) lá na gringa.

E por que não no mundo?

Em teoria, um cupido sai atirando flechas por aí, mas sempre acerta alguém.

No meu caso sou vítima da admiração pela Valentina, e entendo o que Guido estava dizendo ao mostrá-la, entendo o que poucos levam a importância, a metalinguagem de sua criação, onde até o criador foi dominado por sua Srta. Rosselli. Ah, pobre Crepax. Dominado, ele fez escola; tanto ele como Serpieri se tornam instrumentos de divulgação de suas crias e elas não os deixam nunca mais, se tornando maiores que seus deuses. São retratos de mulheres e suas conquistas da idade contemporânea e suas revoluções. E quem não gosta de uma mulher inteligente, dona de si, que sabe o que quer? Não estou falando de mulheres cujo comportamento são como de um homem, e faz de tudo para ser a parte masculina da relação, enquanto o homem se submete a esse perfil patético de inversão de papéis, ninguém é dono de ninguém, simples assim. Qual é o lance de Crepax e Serpieri, e não esquecendo, Manara? Eles abusam até da perversão, mas é aí que a coisa toda se encaixa, para mostrar a liberdade, usa-se o choque. Chocar o leitor era a maneira destes destacarem a admiração que eles tem por mulheres, no caso de Crepax, no fetiche sado-masoquista, no caso de Serpieri, com criaturas de outro planeta, robôs, etc. Manara, simplesmente abusa da história e até de costumes tão infestados de pudor pela sociedade, e em todas as figuras se mostra uma coisa, a mulher e seu prazer em participar de tudo isto. Nesse ponto uns podem pensar que é doentio, mas não entendem o choque cultural, eles representam que as mulheres tem sua própria sexualidade, as vezes em excesso, ou mesmo que pouca, e não tão pornográficas, hetero ou homossexuais, não importa, a mulher retratada por eles é alguém livre de amarras e com vontade própria, seja do lado mais casto ao mais vulgar. São as mulheres de fumetti, são as bem decididas, que simplesmente apertam a tecla "FODA-SE" para as pessoas que tentam lhe dizer o que devem fazer ou não, o que é melhor ou não, que simplesmente mandam à merda situações com um cara de quem não estão afim, mandam à merda os amigos que querem desencalhar uns perdidos com elas, pagam a conta quando querem, e te fazem pagar quando bem entenderem (mas sempre tenha o primeiro movimento, senão a fila anda...) e procuram se desenvolver, viver a vida da maneira que bem entenderem, se relacionar com quem gostam, são inteligentes e ótima companhia. Mexem com o imaginário masculino.

Quem disse que história em quadrinhos é coisa de criança?


Portanto nesse Valentine's Day, eu fico pensando na Valentina, não a de Crepax, mas na minha, melhor dizendo, na que me acompanha, pois não sou dono dela, nem ela dona de mim, mas por todos os outros sentidos, parafraseando um ditado "é minha dama de dia, e minha louca de noite". Minha amada Valentina.

Castelo

Dizem que ele está lá no alto,
protegido de tudo,
mas você vê apenas uma casa
no nível do asfalto
e não sabe mais
se está vivendo a realidade.

Não adianta consultar oráculo,
não vai te explicar
seria isso a nossa cova rasa
vista por binóculo,
ou nos deixamos
dominar pelos controladores?

Ele não consegue te entender
pois escreveu antes
o que pode ser real agora.
Talvez sem perceber
vivemos o que eles
querem sem sequer questionar.

Alienação superior e poderosa
ou apenas paranóia?
Essa resposta está perdida
na massa nebulosa
da mente inquieta
que agora quer atormentar.

Não vai ter nenhuma sabedoria
que vai esconder
o fato, agora que procuram
a resposta todo dia.
Chegou a nossa hora
de acabar com a distopia.

--

Valeu PKD!

Epicondilite

Ter epicondilite deve ser uma merda,
ainda bem que nunca passei por isso,
por mais que a articulação estale,
mas conheço quem tem, na certa,
não fala por vergonha e deixa omisso
e acha ruim que alguém lhe fale.

Até existe tratamento específico
mas tem medo de qualquer tipo de médico
insiste em ficar com esse problema,
mas de que adianta, não é o meu físico,
já dei a dica, e olha que sou cético,
mas essa pessoa gosta de fazer cena...

Penso como é bom, dos males, não tê-lo,
nessa vida já se tem muita desavença
e tenho sorte de ser um tanto saudável.
Então fique aí com sua dor de cotovelo,
já que não resolve cuidar de sua doença,
pelo menos torne sua vida passável.

E não venha me falar de seus problemas
pois já tenho os meus para me preocupar.
Não elabore cenas de filmes de cinema,
não sou ator e de graça nem vou tentar.
Vá ao médico fazer uma consulta, entenda,
ele é bem mais indicado para te ajudar.

--

Se você tem problema consigo mesmo, saiba lidar com ele sozinho.
Capisce?

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Uma só

Cedem os fios
que conectam, finos,
a existência lúdica
solta em essência,
única revolta
dessa escuridão.
Como fibras podem
comandar, o ânimo
participa e convém,
uma depressão;
uma preocupação
e o fim da paciência.
Como uma emoção
tão fria e vulnerável
contagia?
Ah, saúde deplorável...
O fim da vida é sua
decadência.
A vida sempre acaba nua.