domingo, 9 de maio de 2010

Um caso anual

Já é Segunda-feira, Domingo explodiu em milhares de pedaços e foi devorado pela areia temporal que insiste em cair afunilada. Sim, alguém virou aquele artefato rústico, antigo e que teve muita utilidade nos tempos antigos, antes de vovô e vovó nascerem, bem antes. Aquela ampulheta perdida em algum canto foi tocada, manipulada e há cinco minutos recomeçou a sua contagem, ao deslizar de grãos pelo seu interior, passando pela sua cintura fina e chegando ao seu fundo, se amontoando. Se possui sentimentos, imagino que seja de náusea, pois os grãos formam uma montanha que deve irritar qualquer estômago, mas como é um objeto, não deve ser lá muito emotiva.
Mas é culpa dela?
Será que conspirou contra o Domingo?
Assassinou mais um dia?
Não! Assim como uma arma, esta ampulheta é apenas uma ferramenta. Ela tem que ser manipulada por alguém. Alguém consciente do que faz. Alguém com um crime premeditado. Este alguém é frio e calculista, mas não se revela, nunca. Apenas temos dúvidas e nada de respostas sobre sua identidade... e talvez estejamos errados, pois podem ser mais de um elemento.
Mas o que teria Domingo feito para merecer tal castigo? A vítima era responsável por alguma atrocidade? Convenhamos, dia nove de Maio de dois mil e dez, dia das mães. Um paradoxo se segue e todo ano acontece este assassinato. Seja por uma criança atrevida que não respeita aquela que a gerou, seja por um adolescente revoltado e querendo chamar atenção, seja por um adulto que larga a mãe sem cuidados, mesmo quando viúva.
Domingo, seria sua culpa ser o "dia das mães"? Seus colegas no calendário não tomam partido algum em homenagearem estas que trazem vida ao mundo, e não tem culpa pelo término de sua existência. Portanto tu és o único com coragem de se entregar de peito aberto.
O teu assassino deve ser o mesmo que nos tira a vida, e se for, um dia terá que se explicar com todos. Cada um de nós tem uma ampulheta, e a minha talvez esteja longe de ser virada, mas quando virarem, estarei questionando, mesmo conformado com a única certeza, nada será em vão, nem a sua morte.
Obrigado por ser o mártir deste ano, tens o meu respeito.

Minha mãe sempre terá meu amor.
:)

Nenhum comentário:

Postar um comentário