quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Máquina

Por tanto que se mexa,
essa estranha máquina,
carburando
esquentando,
explodindo,
ainda é velha,
cheia de graxa
nas galerias,
parece uma criança,
que bem que podia
ser jovem nessa malha
de excessos.
Retrocessos dessa vida
útil dessa velha
máquina estranha
que dilacera as entranhas
de seu ser,
seu hospedeiro,
seu viver,
seu viveiro.
E como segue em frente?
Como seguir em frente?
Como ir para frente?
Tem algo em mente?
Como cresceu até hoje,
sendo que a família
foi uma ilusão da infância
e uma realidade tardia?
Será que essa máquina
aguenta tanta covardia?
Desse mundo de merda
cheio de gente que
não presta?
Eu gostaria de ajudar,
eu me faço disponível
para tal.
Mesmo sendo tão perdido
e estranho nesse mal.
Se eu não me perder,
ajudo. Me ajude a
me encontrar, talvez eu
possa te ajudar a viver.
Não é uma troca de favores.
Nem compaixão, é apenas
eu,
seguindo,
vivendo
e ajudando,
nessa confusão,
essa máquina que talvez
seja um irmão meu.
Talvez seja eu.
Talvez seja seu.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ruiva

Ruiva, eu te deixo crescer.
Vermelha e um tanto louca,
enrosca até na minha boca,
eu não consigo te esquecer.

Eu te puxo para todo lado,
cuido para que fique linda,
mesmo assim não está ainda
como eu tenho te planejado.

Vai demorar um pouco mais
para te ter como eu quero.
Sem problema, assim espero,
sem desistir, isso jamais.

Pois já faz parte de mim,
não tem como eu me livrar
nem como você me escapar,
somos um só, os dois sim.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Supernova

Duas realidades diferentes se chocam,
na colisão formam um dia perfeito
que com ou sem chuva resta ao peito
a certeza que as dimensões combinam,

mesmo criando um grande e negro buraco
sugando tudo que está em sua volta,
cada corpo e mente de estado fraco,
de órbita e trajetória por aí à solta,

rodando até o fim de suas existências
nessa espiral de loucas experiências,
gostosas, sedutoras e mais humanas
que qualquer outra situação mundana.

Apenas um dia para tudo acontecer,
explodir uma estrela à assim morrer
e criar uma supernova no coração
do seu corpo belo, e antes, estelar,

trazendo luz e uma nova radiação
para que toda a galáxia possa olhar
essa dança de astros e corpos celestes
que, em torno desse universo, se repete.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Risos

Risos se soltam.
Risos, de pequenos
sorrisos amenos,
a grandes sorrisos;
com juízos se soltam,
expressando alegria
de cordões à revelia
dos nós que desatam.

Se soltam,
se ouvem,
se deixam,
se juntam.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Chuva, lava

Sinto na palma,
chuva; gelada lava,
limpa minh'alma.

Faxina

Arrumação:

Certas soluções não dependem de mim;
tive que tomar na cara,
na face,
no peito,
no pensamento,
que beber desse amargor,
pensar,
estragar,
esganar,
dizer "adeus" à dor.

O amargo passou, sobrou o doce,
sobrou o hoje,
venha o amanhã.


"Bagunça organizada":

Passou.
Chegou, o momento
livre de amarras,
de conceitos dos outros
e opiniões diferentes
que primam por
machucar
o que deveria ficar
por aí, independente
e livre!

Só o que é bom ficou.
O resto,
a
palavra
diz
tudo e nada,
é resto.

Eu jogo fora.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Telefonema

Um telefonema;
aquele esperado ansiosamente
de muito, muito longe
é feito tão surpreendente
que esquece de tudo e onde,
até os problemas.

Essa conversa,
mesmo que curta, significa
muito, muito sentimento
que até magnifica
tal pequeno rebento
que atravessa.

A recepção
pode ser boa ou péssima,
mas não atrapalha a voz
que até na milésima
deixa laçar estes nós
no coração.

As saudades
que ficam, e não somem
palavras soltas incautas,
e o que sobra é o que falta,
agora esse destino só tem
as maldades.

Se despedem
daquele jeito apaixonado,
longo, sem querer desligar
o telefone, que quer soar,
as vozes dos coitados
se desprendem.

Não há choro,
apenas a doce memória
desse pequeno tempo
juntos, andando ao sol e vento,
fazendo uma nova história
em coro.

Não há "Adeus",
mas sim um "até logo,
apenas o bem eu te rogo"
e "queria você ao meu lado
para ter me esquentado
entre os braços teus."

Ambos sorriram.
"Deixará de ser fantasia
e voltará a ser realidade;
não tenho agonia,
só me resta a saudade..."
Beijos, desligam.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Soneto da desconfiança

Se eu te tenho por merecer,
se sou sincero ao te querer,
se sou honesto em palavras,
e com você eu sempre estava,

por que desconfia de mim?
Se não fiz algo de ruim,
deveria acreditar em mim
e não me investigar assim.

Não sou nenhum criminoso
e não te devo informação
do que faço quando ocioso.

Tenho vida própria também.
Você não é a única obrigação
que diariamente me convém.

Mas que inspiração doida

Ao ler hoje em diferentes jornais que uma certa empresa adquiriu da polícia informações sigilosas de seus empregados, tive uma certa inspiração, que alguma relação com a notícia e com um fato ocorrido recentemente na minha vida, estou fazendo um rascunho aqui de algo que pode ficar interessante para colocar nesse blog, ou não. Veremos...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Soneto do poema perdido

Já perdi poemas demais.
Joguei alguns fora,
outros o fogo devora,
mais alguns deixei lá atrás.

Mas agora guardo cada um
dos que escrevo, de rascunho
até os que tem fim, empunho
até os de significado nenhum.

Os guardo por me arrepender,
não sei como pude perder
o que escrevi para você.

Mas um dia vou reescrevê-lo
no seu corpo nu em pêlo
e meu poema será você.

Megasena?

Ainda fico a esperar...
o dia em que eu ganhar a loteria;
muitos outros vou ajudar.

--

Isso me faz refletir sobre alguns assuntos... realmente, é necessário ter uma Ferrari em São Paulo?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Viola

Que arte faceira
essa brincadeira.
Criança arteira...
Seria melhor artista,
mas não dá na vista.
Adultos gostam de falar,
gostam de criticar.
Sobra ressentimento;
não tinha nada errado.
Falam de hipocrisia
e por isso, lamento.
É fácil ficar calado,
nos deixar a afasia.
Então falo para fora:
"Vocês adultos,
deixaram escapar?
O que foi embora?
Se tornaram vultos
e querem moralizar?
Que conformismo, ora!
Prefiro ser arteiro.
Fazer alguma arte,
da Lua à Marte.
E ainda vem Janeiro."

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Além

Além de tudo isso
Onde possa te sentir
Em cada fagulha quente
que venha a me ferir
É algo muito além...

Deixo de ser omisso
Só para te falar
Apenas para te contar
que por você vou
Corro muito também

Me sobra tanto rebuliço
Tanta loucura se aninha
no meu peito quero
ter você minha
Serei seu e muito além...

Mais que um sumiço
com você vou-me embora
Moro mundo afora
e com a trilha sonora
que escolhemos tão bem

Me delicio com seu riso
Te paro e tiro fotos
mesmo com a sua timidez
é mais bela que flor de Lótus
Nas suas pétalas sou refém

Juntos perdemos o juízo
Voltamos a ser crianças
revivemos nossas lembranças
com todas as esperanças
de que o fim não nos tem

É assim que falo disso
do que gosto em nós
quando estamos sós
do que vêm após
Não consigo viver sem...
Sem você
Não consigo ir além
Além de tudo isso...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Uma dorzinha nas costas, mas já achei um remédio!

De todos os compromisso e planos para ontem, depois do expediente de trabalho, consegui concretizar apenas um dos programados, fui ao ortopedista. Começou como um incômodo nas costas, e nas últimas duas semanas a o incômodo virou uma dor, difícil de agüentar, daquelas que atrapalha até o sono, pois demoro um tempo para achar uma posição confortável para dormir; não adianta, já virei o colchão, já tomei medicamento, até revi as palmilhas dos sapatos; ainda bem que me alongo, não sei como ficaria se não me esticasse um pouco pela manhã.
Peguei minha fiel magrela, coloquei o capacete e fui pedalando até o consultório, descendo em alta velocidade a íngrime Rua São Paulo, que fica na rua onde um amigo abriu um galpão. Tinha outros compromissos, mas a idéia me acometeu de súbito, "Desde Março você está prometendo visitar o galpão do cara, já está passando da hora, que tal fazer isso hoje?". Sim cérebro, você pensou certo, "Vou hoje, depois da consulta"; isso me ocorreu enquanto pedalava e recebia buzinas dos carros na hora do rush... aaaahhhh, esse respeito ao próximo que povo paulistano estressado coloca em prática... maridos correndo para chegar em casa em casa para pegar o Ricardão, esposas correndo para chegar em casa para esperar o marido que vem com marca de batom no colarinho da camisa. Enfim acorrentei minha bela magrela preta(está precisando de uns pequenos ajustes, mas não passa desse fim de semana, ok querida?) e entrei no consultório, o atendimento de sempre:
-Boa tarde. Documento e carteirinha do convênio, por favor.
-Boa tarde - abro a carteira, pego aquela carteirinha do convênio, aquele R.G., e é engraçado pois as fotos são bem diferentes, e meu cabelo está curto em uma e comprido na outra; nunca me questionaram, nem sequer olharam para a minha cara... parece assinatura em cartão de crédito, ninguém verifica.
-Siga o corredor até a sala dois, seu nome será chamado.
-Muito obrigado - impessoalidade é tudo, não?
Segui o corredor, sentei na cadeira e vi as revistas do consultório. Péssima idéia. Nada que me agrade, convenhamos, o único consultório médico que fui até hoje que tinha revistas legais, era de outro ortopedista, e eu tinha 10 anos de idade. As revistas, me lembro muito bem: Circo; Chiclete com Banana; Geraldão; Striptiras. O Dr. Evaristo era o único médico que conheci até hoje que tinha um gosto peculiar:
1- Revistas em quadrinhos com teores mais ácidos que nosso desentupidor de pia favorito, a Coca-cola;
2- Tinha elefantes indianos de porcelana AOS MONTES pelo consultório, todos virados de bunda para a porta, a explicação era que dava sorte e trazia pacientes(estranho modo de pensar, mas o cara se dá bem com o problema dos outros, e quanto mais gente com problemas, melhor para ele);
3- Ele tinha um piano de calda na sala principal, e de vez em quando ia me consultar(eu fui parar no gesso algumas vezes) chegava e ele estava tocando algo para a esposa, que figura.
Hoje me sobram algumas opções estranhas de leitura num consultório médico, então eu simplesmente dou aquela desmaiada, ou leio qualquer porcaria que estiver no bolso ou na carteira. "ERNESTO, SALA 2."
Fui me, expliquei a dor, não é muscular(antes fosse), martela joelho, pressiona a coluna(DÓI! Me desculpe o palavreado, mas PUTA QUE PARIU, como dói!), "sua postura continua boa, e seu alongamento também, mas temos que ver melhor isso...", recebi uma guia para fazer ressonância magnética e outra para comprar uns remédios. Vamos ver o que vai acontecer...
Saí do consultório pensando na ressonância magnética, "NUNCA FIZ, se for naqueles tubões, que todo mundo entra hoje em dia, vão ter que me dopar!", nesse pessamento, com cenas e tudo mais, já tinha pedalado por dois quarteirões e estava na frente do galpão do meu amigo. Bati na porta de ferro:
-Quem é?
-Helder, é o Ernesto - abriu na hora.
-Porra meu! Quanto tempo!
-Falei que vinha te visitar um dia!
Coloquei a bike para dentro e já me foi oferecida uma lata de cerveja, como negar? Ainda mais quando o cara está importando a marca que ninguém trouxe ainda? COMO NEGAR? Impossível! E vamos bebendo esse líquido sagrado, e de ótima qualidade!
-Como vão os negócios? vendo que agora tá virando de vento em popa!
-Cara, sabe como é, dá trabalho, é o dia inteiro nessa correria aqui, mas agora faço o que gosto. Bebo o que gosto, só é complicado quando estou lá na empresa - ele trabalha na mesma companhia que eu, mas em local diferente.
-Bom, isso é só uma fase ! Eu acho que temos que tirar o melhor de lá, depois fazer algo melhor, crescer sempre!
-Pois é, crescer sempre, e para melhor!
-E como está a família, todos trabalhando?
-Sim, estão sim! Todos correndo!
-E a mulherada anda dando trabalho?
-Nem me fala, sempre tem umas doidas aí, mas você sabe , depois que fica solteiro, o que vale é a variedade, ? Imagino que você esteja por aí também.
-Já estive, hoje estou mais sossegado, a gente conhece pessoas diferentes e as vezes acaba ficando bobão por uma.
-Ah... tá me zoando! Que história é essa?
-Nada não, não mudei nada, só estou ficando mais em casa, muita coisa para fazer por lá.
-Sei... e como está sua família?
-Estão todos bens, você devia aparecer lá para comer uma pizza!
Nesse meio tempo, histórias rolaram, cervejas também. Eu fico feliz em ver um amigo se dando bem na vida, ainda mais alguém esforçado como ele. Me mostrou os planos futuros, propaganda, eventos. Me abriu mais algumas latas, até chegar no que considero a cereja do bolo na experiência etílica de ontem: HIDROMEL lituano. Aquilo realmente encheu os olhos só de ver a garrafa. Fui servido, e que coisa boa, que mel. Amigos são assim, fazem questão da presença e da conversa, e no meio de tudo isso, soube como a vida dá voltas, pois você pode passar tempos sem ver um bom amigo, mas quando o encontra, sabe que ficará minutos ou horas conversando e o relacionamento não muda, e com álcool, tudo fica mais amigável.
A conversa se alongou mais um pouco, e chegada a hora de ir embora, brinquei:
-Cara, tinha uma dor nas costas me matando já faz um tempo, mas porra, essa breja e esse mel aí são remédios!
Ele ria.
-Meu, você vai subir pedalando? Você mora lá em cima!
-Bom, eu não sentindo dor, mas com uma preguiça filha da puta agora.
Entre risos nos despedimos, fizemos convites e vamos nos ver, como sempre, nas voltas que o mundo dá. Bravamente subi pedalando até minha casa.
Para dormir, foi tranqüilo.
Podia ter bebido mais, entre dor de cabeça e dor na coluna, certamente prefiro a primeira!