De todos os compromisso e planos para ontem, depois do expediente de trabalho, consegui concretizar apenas um dos programados, fui ao ortopedista. Começou como um incômodo nas costas, e nas últimas duas semanas a o incômodo virou uma dor, difícil de agüentar, daquelas que atrapalha até o sono, pois demoro um tempo para achar uma posição confortável para dormir; não adianta, já virei o colchão, já tomei medicamento, até revi as palmilhas dos sapatos; ainda bem que me alongo, não sei como ficaria se não me esticasse um pouco pela manhã.
Peguei minha fiel magrela, coloquei o capacete e fui pedalando até o consultório, descendo em alta velocidade a íngrime Rua São Paulo, que fica na rua onde um amigo abriu um galpão. Tinha outros compromissos, mas a idéia me acometeu de súbito, "Desde Março você está prometendo visitar o galpão do cara, já está passando da hora, que tal fazer isso hoje?". Sim cérebro, você pensou certo, "Vou hoje, depois da consulta"; isso me ocorreu enquanto pedalava e recebia buzinas dos carros na hora do rush... aaaahhhh, esse respeito ao próximo que povo paulistano estressado coloca em prática... maridos correndo para chegar em casa em casa para pegar o Ricardão, esposas correndo para chegar em casa para esperar o marido que vem com marca de batom no colarinho da camisa. Enfim acorrentei minha bela magrela preta(está precisando de uns pequenos ajustes, mas não passa desse fim de semana, ok querida?) e entrei no consultório, o atendimento de sempre:
-Boa tarde. Documento e carteirinha do convênio, por favor.
-Boa tarde - abro a carteira, pego aquela carteirinha do convênio, aquele R.G., e é engraçado pois as fotos são bem diferentes, e meu cabelo está curto em uma e comprido na outra; nunca me questionaram, nem sequer olharam para a minha cara... parece assinatura em cartão de crédito, ninguém verifica.
-Siga o corredor até a sala dois, seu nome será chamado.
-Muito obrigado - impessoalidade é tudo, não?
Segui o corredor, sentei na cadeira e vi as revistas do consultório. Péssima idéia. Nada que me agrade, convenhamos, o único consultório médico que fui até hoje que tinha revistas legais, era de outro ortopedista, e eu tinha 10 anos de idade. As revistas, me lembro muito bem: Circo; Chiclete com Banana; Geraldão; Striptiras. O Dr. Evaristo era o único médico que conheci até hoje que tinha um gosto peculiar:
1- Revistas em quadrinhos com teores mais ácidos que nosso desentupidor de pia favorito, a Coca-cola;
2- Tinha elefantes indianos de porcelana AOS MONTES pelo consultório, todos virados de bunda para a porta, a explicação era que dava sorte e trazia pacientes(estranho modo de pensar, mas o cara se dá bem com o problema dos outros, e quanto mais gente com problemas, melhor para ele);
3- Ele tinha um piano de calda na sala principal, e de vez em quando ia me consultar(eu fui parar no gesso algumas vezes) chegava e ele estava tocando algo para a esposa, que figura.
Hoje me sobram algumas opções estranhas de leitura num consultório médico, então eu simplesmente dou aquela desmaiada, ou leio qualquer porcaria que estiver no bolso ou na carteira. "ERNESTO, SALA 2."
Fui me, expliquei a dor, não é muscular(antes fosse), martela joelho, pressiona a coluna(DÓI! Me desculpe o palavreado, mas PUTA QUE PARIU, como dói!), "sua postura continua boa, e seu alongamento também, mas temos que ver melhor isso...", recebi uma guia para fazer ressonância magnética e outra para comprar uns remédios. Vamos ver o que vai acontecer...
Saí do consultório pensando na ressonância magnética, "NUNCA FIZ, se for naqueles tubões, que todo mundo entra hoje em dia, vão ter que me dopar!", nesse pessamento, com cenas e tudo mais, já tinha pedalado por dois quarteirões e estava na frente do galpão do meu amigo. Bati na porta de ferro:
-Quem é?
-Helder, é o Ernesto - abriu na hora.
-Porra meu! Quanto tempo!
-Falei que vinha te visitar um dia!
Coloquei a bike para dentro e já me foi oferecida uma lata de cerveja, como negar? Ainda mais quando o cara está importando a marca que ninguém trouxe ainda? COMO NEGAR? Impossível! E vamos bebendo esse líquido sagrado, e de ótima qualidade!
-Como vão os negócios? Tô vendo que agora tá virando de vento em popa!
-Cara, sabe como é, dá trabalho, é o dia inteiro nessa correria aqui, mas agora faço o que gosto. Bebo o que gosto, só é complicado quando estou lá na empresa - ele trabalha na mesma companhia que eu, mas em local diferente.
-Bom, isso é só uma fase né! Eu acho que temos que tirar o melhor de lá, depois fazer algo melhor, crescer sempre!
-Pois é, crescer sempre, e para melhor!
-E como está a família, todos trabalhando?
-Sim, estão sim! Todos correndo!
-E a mulherada anda dando trabalho?
-Nem me fala, sempre tem umas doidas aí, mas você sabe né, depois que fica solteiro, o que vale é a variedade, né? Imagino que você esteja por aí também.
-Já estive, hoje estou mais sossegado, a gente conhece pessoas diferentes e as vezes acaba ficando bobão por uma.
-Ah... tá me zoando! Que história é essa?
-Nada não, não mudei nada, só estou ficando mais em casa, muita coisa para fazer por lá.
-Sei... e como está sua família?
-Estão todos bens, você devia aparecer lá para comer uma pizza!
Nesse meio tempo, histórias rolaram, cervejas também. Eu fico feliz em ver um amigo se dando bem na vida, ainda mais alguém esforçado como ele. Me mostrou os planos futuros, propaganda, eventos. Me abriu mais algumas latas, até chegar no que considero a cereja do bolo na experiência etílica de ontem: HIDROMEL lituano. Aquilo realmente encheu os olhos só de ver a garrafa. Fui servido, e que coisa boa, que mel. Amigos são assim, fazem questão da presença e da conversa, e no meio de tudo isso, soube como a vida dá voltas, pois você pode passar tempos sem ver um bom amigo, mas quando o encontra, sabe que ficará minutos ou horas conversando e o relacionamento não muda, e com álcool, tudo fica mais amigável.
A conversa se alongou mais um pouco, e chegada a hora de ir embora, brinquei:
-Cara, tinha uma dor nas costas me matando já faz um tempo, mas porra, essa breja e esse mel aí são remédios!
Ele ria.
-Meu, você vai subir pedalando? Você mora lá em cima!
-Bom, eu não tô sentindo dor, mas tô com uma preguiça filha da puta agora.
Entre risos nos despedimos, fizemos convites e vamos nos ver, como sempre, nas voltas que o mundo dá. Bravamente subi pedalando até minha casa.
Para dormir, foi tranqüilo.
Podia ter bebido mais, entre dor de cabeça e dor na coluna, certamente prefiro a primeira!
Valor da amizade...
ResponderExcluirPosso falar com propriedade que sei do que você está falando..vamos começar com as criticas.
Adoro médicos, adoro hospitais e por conseqüência...gosto de consultórios.
Você sabia que um dos melhores sanduíches de croissant que eu já comi, foi na lanchonete de um hospital ?
Que é maravilhoso, sair de balada e ir para um hospital apenas para desfrutar um deliciosa cappuccino ?
Loucuras a parte....eu já pensei em ser médica...então amo muito tudo isso ( nossa péssimo slogan)
Ultimamente estou sem tempo, para conversar e sair com velhos amigos, mas só de saber que eles estão lá...já fico mais feliz.
Adoro saber das conquistas dos meus amigos....sou fã número 1 de todos que tem banda, sou a critica mais ácida para todos os estudantes de jornalismo e sou irmã de consideração de vários.
Desculpa o sentimentalismo !!!!!
Ps: Sr. Velho !!!!!! rsrsrsrsrss
Sair de balada e ir para um hospital desfrutar um delicioso cappuccino... depois de tomar glicose? hehehehe
ResponderExcluirNão gosto muito de hospitais não... nem preciso dizer muito, é muita efermidade para mim...
Pior slogan EVER! Mas desistiu da medicina mesmo?
Pois, os velhos(e verdadeiros) amigos são aqueles que você pode brigar, rir, chorar, etc, e passam os anos e você os reencontra com a mesma afinidade. Isso não tem preço.
És também crítica e curiosa com o amador que vos escreve.
"Moço" é melhor. :P