sexta-feira, 17 de julho de 2020

Túmulo Diário

Tem dia que a cama
me parece túmulo.
O corpo inerte
só existe,
não vive.
A alma se cala
em afasia
e a vida não resiste
esse acúmulo
de melancolia.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Cuidados

Cuidar de si é uma arte.

É não surtar diante
da melancolia
latente
que cada vez
numa tocaia
diferente
quer o seu revés.

É não esquecer
de exercitar
sua morada
permanente
para não padecer
sem o lar
digno que é
seu corpo presente.

É ser responsável
com si e com todos,
sendo amável,
pois só o amor

cuida.


O amor se dá pelo zelo
e pelo respeito.

E o cuidado se dá pelo amor
de sê-lo.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Verbo Acabar

Se há retorno
então o fim não chegou,
foi apenas um intervalo
de um ciclo
ainda não circunscrito,
onde as pontas
não se encontraram
para completar o círculo.

O que deve acabar
não deve ter retorno,
pois o verbo é claro
em seu significado:
algo que acabou
tem seu ciclo completo.
Bom ou não, se completou.

terça-feira, 14 de julho de 2020

Que fazer?

A pergunta é cruel,
tem gosto de fel
na língua mal-acostumada
a pensar, e desce rasgando
a garganta do indivíduo,
tal comida estragada.
Para muitos,
é pergunta intragável.
Há quem diga
que não há solução,
chegamos no melhor
modelo econômico possível...

...mas parece preguiça,
preguiça de pensar,
preguiça de mudar
preguiça de ajudar,
preguiça de entender.

Que fazer
com o comodismo?
Que fazer
com a ganância?
Que fazer
com a injustiça?
Que fazer
com o vil capitalismo?
Que fazer
com ignorância?
Que fazer
com a preguiça
geral?

Que fazer?

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Em meio à rega

Às vezes a gente se pega
vendo a luz do sol
que, também nos cega
quando ofusca
qualquer outra cor
até então vista.
De repente vem o torpor,
nada mais se pensa
em meio à rega
costumeira e matinal.
O sol não faz por ofensa,
nós é que insistimos
em olhar o que não
aguentamos ver.

sábado, 11 de julho de 2020

Gambiarra

Faço gambiarra
porque me faltam partes
que perdi ao longo
da existência
e agora não encontro
peças de reposição

para
a
vida.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Corpo

Casa inevitável,
morada física
da etérea memória.
Tem mente própria,
tem sua história
e sua própria lógica.
Pensa sem pensar,
sente sem raciocínio,
como se duas pessoas
fossem um só símio
ao existir, ao estar
por aqui.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Limítrofe

Faz parte
da humanidade

o amor,
a dor,
a violência,
o carinho,
a demência,
o raciocínio...

Faz parte,
mas não significa
que aceitamos
tudo de peito aberto.

Nem devemos.
Tudo tem limite,
até o infinito
que é limitado
pela nossa percepção.

Tudo tem limite.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Cristas e Vales

Duas coisas andam
uma na contramão
da outra:

O desespero
e o amor próprio.
Parece óbvio...

...,MAS NÃO É!

Esquecemos
quem somos
e perdemos a fé
que um dia tivemos.

Então quero te lembrar
que desesperos são gotas
perto do amor-próprio,
que é, de si mesmo, mar,

com todas as ondas
compostas de cristas
e também vales.

Altos e baixos
existem,
assim como as águas
puxam e empurram.

Não seja uma gota,
seja você seu próprio mar.

terça-feira, 7 de julho de 2020

Espero o degelo

O sol ilumina lá fora,
e eu, aqui dentro,
a sombra enfrento -
meus demônios, o frio,
a ausência do calor
que me aquecia outrora.

E por que não saio?

Porque lá fora caio
de joelhos esperando
a sua temperatura -
mais quente que o sol -
que sempre degela
o meu frio coração.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Férias ao Mundo

O mundo precisa de férias,
daquelas longas,
que fazem esquecer os dias
com todas as necessárias
delongas.

Talvez o mundo esqueça
quem um dia fora
e hoje possa
ser o que quer lá fora.

E nós, aqui dentro,
que nos acostumemos
com essas mudanças.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Acidente

Por si só,
a vida se prova
um acidente.
É numa colisão
que se cria
o que ainda
não havia,
um embrião
de gente.
Você será
o que pode ser
e, na sova
que a vida dá,
só resta viver
até o dia
de morrer.
No fim,
quem escolhe
o que fazer
é você.

terça-feira, 30 de junho de 2020

Yin-Yang

Eu vejo o imenso vazio
quando a luz se ausenta
e junto dela se vai o calor -
some qualquer outra cor,
sobrando escuridão e frio.

Algo que não se inventa,
simplesmente ali existe,
pois tudo tem seu oposto.
Polo de imã que repele,
mas que também atrai.

Não existe um sem o outro.
Quando yin está forte,
yang está contido em yin -
yang persiste e existe.
E isso segue vice-versa,
num círculo sem fim.

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Desequilíbrio

Eu sou desequilibrista,
mais bamba que a corda -
perdido quando acorda,
seja início ou fim de dia.

Sou mais desbalanceado
que eixo de carro velho,
que uso como um espelho
de um ser amortecido...

...entorpecido de mundo,
de vida,
de tudo.

domingo, 28 de junho de 2020

No Aguardo

Saber de sua segurança
alivia qualquer saudade
que se possa sentir.

Há de ter a temperança
dos sentimentos - parte
de conseguir resistir

aos medos que assolam
sem me pedir permissão.

Até sua chegada, passam
dias, mas eu não passo, não.

Paciente, aguardo.

sábado, 27 de junho de 2020

Contagem

A contagem do tempo,
num breve momento,
se tornou fútil.

Parece inútil
numerar todos os dias
que completam o mês...

...senão pela sutil
arte de criar memória,
algo tão humano
quanto os nossos hábitos
de contar nossas histórias.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Inércia Mundana

A reforma pessoal
é um processo incômodo
pelo qual a maioria de nós
não quer passar.
Faz parte da inércia humana
estacionar no lamaçal,
se jogar no que é cômodo
e até recolher a sua voz
para se preservar
na condição mundana.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Limpeza

"...É limpeza."
É o que se dizia meses atrás
sobre pessoas que não encanam,
e de pessoas que passam o pano.

Mas que destreza
temos para fazer uma gíria,
muda-se significado de palavra
e um novo sentido ali se crava -

desconsiderando o original -
e nesse tempo de crise sanitária
já não se sabe mais qual é qual,

tudo depende do contexto.
Talvez, melhor nos serviria
a norma se nos desse refresco.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

É Inevitável

Há muito estava engasgado,
caroço de sentimento,
berro de rebento,
espinho atravessado
no fundo da garganta.

A água escorreu na cabeça;
outra, ao mesmo tempo,
marejou de sal a vista
e encheu de fel a boca.
O choro veio lento.

A voz que não queria sair
foi expulsa do corpo
porque certas coisas
não são ditas,
mas as coisas certas -
realmente necessárias -
são sempre expressadas.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Incerteza Atual

Colegas de trabalho adoeceram,
alguns amigos também.

Até familiares se contaminaram,
e sabe lá deus mais quem...

...morreu...
...adoeceu...
...se curou...
...se deixou...

Só se sabe que ficou no ar
este grande pavor,
causado por uma doença
que veio, talvez, para ficar.

Daqui para frente o que virá?

Não sei.

Ninguém sabe.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Polos

Sobre os magnetismos,
não importa o seu polo,
serei o seu lado oposto.

Estranho, mas eu cismo,
não deito em seu colo
e ao mesmo tempo
te levanto
em meus braços.

Vem desse jogo de atração
e repelência a constatação:
não há norte sem sul.

...E assim nos atraímos,

não por sermos parecidos,
mas pelos opostos
que sabemos ser
nos nossos tempos de vida

e porque você se basta.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Cronograma

Enquanto quase tudo
está de pernas para o ar,

necessário é, contudo,
poder se planejar.

O mundo está um caos,
mas você pode não estar.

Não te atinge o mal
se você se organizar.

Levando do micro
para o nosso macro,

a sociedade também
pode se planejar...

...e melhorar.

terça-feira, 16 de junho de 2020

Vermes Não Têm Honra

A lágrima escorrega
pelos poros secos
de uma face.

Se soubesse
antes dos becos
quando a força chega,

talvez estivesse vivo.
O fedido esterco
e o ataque

do covarde
a alguém no gueto
não tem sequer alívio,

não tem sequer motivo
senão um frio
e vil abate.

Me mate
sem ter o brio
de ter meu convívio.

Não sobra honra
naquele que faz abate.
Não há o que esconda

a mancha na alma
pelos números da conta
de quem parte

o fino fio da vida,
causando nos inocentes
a injusta morte.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Processo Repetitivo

Esse inverno da alma
veio esfriando ossos,
rachando toda a pele
já envelhecida do ano.

Tornou velho o pano,
enfraqueceu o caule,
apodreceu os frutos
que caíram da palma.

Vemos tudo mudar.
Todo ano se repete
em quatro estações.

Não ficam questões
do que nos acomete:
é a velhice a chegar.

domingo, 14 de junho de 2020

Pele-Perfume

Você viaja e sinto falta
do perfume da tua pele
me invadindo o olfato
como algo que impele
êxtase, dando o barato
em uma mente incauta.

Meu amor, meu vício
minha droga, suplício,
mal espero a sua volta.
A nossa vida conjunta
é dessas sem artifícios,
apenas reais resquícios

que ficam
quando nos afastamos
e não nos deixam
quando nos encontramos.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Resistir para existir

Parece plano de extermínio:

Propagar uma doença
e fazer limpeza populacional.
Provocar a desavença
e causar uma briga proposital.


Merece nosso escrutínio:

o desprezo à ciência
e relativização da vida alheia,
onde toda a economia
prevalece à quem a rodeia.


Pois eugenia é esse declínio

de qualquer pensamento
que cuida do que é social.
É terror, um movimento
que castiga o individual.


O fascismo causa fascínio

nessa gente ignorante,
mas não vamos nos rebaixar
ao vil pensar marchante,
resistir é nunca se entregar,
nem por um instante.


Resistir
é preservar
a vida.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Números

...E estamos contando mortos,
eram pessoas, agora são corpos.

Também há quem conte só dinheiro
e pense "cada um com seu desespero".

Cada qual com suas prioridades...
Dinheiro vem e vai, é realidade.

As vidas perdidas, sim, importam,
mas é uma pena que elas não voltam.
Diferente do dinheiro...

É...
...Cada um conta o número que lhe convém.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Só descansar resolve?

Às vezes bate um cansaço,
às vezes vários e não só um.
Se batem em tempo comum
o dia se perde num só passo.

"E quando vier o que faço?"

Boa pergunta... ainda não sei.

Quem sabe?

terça-feira, 9 de junho de 2020

Mudanças do Mundo

Não era nossa vontade.
Não...não mesmo.
Pela maioria,
tudo ficaria
da maneira que estava,
em que a maioria achava
que o meio de vida
que tínhamos até então
era imutável e nada,
NADA diferente
seria possível.
Qualquer mudança
seria em vão.
Veio a pandemia
e, de repente, tudo virou
de pernas para o ar.
Pasmem!
O que não era possível
passou a vigorar,
a economia parou
e o povo se recolheu.
Séculos de condicionamento
jogados para o alto...
Realmente, toda mudança
depende de um pouco de vontade,
só que nossa triste realidade
implica na insistência
de viver num organismo
falho de convivência
entre todos nós.
Talvez vivemos até hoje
mas não convivemos
nunca.

Engraçado,
se não mudamos,
nem tentamos,
vem o mundo
e nos muda,
afinal, ele não pode parar.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Perdido no tempo

Já não recordo
o início dessa loucura.
Perdi as contas
dos sentimentos
entre amor e fúria -
essas duas pontas
de um fino barbante
trançado 
que seguram tormentas
dentro de cada um de nós -
passando dentro de mim
num círculo vicioso,
um movimento sem fim.

sábado, 6 de junho de 2020

Controle

É fato diário:
morrem mais brasileiros
do que tem de minutos
um dia inteiro.

Mas está tudo normal...

Nota de repúdio é
o que fará "parar"
o plano de extermínio
que passou a vigorar.

Está tudo normal...

A violência policial
mata mais brasileiros
do que tem de horas
um dia inteiro.

Mas está tudo normal...

O curral eleitoral
foi conduzido ao pleito
e votou nesse mau:
o verdadeiro embusteiro.

Está tudo normal...
Está tudo dentro do controle...

...do controle demográfico intencional.

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Dia 5

Para alguns, dia de ordenado,
para outros, dia de pagamento.

Para nós, os comuns,
mais um dia de incertezas.

quinta-feira, 4 de junho de 2020

Conceitual

Vivemos um período estranho.

São tempos perigosos

e se acha que livres passaremos,
lembre do que é medonho

e que não deixou de existir,
pelo contrário,
paira no ar
o cheiro pútrido
desse corpo putrefato,
desse zumbi a andar

pregando a anomia
de seu desejo de autocracia.

Não podemos nos deixar levar
pela estupidez,
insensatez,
temos que nos organizar.

É necessário agir com inteligência,
não dar motivo para desvirtuar
a palavra "anarquia".

Caos é anomia.
Anarquia é ordem,
e sua ordem é: consciência.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

É Preciso Conversar

Eu escrevo
mas não publico hoje,
só amanhã.

Por que hoje não devo?

Porque é um dia de pausa,
assumi também o compromisso
e não posso ser omisso
com essa causa.

O racismo, no mundo, é sistêmico
e é como a COVID-19: PANDÊMICO.

Uma doença que urgentemente
necessita ser erradicada.
Não importa a pandemia vigente,
a morte não pode ser banalizada.

Se hoje você lê
esse poema-manifesto
(de ontem)
eu lhe peço, insisto,
faça um esforço para rever
todo o sistema em volta de nós
e converse com o próximo.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Desconhecimento?

Quem nele votou
não poderá dizer
que não sabia
e que dessa água
da dita-mágoa
não beberia.

Na trajetória
da vida pública
do dito-escroto
tudo foi explícito
e nada escondido
em seu discurso

virulento,
nojento,
abjeto,
violento,
sangrento...

só falou dejetos.

Ninguém que votou
poderá dizer
que não sabia
e que dessa água
da dita-mágoa
não beberia.

Se votou,
SABIA.

SABIA, SIM!

domingo, 31 de maio de 2020

Querer Um Dia

Tem dia que você não quer.

Não é todo dia que é bom,

e é possível tal constatação
ao saber mais de si,
do que te faz rir
e que te faz chorar,
ao torcer o nariz
e também ao salivar,
por que não saber
o que lhe faz um bom dia?

Então, tem dia você não quer.
E também tem o que você quer.


sábado, 30 de maio de 2020

Registro Não Saudável

É tarde, mas registro -
como se fosse entrada
na minha folha de ponto -
um poema
como um edema
que brota no corpo
e explode pústula
de letras postuladas
em rimas que exorto.
Vazam pelos poros,
olhos lacrimejam,
da boca gemidos saem,
sinto os espasmos
nada contidos.
É tarde, mas registro
a mazela que não cansa
nem me mata.
É doença
mas não é nada
demais...

Nada, não.

É só tentativa diária de poema.

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Passageiro

Eu sei que o tempo
tem por hábito
ser o passageiro,
solto no vento
soprando no alto
a nuvem no ar
e a areia da praia,
rolando no mar.

O tempo tem dessas,
você espera e ele não passa,
ele passa e você não espera.

Mas quem foi que disse
que ele pode esperar você?

Nunca é tarde para entender.
Ele passa e não espera você.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Paciência Cura

Tenho a marca
de sangue seco,
pisado
num dedo.

Já vazei com agulha,
já tentei outras coisas...
não importou
pois o erro foi a escolha

de ser displicente
com a segurança
ao usar uma ferramenta.

Cá estou, esperando
que o corpo absorva
esse sangue seco...

...e essa espera
é um grande aprendizado
da demora e paciência
necessárias para curar
um machucado.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Inverno Chegando

A água gelou os ossos

e fiquei pensando
se também o limiar
entre vida e morte
é medida entre
frio e calor.
Seria um torpor
sem nada no ventre?
Nada a ver na frente?
Tudo ou nada no ar
que se inala, entretanto?

A água gelou os ossos

e ao meditar sobre
o impacto,
esqueci de aquecer
as mãos.
Talvez frio e calor
não indiquem nada
além do que são.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Metamorfose Humana

Ao passar dos dias
notei as mudanças
que achava ocultas,

dos fios do cabelo
à textura da pele,

de corpo inteiro
ao que se espere

do envelhecimento,
rumo aos quarenta.

E até me espanto
que estou gostando.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Filme Repetido

Parece que já vi
esse filme...

o mesmo cenário;
os mesmos costumes;
os mesmos horários;
os mesmos queixumes;

as mesmas conversas
de amores e ciúmes;
asco das toscas ideias
daquele chorume.

Somos filmes...

...repetidos...

Ano após ano.

domingo, 24 de maio de 2020

Devoção Cigana

Cigania sagrada
na sua pele moura
e mestiça.
Nômade
à própria sorte,
da Palestina
à França,
sobreviveu
por esperança
e também ajudou
a trazer à vida
os filhos dos ciganos,
que não são plebeus
mas sim povo
dono do vento
de sua própria sorte,
de sua pátria: a liberdade.

sábado, 23 de maio de 2020

Mais um dia...

Assim me desespero...

...Hoje eu não quero
escrever,
não quero ver
papel em branco,
caneta esferográfica,
teclado e tela,
nada de poesia bela.

Quero ser prático,
umas rimas aqui -
sem vontade ali.
Sucinto e básico.

Inté.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Sentimentos Perdidos

O que se tem
para poder sentir?
Chorar? Rir?
O que vem?
O que se manifesta?

Porque tem hora
que bate dúvida
se ainda possuo
tal capacidade
ou se foi embora
lá pelas últimas
horas de recuo
de tal habilidade.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Instinto

Ataco a página em branco!
Com fortes solavancos
e perpetuo meu pensamento,
como tinta de tatuagem
marcando a pele
onde a agulha desfere,
à lá canetas e texto
em papel; pele; miragem;
pois o pensamento pinta
imagens onde me sinta
em mundo de devaneios,
sonhos, delírios, imaginação,
assim como os poemas
que nunca obedecerão sistemas,
pois emoções e anseios
atacam a folha sem perdão.
É apenas o instinto
imprevisível, mas sinto.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Sobre formar Hábito

Se dá a disciplina
na insistência
em fazer
o que não se quer.

E a regularidade
é a perseverança
na anterior,
sem sentir dor.

Uma vem após a outra,
e quando ambas
não são mais obstáculos
fica mais do que claro
que se firmou um hábito.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Quê?

Quê passa na cabeça
de uma galera dessa
que não quer ver
além do um-bingo-ser
que se é?

Quê passa na cabeça
de um que atravessa
sem ao sinal ver,
salvo até de morrer
pela sua fé?

Quê passa na cabeça
pessoa dessa bossa
que não vê humano
na vida dum sicrano
indo em ré?

Quê passa na cabeça
dum sem-responsa
que dispõe o alheio
como se ele veio
um mané?

Quê passa na cabeça
do abastado à beça,
abestado tal a peça
de vil metal avessa
ao que quer?

Quê passa na cabeça
de toda essa gente,
vivendo sem mente,
no excesso e na pressa?

sábado, 16 de maio de 2020

Home Office já existia

Atividades do dia (registro para home office):
-acordar
-lavar as narinas
-café-da-manhã
-regar as plantas
-dar um pito
-varrer a cozinha
-passar pano na cozinha
-limpar o banheiro
-limpar o quintal
-dar um pito
-estender roupa
-lavar o box enquanto toma banho
-almoçar
-passar café
-tomar um traguinho de Dreher (que dureza)
-colocar conhaque para o cigano
-dar um pito
-tentar gravar uma música durante umas 4 horas (e falhar todas as tentativas)
-dar mais um pito
-tentar gravar mais uma hora
-entrar em contato com o cigano
-lavar a alma na peia
-estribuchar
-pedir uma pizza
-tomar uma cerveja
-torcer para o mundo não acabar
-dormir

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Um tanto irônico

Essa mania de perfeccionismo
é o que me ferra...

Nem esse (e)vil capetalismo
me oprime mais
do que minha mão quando erra...


Ai
ai
ai
meu deus eu cismo.

Ai
ai
é culpa do perfeccionismo.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

terça-feira, 12 de maio de 2020

Sinusite

Às vezes
as narinas
fecham
e me desesperam
na falta de ar
que me causam

e, como peixe,
fora d'água
sobra à boca
puxar o feixe
desse ar

que nem sei mais
se é ou não seguro
por conta do vírus,
já tanto faz.

Só quero respirar...

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Persistência

Poderia crer em muitas coisas,
mas algumas vezes perdi a fé -
até em mim -
e não tive vontade de viver,
pois é...

...mas entendi que a vida não tem fim,

eu passo,
você passa,
mas a vida não,

ela persiste em muitas formas.

E eu poderia crer em tantas outras coisas,
pois é...

domingo, 10 de maio de 2020

Dia das Mães na Pandemia

Não pude lhe abraçar
nem lhe dar um beijo...
Como? De que jeito?
Como pode se passar
dia das mães sem a sua?
E nessa distância
no meio da pandemia
não podemos sair para a rua...
Para quê colocar em risco
quem a gente ama?
Prefiro assegurar a mamma
que a expor ao dano físico.
Às vezes, dos corpos a distância
não é a mesma que dos corações.

Por essas faço ligações,
para declarar amor à minha mãe.

Porque às vezes as palavras falam...
...mais alto que os gestos.

Te amo, mamma.
Já já tudo isso passará
e vou te visitar.

sábado, 9 de maio de 2020

Faxina-terapia

Doce faxina
quase morfina
que anestesia
meu mau-humor...
Quem poderia
sequer supor
que me acalmaria
perante o fedor
dessa patifaria
toda desse horror
que governa o país?
É... por um triz
me entregaria
a essa fúria
mista à luxúria
de arrebentar
a cara de fascista
com a vassoura...

De novo...

Deixa eu parar
com essa escrita
que me estoura
o miolo...

Hora de voltar
à faxina-morfina.


sexta-feira, 8 de maio de 2020

Soneto da Palhaçada

A risadaria da criançada
não faz graça em velório
tal desgoverno irrisório
à alheia desgraça, nada.

Se resumiu à uma piada
dum completo mal gosto
onde nem sequer o morto
sorri nos dentes a risada.

Uma completa palhaçada
sem qualquer fundamento,
só propaga total descaso

numa situação desgraçada
soltando seu ar flatulento,
o dito pum do palhaço.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Dantesco

Parece que chegou o inverno
no meio do outono.
O clima esfriou
e parece que tudo ficou gélido
como no nono círculo do inferno.
"Exagero!", é o que me dizem...
Sem problemas, eu aceito,
sou friorento mesmo.
E não estamos
no nono círculo
mas já sabemos
que lá é onde pertence
o atual presidente,
lá no gélido nono círculo,
onde são mastigados
os traidores.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Peça Ajuda

A mente necessita de cuidados,
então é preciso resistir
pois é fácil estar entregue,
mesmo que se negue,
aos pensamentos ruins
que insistem em surgir.

Não deixe que acabem com sua essência.
É sua responsabilidade se cuidar,
mas há com quem possa contar,
há sempre quem possa ajudar.

terça-feira, 5 de maio de 2020

Ontem foi um dia triste

Ontem foi um dia triste
morreu um poeta,
um ator suicidou,
e teve fascista
com punho em riste.

Eu não sei onde isso vai parar
também não quero pensar no pior,
mas não posso ser ingênuo,
negar a realidade e ser inócuo
é deixar a bondade em torpor
e a maldade livre no nosso ar.
Não bastava o vírus de uma doença
agora se tem o vírus do fascismo.
Gente que prega fim dum comunismo
num país que sequer viu tal presença.

Como lidar com a ignorância
que ameaça toda nossa existência?
Como lidar com a milícia
se não temos uma resistência?
Como lidar com essa violência
se pacíficos somos
e nos deixamos
à mercê da morte com leniência?

Ontem foi um dia muito triste,
um dia desesperançoso,
estou desgostoso
e, mediante tudo,
o meu trabalho, contudo,
me parece ser ocioso
perante tudo de ruim que se liste.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Adeus, Aldir Blanc

Morre um poeta.
Morre um asceta
da música brasileira,
e não de outra maneira

mas vítima da pandemia,
aqui tanto propagada
pela visível ignorância
dessa doida manada.

Certeza que, vivo,
diria ao ouvir o silvo
de um companheiro
compositor maneiro

algo de pura sagacidade,
com metáforas lindas,
à seja lá quem for
(não importa a flor da idade)
que teria suas letras lidas.

Adeus poeta das visões
desse país maluco.

Adeus homem das anistias
em meio ao sufoco.

Que à Deus você chegue,
digo, mesmo não sendo crente
que hoje tenha algo acima
de um poema seu.

domingo, 3 de maio de 2020

Desespero

Desespero
é o sentimento
que me acomete;

desespero
se estou vendo
tanta marionete.

Exaspero
a tanto tormento
de tanto joguete

e espero
largar o intento
revolto da mente.

sábado, 2 de maio de 2020

Purificação

Ontem fiz fogueira.
Queimei toda besteira
que passava na cabeça
e pensei muito às avessas
de toda essa loucura
dessa novela brasileira.
Diria que queimei madeira
velha tomada de cupim
como se fossem fascistas enfim,
mas não,
apenas queimei madeira
velha tomada de cupim
e fiz disso uma limpeza
espiritual, mental e emocional,
com toda a destreza
que me restou por seis horas
em abanar o fogo
dessa pequena pira
que me trouxe purificação.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Greve de Primeiro de Maio de 1884

Seis dias por semana,
dez horas de jornada,
um dólar e 50 centavos,
por dia.

Assim se vivia em 1884
na cidade de Chicago.
Se estivesse desse lado,
o que você faria?

Aceitaria calado
e nunca pararia?
Até quando o corpo aguentaria?
Até quando a família suportaria?

A união se fez necessária
e em primeiro de maio
começou a movimentação
e a marcha de trabalhadores.

Por mais de três dias
percorreu o páreo
reunindo meio milhão
ou mais desses obradores.

No terceiro dia houve repressão,
a força econômica
matou grevistas.
No quarto dia
o que seria
marcha pacífica
se tornou vingança.
A força econômica
matou trabalhadores,
sim no plural,
e morreu apenas
um policial.

Condenaram na injustiça
sete nomes anarquistas,
sem qualquer prova
de crime, de bomba,
sem qualquer motivo de sobra.

Exemplos escolhidos,
julgados e condenados
à execução pela forca,
no entanto, perdoados
mesmo sendo executados
pela injustiça da força.

Nunca um culpado
foi sequer encontrado.

Essa é a história
desse feriado,
é mais que um dia sagrado,
é demonstração
de conquista com sangue,
sem nunca perder esperança.

quinta-feira, 30 de abril de 2020

Rever a Mãe

Eu vi minha mãe
depois de mais de dois meses...
Ela passou para me visitar.

Ela não pôde parar;
tem pessoas que, às vezes,
ficam sem opções.

Ela sem opção de parar,
e eu sem poder abraçar

a minha mãe...


Única, insubstituível,
palavra sem rima.

Pedi que se cuide
na medida do possível,

e eu tento, como quem se afirma,
forte, tenaz,
na medida do impossível,
não me preocupar.

Lá foi minha mãe
trabalhar...

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Redução de Danos

Me importa
o morto
e o doente,
o vivo
e o inocente...

...mas enquanto,
pelo voto,
esse demente
morto-vivo
for "presidente",

o que realmente
importa
é reduzir
a taxa crescente
sem termos
que enterrar
muita gente.

É na redução
de danos
à nossa nação
que teremos
uma solução.

terça-feira, 28 de abril de 2020

Isolamento dos Astros

Como é difícil
este isolamento,
esse momento
sem o sensível
contato social.

Não impossível,
causa espanto
e no entanto
é como o lancil,
tão essencial

para bordar
a calçada da rua,
que é como, ao eclipsar,
borda de sol na lua.

Estes últimos,
astros em isolamento,
são como nós todos
neste isolado momento.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Vendas e Sendas

Vendo as emoções
num tabuleiro,
no meio da feira
cheia de tentações...

...E é nessa senda
que, corpo inteiro,
de certa maneira,
me pus a (à) venda.

domingo, 26 de abril de 2020

Num Sonho Sensual...

...Entrelaçado,
entre meios
e os meados
desses veios,

fui tragado
pelos seios
já ensejados,
sem arreios

que segurem
essa fome
que vem de ti,

num abdômen
que me come.
É... assim me vi...

sábado, 25 de abril de 2020

Marreco

Por projeto de poder
eu sou omisso,
instrumento do fascismo
para poder ascender.
Faço a MINHA lei valer
mas sou permisso,
exceto ao comunismo
que quero vencer.

Eu me deMito!
Sou juizeco,
mais um treco
da injustiça.
Eu sou mais um lixo.

Eu ainda minto.
Sou o marreco.
sim, e peco.
Da injustiça
eu sou mais um bicho.

Minha demissão
é prova de fé
que fiz de mané
toda a minha nação 
Até negociação,
pensão em troca de prêmio,
agora aqui venho
e lhes dou a minha delação.

Eu me deMito!
Sou juizeco,
mais um treco
da injustiça.
Eu sou mais um lixo.

E ainda minto.
Sou o marreco,
sim, e ainda peco.
Na injustiça
salvei mais um milico.

Eu me deMito!
Sou juizeco,
mais um treco
da injustiça.
Sou mais um lixo.

Eu sou um mico
e não te nego,
sim, ainda peco.
Da injustiça
eu sou mais um bicho.

Mico, marreco
Juizeco, não nego...
Sou!
Mico, marreco
Juizeco, não nego...
Sou!

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Sonhos sem Respostas

O que são sonhos,
afinal?

Imaginações,
delírios
ou uma forma
de portal?

Sonhos do passado,
do presente,
do futuro...
Sonhos claros
em meio ao escuro...

O que são sonhos
senão sonhos, afinal?

Reavaliações,
ponderações,
lições
e recados ao ser mortal?

O que são sonhos,
afinal?

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Sentir e Sonhar

Fecho minhas pálpebras
mas ainda enxergo
a luz e a sombra por elas.

Meus olhos não desligam
o sentido da visão
pois ainda não dormiram.

E é nessa ligação
entre corpo e mente
que se dá a relação
que é tão latente
entre os sentidos.

Enquanto acordado,
o corpo sente;
enquanto dormindo,
sonha a mente.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

História

Contos
de fadas,
de reis,
de nada,
de réis...
...contos
que conto
e encontro
de pronto
sobre
o que vi,
o que não vi,
o que vivi
e não vivi.

Assim se dá
a história,
a memória
que foi
e depois
a que virá...

...de três Brasis
um de Cabral,
outro de Pinzón,
e o último de brazol...

Três máquinas
de moer brasileiros

ao largo da memória,
ao longo história.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Tiradentes

Esqueci que era feriado...
nem lembrei do dia semana,
quiçá o dia do mês...

...até que disseram "Tiradentes",
daí lembrei dos inconfidentes,
da conspiração,
da traição
que o mártir sofrera
por ser da camada mais baixa
de sua hierarquia.

Tiradentes pode ser você,
pode ser eu,
qualquer um pode ser,

basta ser plebeu,
basta ser você,
basta ser

o que ninguém
almeja ser:

um mártir.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Enxofre

Todas as pessoas
tem suas camadas,
como as cebolas,
visíveis quando cortadas.

Vemos seus órgãos,
carnes, peles e ossos,
mas tem a mente...

...essa não é visível -
impossível -
como o sentimento
de quem sente.

Junto com o coração -
não o órgão -
lugares escuros,
mesmo sendo
a pessoa iluminada.

Talvez daí venha o enxofre,
desses lugares
escondidos,
fechados,
escuros,
onde tudo,
invariavelmente,
fica guardado.

domingo, 19 de abril de 2020

Devir

Eu tento me ouvir
e só tenho silêncio,
me sinto tão vazio...
É o que me traz frio
nesse louco devir.

Parece que
não sei mais compor.
Parece que
não sinto mais calor.
Parece que
sou um vácuo de ideias

numa vida cheia
mas já um tanto velha.

sábado, 18 de abril de 2020

Casa Limpa

A casa limpa,
esterilizada,
um brilho só,
não sobrou pó...

... exceto na minha alma
toda suja,
raivosa,
sem calma.

Sei que tem muita gente
andando pela cidade,
gente que não sente,
que não tem sanidade.

Essa gente insana
que não tem vigilância
de comportamento
ou sanitária,
gente-excremento,
gente-parasitária.

E minha casa limpa,
mas minha alma suja
de ódio,
de revolta...

Não adianta
nem bicarbonato de sódio
para limpar
minha revolta
com essa gente
parasita,
fascista
por aí, à solta.


sexta-feira, 17 de abril de 2020

Frio e Calor

Certa frieza jornalística
ainda me impressiona:
mendigos em fotografias
passando por rigoroso frio.

Sim, esfriou...

A humanidade deveria ser quente,
mas está um tanto silente,
mal podemos dizer que se sente
algum calor...

A frieza econômica
quer prevalecer
sobre a vida alheia.

A frieza política
quer favorecer a econômica,
falando em meritocracia,
sendo que nada faria
para se igualar
a quem realmente
carrega nas costas
a realidade
que poucos usufruem
e se dizem merecedores.

Não se culpou
e condenou
nada além da população.

Mas nós não somos culpáveis?
Não seríamos nós o motivo de tanta frieza?

Essa nossa aceitação desse estado de coisas
é que trouxe essa situação de sociedade afoita.

A imprensa,
a política,
a economia,
a sociedade,
são reflexos
do que se forma
na maioria de nós:

a nossa própria frieza.

Então mudemos tudo isso!

Que tenhamos mais calor
entre nós!

E que esses senhores
frios e calculistas
derretam
perante o nosso

FOGO!

quinta-feira, 16 de abril de 2020

O Cisma Atual

O cisma atual
que afeta a política - 
quase tísica - global

é o seguinte fato:
temos que escolher
continuar ou não
nesse putrefato
modelo social
que vinga a exploração.

Exploração
humana,
animal,
natural
e insana.

Exploração
sem fim,
por meio
de formatação
do que é beleza,
do que é certeza,
de você e de mim.

Mercantilismo,
que vira capitalismo,
que vira imperialismo,
mas que nunca
vira justiça
pois se preocupa
somente com finanças.

Por enquanto
é o dinheiro quem manda,
o resto obedece
e o mundo padece...

Mas e depois?

Quem manda mais
quando o dinheiro perece?

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Sobre o Pôr do Sol de Ontem

Vi o céu de fogo
num pôr-do-sol
que engolfa,
tal queima um véu,
o azul celeste.

Esse azul do céu,
mesmo se pudesse,
como água, apagar
o vermelho sufoco
deste céu de fogo
que nos tira o fôlego,
mar não seria,

porque beleza tamanha,
há tempos a natureza
não nos presenteava
com tal façanha,
assim o céu-mar compreenderia.

terça-feira, 14 de abril de 2020

Ocupar-se

Quantos já se foram?

Não sei.
Não pude manifestar
meu pobre pensar
pois ninguém falou,
então não contei.

Mas ouço as histórias
daqueles que oram,
daqueles que não oram,
daqueles que riram
e daqueles que não riram.

Antagônicos
e cacofônicos,

percebo que não se importam.


Os que se importam
não tem mais tempo,
pois já se ocupam
do que se pode fazer.

Eu, por exemplo,
poemas invento
para dar-lhes o que ler.

É primordial espairecer
para que não enlouqueça.


Não que eu esqueça
das brigas,
mas amigos e amigas,
não nos resta muito
em tempo tão pouco,

assim como não restam as pessoas...

Quantos já se foram?
Não sei.

Até tenho receio em saber
e enlouquecer.

Mas não nego a necessidade.

Gostaria que não fosse
ninguém,
menos ainda
alguém
importante
para mim, para você.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Silêncio

Agora,
quando mal ouço pessoas,
percebo o que soa
lá fora,

sem os ruídos
e vozes
atrozes
das máquinas
e suas fumaças.

Ouço os animais
e o vento
nas plantas -
o farfalhar
que tanto
era emudecido
pela vida
ensurdecedora
que não
queria conviver

com seu próprio


silêncio.

domingo, 12 de abril de 2020

Páscoa Avessa

Páscoa nesse domingo.
Todo mundo "dormindo"
enquanto escrevo.

As aspas no verbo acima
mostram o atual clima
de São Paulo, onde vivo:

não sou jesuíta,
mas vejo que parte de quem diz ser
não tem feito muito por merecer
enquanto casuísta.

Não sou jesuíta
mas me importa e respeito
a crença que guardam no peito,
sendo esta pacífica,

senão não há
motivo para dar respeito
a quem não tem.

Não sou jesuíta
porque não dependo
dele para exercer
a humanidade que sinto.

Sim, tenho mágoa
e a poesia não deságua
nestes versos.

É páscoa nesse domingo,
todo mundo está "dormindo"
enquanto os anticristos
saem por aí, bem vestidos,
exercendo a desumanidade
e a falta da cristandade.

Jesus, me perdoe,
mas não me misturo
com quem prega

a palavra no furo
de sua cruz,
ferindo tua mão.

Não tenho tanto amor
nem dou tanto perdão
para quem fere o próprio irmão.

Não sou jesuíta,
mas ainda tenho moral,
tenho noção, enquanto escriba.

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Asceta

Talvez seja pior tipo de poeta,
aquele que se mete a asceta
e não se publica
por personalidade pudica.

Mas não sei das coisas
de organização,
sei apenas da redação
das emoções afoitas

dessa vida perdida.
Seria mais dolorida
sem poesia, no entanto.
Como poeta é que me entendo.

Peco

Peco.

É pecado escrever-te
sobre escrever-me.

Um poeta não deveria
ser procedimental;
nada de bom nem de mal,
só banal se faria
e faltaria com a poesia...

..mas é ao pecar-me
ao pesar

que lhe peço,
e peco,

num pedaço de papel,
num esboço de fel
que derramo em tintas.

Eu peco.

Escrevo-me
para te escrever
que falta faz ler
a poesia de você.

Inseto

Há muito tempo achava
que era eu que habitava
essa casa.

Que era eu que limpava
e também quem sujava
essa casa.

Não me lembro, sequer pensava
que tanto tempo dentro se passara
nessa casa.

Nunca na vida estive tão caseiro,
até que notei um inseto no banheiro...
...e por dias e dias vejo o mesmo inseto.

Cada vez maior,
cada vez mais desenvolvido,
às vezes voando ao redor,
parece que virou meu amigo.

Antes era pequenino
e agora, já menino,
fica em diferentes paredes.

Já imagino
que, mesmo sem limo,
ele sacie fome e sede.

Então dei por mim,
hoje, nesse breve momento,
me veio dessa casa o intento:
aqui eu só visito,
não habito,
Essa casa, por hábito,
é deste pequeno-grande inseto.

Fila do Pão

Seria um outono típico,
daqueles com ar poluído
de palavras sujas
desse ventríloquo
que comanda seus bonecos
em plena manhã,
na fila do pão.

Mas não é.
Não é o mesmo outono
que foi no último ano.

As marionetes
não mais saem de casa
e agora o jogo parece,
apenas parece que,
mas não inverteu ainda,
só aumentou
o número de joguetes.

Quem disto sabe não é
devoto de santo vivo
pois estes somem ao perigo
de quando desaparece a fé,
assim como os jogadores
conscientes dos riscos
e dos blefes
saem da rua
e jogam em casa.

Seria um outono típico,
mas o céu está limpo,
as ruas meio vazias,
e as palavras sujas
da fila do pão...

...Pasmem!
Já não há mais fila do pão!

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Mundo Cão Velho

...e por que raios faço poema
numa hora dessas,
num momento
de cisão entre passado e futuro?

Porque, rotundo
e redundante
o mundo
se faz inconstante
e elástico;
incerto,
ainda assim estático.

O mundo repete situações
só muda sua roupa,
mas os costumes são os mesmos...

...e é muito difícil,
mas não impossível,
ensinar novos truques
ao mundo cão velho.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Beca Nova de um Mundo Velho

A história se repete?
Talvez não...

Há de se ter muito capricho
para replicar cada detalhe,
não pode deixar que falhe
nem o saco na lata de lixo.

A dita "escória" não é a mesma,
seu algoz também não...

Mas o que se repete são situações
nisso, a história se faz real farsa,
nessa antítese um tanto esparsa
que beneficia apenas os barões.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Soneto do Risco

Sair pela porta vale o risco
de vir a trazer uma doença?
Seria, tal passeio, uma sentença:
não é só a mim a quem arrisco.

Exercitemos a consciência,
vejamos nossa humanidade,
valeria mesmo tanta insistência
em voltar a velha realidade?

Tudo mudou de uma hora à outra,
nada volta a ser tal antes era.
É tolice crer nessa fantasia.

É melhor aguardar. Vai que encontra,
na sua saída, algo à sua espera...
...pode ser algo que lhe contagia.

domingo, 5 de abril de 2020

Sobre o Propósito

Comandado por genocidas
o mundo está num refluxo,
quase regurgitando a vida,
e não posso me dar ao luxo
de seguir sem comentar
que, sim, há falência
de negócio,
de caráter,
de sociedade
e de humanidade.
Devo achar poesia
quando esboço
nesse fazer
de realidade,
de felicidade,
e de mortandade.
Poesia é superar
a programada condição
e, num novo despertar,
ter consciência da missão
a desempenhar no mundo,
e não ter receio, contudo.

sábado, 4 de abril de 2020

Ignorância

Seria benção
ou maldição
a ignorância
que atinge
o rico
e o plebeu,
o cristão
e o judeu,
o ateu
e até o agnóstico,
aquele sem religião?

Há algo de tranquilo
e também macabro
em ver esse povão
se dividir
entre quem sabe
da gravidade
da atual situação
e quem vive
como se há verdade
em sua negação.

A ignorância
avança...

...mas ainda fica a questão:
para quem é benção
ou maldição?

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Chuva Matinal

A chuva matinal,
um tanto pontual,
só marcou presença
e refrescou o ambiente.

A chuva não lavou
tudo, pois ainda restou
ignorância e desavença
entre corpo e mente.

Para lavar não veio,
mas trouxe o meneio
da natureza e seus ciclos.
E vimos ativamente

o que não se via
pois, cegos pelo dia-a-dia,
sequer reparávamos
no que acontece cotidianamente.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Sal da Terra

A tentativa de um feixe de sol diário
e a lufada de vento no rosto,
as nuvens se movendo no céu solto,
azul, mutante, inigualável no páreo

entre
o que é celestial
e o que é banal.

O céu não liga para o nosso horário,
apenas é, somente o exposto,
e ao vê-lo me sinto envolto
num conforto quase etéreo

entre
o céu celestial
e o eu banal.

Pode ser num dia de clima vário -
o clima é e não é imposto -
térreo sei que afronto
se mandar no que é aéreo,

sendo
o céu celestial
e eu apenas sal

da terra.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Presente

Sim, manter a disciplina é uma arte
e muito lhe faz pensar enquanto parte
de uma situação difícil
como a presente:

O mundo parando,
o sistema colapsando,
prestes ao caos social.

Mas não é possível,
não se pode deixar de viver,
de fazer o que se tem que fazer,
a si e ao resto do pessoal.

Viver agora é uma dádiva
que exige disciplina.

E de repente,
o presente se torna presente.
Um verdadeiro presente.

terça-feira, 31 de março de 2020

Os Beatles que me desculpem

Mas é prudente estar caseiro.
E é prudente trabalhar.

A querida prudência
não sai para brincar
mesmo que num novo dia,
mesmo com seus amigos a chamar.

Pois é prudente esse momento inteiro
estar em casa para reavaliar...

...a vida,
a sociedade,
o ganha-pão,
a relação -
familiar ou não...

E é prudente ouvir música,
estudar, se informar.

Então a querida prudência
não podemos negar com veemência
pois é nesse balanço que ela conquistou seu lugar,
brincamos... e brincamos... e brincamos...
invertemos a ordem
"primeiro a obrigação, depois a diversão".

Agora a querida prudência
vem nos lembrar
do que temos que cuidar.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Viver/Sofrer

Se sofrer é algo que apavora
e viver é algo que te devora,
como pode nesse tempo
reforçar um pensamento
de que a cada momento
passa-se mais que uma hora?

E se tal hora muito se alonga?
Viver e sofrer são da milonga?
Sim, precisam um do outro,
nesse agridoce encontro
para bailar, sem desaforo,
pela noite toda que se alonga.

domingo, 29 de março de 2020

Horas

Abro os jornais e leio mazelas
aos montes...
Apenas mazelas no horizonte.

Cansado e em busca de consolo

abro olhos ao céu das belezas,
das fontes
inesgotáveis de nuvens. Conte!

Tente contar
e se perderá nos números.
Tente contar
tantos números...

...números tão ínfimos...

Ao contar nuvens, se perde as horas,
e ao contar as horas, se perde a vida.

sábado, 28 de março de 2020

Percepções de Tempos

Chegou o fim de semana,
eleito como quem emana
um alívio, veio em acordão
ao suplício de todo coração.

Mas não sei mais que dia é,
todos são iguais, não tem ré
que volte o mundo como fora,
um astro rotundo, espaço afora.

Para a humanidade tudo mudou,
o mundo de outrora, tão querido,
não é nesta hora o mais possível.

Se há humanidade, se não acabou,
a solidariedade é um bem recebido
para tornar o mau mais impossível.

sexta-feira, 27 de março de 2020

Distância e Saudade

Há a distância
que nos impede de abraçar
um ente querido.
Distante como se fosse,
entre tantas coisas,
um martírio.
A mesma inconstância
que nos afasta dos amigos
se dá nessa distância.

Mas...

...devemos encarar levemente
a doença que nos distancia,
pois nos afasta somente em corpo,
enquanto esta saudade
nos aquece em sentimento
e nos aproxima em pensamento.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Doença Colérica

Como é contagiante a cólera...
consegue ser pior que um vírus,
se espelha de maneira veloz
e deixa doente o mundo à fora.

Virulenta por natureza,
se espalha com muita destreza,
e saná-la é tarefa árdua,
necessita paciência fria e calculada.

Pode acometer qualquer idade,
basta apelar às emoções
de qualquer estrato da sociedade,
e pronto, nos colocará grilhões.

Então façamos a prevenção
e, se for preciso, a correção.

Primeiras medidas diárias:
A calma é o antídoto principal;
a música é a vacina espiritual;
conversas aliviam a dor estomacal,
desabafe, mas não contamine;
reconheça erros e peça perdão,
ajuda a curar, pelo menos,
uma mente e um coração;
preze pela solidariedade
acima de qualquer vil metal
e entenda seu papel no quadro social.

Não deixemos mais uma doença se espalhar.

quarta-feira, 25 de março de 2020

Devemos escolher: ou o Dinheiro, ou a Humanidade

O dinheiro se tornou um deus
cultuado pelos "nobres" e "plebeus",
se tornou até inquestionável
e se pensamos em viver sem
nos tornamos seres aquém
do esperado e dito possível.

Mas será mesmo isto a divindade?
Será que é, além da vida, a pura santidade?
Não precisa de religião, apenas um ensaio:
De nada adianta ter tanto dinheiro
enquanto outros estão no desespero,
pois sem o outro eu também caio.

A humanidade não é um indivíduo,
mas sim a coletividade em apoio mútuo.

Pois sem você, eu não existo.
Há também a recíproca, insisto.

terça-feira, 24 de março de 2020

Heróica

Quando você vai trabalhar
é fácil eu ficar paranóico,
mas não posso me deixar
esquecer de seu ato heróico
em meio à pandemia.

Enquanto ficamos no lar
lhe devemos a gratidão
por você desempenhar
a sua honrosa missão,
que é tão necessária.

Você, heroína, herói da nação,
na linha de frente servindo o povão,
na saúde, no abastecimento, no avião,
você merece muito mais que um refrão.
Muito mais que homenagem e saudação.

Merece uma vida nova,
todo amor possível e impossível
que só num mundo novo
pode, no fundo, ser plausível
para justificar o trabalho
que você faz e coloca o mundo velho à prova.

segunda-feira, 23 de março de 2020

Cuidemos do Próximo

Mais do que nunca,
cuidemos do próximo,
façamos o ótimo,
porque o péssimo
já nos fazem.

Se dão tiro na nuca,
a gente transforma a bala
em doce de açúcar,
o poema em fala.
Eles não sabem.

Eles não sentem.
Eles não morrem.
Eles não vivem.

Somos nós por nós,
contra os parasitas,
os exploradores,
os facínoras,
os investidores.

Somos nós por nós,
contra o dinheiro,
contra os vermes,
contra o embusteiro,
contra os germes.

Mais do que nunca,
cuidemos do próximo,
não desistamos
e façamos diferente,
se estiver doente,
abrace um plano
e não passe para frente,

peça auxílio,
alguém te ajudará,
esqueça suplício,
seja tenaz,
pois seremos também
e nós não lhe deixaremos
a deus-dará.

domingo, 22 de março de 2020

Virtude no Amor

Hoje poderia ser mais um dia de desespero
mas me lembro das palavras de um professor
que me dizia com muito esmero
que o contrário de medo é o amor.

Pois no amor se dá a coragem
uma das virtudes desse sentimento,
junto de perseverança,
temperança e
esperança.

Essas virtudes que nos atingem
acalentando qualquer sofrimento,
esquecendo a desavença,
a maledicência
e a ofensa.

Sendo o amor o contrário do medo,
nada fica para tarde, pois amamos logo cedo.

Amamos desde o dia em que nascemos.

sábado, 21 de março de 2020

Trabalhe Leve

Não se preocupe,
quem vai, uma hora volta,
não precisa que faça escolta
pois a responsabilidade
é o que cabe em cada um
e a solidariedade
é o nosso fio comum.

Mas se coce, se ocupe:
pense em como ajudar
a todos, até quem não tem lar;
use da criatividade para o mundo
e esqueça o que envaidece o ego,
pois este se torna cego
quando está imundo.

As alternativas estão para serem criadas,
é necessário dispor de energia
e não se perder dia após dia
para podermos dar cabo dessa empreitada.

Então não se preocupe mais,
quem vai, uma hora volta.
Cada um sabe do trabalho que faz
e só precisa de um carinho,
uma homenagem, matar a saudade
com o afeto de uma conversa solta.

sexta-feira, 20 de março de 2020

Zelo

Quase tudo parou
e quase nada se ouve,
pouco se entende o que houve
sendo que o que por aqui andou
entre nós pouco se enxerga.

Há ainda o que nega...

...essa pandemia de casa
essa afasia de som...

Tudo antítese
mas nada coerente em tese.

Essa loucura nos faz pensar
que quase tudo parou,
mas fica esse apelo
que não se pode deixar parar
o que você é, o que eu sou,

esse humano zelo.

quinta-feira, 19 de março de 2020

Embora

Não vá embora, amor
não vá!

É um suplício lhe pedir
que reconsidere seu partir
pois disso não é hora,
não vá embora agora,
não vá.

As ruas estão vazias,
como pode? Quem diria?
O medo está lá fora
não aqui dentro, embora
você queira trabalhar.

Não há lugar mais seguro
do que seu lar;
lá fora está tudo escuro
mesmo com o dia a iluminar.

Embora haja demora
o povo lhe implora,
não vá…

…lá fora,
não vá!

Não vá embora, amor
não vá!
Senão o povo chora, amor,
sem saber como te esperar.

Sentimentos comuns em meio a pandemia

Aqui começo um livro-projeto novo, não sobre eu ou sobre você que lê, embora seja ao mesmo tempo sobre todos nós.
Passamos por um grave momento na humanidade, com crises de diversas naturezas, sendo a principal na área sanitária mundial. Percebo que há necessidade de passar uma comunicação de alento, tranquilidade, responsabilidade, empatia, alegria e outros sentimentos comuns por meio da poesia.
O que escrevo não é somente do meu coração para fora, mas é também uma maneira de tocar o coração que sente algo semelhante pois sentimentos são universais, por mais que os tenhamos de maneira egoísta. O mesmo sentimento de dor, de paixão, de amor - escolha no rol dos sentimentos - pode te tocar e te lembrar de algo que lhe passou ou que nem passou por ti, mas passou por um ente querido, um amigo, não importa, tudo que importa é que esse sentimento tem que se comunicar, pois sentimento preso não leva a lugar algum. Se você leu algo aqui que te fez lembrar alguém, passe o poema lido para esta pessoa, talvez você a ajude a lidar com algum sentimento preso que precisa ser solto apenas pelo fato de que ela lerá e pensará "poxa, alguém me entende".

Não estou escrevendo de forma particular, estou escrevendo para ajudar, seja quem for. Se você compartilha com quem precisa, não está me ajudando a divulgar a obra, mas sim ajudando quem precisa de um poema, um apoio, um amigo, mesmo distante e desconhecido, que sente o mesmo e compartilha dessa mesma vida inconsciente de sentimentos.

Vou trabalhar para honrar o compromisso de acrescentar material, quase diariamente, até o fim desta crise sanitária, para que não falte apoio mútuo emocional. Essa troca parece pouca, mas é muito importante.

Sou muito grato pela atenção e espero lhes ajudar da melhor maneira possível.

terça-feira, 17 de março de 2020

Salve-se

Salve o seu minuto.

Salve sua vida,
como se ela dependesse não de um poema,
mas sim da poesia,
a arte que dá sentido ao poema,
aquele monte de letras e palavras
empilhadas tentando ser um edifício arquitetônico...

...mas talvez tão frio quanto um.

sexta-feira, 6 de março de 2020

Sobre a verborragia

Eu também fiz isso, mas é tudo muito decorativo. E às vezes a veia se perde na pele e o sangue se esconde sem você ver jorrar, tingir tudo de vermelho das rosas que você receberia de um grande amor num dia de sol. Que faria você esquecer a verborragia e o excesso de palavras para entender a poesia do silêncio de um beijo estalado e apaixonado.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

A Solitude Urge

Ficar sozinho é necessário.

Sem nada, apenas só.

Sem vozes, sem companhia. Só.

Um canto vazio, só.

Vazio de ar
ou qualquer coisa de familiar,
sem partículas de pó.

Não é algo de contrário;

É simples, único e só.


É reencontrar a si mesmo
e lembrar de resmas...
          ...e resmas...


                       ...e mais resmas

de pensamento a esmo.


É saber resguardar o sentimento, e só.

Nada mais que estar só,
consigo.

E conseguir sair do "comigo".

...E numa vagante plenitude

estar vacante;

distante, mas constante,

sem que se mude

a solitude

de estar só.

Somente...


...Só.