segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Penso em você quando chove

São 14:30... faltam duas horas. 14:30 e o céu está escuro, nessa cidade com incidência de raios ímpar, uma das maiores no estado, Sanca City, Sanca, São Caetano, São Caetano do Sul. Já estou vendo todo o filme, ele repassa na minha mente como já passou tantas outras vezes na vida real. O brilho fora da janela, e alguns minutos depois, o bairro inteiro sem luz, e o trabalho acaba por ser interrompido. Esqueci em casa o livro que estou lendo, e quando a luz acabar, tudo cessará. E quando as luzes acabarem, o que será de mim? O que será de você? O que será de nós? Eu sei as respostas. Sei porque é você quem apaga as luzes quando está à minha direita, sou eu quem apaga quando trocamos de lado. E sei o que será, pois onde você estiver, onde eu sentir sua pele, sentir seu toque, quando eu ouvir sua voz, ou apenas sentir a sua presença, será meu lugar nesse mundo, meu canto, onde ninguém além de você pode invadir. Os raios vão apagar a cidade, a chuva inundará onde for possível e vai lavar a alma, mas nunca vai levar sua presença na correnteza dos rios que deixam essa pequena São Caetano do Sul ilhada do resto do mundo. Essa minha ilha, ilha da minha vida só é meu lar porque moro aqui, mas junto de você qualquer lugar é uma ilha, nossa ilha, numa gostosa chuva de verão.
Já vi que os raios estão ficando mais fortes, e logo mais estarei na escuridão de Sanca City, e enquanto chover, ficarei aqui, pensando em você.

;)

O tempo passa

Deixa o tempo passar
os segundos marcados
por sessenta intervalos
num compasso,
o minuto.

O ponteiro,
certeiro, que passa em sessenta vezes
criando um minuto de passado;
de minutos cria-se horas
passadas, de horas cria-se
dias passados e segue
por semanas,
meses, anos, eras.

O tempo ensina passando
e a evolução,
queira ou não,
está sempre nos mudando.

Fica apenas o zeitgeist,
esse perdura enquanto
houver lembrança e nela
houver um certo encanto.

O tempo passa,
o zeitgeist é passado,
o passado é memória
que é besta ou notória
em formar uma história
que pode ou não
ter marcado
o tempo passado.

Deixa o tempo passar...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Coven

O congresso de bruxas cresceu
e seus fanáticos se dividiram,
às treze vagas se excederam
e o grupo em parte dissolveu,
perdeu as carnes de sacrifício
pois foram embora sem os mantos,
não deixaram sequer resquício
e absorveram todos os encantos.

A dissidência que renunciou
agora é caçada pelas malditas
purulentas, vadias e fedidas,
pois do pacto do mal se livrou
trazendo grande falta no altar
onde os rituais de ódio geram
mortes e do sangue se embebedam;
poucos conseguem se salvar.

As transformações são decrépitas,
da juventude ao corpo da cripta,
verrugas e uma precoce velhice,
das bocas saem diversas sandices,
mas quando desejam algo no mal,
elaboram mais um sangrento ritual,
percorrem florestas e cidades,
as vítimas correm mas já é tarde.

Sejam lá o que forem, velhas pagãs,
ou mulheres amantes de Satan.
Não se mede esforço para eliminar
o que acha que está a atrapalhar.
Os objetivos desse grupo vil
ao planejar adotiva Saturnália,
como fachada para abrir seu covil,
é absorver os bons em represália.

O bode de Mendes assiste à procissão
feita em homenagem à sua presença,
mas será isso uma certa desavença?
Pois sobre Baphomet não há revelação,
ninguém sabe ao certo o que ele é
nem qual o seu propósito místico,
só se sabe que é um ser metafísico,
nem se sabe se responde à uma fé.

Seres pútridos de pura maldade
transtornados e cheios de falsidade
um dia terão a sua vez.
Será fatal.
O juízo final?
Talvez...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Infante

Trabalha como um condenado
pegando pesado,
ou simplesmente
é colocado na linha de frente.
Só sabe que é um peão,
um soldado
nessa brincadeira de criança
sem comandante.

Brincadeira ou realidade,
mata a vontade;
o tempo passa
e logo não é mais criança,
mas sim adulto; num instante
o tempo voa, mas segue adiante,
seu coração ainda é infante.

Conhece a menina que te encanta,
tanto que até espanta,
e mesmo não sendo filho de rei
destinado ao reinado,
é infante num coração apaixonado,
criança num mundo sem lei
para o amor destinado.

Peão trabalhador ou não,
soldado de papel
ou herdeiro de nada,
descarte a senil razão.
Se permita saborear um mel
junto de sua amada
nessa infantil paixão.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Fina linha

Sugerem algo que talvez cure
e as mazelas lhe abandonam
por aversão ao remédio,
mas certas seqüelas, deixam
no corpo, como um tédio.

Espera que a notícia fure;
as doenças foram, mas a dor,
essa ficou, para lembrar
de um doentio amargor
que vem para assolar.

Mas não tem problema insolúvel
as vezes é melhor largar
o que não faz bem;
deixar esse nó se desatar
e cicatrizar, além

do que já foi, e não é impossível,
agora que as facetas são
jogadas ao vento,
pois são, e aqui e ali estão
ao ar livre, de um contento.

Todos querem, assim, deliberar,
nem ao menos levando
em conta que a fina linha
no horizonte pode ter acima o ar
e abaixo a água ondulando,
afogando qualquer criancinha
que não sabe onde "dá pé".
É tão simples; é o que é.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Aquele beijo eu tive que roubar...

Aquele beijo eu tive que roubar,
não pude mais esperar,
nem tive como me segurar.

O perigo estava há meses iminente.
Era sim muito urgente,
pois só assim obtive vida novamente.

Eu não podia viver sem meu coração,
há anos agarrou-o com sua mão,
então de seu beijo fui ladrão.
Nem sequer pedi sua permissão,
pois você roubou do meu peito sem perdão.

Continuo te roubando a qualquer momento,
pois você é minha ladra ao seu contento,
então por mais de mil poemas eu invento
situações para beijar sua boca, eu tento.

Finders, Keepers

Seemed to be left by no-one
and somehow by everyone.
Us two there, left alone,
the others, by now, were gone...
I'm fed up with this. I'm done.

I need to ask:
What to do when you find
it there simply unowned?
Will you choose to be blind
and keep feeling abandoned?

This is not a task,
this is all we wanted to have,
we yearned for it for a long time...

We can sing the old rhyme
"Finders, keepers;
Losers, weepers!"
Since we've found love,
they say that "Love is a crime".
Disagreeing, I say "that's not true".

We both stole each other's hearts
and for this are guilty as charged?
Let's make haste before a trial starts,
let's run away from the stupid judge,
repeating:
"Finders, keepers;
Losers, weepers!"
Singing,
gladly not to the tune of "Jeepers Creepers".

--

Agradeço à Kate McGeachie pela revisão.
Thank you! :)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Seu comichão

É, de repente, um comichão
que lhe invade,
como se precisasse
satisfazer essa coceira,
esse desejo por um beliscão
de uma realidade,
que é como se sonhasse
com algo que nunca vivera,
mas nunca passara disso...
Seria então um déjà-vu?
Essa imagem tão real
seria só um pormenor
que lhe afetou omisso?
Insight que guardou para si,
despertou como um animal
cravando as garras com ardor
vermelho que te arrebata
com tamanha força e paixão,
te confundindo os sentidos
e espremendo o mais vital
dos órgãos, que te mata
a cada aperto, um coração
de sentimentos vívidos
querendo esse amor fatal.
Um comichão de morte
te pedindo uma cura,
alguém que possa coçar
e lhe faça só o bem,
tirando fora num corte
essa coceira que dura,
assim podendo te aliviar
e te dar tudo o que tem.
Às vezes o sonho é real
e a realidade um devaneio,
ambos despertos juntos
nesse confuso comichão,
mas o amor acalma o animal,
e a coceira que lhe veio
já virou defunto;
resta à vida uma paixão.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O dia está chato?

Eu sinto tédio.
É um tédio que assola o dia,
cansando o Sol que se põe
porque cansou de iluminar
essa parte em que estou
e foi dar luz a outro lugar.

Não tem remédio
para saber se tudo isso valia
ou não a pena, ele depõe
por estar cansado disso
tudo e ver tanto descaso
desse povo submisso.

Andando no prédio,
ela percebe que talvez faria
sentido o que ele propõe;
seria uma vida sossegada,
poder sair da cidade grande
e viverem juntos em Pasárgada.

Seria rotina um mal?
Eu não vejo mal na rotina,
vejo mal no que não gosto.

Essa monotonia sem sal?
Não, a rotina que me engana
e na cadeira me recosto.

Por mais que faça algo novo,
o novo vira velho e rotineiro,
e a vida é assim, um vespeiro
velho que eu por fim renovo.

Seria a vida feita de novas
emoções velhas
e as emoções velhas
de vidas renovadas?
Tédio e rotina, que besteira.

sábado, 13 de novembro de 2010

24/7 (Esperar parte 2)

Te esperar foi inconsciente,
pois não me permitia.
Você não estava livre assim,
tinha alguém na minha frente
e era um problema para mim.
Fingia que te esquecia.

Neguei para todos em volta,
dizia que isso "passou",
o que acontecia não tinha mal,
pois escondi no meio da revolta
do vazio da vida superficial
a ausência do que levou.

Não te esqueci completamente,
tentei, mas desisti.
De alguma forma me enfeitiçou,
tomou minha alma, corpo e mente.
Do meu ser, você se apossou,
e eu não resisti.

Na sua presença a escuridão
sempre se faz clara.
Na sua ausência eu perguntava
por ti, não importava a ocasião,
pois alguma coisa faltava...
era sua beleza rara.

Pensando bem, não foi tão fácil
e inconsciente como disse.
Eu fazia questão de estar perto
e quando te encontrava era notável
que eu deixava meu peito aberto
para que você visse.

Vivia afundado nesse turbilhão.
Ver você me feria,
pois sempre estava acompanhada
e eu queria lhe segurar pela mão,
para te tornar a minha amada,
talvez um dia.

Todos me viam como um torto,
era meu jeito de fugir.
Preferia ser lúcido e decente
mas me acelerava à ser morto,
me comportava como demente
e acabava por me ferir.

Não tem como eu te explicar,
deixo que interprete.
Apenas escrevo aqui esperando
esse longo tempo todo passar,
enquanto fico te desejando
vinte e quatro por sete.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A diferença das frutas

Essa grande maçã que muitos querem
me parece fútil, me serve de nada
não é pelo fato de que todos a querem
que não me serve, apenas não espero
algo dela, é azeda e suja, mal lavada.
Apenas não me agrada, apenas não a quero.

Quero de volta uma fruta que tem aqui,
gosto mais da produção nossa, tropical.
Tem muito mais sabor, com suco delicioso
que me refresca no verão; até como caqui,
e se for algo não doce, não preciso de sal.
Talvez alguns me acusem de ser teimoso,

mas quando me pego comendo maçã, insisto
em criticar, perto de outras, não é nada,
e sim uma fruta meio sem graça e sabor,
nada como estar com a minha mão lambusada
de manga suculenta de fiapos, não resisto,
é doce na medida, e como seja lá onde for.

Mas por favor, não me dê essa grande maçã
novamente, quero ficar um bom tempo longe
dessa fruta insossa que acho bem sem graça.
Não adianta, é fruta tropical que como onde
for, sejá lá na minha casa ou em um praça,
e lhe dou um pedaço na boca, toda manhã.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

É difícil ficar longe de você

É difícil, muito difícil,
mas fico louco só de pensar,
fico ouriçado de tanto lembrar
que dias perfeitos existem.

Ter tudo que quero é impossível,
desisto, deixo que levem
o que é inútil e guardo junto
essa mulher que é meu mundo,
é meu fogo, minha água, meu chão
que ninguém pode me roubar.

Faço de tudo até um ritual
para mostrar devoção total,
trago oferendas para lhe agradar.

Mas não me olhe assim não,
quero que entenda a falta
que sinto, que vem e me mata.

É difícil ter que ir embora,
ficar longe por poucas horas,
longe de onde você mora,
longe de onde você dorme,
longe da sua presença.

É difícil ficar longe de você.

--

Deprê, né?
Não era para ser, mas saiu assim. :P
Mas... pensamento positivo!!! :)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Conversa de bar sobre desenho

A: (empolgado)
Vi aquele traço rodar na folha
gerando uma forma aqui e ali
numa linha fina de nanquim,
formando um quadril, depois um umbigo
apenas um mero detalhe de um furo.
Meu amigo, se eu puder te explicar
o que vi ali; aquele traço se tornando
palpável as minhas mãos
e tendo reações ao toque de meus dedos
aquele abdome feminino se projetando
na realidade de minha visão.
Antes de você tomar esse gole,
tá, eu sei que a cerveja vai esquentar,
mas cara, a figura ficava assim
oscilando entre o papel e o corpo
real, daquelas mulheres que caímos
de joelho, de cara no chão, é mole?
Não me diz que foi alucinógeno,
não tomei nada além de água mineral,
não comi nada demais além de arroz e feijão.


B: (um tanto descrente com o começo do papo)
Irmãozinho, deixa eu te interromper,
eu trabalho com desenho, design a anos,
e você não, é um cara de matemática e letras,
no máximo, o que te deu de resolver brincar
com tinta, lápis, papel e canetas?
Ninguém te avisou que pode ser
fatal e te levar por baixo dos panos
a outro mundo ou uma loucura?
Eu te avisei que um dia você ia pirar...


A: (indagava se B estava duvidando)
Eu me lembro, como poderia esquecer?


B: (dando de ombros)
É por isso que eu nem tento escrever.


A: (sentindo-se desdenhado)
Mas devia, é um complemento que pode ajudar.


B: (acalmando os ânimos de A)
Está bem, um dia vou tentar,
mas continue.


A:
Então, quando vi no meu traço feio,
sair aquela coxa gostosa saliente
no papel, pude perceber que algo
poderia estar errado na minha mente,
mas não consegui parar o rascunho


B: (gargalhando)
Peraê, você tá me falando de rascunho!?
Ah "bro", vá se foder!
Dá logo aqui essa bagaça que eu quero ver.


A: (irritado)
Toma a folha aê, zé-ruela!


B: (rindo)
Putz meu, como você desenha mal!
Mas eu vi potencial, me empresta?


A: (um tanto contrariado)
Me diz algo que eu não sei!
Sim, pode levar, mas é o que me resta.
Então devolva!


B: (perplexo com o drama alheio)
Como assim é o que te resta?


A: (tentando valorizar a "obra")
Você não deixou eu terminar, ouça:
Vieram as coxas, depois fiz todos os membros
e me veio esses seios na cabeça...
a hora que eles surgiram...
fiquei ouriçado, excitado,
quando me vi já desenha os lábios
os olhos, o rosto... só pintei a boca.
aí parti para o centro e desenhei a buceta.


B: (lhe invade, uma vontade de tornar próximo o que A lhe explica)
Posso arte-finalizar isso?
Faria umas correções...


A: (ficando empolgado com o interesse de B)
Deixa eu terminar, depois você
faz as suas observações.
Surgiu essa mulher em cima da mesa,
nua em pelo, perfeita.
Falando coisas no meu ouvido
e perfumada com cheiro de flor.
Era menina-mulher feita
de pele, carne e osso, de amor.
Em suma, transava como louca
e ainda mordia minha boca.


B: (rindo e pensando que A seria um bom escritor de filme pornô, e só...)
Esse teu sonho tava bom demais, hein?


A: (mostrava orgulhoso as marcas da noite)
Se fosse sonho... estou com marcas
nas costas e o melhor de tudo,
uma mordida no cotovelo.
Se não acredita, tente morder o seu!
E se ela aparecer no meio da arte,
não se esqueça que esse desenho é meu!


B: (se ria, mas olhava aquelas marcas de dentes no cotovelo de A com certa inveja)
Como você é egoísta, e ciumento!
Mas tudo bem, respeito o seu desenho.
Agora toma essa cerveja!
Eu faço a arte e você escreve.


A: (agora ria e concordava, iria escrever mais sobre isso)
Tá bom, fica assim.
Acho que serve.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Esperar é uma arte

Esperar é uma magnífica arte,
não acha? Eu acho.
Aguardar o momento certo,
certeiro da ação de sua parte.
A parte de chegar perto,
sabe? Sem relaxo.

Esperar e conhecer a pessoa,
deixar algo fluir,
sem planejar, apenas deixar.
Não se força algo que afeiçoa,
se for, há de se afeiçoar
senão, deixe partir.

Esperar nunca será planejar,
muito menos é um jogo,
nesse caso é viver sua vida
e se alguém vier a lhe parar
o coração, assim sem saída,
apenas aceite logo.

Pode estar de braços abertos,
aceitar o que é bom
e o que não é, também é esperar.
Emoções seguem caminhos espertos
que nos fazem odiar e amar.
Assim perdemos o tom.

Junto disso vem a tolerância,
que é grande amiga.
Se houver, terá boa convivência
pois tudo tem sua importância.
Se não houver, então paciência...
Não caia numa briga.

"Esperar" é um verbo, sereno
e um tanto misterioso.
Seus significados no dicionário
são vastos, mas ainda pequenos,
perto do que são no meu imaginário,
que viaja quando ocioso.

Espero sempre poder te esperar
Quando vem e quando parte,
seja lá onde, como e quando for,
não importa o quanto for demorar,
pois já tem meu amor.
Esperar você é uma arte.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

R$2,50

O anos passam, né?
Até passam rápido se deixarmos, ou passam bem devagar, naquele passo de tartaruga, lento, que dá para para planejar muitas coisas em apenas um minuto. Eu já passei anos, rápidos, vagarosos, mistos, cinzas, coloridos, pretos e brancos. E nunca deixei de acreditar na loteria. Também nunca ganhei nada, até hoje. Não, infelizmente não sou um felizardo da megasena, se fosse, provavelmente o mundo não me veria por aí, eu sumiria por uns anos, lentos, sim, por que qual é o motivo de viver correndo? Apressar a morte? Faça-me o favor... Enfim, fui premiado! ESTÚPIDOS R$2,50!!! Já dá para tomar uma Bohemia no "Sem Pescoço", fantástico, não? Eu não vou investir esses RICOS E VALIOSOS R$2,50 em mais um jogo de loteria. Vou investir em diversão. Porque eu acredito realmente em diversão, mesmo que ainda acredite em loteria; a vida é uma loteria, pô! Tem apostas que ganhamos, tem apostas que perdemos. Se eu não apostasse, provavelmente não teria aproveitado nada, teria ficado numa vida pacata, sem experiência, sem amores, sem tesão, sem emoção. Porra, não sou viciado em jogo, não considero a vida um jogo, muito menos amor, não jogo. Apenas não me seguro em certas coisas, apenas aposto, e deixo acontecer o que tiver que acontecer. A única coisa que me permito jogar é a loteria federal, onde eu aposto dinheiro, religiosamente, semanalmente, e ganhei, repito, GANHEI! R$2,50!!! MEU, É UMA CERVEJA!!! Quando você pode se dar ao luxo de falar assim "ganhei uma cerveja"? Eu não fazia idéia que R$0,50 poderiam se pagar!
Parece besta isso né? Eu sei que isso não cobre nem passagem de ônibus, muito menos de metrô, mas dá para comprar sonhos na padaria... sou idiota por sonhos. Sonho com sonhos, sonho com ela; ela é um sonho real. Quem sabe ela toma uma cerveja comigo hoje, ou come sonho da padaria...
Fico imaginando, pois se eu continuasse hesitando, não apostasse no meu instinto, talvez não estivesse com ela. Os anos, dois, passaram... perdi muitos jogos da loteria federal nesse tempo, mas estes R$2,50, significam muito para mim. No momento significam o mundo, significam que eu posso continuar jogando e talvez, TALVEZ, acertar uma quina num jogo de sena (hei, é uma graninha!!!), mas significa mais ainda, significa que eu posso continuar me arriscando em meus palpites, e acreditar em sorte. Sim, eu me apego a certos detalhes e crio simbolismos válidos apenas para mim. Acertar 11 números num jogo de Lotofácil, de repente, vira uma revolução na minha cabeça. Podem me chamar de maluco, não será a primeira vez. O legal é que eu consigo traçar paralelos entre tudo isso. A parte realmente legal é usar tudo isso como desculpa esfarrapada para tentar explicar que eu, mesmo sendo premiado apenas com R$2,50, me sinto o homem mais sortudo do mundo, e não é por causa da Lotofácil(nem para ser o prêmio cheio...), por causa de outras coisas, como achar aquele disco raro por uma bagatela de 10 reais, conseguir escapar de alguma coisa ruim, ganhar qualquer coisa boa por aí.
Eu me sinto sortudo, o homem mais sortudo do mundo, por poder ser dela e lhe dar meu amor, assim, livre. Não há megasena, loteria, aposta de casino, qualquer outra coisa que seja melhor do que estar junto dela.
E tem uma grande diferença: com ela nada é jogo, é real, é emocionante e é melhor.

--

Momento piegas: se a vida é uma loteria, tirei o prêmio máximo!
Pronto, atirem os tomates, NÃO LIGO! :P

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Cidade coroa

Eu fecho os olhos e viajo,
penso nesse calor num riacho
mas acordo dentro da cidade,
já velha em sua idade,
com sua sociedade
que reclama como idosa,
sentindo a falta de uma rosa
ou outra flor qualquer cheirosa.

Às vezes a vida tira um sarro,
pois estava imaginando dentro do carro,
parado numa praça cheia de flores,
e essas vão caindo, com dores
de uma velha sem seus amores.
Essa cidade que um dia nasceu,
veio a crescer e até floresceu,
agora só engorda, envelheceu.

Nessa praça sem riacho, sonho
dentro do meu carro, faço rascunho
destes versos sobre essa gigante
São Paulo, que é fascinante
e vive expandindo inconstante.
E mesmo velha, se maquia
se renovando a cada ceia
mesmo suja, se floreia.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Essa vida

Descobri que a vida é curta, é frágil, é ridícula e é bonita.
O problema é que ela não significa muito sem você, assim,
Sem arte, sem poesia, sem lembranças.
E se for assim vazia, não há sentido em viver,
Não há alegria que me deixe perdido sem te ver.
Se for para ficar sozinho, prefiro me perder.

Se você soubesse como muda cada coisa em mim... até irrita...
Talvez ficaria um tanto perdida comigo, pois,
Tem amor de sobra, tem esperanças.

Junto de ti descobri que
A vida é curta, frágil, ridícula e bonita.

--

Se eu chegar ao lado certo, vou agradecer Clarice pessoalmente pela ajudinha.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Não negar

Já li poemas deprimidos,
um tanto depravados,
muito contidos,
safados
e sentidos.

Dizem que um poeta deve
sentir solidão,
sentir o frio da neve,
a desilusão,
se deixar enerve.

Tiramos lições de versos,
verdades,
bobagens aos restos,
mas não é sempre
que estão corretos.

Mas a lição que aprendi
é que posso falar
do amor que me invade,
vindo clarear
meus dias até tarde.

O poetas podem errar,
todos podem,
ao reclamar
do que sofrem,
deixam o amor se negar;

eu não nego mais,
não sou mais capaz,
muito bem me faz.
Você é quem me traz,
no coração, fogo e paz.

E assim eu te chamo;
o que muitos poetas
não disseram, eu declamo
em meus poemas:
"Eu te amo."

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Adeus pontos!

Três na frente,
dois atrás,
esses pontos
pretos que conto,
presos por um
nó que se desfaz,
deixando ausente
furos um a um.
É engraçado, né?
Como esses versos
sem cabeça nem pé,
falam de furos
e geram novos muros,
mas ao ouvido
esses excessos
fazem algum sentido;
esses dois cortes
já têm cicatrizes,
nessa louca orelha
que escuta rimas
soando felizes,
outros não, por sorte
não ouvem centelhas
onde passa a lima.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Diferente de Aurel

Não quero ser seu Aurel
por isso digo "não":
Não à decepção;
Não à religião;
Não à exigência;
Não à família;
Não à vã filosofia;
Não à retórica;
Não em te tratar como Flória;
Não em te tirar o sobrenome Emília;
Não em abandonar;
Não ao que é de ruim.
Pois eu sou ao contrário,
Dessa existência eu tiro o véu:
Sim, a vida é curta;
Sim, é você que eu quero;
Sim, eu te espero;
Sim ao impulso;
Sim às cores;
Sim às flores;
Sim à luz;
Sim às pedras;
Sim aos meus infantis temores;
Sim ao que é realmente bom.
Nada de Aurel e Flória.
Nada de tropel à glória.
Nada de velhas histórias.
Tudo de lindas memórias.
Tudo de doces vitórias.
Tudo de verdades simplórias.
Que são o tudo e o nada,
onde se nada nesse todo
nessa imensidão de luz
que tanto nos seduz.

--

Reli esse agora de manhã, acho que ficou bom.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Dia corrido...

Semana corrida também.
De estresse no começo,
loucura,
neura.
Tique nervoso meu
por causa de alguém,
que me deixa feliz,
mas está tudo bem.
Já é sexta-feira,
e vou te ver!
Se toda semana
passar depressa,
talvez sobre mais
tempo para ficar
com você,
no nosso
próprio tempo.

--

É bem isso mesmo. ;)

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Máquina

Por tanto que se mexa,
essa estranha máquina,
carburando
esquentando,
explodindo,
ainda é velha,
cheia de graxa
nas galerias,
parece uma criança,
que bem que podia
ser jovem nessa malha
de excessos.
Retrocessos dessa vida
útil dessa velha
máquina estranha
que dilacera as entranhas
de seu ser,
seu hospedeiro,
seu viver,
seu viveiro.
E como segue em frente?
Como seguir em frente?
Como ir para frente?
Tem algo em mente?
Como cresceu até hoje,
sendo que a família
foi uma ilusão da infância
e uma realidade tardia?
Será que essa máquina
aguenta tanta covardia?
Desse mundo de merda
cheio de gente que
não presta?
Eu gostaria de ajudar,
eu me faço disponível
para tal.
Mesmo sendo tão perdido
e estranho nesse mal.
Se eu não me perder,
ajudo. Me ajude a
me encontrar, talvez eu
possa te ajudar a viver.
Não é uma troca de favores.
Nem compaixão, é apenas
eu,
seguindo,
vivendo
e ajudando,
nessa confusão,
essa máquina que talvez
seja um irmão meu.
Talvez seja eu.
Talvez seja seu.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ruiva

Ruiva, eu te deixo crescer.
Vermelha e um tanto louca,
enrosca até na minha boca,
eu não consigo te esquecer.

Eu te puxo para todo lado,
cuido para que fique linda,
mesmo assim não está ainda
como eu tenho te planejado.

Vai demorar um pouco mais
para te ter como eu quero.
Sem problema, assim espero,
sem desistir, isso jamais.

Pois já faz parte de mim,
não tem como eu me livrar
nem como você me escapar,
somos um só, os dois sim.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Supernova

Duas realidades diferentes se chocam,
na colisão formam um dia perfeito
que com ou sem chuva resta ao peito
a certeza que as dimensões combinam,

mesmo criando um grande e negro buraco
sugando tudo que está em sua volta,
cada corpo e mente de estado fraco,
de órbita e trajetória por aí à solta,

rodando até o fim de suas existências
nessa espiral de loucas experiências,
gostosas, sedutoras e mais humanas
que qualquer outra situação mundana.

Apenas um dia para tudo acontecer,
explodir uma estrela à assim morrer
e criar uma supernova no coração
do seu corpo belo, e antes, estelar,

trazendo luz e uma nova radiação
para que toda a galáxia possa olhar
essa dança de astros e corpos celestes
que, em torno desse universo, se repete.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Risos

Risos se soltam.
Risos, de pequenos
sorrisos amenos,
a grandes sorrisos;
com juízos se soltam,
expressando alegria
de cordões à revelia
dos nós que desatam.

Se soltam,
se ouvem,
se deixam,
se juntam.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Chuva, lava

Sinto na palma,
chuva; gelada lava,
limpa minh'alma.

Faxina

Arrumação:

Certas soluções não dependem de mim;
tive que tomar na cara,
na face,
no peito,
no pensamento,
que beber desse amargor,
pensar,
estragar,
esganar,
dizer "adeus" à dor.

O amargo passou, sobrou o doce,
sobrou o hoje,
venha o amanhã.


"Bagunça organizada":

Passou.
Chegou, o momento
livre de amarras,
de conceitos dos outros
e opiniões diferentes
que primam por
machucar
o que deveria ficar
por aí, independente
e livre!

Só o que é bom ficou.
O resto,
a
palavra
diz
tudo e nada,
é resto.

Eu jogo fora.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Telefonema

Um telefonema;
aquele esperado ansiosamente
de muito, muito longe
é feito tão surpreendente
que esquece de tudo e onde,
até os problemas.

Essa conversa,
mesmo que curta, significa
muito, muito sentimento
que até magnifica
tal pequeno rebento
que atravessa.

A recepção
pode ser boa ou péssima,
mas não atrapalha a voz
que até na milésima
deixa laçar estes nós
no coração.

As saudades
que ficam, e não somem
palavras soltas incautas,
e o que sobra é o que falta,
agora esse destino só tem
as maldades.

Se despedem
daquele jeito apaixonado,
longo, sem querer desligar
o telefone, que quer soar,
as vozes dos coitados
se desprendem.

Não há choro,
apenas a doce memória
desse pequeno tempo
juntos, andando ao sol e vento,
fazendo uma nova história
em coro.

Não há "Adeus",
mas sim um "até logo,
apenas o bem eu te rogo"
e "queria você ao meu lado
para ter me esquentado
entre os braços teus."

Ambos sorriram.
"Deixará de ser fantasia
e voltará a ser realidade;
não tenho agonia,
só me resta a saudade..."
Beijos, desligam.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Soneto da desconfiança

Se eu te tenho por merecer,
se sou sincero ao te querer,
se sou honesto em palavras,
e com você eu sempre estava,

por que desconfia de mim?
Se não fiz algo de ruim,
deveria acreditar em mim
e não me investigar assim.

Não sou nenhum criminoso
e não te devo informação
do que faço quando ocioso.

Tenho vida própria também.
Você não é a única obrigação
que diariamente me convém.

Mas que inspiração doida

Ao ler hoje em diferentes jornais que uma certa empresa adquiriu da polícia informações sigilosas de seus empregados, tive uma certa inspiração, que alguma relação com a notícia e com um fato ocorrido recentemente na minha vida, estou fazendo um rascunho aqui de algo que pode ficar interessante para colocar nesse blog, ou não. Veremos...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Soneto do poema perdido

Já perdi poemas demais.
Joguei alguns fora,
outros o fogo devora,
mais alguns deixei lá atrás.

Mas agora guardo cada um
dos que escrevo, de rascunho
até os que tem fim, empunho
até os de significado nenhum.

Os guardo por me arrepender,
não sei como pude perder
o que escrevi para você.

Mas um dia vou reescrevê-lo
no seu corpo nu em pêlo
e meu poema será você.

Megasena?

Ainda fico a esperar...
o dia em que eu ganhar a loteria;
muitos outros vou ajudar.

--

Isso me faz refletir sobre alguns assuntos... realmente, é necessário ter uma Ferrari em São Paulo?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Viola

Que arte faceira
essa brincadeira.
Criança arteira...
Seria melhor artista,
mas não dá na vista.
Adultos gostam de falar,
gostam de criticar.
Sobra ressentimento;
não tinha nada errado.
Falam de hipocrisia
e por isso, lamento.
É fácil ficar calado,
nos deixar a afasia.
Então falo para fora:
"Vocês adultos,
deixaram escapar?
O que foi embora?
Se tornaram vultos
e querem moralizar?
Que conformismo, ora!
Prefiro ser arteiro.
Fazer alguma arte,
da Lua à Marte.
E ainda vem Janeiro."

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Além

Além de tudo isso
Onde possa te sentir
Em cada fagulha quente
que venha a me ferir
É algo muito além...

Deixo de ser omisso
Só para te falar
Apenas para te contar
que por você vou
Corro muito também

Me sobra tanto rebuliço
Tanta loucura se aninha
no meu peito quero
ter você minha
Serei seu e muito além...

Mais que um sumiço
com você vou-me embora
Moro mundo afora
e com a trilha sonora
que escolhemos tão bem

Me delicio com seu riso
Te paro e tiro fotos
mesmo com a sua timidez
é mais bela que flor de Lótus
Nas suas pétalas sou refém

Juntos perdemos o juízo
Voltamos a ser crianças
revivemos nossas lembranças
com todas as esperanças
de que o fim não nos tem

É assim que falo disso
do que gosto em nós
quando estamos sós
do que vêm após
Não consigo viver sem...
Sem você
Não consigo ir além
Além de tudo isso...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Uma dorzinha nas costas, mas já achei um remédio!

De todos os compromisso e planos para ontem, depois do expediente de trabalho, consegui concretizar apenas um dos programados, fui ao ortopedista. Começou como um incômodo nas costas, e nas últimas duas semanas a o incômodo virou uma dor, difícil de agüentar, daquelas que atrapalha até o sono, pois demoro um tempo para achar uma posição confortável para dormir; não adianta, já virei o colchão, já tomei medicamento, até revi as palmilhas dos sapatos; ainda bem que me alongo, não sei como ficaria se não me esticasse um pouco pela manhã.
Peguei minha fiel magrela, coloquei o capacete e fui pedalando até o consultório, descendo em alta velocidade a íngrime Rua São Paulo, que fica na rua onde um amigo abriu um galpão. Tinha outros compromissos, mas a idéia me acometeu de súbito, "Desde Março você está prometendo visitar o galpão do cara, já está passando da hora, que tal fazer isso hoje?". Sim cérebro, você pensou certo, "Vou hoje, depois da consulta"; isso me ocorreu enquanto pedalava e recebia buzinas dos carros na hora do rush... aaaahhhh, esse respeito ao próximo que povo paulistano estressado coloca em prática... maridos correndo para chegar em casa em casa para pegar o Ricardão, esposas correndo para chegar em casa para esperar o marido que vem com marca de batom no colarinho da camisa. Enfim acorrentei minha bela magrela preta(está precisando de uns pequenos ajustes, mas não passa desse fim de semana, ok querida?) e entrei no consultório, o atendimento de sempre:
-Boa tarde. Documento e carteirinha do convênio, por favor.
-Boa tarde - abro a carteira, pego aquela carteirinha do convênio, aquele R.G., e é engraçado pois as fotos são bem diferentes, e meu cabelo está curto em uma e comprido na outra; nunca me questionaram, nem sequer olharam para a minha cara... parece assinatura em cartão de crédito, ninguém verifica.
-Siga o corredor até a sala dois, seu nome será chamado.
-Muito obrigado - impessoalidade é tudo, não?
Segui o corredor, sentei na cadeira e vi as revistas do consultório. Péssima idéia. Nada que me agrade, convenhamos, o único consultório médico que fui até hoje que tinha revistas legais, era de outro ortopedista, e eu tinha 10 anos de idade. As revistas, me lembro muito bem: Circo; Chiclete com Banana; Geraldão; Striptiras. O Dr. Evaristo era o único médico que conheci até hoje que tinha um gosto peculiar:
1- Revistas em quadrinhos com teores mais ácidos que nosso desentupidor de pia favorito, a Coca-cola;
2- Tinha elefantes indianos de porcelana AOS MONTES pelo consultório, todos virados de bunda para a porta, a explicação era que dava sorte e trazia pacientes(estranho modo de pensar, mas o cara se dá bem com o problema dos outros, e quanto mais gente com problemas, melhor para ele);
3- Ele tinha um piano de calda na sala principal, e de vez em quando ia me consultar(eu fui parar no gesso algumas vezes) chegava e ele estava tocando algo para a esposa, que figura.
Hoje me sobram algumas opções estranhas de leitura num consultório médico, então eu simplesmente dou aquela desmaiada, ou leio qualquer porcaria que estiver no bolso ou na carteira. "ERNESTO, SALA 2."
Fui me, expliquei a dor, não é muscular(antes fosse), martela joelho, pressiona a coluna(DÓI! Me desculpe o palavreado, mas PUTA QUE PARIU, como dói!), "sua postura continua boa, e seu alongamento também, mas temos que ver melhor isso...", recebi uma guia para fazer ressonância magnética e outra para comprar uns remédios. Vamos ver o que vai acontecer...
Saí do consultório pensando na ressonância magnética, "NUNCA FIZ, se for naqueles tubões, que todo mundo entra hoje em dia, vão ter que me dopar!", nesse pessamento, com cenas e tudo mais, já tinha pedalado por dois quarteirões e estava na frente do galpão do meu amigo. Bati na porta de ferro:
-Quem é?
-Helder, é o Ernesto - abriu na hora.
-Porra meu! Quanto tempo!
-Falei que vinha te visitar um dia!
Coloquei a bike para dentro e já me foi oferecida uma lata de cerveja, como negar? Ainda mais quando o cara está importando a marca que ninguém trouxe ainda? COMO NEGAR? Impossível! E vamos bebendo esse líquido sagrado, e de ótima qualidade!
-Como vão os negócios? vendo que agora tá virando de vento em popa!
-Cara, sabe como é, dá trabalho, é o dia inteiro nessa correria aqui, mas agora faço o que gosto. Bebo o que gosto, só é complicado quando estou lá na empresa - ele trabalha na mesma companhia que eu, mas em local diferente.
-Bom, isso é só uma fase ! Eu acho que temos que tirar o melhor de lá, depois fazer algo melhor, crescer sempre!
-Pois é, crescer sempre, e para melhor!
-E como está a família, todos trabalhando?
-Sim, estão sim! Todos correndo!
-E a mulherada anda dando trabalho?
-Nem me fala, sempre tem umas doidas aí, mas você sabe , depois que fica solteiro, o que vale é a variedade, ? Imagino que você esteja por aí também.
-Já estive, hoje estou mais sossegado, a gente conhece pessoas diferentes e as vezes acaba ficando bobão por uma.
-Ah... tá me zoando! Que história é essa?
-Nada não, não mudei nada, só estou ficando mais em casa, muita coisa para fazer por lá.
-Sei... e como está sua família?
-Estão todos bens, você devia aparecer lá para comer uma pizza!
Nesse meio tempo, histórias rolaram, cervejas também. Eu fico feliz em ver um amigo se dando bem na vida, ainda mais alguém esforçado como ele. Me mostrou os planos futuros, propaganda, eventos. Me abriu mais algumas latas, até chegar no que considero a cereja do bolo na experiência etílica de ontem: HIDROMEL lituano. Aquilo realmente encheu os olhos só de ver a garrafa. Fui servido, e que coisa boa, que mel. Amigos são assim, fazem questão da presença e da conversa, e no meio de tudo isso, soube como a vida dá voltas, pois você pode passar tempos sem ver um bom amigo, mas quando o encontra, sabe que ficará minutos ou horas conversando e o relacionamento não muda, e com álcool, tudo fica mais amigável.
A conversa se alongou mais um pouco, e chegada a hora de ir embora, brinquei:
-Cara, tinha uma dor nas costas me matando já faz um tempo, mas porra, essa breja e esse mel aí são remédios!
Ele ria.
-Meu, você vai subir pedalando? Você mora lá em cima!
-Bom, eu não sentindo dor, mas com uma preguiça filha da puta agora.
Entre risos nos despedimos, fizemos convites e vamos nos ver, como sempre, nas voltas que o mundo dá. Bravamente subi pedalando até minha casa.
Para dormir, foi tranqüilo.
Podia ter bebido mais, entre dor de cabeça e dor na coluna, certamente prefiro a primeira!

terça-feira, 31 de agosto de 2010

No fim, o mar

Anunciado como fim do mundo,
profundo; mar azul escuro
sem furo, sem ar, só mar.

Joga ondas fortes na costa
exposta, ainda não afoga,
se joga; bate e rebate.

Na água o sal espuma;
fuma ao ver a violência,
a eloqüência da maré sem pé.

Não será hoje nem amanhã,
não é vã; para quem sabe,
o dia abre, sem se preocupar,
nada ao mar.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Oceano no meio

Moça do norte,
poder, de novo te ver,
é doce sorte!

Casual

Impessoal,
quando precisavamos de posição;
onde seria útil a personalidade;
onde tínhamos a necessidade;
quando nos faltava a emoção.
Impessoal...

Apenas animal.

Violência em tudo que vejo

Ligo a televisão e tudo que vejo é sangue.
É desgraça em tudo que vejo,
e a mídia adora, explora, lucra,
manipula e aí vem o despejo,
passa o tempo, a notícia evapora.

Mas de quem é a culpa dessa violência?
Dizem que ela se gera sozinha;
acontece massacre na favela
nas estradas, semáforos e casas,
depois ninguém lembra dela.

Fico preocupado com o que vou deixar,
pois vale mais uma arma na mão
e um par de tênis Nike no pé
do que um pingo de educação,
não importe onde estiver.

Vamos nivelando por baixo do tapete,
escondendo a sujeira do dia-a-dia,
fazendo de conta que não existe,
mas o jeitinho é a velha mania
e nosso problema persiste.

Que será da próxima geração brasileira?
Será honra tomar o que é dos outros,
como se rouba uma fruta na feira?
Será que esforço é coisa para poucos,
e o resto ficará apenas na espreita?

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

20%

20% de humidade no ar e a vontade de anunciar
o Apocalipse, fim dos dias. Mas não será assim,
nem mesmo queria esperar por horrível fim,
Ainda estamos em peixes, e solares feixes.

20% de nada para mim e para você, para todos.
80% desse vazio escuro que não se ilumina,
nem para mostrar a irrelevância de nossos votos
para com essa nossa Terra, pobre menina.

Coitado desse planeta raro que vive discutido
entre meios de idiotas parasitas inúteis
que não tem solução e vivem comedidos.

Essa metazoa vai chegar a falência múltipla
por meio de nossas personalidades fúteis,
sem observar qual gota será a última.

--

Na boa, não era para sair algo assim. Da próxima vez tento algo mais leve. Espero que chova logo.

domingo, 22 de agosto de 2010

Depois de algumas doses...

Me senti um tanto cosmopolita
e um tanto inspirado como Vinicius;
aproveitando cada detalhe da vista
e bebendo, o que não é um sacrifício.

Mas ao invés de passar a tarde em Itapuã,
estou comendo em Rosslyn, perto da capela;
até abri o guia, não sei onde vou amanhã,
mas será "por aí", na companhia dela.

Volto à Edimburgo meio embriagado
pensando já em clãs e seus tartans...
como me aconselhou, tenho aproveitado.

Sem ser em Itapuã acho novas tardes
e como outros lugares, guardo memórias
quando eu voltar à terra das felicidades.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Vital

Animal fatal,
tal qual
metal;
punhal letal.
Mal abismal,
brutal.
Viral!
Desleal.
Infernal banal, cal.

Sinal primordial;
sal umbral.
Fetal...
...rural, virginal.
Celestial fenomenal
diferencial;
local memorial.
Leal, divinal.
Imortal!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

No more self-harm

While drinking, you speak to me
of failed relationships
and how brave you stand.

And while getting boozed, I see
that you need some sleep;
I try not to offend.

But you say about self-harm,
making cuts in your arm,
nailing yourself to feel
pain and smell the dew

I really don't support it;
maybe you should quit,
after all your altruism
you just wanna feel a spasm

Boy, I won't judge you,
but that's the easy way out;
maybe you'll regret it,

'Cause life has it's own curfew
and you can spend it without
this pain. Just forget it.

You waste now some precious time
and then tomorrow you're gone...
and of all things, what have you done
besides some bruises and mistime?

What about starting to care
more on what you can do apart?
To hurt your flesh isn't fair
with the effort of your art.

You've told me that depression
inspires you to paint
and gives you a true feeling.

But I disagree, without misconception,
happiness in life can't
be silliness, is too inspiring.

So please, give yourself a try;
you're even allowed to cry.
As a human being, you have emotions,
don't control them, just your motions.

As a son of something bigger,
you can be a lot better.
Have some peace in your heart,
make someone happy with your art.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Frio

Hoje não quero trabalhar
Não quero fazer nada
estou assim já fazem 4 dias
e ontem só piorei
desanimado
que é uma porcaria
nem me mexi e já cansei
não agüento nem olhar
para aonde vou hoje
só quero ser um nada
para que não me falem hoje
machucado
por quem me usou
e por ser sincero
acabei por magoar
alguém que gosto
e agora, tonto, espero
tentar consertar
esse coração que quebrou
com o meu não me importo
e ainda faltam
horas para sair daqui
para ser livre
para ficar sozinho
nessa cidade de muitos
e poucos conhecidos
onde vislumbre
um lugar longe daqui
onde não me faltam
motivos e caminhos
que não são poucos
mas sim muitos
e talvez me levem
aonde devo ir
para desculpas pedir
aos seus pés
ao invés
de amargar aqui
nesses minutos
muitos
nessa cadeira
sentado a espreita
de inimigos dentro
desse local maldito
a longa espera da hora
de dizer tchau
de ir embora
esse tempo finito
com força enfrento
e com cara de pau
eu agüento
não quero trabalhar hoje
nem amanhã
só quero te ver
e me arrepender
mas a distância
me impede
e o cotidiano
me torna mais um mediano
trazendo
o que meu coração pede
não posso atender
nem de pronto
não sigo mais sonhos
nem adultos
nem de infância
estou me remoendo
por não poder
agora estar aí
deitado
ao seu lado
então lembro de nós,
os dois risonhos
caminhando na praia
ainda adultos
mas adolescentes
eu tirando sua roupa
nossas carícias indecentes
no corredor do hotel
o eco sensual da sua voz
os beijos que te dei
até na sua tatuagem
cheia de simbolismo
melhor que qualquer misticismo
esbanjando inteligência
não consigo pensar em outra
só você, com veemência
e o que sinto
é muito grande para
escrever nesse papel
cobre o céu
e agora não minto
assim como não menti
consenti
te falei sempre verdades
e também falei sacanagem
me sinto um lixo
e ainda falta tempo
não consigo trabalhar
não consigo parar
de pensar
e ainda falta tempo
até eu viajar
para te ver
e assim me espicho
suspiro e esse aperto
não some
nem o gosto doce
do seus beijos
tenho fome
desejo
sou imperfeito
mas não quero,
nunca vou te esquecer
e minha idade
corre avante
me deixa com saudade
é bastante
demorei tanto para sentir
aperto tão bom assim
e fui logo te ferir
sem início, meio e fim
tardei em ser romântico
nessa vida
perdi a prática do cântico
e esse dia não acaba
a hora não passa
eu trabalho para a vida
minha vida é trabalhar
e escrever
não fiz por merecer
ficou em segundo lugar
assim como no seu coração
nem ao menos devo estar.
Vontade de fazer nada.
Absolutamente, nada.

--

Já faz um tempo que escrevi este, dei uma olhada ontem e lá estava perdido, resolvi soltar antes que eu altere alguma coisa; é melhor assim.

domingo, 18 de julho de 2010

Moelleux

Esse Moelleux...
Rouge e doce.

Dionísio não me acompanha
nem no Tennessee,
muito menos na polonesa;
prefere um fermentado
sem trigo, sem cevada.

Esse Moelleux...
Doce e rouge.

Não amarrou com o morango;
no balanço até combinou
mas não como em I Modi;
no que me sinto Baco,
me falta minha Ariadne.

Com esse Moelleux...
Sinto falta de Chianti.

Anno 2006, me embriaga,
mas muito mais me agrada;
o connoiseur torce o nariz,
mas ninguém se importa;
no fim, é sempre festivo.

Como persiste
esse Moelleux...

Mas é fraco como Dionísio
cuspindo a bile de seu fígado.
Eterna criança risonha,
cheia de malícia e álcool.
Penso: nunca aprenderá...

--

Chega beber vinho por hoje, vou tomar um JD para balancear.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Insônia em Copa

Perdido nesse quarto de hotel
vendo a noite calma passar
tirei o relógio e até o anel
debruço na janela para olhar
Copacabana maravilhosa
e sua maré alta toda teimosa
eu ouço as ondas e nada mais
faz a mente voar lá para trás

Eu me deito sentindo a brisa
me sinto só na cama de casal
sua lembrança me aterroriza
nem essa solidão me faz tão mal
na televisão passa filme ruim
nem andar na areia põe um fim
no devaneio dessa insônia
lábio escarlate de begônia.

--

Tentando métricas diferentes, os resultados tem sido interessantes.

terça-feira, 6 de julho de 2010

"Aborrescente"

Adolescente adora fazer caso...
Prazo e uma boba paixonite,
soma-se as doenças e rinite.
Ah... o descaso efervescente.

Para que sofrer sem necessidade
nessa idade tão nova?
Ainda nem levou uma sova...
tem muito para se viver.

Não adianta sequer explicar,
teimoso não quer ouvir,
e ninguém pode decidir.
Até para reclamar ele canta.

Essa faixa etária enlouquece
pais, adultos e professores,
faltam-lhe paz e sabores.
E não esquece a pituitária!

Até tem estresse hormonal!
Vontade de esmurrar.
Necessidade de rebelar
contra o mal que lhe aquece.

Educadores colocam limites.
Pretende uma revolução,
ganhar uma nova emoção,
até que cogite novos amores.

A vida é um negócio chato,
todos querem lhe mandar,
é pior se não quiser acatar,
então, como "adulto", ele lida.

Não demora muito para passar.
Logo terá carro e independência.
Ninguém lhe tirará a paciência,
"É bom sonhar", então comemora.

--

Vida difícil, hein? hehehehehe

sábado, 3 de julho de 2010

Briga e carmesim

Tudo começa assim,
aos gritos,
aos berros,
xingando,
quebrando copos,
jogando pratos.

Essa não terá fim,
não será bom,
as malas,
abertas,
as roupas,
amassadas.

Pensamento ruim,
e segue fora
de hora e tom,
o tapa,
a marca,
a súplica.

Vira aquele motim,
sem perdão,
não merecia,
pensa
em execução,
pega a arma.

Aponta para ele enfim,
apavora,
grita e berra,
aperta,
esgana,
dá o clique.

Bala de festim!?
Revolta,
ele bate,
ela revida,
uma coronhada,
um beijo.

Escorre o carmesim,
roupas rasgadas,
amor quente,
na mesa,
no chão,
só paixão.

--

Casal estranho, não?

sexta-feira, 2 de julho de 2010

2010...

É... repetéco de 2006...
Agora só me resta torcer para o Timão no brasileirão.

Essa vida de sofredor tá foda.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Ele sobreviveu

Gregório está na cama do hospital, nem parece que já se passaram três dias, ou seriam quatro? Ele já não tem certeza, nem de quanto tempo passou, nem de quanto tempo ficará ainda, mas o pior já passou. Na fila do transplante por mais de três anos, de repente esses três, ou quatro dias, deixam de parecer uma eternidade, comparados aos anos de espera, mas mesmo com livros, televisão, comida, pessoas cuidando de sua saúde, esses poucos dias ainda incomodam, parecem um longo tempo. Talvez o tempo não seja comparável, não seja realmente contabilizado da maneira correta, tão estranho, ele pensa. Sessenta e dois anos... meia-dúzia e depois o dois, que diabos! Passou tão rápido, era tão fácil quarenta anos atrás...
Na verdade ele sente melancolia, pois lembra do irmão. Sente saudades dos tempos áureos, como diria o Ricardo, “tempos malucos, Gório, maluquices sem fim...”
Nunca mais viu Ricardo, ele virou a cara para todos nós, pensou. Passou a mão pela cabeça, ainda sentia aquela tontura, talvez o sangue não estivesse irrigando a cabeça direito, talvez seja efeito dessa alimentação controlada, essas horas uma cervejinha iria bem, só para dar uma inebriada no sentimento, na verdade queria mesmo era uma garrafa de whiskey, serve até cachaça! NÃO! Está sóbrio já faz dez anos, e se não fosse por isso, estaria enterrado ao lado de Daniel. Quando tudo isso começou? Mal se lembra, realmente foram tempos muito loucos, ainda mais quando conheceu Geraldo, Felipe e o resto dos Mortos, nós da Ampulheta ainda éramos novos no meio e nem tínhamos idéia do que existia de doideira nesse mundo. Foi um pouco antes disso, foi quando Daniel me presenteou com aquele órgão... Hammond-B3... paixão de infância, eu ficava tentando tocar num desses que tinha no bar perto de casa. Uma lembrança muito engraçada surge desse dia, ele chegando na casa que Daniel dividia com Ricardo e o resto da trupe, Cláudio, Jaime e Bruno. Violão nas costas e uma pequena mala na mão.
“Gório! Você veio mesmo! Pessoal era justamente dele que eu estava falando ontem. Meu irmão, Gregório. Ele vai canta.” Daniel realmente botava fé, acreditava em mim, Jaime e Bruno olharam com aquela cara de que tudo estava bem, e lógico estavam sedentos para fazer um som. Apenas Cláudio e Ricardo questionaram “Ele sabe cantar mesmo?”, Daniel já foi mandando, “Gório, canta aquele blues do Son House aê, Grinnin’ In Your Face! Mostra pra eles o fazíamos lá na nossa cidade!”
Eu soltei a garganta, era o que eu sabia fazer de verdade, o violão só me ajudava a compor e fazer um andamento, quem tinha a prática era o Daniel, ele era o apaixonado pelas cordas, e eu pelas teclas. Abriu um sorriso para esta lembrança. Sentia-se feliz, e afortunado por ter participado de algo tão grande. Lembra daquele dia, com gosto, ainda mais pelo presente, Daniel o chamou para a sala de ensaio e falou “Para você entrar na banda, só tem uma condição a cumprir agora, aprende a tocar aquela porra ali!”, Daniel ria, quase ao ponto de se mijar, teve que ir ao banheiro, Gregório lembra da risada do irmão, em tom de desafio, mas ele estava rindo demais por ver o irmão mais novo chorando de alegria, parecia criança quando ganhava uma bicicleta, levando em conta que na década de 60, uma bicicleta era para poucos, assim como um Hammond-B3 de madeira, aliás, é para poucos até hoje. Daniel voltava do banheiro, Jaime e Bruno entraram na sala riram junto, e o último estendeu a mão “Júnior, levanta aê! O lance é o seguinte, pega esse livro aqui, e destrincha, você tem dois dias para aprender alguma coisa, esse fim de semana não terá ensaio, precisamos trabalhar, ok?”, Jaime batia nas costas do novo membro, gargalhando, e dizia que “Tudo vai ficar bem, você vai dar conta. Daniel disse que você tem umas composições, por que não passa para a tecladeira?”, “Vou tentar, dois dias né?”. Ricardo entra na sala, “Dois dias, e dois baseados, presentinho para você, seja bem vindo de volta ao sul! Mas estude antes hein!”, todos riam, até o Cláudio encostado na porta.
“Foi assim que começamos, foi assim que comecei.”
A doença veio a ele devido aos anos desregrados, mas ele não se arrepende disso, pode se arrepender de outras coisas, mas não dos momentos divertidos, do começo de tudo.
“Gório! Como está meu querido? Esse repouso está um saco né?”
A voz de Felipe, Deus, quanto tempo não o via, já fazia mais de um ano! Felipe é companheiro de longa data, daqueles tempos loucos de verdade. Oito anos mais velho, e passou pela mesma operação doze anos atrás, transplante de fígado, Hepatite C. Hoje ele faz campanha sobre doação de órgãos, doze anos após o transplante, está inteiro. “E aí, está pronto para tomar umas geladas? Trouxe umas latas aqui para você e...”, Gório arregalou os olhos “...calma é brincadeira!”, levanta uma garrafa térmica. “O médico disse que chá era permitido, garanto que este aqui vai te fazer viajar longe! BRINCADEIRINHA!!!”, sempre o piadista, as drogas ficaram para trás já há muito tempo, ambos são sobreviventes da época do Amor Livre, Natureza, Paz, Música e Revolução. “É erva mate, meu amigo.”
Coçando a barba, balbucia umas palavras “Pô Felipe...”
“O que foi meu?”, olha para Gório, enquanto serve chá na caneca.
“Você é foda hein! Cada brincadeira! Não posso ficar dando muita risada, porque eu sinto puxar esses pontos de merda!”, Gório ri leve, para descarregar a tensão, “Dê-me esse chá, por favor.”
“Ahhhh... o sulista aprendeu a ser educado com o tempo hein! Está até falando “por favor”! Tudo bem, entendo a situação.”, Felipe lembra de todos ao seu lado, tanto no transplante, quanto no câncer de próstata, oito anos depois, azar, MUITO AZAR, pensa, mas a sorte bateu de novo na porta e lhe concedeu mais um tempo, e ele está aproveitando bem, não aparenta setenta anos. “Lembro de vocês todos me visitando, até os moleques, como estão?”
“Estão bem, vieram me visitar já. Aparecem todos os dias.”, pensa como é bom conversar com um amigo vivo daquela época. “E a família como vai? E a OUTRA família?”
“Estamos todos bens, ainda bem, mandaram desejos de melhores e virão te visitar depois. A OUTRA família está bem, o Roberto e o William me disseram que já passaram aqui, e o Michel vai dar um pulo aqui amanhã. Vamos nos juntar para uma temporada, sabe como é, né?”, Felipe faz uma cara feliz, mas triste ao mesmo tempo.
“O Geraldo faz falta na banda né? É como o Daniel, os dois eram meio que guias espirituais... o que será que acontece com esses guitarristas?”, ri leve, pois lembra das duas bandas tocando juntas perdidas em qualquer canto do país.
“Ele faz falta sim, o Ronaldo também, cara acho que todos que já se foram fazem falta... o Bruno era um que vocês adoravam e se foi um ano depois do Daniel, e quase no mesmo lugar... eles eram família.”
“Pois é... mas o Geraldo e o Daniel realmente sabiam como mover, nos levar para a frente. Se não fosse pelo Ricardo, eu teria parado lá mesmo, teria feito o mesmo que vocês, terminado a banda e faria algo sozinho...”, mas foi melhor assim, pensou.
Felipe ria, “Desculpe-me, mas você lembra daquela noite que o Geraldo ficou alucinado e não parou de solar e de repente o Daniel se juntou e os dois ficaram numa conversa muito doida? Aquilo foi mágico, e era engraçado pois eles pareciam crianças...”
Realmente tinha sido uma noite mágica, praticamente três bandas no mesmo palco dando o melhor de si num bis de quase uma hora. “Rapaz, éramos para esquecer aquela noite, depois de tanta porcaria no camarim! Mas não dá, foi mágico! A banda do Pedro subia junto, quando vimos tinha cerca de dezesseis ou dezessete pessoas mandando um improviso!”, nunca mais se repetiu... “Nunca mais aconteceu... o Pedro enlouqueceu logo depois disso né... mas que momento! Guardemos as coisas boas, de ruim que fique só as saudades!”, Gregório não escondia o sorriso, contente por ter participado daquela noite, contente por tudo que teve.
Felipe concordou e acrescentou “Vamos, beba esse chá, branquelo! Daqui a pouco chegam as suas bolachas de papagaio.”
O tempo passou, e memórias encheram aquele quarto de hospital, coloridas, alucinógenas, piadas, coisas boas da vida, ambos sabem o quanto foram bem afortunados, o quanto se passou até estarem onde estão. Ainda não é hora de acabar.
“Está no fim do horário de visita, tenho que ir”, fechava a garrafa, “mas volto amanhã, trago algum livro para você?”
Gório pensou, não sabia o que ler, ficou na indecisão, e por fim decidiu “Me traga uma escaleta, um caderno e uma caneta, ainda posso assoprar. E me faz mais um favor, me traga a nova edição do Batman, quero ler qualquer coisa, com figuras, livros eu posso ler em casa, lá as paredes não são brancas.”, Felipe riu junto.
“Tudo bem, amanhã eu trago! Durma bem. E para você tem uma surpresa aí na gaveta do criado mudo. Tchau!” saiu rápido como se tivesse algum compromisso.
“Surpresa!?” Abriu a gaveta e viu, não poderia ser, maconha? Ele bolou um baseado? O filho da mãe trouxe maconha para o hospital? Só pode estar de brincadeira! Cheirou o cigarro, mas não tinha cheiro de maconha, pelo contrário, ele sempre falou que a comida de hospital era ruim e sem graça, ainda mais bolachas água-e-sal... é um cigarro de chocolate. Gregório ri, sente dor, mas ri mesmo assim... “sempre o brincalhão... esse não tem jeito...”. Mastiga o chocolate, e se acalma do riso. Amanhã é outro dia, mais um dia, ainda bem.

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Gregg Allman, um dos músicos que mais admiro, passou por um transplante de fígado recentemente. Decidi fazer esse pequeno conto/crônica, sobre ele como paciente em recuperação, conversando com Phil Lesh(outro ótimo músico, que passou também por transplante de fígado) sobre os bons tempos, onde a Allman Brothers Band se juntava com o Grateful Dead e até o Fleetwood Mac no mesmo palco, mandando jams em shows de mais de três horas de duração. E lógico, uma pequena piada com os famosos "cigarros de chocolate", que eu comprava quando criança.
Aqui está o link com a notícia: http://kissfm.com.br/noticias/gregg-allman-passa-por-transplante-de-figado/

Que músicos como ele e seus amigos vivam por muito mais tempo.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

De repente

Papel, caneta e violão.
Canção escrita agora,
fora com essa careta,
não é cordel do sertão,
um pouco mais demora.

Dedilha aquele acorde
ouvindo o doce som.
Até chama uma matilha
que ladra mas não morde,
vindo só cão do bom.

Logo a tinta foi vazar...
Um borrão no esboço,
é osso, duro de roer!
Essa carne de pescoço
que não posso marcar.

Era para começar em Dó.
Tentei, mas não deu pé.
A harmonia ainda é pó,
cantei a nova melodia.
Mudei, vai ficar em Ré.

No bater da minha bota
sigo um novo compasso.
Late um cão ao meu lado
que desata o meu cadarço,
enquanto canto outra nota.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Cuidado com a foto

Vá lá comprar
aquele elástico,
porque vai precisar
prender esse plástico.
Uma, duas voltas,
a terceira não dá,
o maldito estoura.

Então pegue um
daqueles barbantes.
Dê voltas e faça
um nó num
breve instante.
Que fique apertado
e nunca desatado.

Agora esse canudo
está preso direito?
Não causará efeito
aquela foto em desnudo.
Mas e se a verem?
Trate de ficar mudo,
ela não pode saber.

E todos que a viram
ficaram fascinados.
Quando ela passear,
ficará ressabiado.
E outros assobiam...
Quem mandou errar?
Então tome cuidado.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ao Sr. José

Meus heróis estão morrendo
um por vez
caindo
cedendo
desistindo
nessa insensatez

E lá se vai o grande humanista
sempre cético
comunista
escriba ibérico
dos ateus
sempre sem deus

E isso nunca importou
apenas para a igreja
irrelevante
só almejou
mas adiante
nunca festeja

E mesmo sem fé divina
ele acreditou
em liberdades
e relatou
na mais fina
de todas as verdades

Ele fará parte da lista
dos heróis
literários
sempre feroz
cronista
humanitário

Sempre terá respeito
da memória
nada apago
nada desfeito
na história
do gênio Saramago.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Faltam-me dedos!

Ser bom só me trouxe problemas; resolvi, depois de alguns anos sendo o filho da puta, insensível e cafajeste da turma(palavras de meus amigos, não minhas, pois eu me considerava uma pessoa livre, apenas), me tornar uma pessoa decente, parar com as loucuras e exageros, ficar mais em casa com a família, ser mais responsável, trabalhar melhor, etc... mas a vida ficou um saco. E decepções atrás de decepções só pude concluir que o bonzinho é quem sempre se fode, acaba ficando para trás e, no fim, assim como eu, acaba amargo, possesso, e puto com tudo nessa vida.
Não me leve a mal, mas ser o cara bom só me trouxe decepções, e por mais que não queira, ainda sou bonzinho as vezes, e continuo me arrependendo disso, e o pior é que comecei a contar com os dedos das mãos, dos pés... faltam-me dedos! Bom, quase, ainda me sobra o dedo-médio, aquele que vou levantar com o punho em riste, voltado à face de quem merece, para dizer com todas as letras, sílabas e fonemas: "VÁ TOMAR NO MEIO DO SEU CU!"
Aí posso ficar sossegado, porque todo mundo tem que ser sincero, e estarei sendo, com qualquer um.
Depois de duas semanas completamente cheias de coisas que não gostaria que tivessem acontecido, resolvi parar de discutir, de ajudar, de me importar. Lembrei o que é viver para mim.
E te digo, meu caro, é muito bom estar de volta!

Solidão finita

Demorou, cerca de dois, ou três anos para dar chance ao coração, não sabia como, nem por onde começar, não sabia. Uma coisa sabia, sem falta, sem erro, sem desculpas, deveria haver sinceridade de sua parte, como sempre houve, nos casos e descasos que houveram, "não quero compromisso", deixava explícito logo no começo, evitava se apegar a motivos distantes, ainda mais quando distância era um motivo grande e longo (era por este e outros, que o último relacionamento acabara) e maldito. Antes havia decidido se deixar levar, não se prender, e de súbito em um mês, após tanto tempo de loucura, bebedeira, amizades, sexo por sexo, amor sem amor, embriaguez mental e emocional, a realidade lhe bateu na face, como um tapa, daqueles que deixam as marcas dos dedos nas bochechas, e era dolorosa, uma verdade doída lhe atingia colérica em seu peito: estava só.
Para desvencilhar deste sentimento, resolveu sair, passear ao pouco de luz do Sol que lhe é permitido num dia de inverno. Frio inverno. Talvez seja pior que o inferno, mais danoso e mais sofrível que qualquer um dos nove círculos que Dante percorreu, muito dantes de hoje percorrer pelas ruas qualquer reles mortal colocando em prática cada pecado. E assim é este inverno infernal por onde tenta passear e pensar algo fora da esfera da solidão. Mas há o bombardeio, figuras e imagens de casais felizes, chocolates, roupas, jóias e diversos presentes para namorado e namorada, casados inclusos, pois nunca deixaram de namorar, apenas os infelizes e os conformados. E isso lhe atormenta, traz lembrança de quem amou, de quem se foi, e a data de Doze de Junho está próxima, para lhe atormentar mais significativamente. O amor virou consumismo, virou babaquice e banalidade, aquela idiotice que todos pensam que vai salvar a vida do universo, evitar desastres e guerras, e trará paz, no entanto traz ciúme, traz saudade e traz até solidão. O amor é uma faca de dois gumes, pronta para cortar qualquer sentimento bom e qualquer sentimento ruim. Será que vale a pena todo esse sofrer?
Decide voltar para casa, e voltar para o que não pode trair, e assim volta. De mente refeita de que essa solidão vai passar, com companhia ou não, passará.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Deslizes

Duas vezes eu tive como
E nas duas eu escorreguei
Poderia dizer mil desculpas
Mas ainda morreria de culpa

Vejo dois patinhos na lagoa
e me odeio, não é a toa
Ódio a quem outros magoa
Matei os dois em um tiro

E daqui, idiota eu retomo
desse ponto cego onde errei
lembro dessa maldita distância
e de uma louca discrepância

Mas são elementos semelhantes
com seus movimentos vacilantes
e seus traços fortes e importantes
Distante de vocês me retiro.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Painting you

I - Remembrance

I have a portrait
in my living room.
I held it with faith,
and now flowers bloom.
So soon came the spring.

I wished it was a kind
of a Dorian Gray,
but it always comes in mind,
your face didn't fade away
since the time I saw you sing.

I have been told
to sell this painting,
but it never gets old.
Stills fresh and saying
words that make us cling.

Sitting beside the pond
to feed the birds,
my mind flies beyond,
while I throw pieces of bread
out of this bag I bring.


II - Heathen

In ancient times
of darkened skyes,
I've written rhymes
without lies,
about fortune
and about bad luck.
Singing a tune
while feeding a duck.

One of those
was about your hair,
Red as fire
which consumes the air,
while your attire
was left on the floor
and you posed
for me, naked at the door.

I had to paint
you in a canvas blank,
lifeless and pure.
Beauty that still allure,
far from a saint,
say words, likes to prank.
I've lost my mind,
left all the colors behind.

The only one left
between our bodies is red.
Your braids in pair,
just turned in fiery waves.
You moved oh so deft.
Loose, your phoenix feathered
hair lashed me fair.
For my flesh a nail craves.

I kissed your scarlet
lips like an apple forbidden.
Felt your theet on my shoulder.
My body you claim, be holder.
By me your deep feelings
are strongly ridden.
And of all my paintings
you're my magnum opus yet.

And you walked around
showing you pretty thighs,
making me cross any bound.
You loved to hear our sighs
when you gave us your back.
It was easy to follow your track
and hard to know when you'd talk.
For no one you'd stop your walk.

Your figure on nude
would inspire every suicidal
to stay alive on your breast,
lay on your womb on the last breath,
say words of savage love and death,
And into peace die at last.
I rather live for your memorial,
as everyone should.


III - Rest

Now I wait for my hour
patiently, to see you again.
And the wine now taste sour.
Maybe it will all end in pain.
I have hallucinations,
feel your hot breath in my nape.
Of all the expectations,
I see your hands, I see grapes.

Death touched you by request,
in your fatal mix.
Now I feel the cold in my chest
and I count to six,
Couldn't make to ten.
I see you calling me, pulling my arm.
Suddenly appears a new place, a farm.
And finally I drop my pen.

--

Tentando algo diferente.
Por favor, me avise se você algum erro, ok?
Obrigado! :)

-

Trying something different.
Please tell me if you find any mistake, ok?
Thanks! :)