segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
sexta-feira, 9 de dezembro de 2016
Mal das pernas...
de desequlíbrio total -
mental e físico -
nos atinge fatal
e caímos num tropeção...
...daqueles de se esborrachar no chão.
Tudo porque o mal das pernas
faz com que se caia das cadeiras.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2016
Bravatas Sindicais
que me toma o estômago e o sossego,
como uma buzina no meio da noite,
aquela dor aguda do papel e seu corte,
como vejo uma grande opulenta côrte
de vil hienas de mil revezes e sortes...
Gostaria de não ter tanto desprezo
por quem nos trouxe tal desassossego
e me fez voltar ao poema político,
do qual me afastei de seus trópicos
onde analiso o mental e nosso físico
momento de discussões caóticas
e opiniões inflamadas e oníricas.
Gostaria de ser cego,
não ter ego,
não ter apego...
...mas não aguento mais
tanto pelego...
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
Déjà-Vu à lá Temer
quinta-feira, 1 de dezembro de 2016
Distúrbio de Linguagem
como se estivesse
num pesadelo.
Ouço um passarinho
cantando benesses
para quem quer vê-lo
no meio da madrugada
de vontades aladas,
entremeadas no fim
dum holocausto
de mim.
Eu bebo, fumo,
me entorpeço
os pedaços da mente,
mas me é latente
não pereço.
Por isso, embrigado,
escrevo -
meio que abestalhado
me atrevo:
teço essa má poesia
num tecido de afasia.
terça-feira, 22 de novembro de 2016
Vilipendiado
o leviatã com asia
faz sua demolição
deixando a casa vazia
para a população
de sangue trabalhador desavisado,
desabrigado e esquecido.
E o comodismo tem sido
nossa maior praga
na atual realidade
que não se apaga
com a luz da verdade,
no escuro também ataca
o trabalhador já desvalido.
Se praguejar e manisfestar
resolvessem de imediato
o gás que se exala no ar,
não teríamos lacrimejantes
surrados e violentados em atos
desse ideial de paz
que queremos garantir.
A democracia é um ás
de baralho neste jogo vil,
este carteado de azar
que insistimos em jogar,
ao invés de virar a mesa.
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
Abstinência
com meus vícios
percebo resquícios
de problemas tão raros
que, há muito, são esquecidos.
Sei que me cobram caro
e ouço aos suplícios
de um automartírio
querido, mas indesejado,
nos tempos sabidos finitos.
Me dizem para me deixar,
inconsequentemente,
aliviar o que assola a mente.
Será que sei ainda me levar?
...ou devo continuar abstinente?
terça-feira, 1 de novembro de 2016
Subversivo?
não diga que não avisei
pois agora chegou a vez
do silêncio que perdura
até uma segunda ordem
da alta patente censora,
o que virá fora de hora,
atrasada aos que sofrem,
como nós, que tentamos
escr...r, f...r, vi..r e s...ev...r.
num cons...o de que os ramos
são espinhos a nos cortar,
fazendo s...r.r a pa....a
em s.nt...o inc.mpl...
sexta-feira, 28 de outubro de 2016
Duas lições
indiretamente por um amigo -
duas lições de um autoamor
que cada um pode consigo
desempenhar no dia-a-dia,
sabedorias quase orientais
trabalhando planos mentais
como há muito não se via:
1- Tem coisas que jogamos fora;
2- Não podemos abraçar o mundo.
Eu fiquei perplexo, por ora,
pelo simplismo tão profundo
que sempre ouvi mundo afora,
mas só compreendi neste segundo.
quarta-feira, 26 de outubro de 2016
Expansível
posso, já rouco, afirmar,
do alto que sobrou da voz,
que o amor é uma foz
que jorra de lá para cá
e nunca se faz pouco.
terça-feira, 25 de outubro de 2016
Momentaneamente...
pois jogaram a política na sarjeta,
passaram por cima,
urinaram e defecaram.
Quem ainda cisma
em escrever, está
ora enfurecido,
ora entristecido.
Fora!
Já me basta agora a leitura cotidiana
do diário nacional do brasileiro...
...notícia quente ou fresca,
mas velha e desumana.
Dia e noite, noite e dia, o ano inteiro.
sexta-feira, 21 de outubro de 2016
(Des)carte[siano]
o que um professor
lhe fez de profecia:
ao pupilo já dizia
que, seja lá o que for,
tudo acaba, já que se iniciou.
Mas foram ditas palavras
mais simples que a estrofe
anterior a esta.
Palavras certas,
onde o pensar se dobre:
"tem coisa que jogamos fora".
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
Protótipo
que meu primeiro projeto é erótico...
Eu sei. Com tanta coisa para escrever,
podia escolher um caminho utópico,
mas, não, caí no assunto mais trivial
e pior, tentando não me ler tão banal.
Bom, poderão me ler e perceber
um esforço em não ser
um poeta erótico normal,
pois ali tem um pouco de mim... e tal...
algo carnal, sensual, tórrido,
metafórico, mas nada pudico.
Talvez a função seja exercer
ao alheio leitor - este ser
que nada espera senão sexo,
ao invés de versos desconexos,
(in)diretos - um furor, o tesão
e que se alivie com N mãos.
Enfim, não saberei o que se passa
pelo pensamento de cada cabeça
que se dispor ler tais poemas,
mas já me convenci, não tem problema,
cada um faz do poema uma parte de si,
um tesão próprio, diverso ao que escrevi.
quarta-feira, 19 de outubro de 2016
Perdidos Achados
acabei por encontrar em mim -
do pouco que restou aqui,
de minha essência - um fim,
que não busca final ou início
de algo que peça "por favor":
vivo só o natural e sem suplício
sentimento que é o amor.
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
Lobo de Haller
Há muito não lhe vejo!
Esta visita é propícia,
preciso lhe falar
que voltei.
Voltei para te lembrar
que trouxe, no traquejo,
aquilo que não queria.
Sim, eu sei.
Não sou bom contigo -
nunca serei, meu amigo.
Como podemos conviver
dentro desse mesmo ser?
Você tenta ser ver livre
do que lhe represento
e ainda esquece que vive
comigo dentro.
Não te abandono
quando lhe sobra melancolia,
é aí que lhe abocanho,
um grande pedaço
e na mordida, a peçonha
de cobra e seu abraço.
Ilusão achar que me afastaria
de tua mente...
...se te impregno de veneno
e engulo sua serenidade
te levando a sanidade
e te deixando só, no sereno...
quinta-feira, 13 de outubro de 2016
Uma vida ideal?
de comas profundos
de momentos ridículos
desperdiçados.
Tais nômades, que vivem
a realidade como esta é,
dessa vida muito sabem
e não precisam mais que fé
ao seu lado
para sobreviver intempéries
econômicas do capital;
e sua vontade, pois queres
viver um mundo ideal...
...e eu também quero...
terça-feira, 11 de outubro de 2016
Nominal
segunda-feira, 10 de outubro de 2016
Flora Muda
sexta-feira, 7 de outubro de 2016
(C)oração
sem mais quebras,
com os pedaços colados -
um órgão reunido.
quinta-feira, 6 de outubro de 2016
Obturador
com um brilho intenso,
digno de flash de câmera;
ali se deu a cena exposta
e cedeu à vista um momento,
registrou a (imagem)(vida) efêmera.
quinta-feira, 29 de setembro de 2016
Pequeno Susto
como uma ilusão que se desfaz
ou a fumaça quando se dissipa,
como uma alucinação finita.
A confusão, que me tirou a paz
ao ver o leito vazio; o acontecido,
o sobressalto do coração
à garganta,
o assalto da assombração
que espanta,
tudo cessou...
...ao ouvir sua voz e água.
quarta-feira, 28 de setembro de 2016
Autoria
Quem sabe?
terça-feira, 27 de setembro de 2016
333 - Meio Besta
mordomo de horror, vice temerário,
sobra dizer: "Vade retro Temer!"
segunda-feira, 26 de setembro de 2016
Guitarrista choroso
naquela hora que o slide de vidro se espatifa no chão.
sexta-feira, 23 de setembro de 2016
Talvez análise
com o que ocorre dentro de mim,
difícil saber o que dentro há
quando mal se entende sozinho;
é mais fácil compreender
o sentimento do que toda a razão,
pois apenas se sente, vê
de dentro algo latente na reflexão,
ao que sentir e pensar
são atos diferentes na imaginação,
um pode o outro influenciar,
mas cada um se faz em distinção.
terça-feira, 20 de setembro de 2016
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
(Con)verso(s)
sexta-feira, 16 de setembro de 2016
Numa mesa de bar
que verdade verá
essa terra que arde
como uma fogueira,
brasas de salgueiro
e de todo esse verde?
Não entendes que finito
também é como finado?
Muito se lamenta,
mas segue-se alado,
altivo, não lhe minto,
é passageiro, diminuto.
Que esperança perdura
com um câncer que cresce
e na quase impossível cura
duma infecção, numa prece
que varre a verdade
dessa nossa falsa humanidade?
É difícil olhar o mundo
caindo torto e resoluto -
como se fosse a duras penas,
lutando para não cair morto
ou num coma profundo -
a sobreviver, apenas.
As pessoas não querem,
não desejam qualquer paz
senão do conforto alienado
e logo se veem odiando
o que manda a mídia, mas
se dizem gente de bem.
Essa nossa hipocrisia
vai, enfim, nos exterminar,
por pura vaidade humana.
Queria apenas um dia,
admito, não me preocupar
com essa vida insana...
...Mas não consigo.
Se mexe com o mundo,
também mexe comigo...
quinta-feira, 15 de setembro de 2016
Soro Caseiro
escrever tomado pela cólera.
Este ácrata, dolorido, vos fala
de dificuldades, mas é pueril
o vociferar dessa egrégora
ao qual se deixou influenciar.
A violência dita na palavra
não é somente das baixezas,
mas também de entonação,
de incitação vil e negativa
para se esquecer uma beleza
de paz numa conversação.
Quero dar certa distância
a esse sentimento de revolta
e poder tecer a vida amorosa
da curta humana existência
em sua plenitude, que exulta
uma realidade nada suntuosa...
...Pois a felicidade é simples.
quarta-feira, 14 de setembro de 2016
Meneio
Faz tanto tempo que mal lembro
o que é ter uma história de vida
em apenas uma noite de sono;
não acontece mais o despertar...
Involuntário, um membro
se moveria como quem lida
com a realidade do abandono
de algo que se confunde
real e fantasia.
Posso dizer que hoje urge,
igual, a travessia
desses universos da imaginação;
já não sei mais se devaneio ou sonho
acordado ou dormindo, nem se sou são,
apenas confirmo o meu cotidiano estranho
em que sonho...devaneio...
sonho...
devaneio...
sonho...devaneio...
um morto-vivo, sonâmbulo acordado
vivendo num meneio.
terça-feira, 13 de setembro de 2016
Balança
um sentido oculto
que rege um equilíbrio
entre relações humanas,
uma ligação dita profana,
dita quase um insulto,
mas com um brio
que faz com que pense:
O desequilíbrio das partes
é onde assemelham mentes
e se sustentam os corações.
O equilíbrio é onde se dá
o beijo da boca em grená
e dois corpos em (con)fusões.
sexta-feira, 9 de setembro de 2016
Reminiscente
quinta-feira, 8 de setembro de 2016
Caleidoscópio
e ainda reconheço
o que é se perder,
se jogar no espaço
estrelado ao ver
dum olhar humano.
Armistício
um armistício unilateral.
Assim, me assassinei,
ao deitar as armas.
Mas prefiro essa morte
do que ser o algoz,
prefiro receber toda sorte
de tiros da sua voz.
Negaram ao moribundo
um copo de água,
deixaram verter ao mundo
rios rubros dos furos.
Se negro é o presente
e o futuro pálido,
foi por decisão conjunta
de um par ávido
por liberdade e vida,
mas preso na realidade
dessas quatro paredes,
e uma janela ao sol...
Enquanto o mundo
acontece entre sol e lua,
amiga, fico esperando,
com furos na pele nua.
Mesmo quase morto
vivo ao máximo,
com marcas de tiros,
e passos meio tortos,
ao passo que, sem culpa,
vives o mínimo,
reduzindo o mundo
ao pouco que exulta...
...mesmo estando viva.
segunda-feira, 5 de setembro de 2016
Voe, Passarinho
que posso lhe fazer
é que quero, aonde você for,
que não finja, seja você.
Não aceito que deixe de sentir
o que lhe brotar no peito
- isto seria como te assassinar,
por algo que não tem jeito.
Sim, você é livre para se viver.
Não pode ser diferente.
Não é "simples" ser eu, ser você;
e, mesmo que se tente,
um não sente o que há dentro,
o que inquieta o coração,
o que mexe com tudo do outro,
o que é mais que emoção.
E, nessa vida, já vi muito por aí,
já falei, cantei e escrevi,
mas ainda há muito por vir;
até o que duvidava, senti.
Nisso não te dou presente algum,
senão a certeza incondicional
do meu amor tão incomum
e, pasmem, tão natural.
O que você faz da sua vida
é apenas o seu destino,
e se quer minha companhia,
saiba que lhe confirmo.
Só perdura se ambos quiserem,
só funciona com amor,
puro e genuíno, e sem temerem
qualquer motivo de dor.
E não há dor com amor puro,
há apenas o lindo zelo
de quem cuida e ama, te juro.
Por amor, não faço apelo.
Bata asas e voe, não há gaiola
para te segurar, prender
ou aquietar seu cântico lá fora,
há apenas a porta aberta
da casa desse meu coração,
onde você, passarinho,
tem seu lugar - não abro mão -
arrumado com carinho.
Você tem a chave e lá é tudo seu,
não precisa pedir para entrar.
Tudo que um dia ali já foi meu,
é seu, não importa quando voltar.
Quero teu aconchego garantido
aqui em casa - não é uma toca.
Me doo sem lhe fazer pedido,
não quero fazer uma troca.
Voe, não por mim. Voe por si mesmo.
Bata as asas da sua vida
e, se me quiser, carregará, não a esmo,
mas como uma querida
parte de sua vida, um belo lugar
para que eu, também,
sempre tenha onde possa voltar
e lhe fazer só o bem.
Eu te amo além do meu fim,
nada pode me tirar o que sinto.
Nada é maior que esse infinito.
E é o que me basta, te amar livre assim.
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
Causa (e)feito
e os sottocapi
dessa máfia
instituírem ao povo
a sua omertà,
nos restará
apenas brigar
com seus soldatos,
numa vendetta
autêntica e popular.
Poema Gastropolítico
Vocês caíram no conto do Skaf!
O imposto vai subir
e vai tremer com jambu
no molho teu-cu-pi!!!
terça-feira, 30 de agosto de 2016
Numa praça, lendo Lorca...
e nos bolsos vêem bichos da seda,
mas nada de plantas e folhas floridas
para que destruam no seu mastigar.
Nada importa mais ao cigano
exceto que os vermes da lua cheia
passeiam sobre o sangue latino
açoitado pelo chicote que meneia
ao movimento da asa de uma lagarta
desperta de seu sono profundo.
O que era uma larva é borboleta,
quer chamar atenção via insultos.
Mas ao cigano, nada tem a dizer.
Gitano, que só espera a lua descer
para a morte se ir e raiar a vida,
mantém-se firme, feição "cojonuda".
Se for com a lua, fica sangue na terra,
se ficar ao sol, fica o suor no solo;
não importa à boca de verme se cerra,
o cigano pertence à terra, é seu colo.
É o solo fértil de uma nação célebre
e, por sua cultura injustiçada, lembrada.
Não é possível ser quem não se é.
Depressão pós-livro
como páginas de um livro fácil
- um livro sem desafio ao leitor,
daqueles que lemos sem raciocinar.
Confesso, fui, sim, alvo fácil;
uma presa um tanto quanto dócil
daqueles livros fáceis de amar,
difíceis de esquecer e que, no fim,
deixam dor e uma saudade do enredo,
uma nostalgia da narrativa
e uma paixão pelas personagens.
Só que acabou-se o livro,
chegastes ao fim dessas vidas
para adentrar em outras
e novos seres se revelam, lidos...
...de dentro para fora do livro
e de fora para dentro da vida...
Mas crio coragem para abrir um novo
e, de repente, um novo romance (re)começa.
sexta-feira, 19 de agosto de 2016
Jardim do Fastio
brigas de adultos,
discussões de casais
e conflitos de adolescentes,
sempre sofre a criança,
aguentando insultos
e se escondendo dos animais
como uma presa inocente.
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
Atual
e agora este outro
e o próximo
também,
escrevi 1, 2, 3, quatro rascunhos
e poesia...mas sem poema.
E agora brinco de problema
e faço poema, sem primazia...
...TALVEZ,
com poesia.
quinta-feira, 11 de agosto de 2016
Poescrita
quarta-feira, 10 de agosto de 2016
Montanha
Subi a montanha
II:
III:
IV:
que já fora condenada à morte
e agora se encontra viva e florida.
V:
A montanha, como ser humano,
pode viver independente;
um auxílio no início da subida
é o mesmo do plantar da semente,
uma ajuda, um esforço inicial
para que possamos andar
com nossas próprias fés
e a montanha florescer
com seu cume, a mil pés.
terça-feira, 9 de agosto de 2016
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
Efige
acabar escrevendo
por conta e sobre
esse bloqueio
que me veio
em estátua de cobre,
dura em eterno momento
cuja palavra não se solta...
Sua boca não se abre.
segunda-feira, 1 de agosto de 2016
Esquiva
para uma pergunta similar,
-Quem é o Ernesto?
-Não posso resumir se não me acabar.
quinta-feira, 28 de julho de 2016
Pierrô
em meio aos artistas,
sou o palhaço de circo:
não garanto glamour,
nem beleza eterna,
mas de ti
retiro um riso.
quarta-feira, 27 de julho de 2016
Pontuação
NÃO REVIVO!
NÃO PERGUNTO,
EXCLAMO!
SIM!!!
EXCLAMO!
Por que a vida não é grande o suficiente para se viver de hipóteses em interrogações?
Porque ela é imediata e acontece, implacável como uma exclamação!
terça-feira, 26 de julho de 2016
Pesadelo
segunda-feira, 25 de julho de 2016
Fim de recesso
quinta-feira, 14 de julho de 2016
Recesso
descansando, de alguma forma,
dos compromissos,
da sociedade,
da amabilidade.
Estou descansando minha voz
calando a garganta
úmida de significados
e seca de palavras,
enquanto falo
pelo pensamento
e canto pelos dedos.
Estou de férias,
de tudo que eu puder evitar;
o que for inevitável,
feriado nunca terá.
Descansado?
Não me lembro da última vez
que pude descansar
do exercício humano de ser.
Névoas de café
me viaja no tempo
direto ao café quente,
onde via formar,
na fumaça espessa,
o contorno de sua boca
- no nosso entorno
de atitude louca -
a brancura de seu sorriso
e os faróis azulados
dos olhos que tentavam
me ofuscar a visão
em meio a neblina.
Era para não falarmos,
evitar contato,
mas nada dito
foi levado a sério,
nem o café expresso
que se tornou
demasiado longo,
assim como todo o impasse
- léxico, realista ou complexo -
que passamos por cima.
Ainda fitamos
com nossos desejos,
vontade de você,
vontade de mim.
Ainda sinto vontade de ser
o homem do con(s)(c)erto
do poeminha
que guardo na carteira.
E, tal qual uma boa sina,
ainda o lerei por eras inteiras
e a vontade, talvez nunca passe...
...assim espero...
...assim me acontece,
toda vez que leio
poemas numa xícara de café.
Meia-noite...
o céu estrelado
- dum escuro azulado -,
me pego pensando
sobre seus poemas...
...e sinto a cena
como se ouvisse
a voz de sua garganta
declamando, ao meio-dia,
uma dose santa
de sua poesia.
Será só delírio à meia-noite?
sábado, 9 de julho de 2016
Uma Ironia
o vento acariciou meu rosto
para lembrar de que é pai,
e que a terra onde piso
é mãe da vida que ali se via,
junto da morte no fruto -
do posto pé de abacate - que cai
e se quebra no solo não liso...
...e, assim, o ciclo me ria.
sexta-feira, 8 de julho de 2016
Falsa Posse
cada trecho lido aleatório
de poema de veia e ossos
e de textos sanguíneos.
Logo, não pode ser meu
o poema que aqui se deu.
Leia-o seu.
quinta-feira, 7 de julho de 2016
JeoVá
onipotente,
onisciente,
talvez até onipresente.
Julguei, sem pensar, com meu dedão
a vida de duas formigas
que passeavam no prato
em direção ao meu pão.
O fiz sem pensar, sem cogitar
que as formigas são como nós;
que deuses humanos
fazem humanos enganos;
que as condenei a um destino atroz;
que, como num velho/novo testamento,
fui, como toda divindade, um tirano
aos mais frágeis que eu.
quarta-feira, 6 de julho de 2016
Torpe
há muito não sei sonhar.
Parece que esqueci como
o h
s o
s
n
fazem viajar a imaginação,
pois a minha viaja a todo momento...
...para
beeemmmmm
l o n g e .
Conversas...
de mim, te trazendo um carinho
que não posso lhe dar,
pois pedes que eu não o dê;
te traz uma esperança
- que não sei se posso viver,
nem sequer um pouquinho -
de que o futuro o tempo conte,
sendo que deste não faço contas.
Me pergunto se de carinho
ou carência é esse espinho
que colocas entre nós
de cordas trançadas,
entre tecidos de peles
não mais tocadas,
na sua recusa atroz
de ser a ti
e de que eu possa sumir,
enquanto tu me desassumes
ao passo que me assumi.
terça-feira, 5 de julho de 2016
Exercício
me era tão necessária
como abrigo a um pária
ou, ao faminto, um pão.
Hoje, o ato é necessário;
letras soltas são escritas,
sequer importa horário,
apenas a ideia expressa,
crua ou até em metáfora;
uma ideia que traz visco.
Se fico sem escrever,
não vivo. É diário risco.
Sobre-viver
pelos dedos das mãos e dos pés...
...ou seriamos nós que descemos
no escorregador da vida?
Eu vejo a minha pele envelhecer
e entradas novas sugerirem
na testa, diretamente, portas
para os meus pensamentos.
Observo você também mudar
junto comigo e separada de mim,
e percebo que sua existência
é efêmera como a minha.
Tenho esse apego por ti,
algo que me acomete,
como nunca senti, nunca vi.
Não preciso de intérprete
nem de algo que me diz
sobre a vida que se repete.
Sinto que preciso apenas
cuidar de ti, para que vivas,
ao máximo, todo o potencial
desse tempo curto que temos aqui,
para que sejas, toda, eternidade.
segunda-feira, 4 de julho de 2016
Prosa Imagética
Agrura
que digitam fúrias,
amores, sons e medos,
essas minhas agruras
que enfeitam de letras
um espaço por arremedo,
zombaria de mim mesmo.
Cansei da minha poesia
que se dá nessa hora
de sentimento e nostalgia
mistos num "quê" de agora
tal qual uma urgência
mental, caso de ambulância.
Embora cansado,
uma ânsia me impele
a escrever, derramar sangue;
me rasgar a vista e a pele
para deixar registrado
um pedaço que arranque
da hemorragia, a emoção
coagulada numa canção.
domingo, 3 de julho de 2016
Tinta-íris-ela
A chuva da bondade
é uma tempestade
de água num ar seco
d'um deserto aéreo,
num clima sério
que se desmancha
em lágrimas celestes,
formando arco-íris
com a luz que mancha
o céu de aquarela.
sexta-feira, 1 de julho de 2016
Terapia?
na interminável tentativa de ser o infinito neste meu finito ser.
quinta-feira, 30 de junho de 2016
Objetivo Poético
...eu não busco nada disso.
Busco música nas palavras,
melodia nos sentimentos,
harmonia no conteúdo.
Meu fazer poético se concretiza
não pelas letras conjuntas,
frases separadas,
estrofes
e versos,
mas pelo quanto consigo tocar -
seja lá o que for tocado -
e por conseguir
no toque, a marca, o amor
e, na poesia, até a dor.
(Des)Universo
o que tenho
para um dia atingir
uma certa plenitude,
experimentando
os desejos de euforia
imortalidade e panacéia.
Descobri-me não pleno.
Vi que estão errados,
ao olhar para o céu
e perceber
buracos negros
sedentos, famintos,
como o humano
vivendo em mim.
Se o universo não
está satisfeito em si,
por que eu estaria?
quarta-feira, 29 de junho de 2016
Sobre lobos
caudalosos vermelhos
na terra marrom
do que ouvir notícias
de um fim dum início.
Não me cabe o desvario
dum lunático enfermo
cantando fora do tom
todas suas súplicas
até o profundo precipício.
De uma orelha a outra
não me faz desejar o mal,
preferindo sofrer
ao causar qualquer dor,
mas quando esse torpor
vem me sorver,
sinto que, sendo animal,
tu achas sempre minha rota.
A rota perto dos rubros
rios que escorrem chorosos
que, mesmo mudando
ao passar das correntes,
continuam me ecoando
o brilho dos dentes,
desembocando no azul
do seu globo e regando
nas margens os girassóis
- como nós, solitários,
fora de nossas alcatéias,
mas sempre esperando a luz,
sendo para eles, a do sol,
e nossa, a da a lua.
terça-feira, 28 de junho de 2016
Intromissão
segunda-feira, 27 de junho de 2016
Duplo
- esse que ninguém vê -
é tão vivo e morto
na existência em dois eus,
duas mentes, duas palavras,
que num mesmo corpo
seria mais fácil viver,
mas não nos(me) comportaria
nem seria útil
para me ser.
terça-feira, 21 de junho de 2016
Duas semanas atrás, no fim do outono
Num meio-dia de outono
com clima quase inverno,
por um breve tempo
aparece chuva de verão;
da primavera, o vento,
e de janeiro, o calorão.
segunda-feira, 20 de junho de 2016
Monera
é um ato que não se explica;
não é a vida rica
de eventos abastada -
como se fosse ouro
cada hora
por fora de outro
mundo de prata -
nem vida de emoções,
como correr aos filões
desse atemporal couro
humano de cicatrizes.
É só e apenas, nada mais
que parte daquelas normais
vidas que assim, simplesmente,
acontecem sem mais
nem menos
por-/+quê.(?)
sábado, 18 de junho de 2016
Percepção apurada
segunda-feira, 6 de junho de 2016
Da pré-meia-idade
ainda me insinuo
um tanto jovem,
como se no início adulto
da fase que passa
da, sem fim, juventude.
Mas meu rio negro
diminui o volume,
e agora ostento portas
de entradas ao salão
ainda sem sabedorias,
também, poderia
eu, avaliado novo
tal carne de açougue,
já um velho peso morto?
Eu, que conheço muito,
ainda há o que me negue
valor no pensamento.
Meu que não é o tempo;
só me resta correr atrás
do futuro à minha frente.
É aí que me faço
soar um canto
de sala secreta
no filme que passo
contracanto.
domingo, 5 de junho de 2016
Pandora
sexta-feira, 3 de junho de 2016
Tentação
numa hipotética
- ou mais -
outra patética
- tentativa de - vida.
De repente me invadem
pensamentos, visões
da pele e veias
se abrindo aos cortes;
do meu corpo
se espatifando no chão
após uma queda
de altura imensurável.
Até à forca
tenho visões
de ser levado a força
e vejo com meus olhos
e dos outros
o momento crucial.
Me vejo tentado
a atravessar a avenida,
me jogar da ponte,
a abrir uma ferida
na jugular, na testa...
São tantas alternativas,
todas tão criativas,
que tenho quase
certeza que minha alma
é especialista,
morre de fase em fase
e agora, pensa nisso com calma.
Suposição
Deve ser um dilema
- maior de todos os problemas -,
para alguém imortal,
perceber que a vida
não tem qualquer sentido real.
Validade
já vem velhas
e se anunciam
tão modernas
à contemporânea
que mudam eras
momentâneas
de um curto
longínquo
passado.
Confuso...
vejo um grande nada
e sou preenchido
de um imenso vazio
que deixa sentido
de tanta insignificância
alguém de importância
já um tanto duvidosa.
Já não me importo
comigo, amigo ou inimigo,
sendo um fato
que nada disso mais importa.
Inicio e apenas sigo,
esperando que isso acabe.
Deprimido
dizendo que tudo está bem, e de ir
de encontro com a mentira
tão dolorosa que se torna, um dia, ira
e desespero por não expressar
o que de fato me ocorre.
É um pesar que me cobre
por inteiro: nada estou sentindo
e cada vez mais estou sem sentido.
E a pior parte é fingir o sorriso
de lua - como a vida - minguante,
aos que esperam uma verdade,
que confesso, há muito, sem alarde,
a esqueci e nessa vida mentirosa
me perdi. Não há felicidade duvidosa,
pois nem dúvida há da realeza
de uma "vida-rinha" que me é tristeza.
Dizer que estou bem,
apenas me faz mal.
quinta-feira, 2 de junho de 2016
segunda-feira, 30 de maio de 2016
Tronco
um quase infortúnio
quase que gratuito
ao me perceber
um manco ser
sentindo, ao lado,
o vento, o ar rasgado
por um tronco a cair.
O espanto nos rostos
pela avenida;
a surpresa estampada
em minha face;
e meu quase algoz,
ao meu lado, jogado,
deitado, quebrado.
Sua dona, balançando
ao vento lento,
como alguém que se ri
com certo descaso
desse momento
em que quase morri.
sexta-feira, 27 de maio de 2016
Penso
de tristeza, de alegria
ou qualquer vã fisiologia,
sem medida, sem altitude.
Poderia Caim me
dizer algo, mas nada ouço
de jogos antigos, do esboço
de toda essa multitude
e suas tais verdades.
Digo que a dor
me vem às pernas
mas para fortalecer,
ao invés de causar perdas.
Me ponho como corpo ereto,
tal membro, um homem
a andar sabendo que fome
e dor andam juntas, decerto,
amarradas por um sentimento,
felicidade e uma alegria,
alegoria que somos momento
no tempo. E penso...
Djinni
apenas digo o que quero
e se alguém, com esmero,
porventura quer, também,
tanto o mesmo que eu,
o desejo não é só meu.
terça-feira, 17 de maio de 2016
Pós visão
para ver o sol que ascende,
enquanto o que era noite se apaga.
Daí me pego pensando
quão transitórios são o clima,
o dia e a noite...
...o cotidiano - que se conte
de encontros - de sol e lua
não encontráveis,
de escassos acasos
que, em descasos,
são memoráveis
como seu olhar, visto a distância
medida entre solo e céu;
como a poesia se lida
transitando entre versos seus e meus.
segunda-feira, 16 de maio de 2016
Passos
esta pouca jornada
nessa estada paroquial
com pernas estiradas,
vagando com todo o olhar
que percorre tal corpo,
ali descansando, afinal
de um cotidiano torto,
cheio de opiáceos inatos
ao grande chão do mundo.
Com ratos dos esgotos,
convivera por eras,
até o fim do ser profundo
que perpetua na terra.
sexta-feira, 13 de maio de 2016
Hay (kai) inverno
E aqui tu chegou
manso e, tal seu descaso,
tudo aqui se esfriou.
II:
Andou sumido.
Há tempos, sim, não vêem
tu tão assumido.
III:
Um atual inverno,
das almas ao mal astral,
parece inferno.
quinta-feira, 12 de maio de 2016
Graça
como acontece sem aviso;
é ocaso no tempo, impreciso
como o riso e jazigo raso.
terça-feira, 10 de maio de 2016
Sem voz
pensei - como se a mente
mentisse suas asas -;
ao tentar falar,
falhei a garganta oca.
sexta-feira, 6 de maio de 2016
Celeste...
que falta à minha caneta,
sobra às massas de papel
formadas por nuvens alvas
moventes nas alturas
do firmamento.
Em meio às brancuras,
a ausência de som,
ali, se faz mais presente;
e a tinta abundante
escreve, até às escuras,
numa placidez inerente
ao teto carregado
de sentimentos nebulosos,
ora 'trovejosos',
ora leves e insinuantes.
À mim o céu se descreve
dessa maneira instigante,
com amores, dores,
sabores de outras vidas,
outros instantes...
...E é assim que (m)se descobre.
Num atol
e o azul a reverbera no ar;
a manhã dispara e, sem abrigo,
a luz amarela esverdeia o mar...
...e a brisa movimenta a areia
com ondas ao som de sereia.
Essa constância é a demência
que afeta meu pensamento.
Em alto mar a resistência
dura só por um momento.
A sereia canta a revolta
que o mar vem aprontar
e toda vida, à sua volta,
começa a se assustar...
...então uma chuvinha cai,
o canto devagar se esvai....
Os dois azuis não são mais,
escurece uma noite limpa;
o céu brilha estrelas demais
e, aqui, ainda espero sua vinda...
quinta-feira, 5 de maio de 2016
Reação
domingo, 1 de maio de 2016
Vísceras
por baixo do pano
- num ato, quase profano,
de espionagem -
o rebuliço
de vícios e viagens
que é minha paisagem:
toda a poeira
debaixo do tapete,
todos os esqueletos
dentro do armário.
Me lê, me vê
e passa a entender,
através do véu,
que tanta sujeira
faz parte de um ser
e, por aqui, ser
isto é algo inaceitável;
mas é desta maneira
que espalho vísceras,
e só você as revira.
sexta-feira, 29 de abril de 2016
Problema térmico
que gela os ossos e congela a alma;
esse inferno que queima e tortura
a face ao toque do ar, tal gelo seco,
fumegando a pele, enquanto esfria a palma
da mão, as articulações de cada dedo,
fazendo árduo o ato de escrever este poema,
com calor e frio confusos num único problema:
esqueci
o
casaco.
Silêncio opioide
a respiração ainda soa
profunda e barulhenta,
como se o espesso ar,
fosse da respiração tua,
que eu fosse inalar
tal como um opioide
de moderno urbanoide
a se dopar de realidade
e se preencher de sonhos
em uma vida desperta.
Uma overdose certa
só em sono forçado,
expirando ar viciado...
...às vezes, nem assim;
pois é, o silêncio,
apenas um conceito
teu, meu, nosso,
que se dá no momento
"quero, mas não posso";
um conceito latente
que lhe quer silente
da alheia existência,
enquanto esta se dopa
sonora e se silencia
até a próxima recaída.
quinta-feira, 28 de abril de 2016
Caravela
do chão aos ares, ao léu
desse oceano de cor azul,
ondulante como cabelos
e ventos enchendo velas
de viagens de norte a sul.
quarta-feira, 27 de abril de 2016
terça-feira, 26 de abril de 2016
Dualismo
luz e sombra,
lebre e cobra;
sem esquecer
que és união
de bem e mal,
santo e belial
em (con)fusão.
segunda-feira, 25 de abril de 2016
Observação
nunca vi guerra,
mas vi muitas
das tristezas
dessas terras
e das mazelas
de tantas outras,
observando acerca
dos passos
e acertando,
como se erra
um errante,
por rios e serras,
cidades e campos...
...dentro dum instante
num tempo infinito.
sexta-feira, 22 de abril de 2016
Registrando
mas cada vez que deito
a caneta no papel branco
sinto que não me endireito
e me pego pensando
aos sons de danças
e nos movimentos
dos quais a mão balança
Banquete
temperado num banquete
e cada pedaço de paixão
era cortado e devorado
para o vosso deleite.
Pena que cada pedaço
devorado não me volta
no peito vazio; desfaço
em dor e, embora fatiado,
não sinto tal revolta.
Meu íntimo dilacerado
é só tristeza e saudades
misturadas e, mastigado,
é engolido como choro,
como se perdoa a maldade.
quarta-feira, 20 de abril de 2016
Incerta
que de incertezas
a alma lavra,
e germina
sementes
aleatórias
de uma história
que será bem
e também mal.
Um destino, "talvez"...
...na sorte ou revés,
sempre fatal.
terça-feira, 19 de abril de 2016
Deus?
deixarei minha preocupação -
se você existe ou não -
de lado e ficarei com os meus.
Não me leve a mal,
mas já vi coisas feitas em seu nome
que foram refeitas
de maneira incólume
e só trouxeram ódio mortal.
Sei que lhe atribuem
coisas boas,
mas será que não se confundem
e guerreiam à toa?
Pois até em peleja entrei
e hoje me arrependo,
só me trouxe sofrimento
e, no fim, percebi que errei;
mas se o senhor é justo,
como pôde deixar, o susto
que não passou
acontecer? Olhe o que restou
de guerras e disputas
a seu favor:
pobres, esfomeados, putas
e povos com pavor.
Seus representantes
não fizeram o bem
sequer um instante,
não querem viver sem
o mal, o dinheiro, o poder...
...nem que milhões tenham que sofrer.
Aí me perguntam
porquê custo a acreditar,
e me escutam
falar que não devem se importar
com o que penso.
Humano em curso
para que uma poesia
que, a tinta, se escrevia
se tornasse algo de heroica.
Nada ali pedia poesia épica,
ou qualquer esperteza
de monólogo ou reza
divina, eloquência ou retórica.
Ali se via a realidade empírica
de uma vida em percurso,
a experiência em curso
dessa vida humana e poética.
Sobrecarga
para estes que aqui escuto
ao lado, enquanto me vejo
enfiado em tal vil ensejo
de outrem; percebo e sofro
com o que me é proposto:
pelo mesmo ordenado
farás chover, farás sol,
farás o mundo em sete dias,
sem te tornar revoltado,
pois não cabe no rol
comportamento de ira.
E assim pensam o destino
como se selado; me atino
e me percebo explorado
por gente que, aqui ao lado,
exerce a face do opressor
sob a máscara de redentor.
Só que a faísca interna
me impede essa "eterna"
de ser um simples capacho
e sei que farei o que acho
correto e vou me revoltar
contra quem me sobrecarregar.
...Ledo engano achar que os debaixo só obedecem...
quinta-feira, 14 de abril de 2016
Gerar poesia
pode intrigar,
enquanto faria
deitar e rolar,
gerando poesia
no lençol-mar,
a caneta diria,
ao lhe soletrar,
que plantaria
nesse pomar
a semente da vida.
Da natureza
por adrenalina
estática
que me alucina
e me fascina;
tendo isto posto,
não uso cocaína
ou sintética;
nada de heroína
ou anfetamina:
nem sinto alvoroço...
...mas o que a natureza dá
é impossível recusar;
cresce e podemos pegar
comida, roupa e chá.
terça-feira, 12 de abril de 2016
Poema pensando
sexta-feira, 8 de abril de 2016
Astrolábio
subo no mastro
mas não consigo alcançar
o céu para lhes fazer
companhia,
então me dou conta
de que estrelas me sorriem festeiras
e, com elas, me oriento pelo astrolábio
por onde devo seguir
para no destino chegar
e saciar meu desejo.
E o céu se mostra tão sábio
quanto um vizir
na segurança de me navegar
até seus beijos.
Beijo, pelo astrolábio
ao longo das galáxias,
as nebulosas rosáceas,
marcas de lábios sábios.
Mundo Mortal
Exorto que levem-me até cais do porto.
Um túmulo torto não me serve conforto,
como o mar, morto
quando a maré baixar.
Pensas que acharás, sequer verá o corpo.
Quando não há mais lar, não há mais ar,
e sem água ou vida, morre mais um boto
e o humano estará
onde evita chegar.
Quando estiver morto,
morto o mundo me estará.
quinta-feira, 7 de abril de 2016
Poema embriagado
como se estivesse num atol -
aquele ponto crucial em que terra e lago se confundem
...às vezes no meio de uma nuvem
na fumaça de um fumo,
quando a noite me beija
Chiaroscuro...
em luz e sombra
que vejo na pele,
um naco, pedaço
de carne que traço
à letras, se revele!
Que cada letra
seja como seta
direta ao corpo,
que fira a folha,
furada sem escolha,
um corpo torto...
...na luz de toda vida
e sombra das feridas,
que aqui lamberei
para, em noites de lua,
cicatrizar memória sua,
cuja marca nunca esquecerei...
...em noites assim, chiaroscuras.
Distância
...cada ponta de dedo
no toque dessa pele;
tal sopro que o vento,
nessa face, desfere...
...tão longe, tão perto.
Tão longe, tão perto...
um oásis num deserto
de esperança abundante;
dunas e bancos repletos
de areia ao sol escaldante...
...tão perto, tão longe.
É na distância que esconde
algo interno que soa incerto,
como se, tão perto e tão longe,
não se sabe sequer, decerto,
o que é terno. Mal, nem onde,
nem mortal, nem eterno.
Só na inconstância se é monge:
a certa distância é que se observa
uma vida numa daninha erva...
...tão perto, tão longe.
quinta-feira, 31 de março de 2016
Nogueira
um dia específico,
não há vislumbre
de algo que dobre
a minha língua,
que cale
minha voz,
que sobressalte
a pulsação...
Lá a lua míngua
seus males,
mas a casca da noz,
ainda resiste
qualquer pressão.
Verso vazio
os versos do meu afã
sumiram como este,
como se o perdeste
em alta velocidade,
como bipolaridade
muda os humores
de seus reais atores.
E de repente o verso
(se) vira(-me) do avesso
e esqueço o que iria
escrever...
sábado, 26 de março de 2016
Luna Sina
procurando resposta,
quarta-feira, 23 de março de 2016
Saudades de um ser sem maldade
após tanto tempo, chorei...
Chorei e chorei, copiosamente,
como se num alvoroço
de lembranças, memórias à mente,
me atacassem. Me desmanchei...
...em pranto, pois reconheci
sua ausência, bem ali.
ao te ver,
mas não era você.
Mais tarde, visitei sua antiga casa,
onde lhe visitava
e passava horas aos seus pés,
debruçado no chão.
Esse impacto abalou minha fé
de um mundo justo.
Não mais escuto
os que dizem por aí
sobre as coisas triviais
como nascimento e morte,
pois desde que se foi,
tudo que, até então, ouvi
sobre amor são frases banais,
e sua presença
se fez sua ausência.
Quanto protelei?
Para poder sentir,
e não lhe dizer "adeus",
mas sim "olá, meu
velho amigo",
protelei muito.
Não mais tentarei apagar tua memória
para me poupar da dor do amor de sua história.
Foi sincero,
gratuito;
fortuito,
ali, quando lhe vi;
sabia que não era você,
mas o coração não quer saber,
ainda sente muitas saudades de ti.
Florbela e Chico
o lado do qual não me eximo,
como se Florbela e Chico
fossem a poesia que espanca
as paredes dessa branca sala,
com palavras em tintas
de cores invisíveis aos olhos
mas audíveis aos sentimentos,
como uma sonora escala
(daquelas que umedecem
a visão num arroubo,
como se soubessem
do sentimento que roubo
do tempo que passa longe
do cotidiano que nunca passa;
daquelas melodias
que só o interior escuta
ao passo que se perscruta
no ouvido uma pausa
de noites e dias)
cantada por uma voz
inaudível ao mundo,
mas gritante no fundo -
em seu pontual âmago -,
de que assim somos nós:
silentes, mentirosos,
sedentos, receosos,
mas, por dentro, sinceros;
pelo momento, dispersos...
...Até sabe-se lá quando...
talvez até a folha em branco
se acabar e apenas sobrar
o colorido do mundo
no azul do planeta,
nos globos de seu olhar.
segunda-feira, 21 de março de 2016
Presença de Espírito
qualquer figura de etérea
e deletéria assombração,
me confunde até a matéria
da vida registrada ao olhar.
A distância que se tornou
essa sensação de nostalgia
não é mais do que afasia,
uma conversa que cessou,
trauma afligindo o falar
de uma alma que voou
e talvez não mais voltará.
Se por ti for atormentado,
por tempos indefinidos,
terei sido até agraciado
de memória ao meu lado,
continuando o assombrar
desta vida cheia de alma,
cuja presença de espírito
é uma reincidência calma
que aceito, sem manifesto.
Poemasia
de poesia é uma cura,
ao passo que é veneno
sua escrita...e é mesmo.
Pode ser que mal digo
um poema de maldito,
mas sei que tu rimas
sentimentos com ramas,
pois tu és poesia pura,
enquanto eu só escrevo
o que aqui me tortura
e o que, dentro, observo.
Me sei apenas servo
bendito à nobre poesia
e maldito ao que sirvo:
um poeta em demasia.
sexta-feira, 18 de março de 2016
Regime semi-aberto
poder daqui mudar
para qualquer lugar
onde eu possa
pelo menos
abrir a janela.
Não aguento mais
ficar aqui, atrás
dessa janela
que não fecha
e nunca se abrirá;
aqui virou um lar...
...Um lar que detesto
e sempre devo voltar,
pisando em espetos
fodendo meu calcanhar.
Trabalho escravo
moderno que explora,
te deixa até bravo,
mas ainda te devora.
Como eu,
você também quer
estar lá fora.
Queremos ir embora
e nunca mais voltar.
Se Viu Guerra
o povo no espelho civil,
na cena em que se viu
percebeu todo o absurdo
que ali se acometeu
e nada se justificou.
não importa o motivo,
diálogo é o que conserva
uma conversa que estanque
qualquer rasgo dolorido
feito pelo povo desgarrado.
A ética pode ir ao espaço,
quando a massa berra
palavras de quem erra
ao validar discursos rasos
de gente de moral falha,
cujo ódio nos espalha
e, à beira de um colapso,
talvez numa civil guerra
onde (a)briga suja (a) terra,
nos vemos tão ineptos
que pensamos desistir
do sonho do povo se avir.
...Mas desista de desistir!
Pois há de se batalhar,
e que o façamos nas idéias;
que de nossas fileiras
loucas poesias venham ao ar,
para construir revoluções
e ganhar novos corações.
Prantorrente
que, somente com forças
de seres sobre-humanos
e mitológicos, tem chance
de se parar pois é maré
forte a inundar a costa;
se não para, molha o rosto.
Masoquista
Sol(idão)
Será que ele já se sentiu tão só?
Mesmo rodeado de um universo,
será que ele se sente um verso...
...Solto?
quinta-feira, 17 de março de 2016
(Frear) A profecia Kafkiana
Uma sensação inquietante
num breve instante, na avenida?
Uma sensação sem fim
de que algo ruim vem à surdina?
Pois me é inquietante o que vejo,
o que ouço e o que leio.
Parece que leio entre as linhas
da rinha que corre a história
que nos passa sem deixar memória.
Mas que faremos se isso é mais
que ensejo, desejo da névoa?
Não faz sentido deixar acontecer
novamente o que Kafka previa
no passado que esteve a escrever.
Deveríamos travar um encontro
e tentar parar a névoa espessa
com nossos ventos de confronto
por meio da palavra travessa,
da poesia da terra e das veias!
terça-feira, 15 de março de 2016
Finta
da folha em branco,
mas ele já morreu
quando dentro gritou
qualquer sentimento
agora escrito no papel
e, que no entanto,
tentei apagar à borracha,
mas só espalhei a mancha
de poroso grafite.
Sujei todo o papel sulfite
de sangue cinza,
que não mais estanco,
e letras, que num espanto,
ainda aparecem
me fazendo finta.
segunda-feira, 14 de março de 2016
De cabeça para baixo
mas vejo terra
e, ao ver o chão,
enxergo nuvens
que se movem
sem uma razão,
até rugir a fera,
e chover o véu.
Praça Mística
de maneira que não vivencio
sexta-feira, 11 de março de 2016
Casa dos Poetas
quero beber-te vinho
ao andar pelo jardim
de rosas e uvas
da casa dos poetas.
Vinho de sobriedade,
ao passo que um café
pode abalar qualquer fé
e mudar a realidade
da casa e dos poetas,
num doce desvario
por onde vazam palavras
e poetizam as chuvas,
enquanto o céu sorriu,
como se fosse poeta,
ao lavar o mal da terra,
ao fazer nos encontrar,
poetas num pomar
a versar sobre quem erra
por essa terra de poeta.
quinta-feira, 10 de março de 2016
Surpresas...
Às vezes, vem como tiro
e o resulto, que me refiro,
é uma sangria...à toa.
quarta-feira, 9 de março de 2016
Percepção do Som na Infância
para períodos
mais que recônditos
nos labirintos
da história
e seus fatos.
Nos tempos de juventude
pude ver que, ao desenvolver
algo de consciência,
a doce experiência
humana vinha a crescer
e, sem ter quem ajude,
a cabeça passou a pensar,
como que por si mesma,
e um ser ali brotou,
um pensamento fincou
mastro, trouxe a resma
de folhas e passou a registrar...
Cada momento na mente consumia
tintas, quadros fotográficos,
bytes e muitos papéis
que aceitavam seu revez
de todo lado prático,
devia registrar toda hora, todo dia.
Até que percebi, orvalho
era um mistério e o som...
aaaaahhhhhh, o som é o prazer
que me costuma fazer
despertar sentidos de um dom
que todos têm retalhos...
Cada um se refugia num sentido
e o meu foi a audição, sempre,
pois é o que me faz ser eu.
Não é algo que é só meu,
outros também são, do ventre
ao presente, nisso até parecidos.
Desde aquele vislumbre
da consciência pueril e inocente
que me crescia, sabia
dessa sublime alegria
que me quebrava a corrente
da realidade insalubre,
ouvir os sons da natureza
era o descobrir da música
do mundo, grande maestro,
nem canhoto, nem destro,
apenas uma esfera acústica
que ressoa toda uma beleza
emocionante na sua construção.
Isso mexia com cada pedaço
que se organizava no piscar
de olhos que é o ato de pensar,
e se apoderava de todo espaço
de meu pensamento em evolução.
...E fico, até hoje, hipnotizado
pelo poder do som no ouvido,
parece que volto ao início
de tudo, num doce precipício
que ecoa a música do mundo
para este ser amaciado,
acalantado e sentir a doçura
da gota do mel num oceano
de mares salgados.
Sobre nossos poemas
muitos dos poemas que leio
não são para mim,
mas os torno meus por meio
da contemplação
e por deixar cada palavra
invadir, enfim,
minha imaginação,
esta minha pequena lavra.
Lavra que também poetiza
linhas de pura ojeriza
e versos de doce beleza.
Não será possível me "ler",
pois não me abro livro,
só podes pouco me conhecer,
por meio dos versos presos
e de outros livres
que venho a escrever.
E mesmo assim, faço sigilo
de cada sentimento meu,
e para me entender,
assim como minha poesia,
deves decifrar metáforas,
e fazer como fiz eu:
tornar meus poemas teus,
apreciando, mundo afora.
terça-feira, 8 de março de 2016
Gatuna
de hábitos felinos,
seu arroubos
furtivos
me roubam
a razão
dos sentidos
já mínimos.
Com garras e dentes,
me corta
a garganta,
morde
pescoço,
me marca
o peito,
me rasga
até todo sangue escorrer.
Morro por violência
e hemorragia.
E você assim
se delicia.
Roubando minha vida
na calada da noite
...ninguém escuta
minha morte.
Abraxas
de seu olhar de oceano,
profundo e misterioso,
nas ondas de norte ao sul
que me carregam
como barco ocioso,
sem direção ou costa
de horizonte praiano.
Perdido nesse oceano,
sinto que algo recosta
e pousa dentro de mim,
seria uma ave, enfim,
que bate asas fortes
ao invés de pulsação;
ali no peito abre e achas
o tesouro de naval missão,
do fundo do espelho do céu
esperando uma tormenta
ou uma divindade
com asas que, sem alarde,
me guie ou me leve à terra
ou deixe que eu morra
de paixão
nessa imensidão
azul...
Sobre a Espontaneidade do Clima
e o faz de uma hora para outra,
como um bipolar, mas neutra
é sua vontade na tarde absurda,
em que o dia escurece na manhã
e que noite vira dia, sem afã.
segunda-feira, 7 de março de 2016
Cruel Tempo
o tempo é a mais cruel,
te mastiga, te trucida,
e te torna o amargo fel.
Fel dá nó na garganta,
caso você não saiba,
não há com que caiba
qualquer outra janta.
E nesse amargor vamos
destilando álcool, fumos
vida, sangue, suor e pus,
senão o tempo é perdido,
passa-nos desapercebido
como ouro de tolo reluz.
Se Movimentar
pois a realidade é o susto
do qual despertei
e agora estou disposto
porque não quero ficar.
Sobre projeto de país
É...o povo se desgasta, e muito, a toa. Porque neste pedaço de território, definido como Brasil, temos uma curiosa situação que se perdura por mais de duas décadas pós-redemocratização, nas eleições vemos um fato curiosíssimo ser escancarado, um fato que deveria nos aturdir, fazer questionar nossa participação e a participação dos próprios partidos:
Sem Manto
dentro de mim,
quarta-feira, 2 de março de 2016
Literar
sei que vale a pena qualquer ferida:
é um aprendizado
a ser alcançado.
Aprendi lendo de Tolstói
que a balança da humanidade
fica entre o bem e a crueldade
e percebi que a realidade dói
dentro de mim...
Como é difícil de aceitar
que o ser humano não se furta
nos seus atos, nem se assusta
em ser vil, podendo até matar
acelerando o fim
de qualquer um,
como uma talagada de rum
esquentando uma noite fria,
como quem quer luz
e que o escuro da noite azul
seja tarde alaranjada dum dia.
Aprendi com Veríssimo
que amor soa música ao longe,
você não agarra, nem sabe d'onde
vem tal som lindíssimo,
só pode sentir
e quando se der a chance
de lhe ouvir, sentirá no coração
algo que só deuses lhe dirão,
então digo: não se espante,
pois não irá partir...
...De qualquer lugar,
como uma pessoa a andar
de lá para cá em euforia.
Simples, por aí está
passa até por uma fresta
da janela que lhe clareia
o dia.
Rascunho
eu acabe poesia
perdida nas estrofes
que se desmancham
em versos-catástrofes
que de tinta mancham
a folha em branco
já amassada
jogada
num banco.
Virão outros poemas
que terão seus problemas:
estrofes com versos em rima
enganando os sentidos
sem poesia ou estima
e o que está sentindo
é só uma ilusão
bonita por fora
pois, por ora,
se foi embora
a inspiração...
...junto da folha amassada
que rolou no vento,
e se perdeu no tempo,
eu, poesia, sou largada,
esquecida
como rascunho
do coração.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
Aos Ventos
mas os silêncios, lentos,
são, nos ventos serenos
como nós, nada ávidos.
A tal paz sempre atinge
a nós, rapariga e rapaz,
numa conversa que apraz,
até quando o tempo cinge
a realidade que gostamos
e devemos voltar ao mundo,
quando dele há muito saímos,
mesmo enquanto sabemos
que a vontade, lá no fundo,
é que ali ao vento fiquemos.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
Miragem?
uma certa imagem
passar ao meu lado,
a presença que senti
poderia ser miragem
ou algo do passado
recente desse tempo
em que esse vulto
passa e me sacoleja
os cabelos como vento
e canta sons ocultos
de uma voz benfazeja.
Te vi, depois, não mais.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
Rascunhos
...muitos...Muitos, MUITOS!!!!
Mas saem muitos mesmo
enquanto movo meu punho
escrevendo minhas ideias a esmo.
Quem sabe sai um poema fortuito...
Que demora...
se espalhando em partículas
e deixando parte da essência
em ideias e estórias lúdicas
que retratam as experiências
de uma vida presa ao tédio
do cotidiano mundano banal
para o qual não tem remédio
senão pela raiz cortar o mal:
Parar de fazer tudo igual.
Lupina
foi quando avistei, animal,
teu olhar lupino me fitando,
como fera mirando a presa
a ser abatida,
em plena avenida
no meio do samba da escola
para matar a fome
que lhe assola.
Loba que do nada me come,
me rói e me cospe, daí some
para andar com sua matilha,
longe de onde me feria.
Minha fantasia de pássaro
cantor se foi com a música
que silenciou nos pedaços
meus entre seus dentes.
O carnaval nem tinha começado
e do jeito que estava fantasiado
só poderia ser despedaçado
pelo seu instinto impulsivo
que tem me destroçado.
Você mastigou cada pena, pluma,
e engoliu meu canto,
sem dó nenhuma,
Não foi boba,
mas esqueceu um detalhe:
agora o canto ressoa dentro de ti,
loba.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2016
Parreiras do seu quintal
que crescem as uvas verdes
dos seus olhos,
entre as videiras mais delicadas
das moscatéis mais doces
dos seus cabelos.
me enfeitiça, e me vi
perdido, querendo o sabor
das frutas do seu pomar,
em especial o doce amargor
das uvas negras com semente
que ali vem a dar.
e maçãs do rosto em niágara rosa,
tu és vinho caseiro e me inebria;
em altas doses, me espanca,
me atropela como carga pesada, mas vagarosa
e me faz gostar de sua ressaca
no outro dia.
Cegueira existencial
enquanto não enxergo
o tempo passar;
e o fato se repete:
percebo aqui, eu cego
e o mundo a girar.
E a vida, nada de parar.
Fantasia em veias
lidando com sua inexistência,
vagando, como se num brejo
estivesse perdido, paciência...
Paciência para toda ausência
que venha me deixar triste;
sei que a vontade, em essência,
é tudo no que aqui persiste,
cada pedaço de emoção e poesia
deste ser, que desata uma sangria
por não conseguir se justificar,
sangra paciente numa folha vazia
o sangue rubro de uma fantasia
de querer existir e desfrutar.
domingo, 14 de fevereiro de 2016
Fim de Domingo
É na tarde de domingo
que percebo o fim:
fim do carnaval;
fim da viagem;
fim dessas férias sem fim;
um final assim
triste, de passagem;
mas sempre há no final
alguém sorrindo...
...pena não sermos nós...
Que destino atroz
para um fim de domingo.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016
Maldito
o pódio
dos poetas malditos,
com seus escritos
dignos de fúria,
ondas de luxúria
rúbia,
a doce selvageria
de um poeta
falando putaria
em língua oculta,
sem pagar multa
ou sair da forma
culta.
Punhal Amigo
há uma nascente
de um rio corrente
e vermelho,
cheirando a ferro,
por onde jorra,
pelas costas,
o líquido que o olho
furado mareja, também.
Sangue que me escorre
por uma apunhalada
de alguém que era amigo;
assim o coração morre
de ferida não cicatrizada,
sem abrigo
ou mãos especializadas
para curar a tempo,
antes de se esvaziar
da vida.
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
Sobre a estética
me mostra um certo disparate,
pois a crítica estética é inútil.
Estéticas mudam e, queiram ou não,
não são unânimes, nunca serão,
então discuti-las me parece fútil.
Filosóficas
Máscaras Sociais
que damos aos papéis
sociais, ainda menestréis
somos de nossas vidas
e cada sabe com o que lidas
nessas inconstâncias
de nossa breve existência,
e mesmo sabendo
que de manhã, vendo
sua gaveta de máscaras,
é difícil escolher qual escara
será sua penitência.
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016
Janelas Abertas
se comunica no olhar,
quando as janelas
estão abertas
naquele andar
onde ela
dança em retas
e linhas tortas...
De repente
o vislumbre mútuo
e indecente,
no tempo dum susto,
os olhos enxergam
e entregam
a sensação do desejo.
Num ensejo,
os corpos voam
de suas distâncias
para fazer a dança
que tanto desejam.
Voam pelas
janelas abertas
dos olhos,
onde corpos passam
inteiros
e se recostam
nos parapeitos,
sem arreios.
Tantas sensações ficam soltas...
Tudo por conta
de janelas abertas...
...que comunicam desejos.
Ser e Viver
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
Idioma da Alma
diz quando é instrumental e pudica:
Pura e direto ao sentimento,
sem a necessidade
de qualquer alarde
com palavras ao vento
jogadas, com força, em lufadas
onde letras voariam
sem destino ou razão,
precisando serem ouvidas...
mas, estas, não tão puras quanto o idioma
universal das vibrações em sonoras ondas.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2016
Soneto de um Vazio Bienal
As duas agendas,
cheias de afazeres
e vazias de vida
provam a passada
que em doze meses
seguiu a vida...não vivida.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
Versos perdidos
Não me sinto
escrevendo algo digno
de ser lido,
não é um vívido
poema ou mapa de signo,
é do recinto
mais interno e íntimo
que admito: é ínfimo
o que tenho para dizer...
...nem sei porquê fui escrever...
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
Salada Mista
até que papilas se toquem
no ato que causa furor,
naquela gula dos que comem
uns aos outros,
com os olhos,
com as mãos,
um tanto absortos
com esse molho
de gente com tesão.